segunda-feira, 16 de novembro de 2020

5 ideias FALSAS sobre as "podas" radicais



A propósito das "podas" radicais ou "rolagens" praticadas em locais públicos e privados por pessoas sem a devida formação, aconselha-se a leitura do texto de Dr. Francisco Coimbra (ex- Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura SPA, Consultor em Arboricultura Ornamental.
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«As árvores que dignificam as nossas praças e avenidas e embelezam os nossos jardins e parques são um elemento essencial de qualidade de vida, autênticos oásis no "deserto" que são tantos dos nossos espaços urbanos atuais. E, no entanto, é por demais evidente a ainda quase absoluta ausência de sensibilidade para o papel da Árvore em Meio Urbano. (...)
De facto, é inacreditável como certos preconceitos sobre a poda de árvores ornamentais estão arreigados nos responsáveis pela sua gestão e manutenção. É frequente ouvirmos dizer, como justificação, que as "podas" radicais, ou "rolagens", rejuvenescem e fortalecem as árvores, ou que são a única forma económica de controlar a sua altura e perigosidade... quando, na verdade, devia dizer-se de uma poda o mesmo que de um árbitro: - tanto melhor quanto menos se der por ela! (...)
1. A poda drástica rejuvenesce a árvore?- NÃO! São as folhas a "fábrica" que produz o alimento da árvore. Uma poda que remova mais do que um terço dos ramos da árvore – e as "podas" radicais removem a copa na totalidade! - interfere muito com a sua capacidade de se auto-alimentar, destruindo o equilíbrio copa/tronco/raízes. O facto de, após uma operação traumática, as árvores apresentarem uma rebentação intensa – como tentativa "desesperada" de repor a copa inicial – não significa rejuvenescimento, mas sim um "canto-de-cisne", à custa da delapidação das suas reservas energéticas. (...)
2. Fortalece-a? - NÃO! A poda radical é um ato traumatizante e debilitante, uma porta aberta às enfermidades. A copa das árvores funciona como um todo, sendo os ramos exteriores um escudo para os mais internos, evitando queimaduras solares. Se, subitamente, se alterar este equilíbrio, e todos os ramos ficarem expostos às condições climatéricas de forma igual, a árvore fica sem defesas. Para além disso, as pernadas duma árvore massacrada têm, pelo seu grande diâmetro, dificuldade em formar calo de "cicatrização". Os cortes nestas condições são muito vulneráveis a ataques de insectos e fungos que causam podridões. (...)!
3. Torna-a menos perigosa? -NÃO! Estas "podas" induzem a formação, nos bordos das zonas de corte, de rebentos de grande fragilidade mecânica, pois têm uma inserção anormal e superficial no tronco. Como se desenvolvem, ao longo dos anos, podridões junto às zonas de corte, esta ligação fica ainda mais fraca, tornando estes ramos instáveis e potencialmente perigosos a longo prazo.
4. É a única forma de a controlar em altura? - NÃO! A quebra da hierarquia – que estava estabelecida entre os ramos naturalmente formados – permite o desenvolvimento de novos ramos de forte crescimento vertical, mas agora de uma forma desorganizada e muito mais densa! Não se resolve, assim, o motivo porque geralmente se recorre a esta supressão da copa, pois em alguns anos a árvore retoma a altura que tinha, sem nunca mais voltar a ter a beleza e naturalidade características da espécie...
5. É mais barata? - NÃO, se a gestão do património arbóreo for pensada a médio e longo prazo! Aparentemente parece ser mais económico recorrer-se a uma rolagem única do que fazer pequenas intervenções anuais e utilizar os princípios correctos de poda e corte, investindo na formação do pessoal ou recorrendo a profissionais especializados nas situações mais complexas. No entanto, esta economia é de curto prazo, pois, se por um lado as árvores se desvalorizam a todos os níveis, por outro lado está-se a onerar o futuro, que terá que “remediar” uma decrepitude precoce ou resolver a instabilidade mecânica dos rebentos formados após os cortes. E a redução drástica da esperança de vida das árvores implementa custos acrescidos para sua remoção e substituição... »
É triste o que vemos constantemente pelas nossas ruas e é mais triste ainda alguém vangloriar-se com estes atos.

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