segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
sábado, 28 de dezembro de 2019
Os ultra ricos preparam um mundo pós-humano
![]() |
Fonte: aqui |
Por Douglas Rushkoff | Tradução: Inês Castilho
Publicado 19/11/2018 às 14:31 - Atualizado 24/12/2019 às 10:09
No ano passado, fui convidado a fazer conferência num resort superluxuoso para um público que, imaginei, seria de aproximadamente cem banqueiros de investimento. Era de longe a maior remuneração que jamais me foi oferecida por uma palestra – metade do meu salário anual como professor – tudo para fornecer algumas dicas sobre o tema “o futuro da tecnologia”.
Nunca gostei de falar sobre o futuro. A sessão de perguntas e respostas sempre acaba mais como um jogo de salão, em que me pedem para opinar sobre as últimas tendências da tecnologia como se fossem dicas precisas para potenciais investimentos: blockchain, impressão 3D, CRISPR. As audiências raramente estão interessadas em aprender sobre essas tecnologias ou sobre seus impactos potenciais, além da escolha binária entre investir nelas ou não. Mas o dinheiro chama; por isso, entrei no show.
Ao chegar, fui introduzido no que me pareceu ser a sala reservada principal. Mas, ao invés de receber um microfone ou ser conduzido a um palco, simplesmente me sentei numa mesa redonda e minha audiência começou a chegar: cinco sujeitos super-ricos – sim, todos homens – do alto escalão do mundo dos fundos hedge. Depois de um pouco de conversa, percebi que eles não tinham interesse nas informações que eu havia preparado sobre o futuro da tecnologia. Haviam preparado suas próprias perguntas.
Começavam com aparente ingenuidade. Ethereum ou Bitcoin? A computação quântica é real? Mas, lenta e seguramente, concentraram-se em suas verdadeiras preocupações.
Qual região seria menos impactada pela crise climática que vem aí: Nova Zelândia ou Alasca? O Google está realmente construindo um “lar” para o cérebro de Ray Kurzweil e sua consciência viverá durante a transição, ou ele morrerá e renascerá inteiramente novo? Finalmente, o executivo-chefe de uma corretora explicou que havia quase concluído a construção de seu próprio sistema subterrâneo de abrigo e perguntou: “Como faço para manter a autoridade sobre minha força de segurança após o evento?“
O Evento. Esse era o eufemismo que usavam para o desastre ambiental, a agitação social, a explosão nuclear, o vírus incontrolável ou os hackers-robôs que destroem tudo.
Essa única pergunta os ocupou pelo resto do tempo. Sabiam que guardas armados viriam para proteger seus complexos das multidões enfurecidas. Mas como pagariam os guardas, já que o dinheiro não teria valor? O que evitaria que os guardas escolhessem os próprios líderes? Os bilionários consideravam usar fechaduras de combinação especial que só eles conheciam para guardar sua provisão de comida. Ou fazer com que os guardas usassem colares disciplinares de algum tipo, em troca de sua sobrevivência. Ou talvez construir robôs para servir de guardas e trabalhadores – se essa tecnologia fosse desenvolvida a tempo.
Foi quando me bateu. Para esses senhores, essa era uma conversa sobre o futuro da tecnologia. Seguindo as dicas de Elon Musk colonizando Marte, Peter Thiel revertendo o processo de envelhecimento, ou Sam Altman e Ray Kurzweil inserindo suas mentes em supercomputadores, eles estavam se preparando para um futuro digital que tinha muito menos a ver com tornar o mundo um lugar melhor, do que com transcender inteiramente a condição humana e isolar-se do perigo hoje real das mudanças climáticas, aumento do nível do mar, migrações em massa, pandemias globais, pânico e esgotamento de recursos. Para eles, o futuro da tecnologia tem a ver com uma única coisa: escapar.
Não há nada de errado com avaliações loucamente otimistas de como a tecnologia pode beneficiar a sociedade humana. Mas o movimento atual de uma utopia pós-humana é outra coisa. É menos uma visão da migração da humanidade para um novo estado do ser do que uma busca de transcender tudo o que é humano: corpo, interdependência, compaixão, vulnerabilidade, complexidade. Como filósofos da tecnologia vêm apontando há anos, a visão transhumanista reduz muito facilmente toda a realidade a dados, concluindo que “ humanos não passam de objetos processadores de informação”.
É uma redução da evolução humana a um videogame em que alguém vence encontrando a saída de emergência e deixando alguns de seus melhores amigos pelo caminho. Serão Musk, Bezos, Thiel… Zuckerberg? Esses bilionários são os vencedores presumíveis da economia digital – o mesmo cenário de sobrevivência do mais apto que alimenta a maior parte dessa especulação.
Claro que nem sempre foi assim. Houve um breve momento, no início dos anos 1990, em que o futuro digital parecia aberto a nossa invenção. A tecnologia estava se tornando um playground para a contracultura, que via nela a oportunidade de criar um futuro mais inclusivo, igualitário e pró-humano. Mas os interesses de lucro do establishment viram somente novos potenciais para a velha exploração, e muitos tecnólogos foram seduzidos pelos unicórnios das bolsas de valores. O futuro digital passou a ser compreendido mais como ações futuras ou mercadorias futuras – algo a ser previsto e em que apostar. Assim, quase todos os discursos, artigos, estudos, documentários ou documentos técnicos eram considerados relevantes apenas na medida em que apontavam para um símbolo de corporação global. O futuro tornou-se menos uma coisa que criamos através de nossas escolhas ou esperanças pela humanidade, do que um cenário predestinado no qual apostamos com nosso capital de risco, mas ao qual chegamos passivamente.
Isso liberou todo mundo das implicações morais de suas atividades. O desenvolvimento da tecnologia tornou-se menos uma história de florescimento coletivo do que de sobrevivência pessoal. Pior, como vim a aprender, chamar atenção para isso era ser involuntariamente considerado um inimigo do mercado ou um rabugento antitecnológico.
A esta altura, o invés de tecer considerações éticas sobre empobrecer ou explorar muitos, em nome de poucos, a maioria dos acadêmicos, jornalistas e escritores de ficção científica passou a se dedicar a enigmas muito mais abstratos e fantasiosos: é justo um operador nos mercados financeiros usar drogas inteligentes? As crianças devem receber implantes para línguas estrangeiras? Queremos que veículos autônomos priorizem a vida dos pedestres, em detrimento dos passageiros? Devem as primeiras colônias de Marte ser administradas como democracias? Mudar meu DNA prejudica minha identidade? Os robôs devem ter direitos?
Fazer esse tipo de pergunta, embora filosoficamente divertido, é um substituto pobre para o exame dos verdadeiros dilemas morais associados ao desenvolvimento tecnológico desenfreado, em nome do capitalismo corporativo. As plataformas digitais já tornaram um mercado explorador e extrativista (pense na Walmart), em um sucessor ainda mais desumanizador (pense na Amazon). A maioria de nós tornou-se consciente desse lado sombrio na forma de empregos automatizados, trabalho temporário e o fim do varejo local.
Porém, os impactos mais devastadores desse capitalismo digital que avança recaem sobre o meio ambiente e os pobres do mundo. A produção de alguns de nossos computadores e smartphones ainda usa redes de trabalho escravo. Essas práticas estão tão profundamente arraigadas que uma empresa chamada Fairphone, fundada a partir do zero para produzir e comercializar telefones éticos, verificou que era impossível. (Agora o fundador da empresa se refere a seus produtos como telefones “mais justos”)…
Enquanto isso, a mineração de metais raros e o descarte de nossas tecnologias altamente digitais destroem habitats humanos, substituindo-os por depósitos de lixo tóxico — recolhido por crianças camponesas e suas famílias, que vendem materiais utilizáveis de volta aos fabricantes.
Essa externalização — “fora da vista, fora da mente” — da pobreza e do veneno não desaparece apenas porque cobrimos nossos olhos com óculos de realidade virtual e ficamos imersos numa realidade alternativa. Quanto mais ignoramos as repercussões sociais, econômicas e ambientais, mais elas se tornam problemáticas. Isso, por sua vez, motiva ainda mais privação, mais isolacionismo e fantasia apocalíptica – e tecnologias e planos de negócios mais concebidos em desespero. O ciclo se retroalimenta.
Quanto mais comprometidos estamos com essa visão de mundo, mais passamos a ver os seres humanos como problema e a tecnologia como solução. A própria essência do que significa ser humano é tratada menos como uma característica do que como defeito intrínseco, um bug. As tecnologias são declaradas neutras, a despeito dos preconceitos nelas incorporados. Quaisquer que sejam os comportamentos ruins que induzam em nós, eles seriam apenas um reflexo de nosso próprio núcleo corrompido. É como se alguma selvageria humana inata fosse a culpada pelos nossos problemas. Assim como a ineficiência de um mercado de táxi local pode ser “resolvida” com um aplicativo que leva motoristas humanos à falência, as incômodas incoerências da psiqué humana podem ser corrigidas com um upgrade digital ou genético.
Em última análise, segundo a ortodoxia tecnosolucionista, o futuro humano chega ao climax se inserir nossa consciência num computador ou, talvez anda melhor, aceitar que a própria tecnologia é nossa sucessora na evolução. Como os membros de um culto gnóstico, ansiamos por entrar na próxima fase transcendente de nosso desenvolvimento, eliminando nossos corpos e deixando-os para trás junto com nossos pecados e problemas.
Nossos filmes e programas de televisão encenam essas fantasias por nós. Seriados de zumbis mostram um pós-apocalipse em que as pessoas não são melhores que os mortos-vivos – e parecem conhecê-los. Pior, esses filmes convidam os espectadores a imaginar o futuro como uma batalha de soma zero entre os humanos remanescentes, onde a sobrevivência de um grupo depende da morte de outro. Mesmo Westworld – baseado num romance de ficção científica em que robôs correm descontroladamente – encerrou sua segunda temporada com a revelação definitiva: os seres humanos são mais simples e previsíveis do que as inteligências artificiais que criamos. Os robôs aprendem que cada um de nós pode ser reduzido a apenas algumas linhas de código e que somos incapazes de fazer escolhas intencionais. Caramba, naquela série até mesmo os robôs querem escapar dos limites de seus corpos e passar o resto de suas vidas numa simulação de computador.
A ginástica mental requerida por essa profunda inversão de papéis entre humanos e máquinas depende do pressuposto subjacente de que os humanos são péssimos . Vamos mudá-los ou nos afastar deles para sempre.
Então, temos bilionários da tecnologia lançando carros elétricos ao espaço – como se isso simbolizasse algo mais que a capacidade de um bilionário promover-se na corporação. E se poucas pessoas conseguem escapar e de alguma forma sobreviver numa bolha em Marte – a despeito de nossa incapacidade de manter tal bolha até mesmo aqui na Terra, em qualquer dos dois testes multibilionários feitos na Biosfera – o resultado será menos a continuação da diáspora humana que um salva-vidas para a elite.
Quando os financistas de fundos hedge perguntaram sobre a melhor maneira de manter a autoridade sobre suas forças de segurança depois do evento, sugeri que sua melhor aposta seria tratar muito bem essas pessoas, desde já. Deviam envolver-se com suas equipes de segurança como se estas fossem formadas por membros de suas próprias famílias. E quanto mais eles pudessem expandir esse espírito de inclusão para o resto de suas práticas de negócios, gerenciamento da cadeia de suprimentos, esforços de sustentabilidade e distribuição de riqueza, menor a chance de haver um evento, em primeiro lugar. Toda essa magia tecnológica poderia ser aplicada desde já, para fins menos românticos, porém muito mais coletivos.
Eles ficaram pasmos com meu otimismo, mas na verdade não o aceitaram. Não estavam interessados em como evitar uma calamidade; estavam convencidos que já fomos longe demais. Apesar de toda a sua riqueza e poder, não acreditam que possam afetar o futuro. Estão simplesmente aceitando o mais sombrio de todos os cenários e, em seguida, trazendo todo o dinheiro e tecnologia que podem usar para isolar-se – especialmente se não conseguirem um lugar no foguete para Marte.
Felizmente, aqueles de nós sem dinheiro para considerar a negação de nossa própria humanidade têm disponíveis opções muito melhores. Não precisamos usar a tecnologia de modo tão antissocial e atomizante. Podemos nos tornar os consumidores e perfis individuais em que nossos dispositivos e plataformas desejam nos transformar, ou podemos nos lembrar que o humano verdadeiramente evoluído não caminha sozinho.
Ser humano não tem a ver com sobrevivência ou saída individual. É um esporte coletivo. Seja qual for o futuro dos humanos, será de todos nós.
__
Douglas Rushkoff is the author of the upcoming book Team Human (W.W. Norton, January 2019) and host of the TeamHuman.fm podcast.
Etiquetas:
1%,
Computadores,
Criptomoedas,
CRISPR,
Elon Musk,
Futurismo,
Globalização,
HGM,
Mineração,
Neofascismo,
Podcast,
Robotica,
Silicio,
Simulação,
Transumanismo
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
1 milhão de espécies estão em risco de extinção
A natureza está declinando globalmente, com taxas sem precedentes na história humana. O índice de extinção de espécies também está acelerando, com prováveis graves impactos em pessoas ao redor do mundo.
O alerta foi feito num novo relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, Ipbes, aprovado na 7ª sessão do Plenário que aconteceu até sábado, em Paris.
Extinção
O relatório conclui que cerca de 1 milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção. Muitas, devem desaparecer nas próximas décadas.
Segundo o presidente do IPBES, Robert Watson “a esmagadora prova da Avaliação Global do IPBES, de uma vasta série de diferentes áreas de conhecimento, apresenta um quadro ameaçador”. Ele destaca que “a saúde dos ecossistemas dos quais nós e todas as outras espécies dependem está se deteriorando mais rapidamente do que nunca.”
Para Watson, “estamos erodindo as próprias fundações de nossas economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo”. No entanto, ele acrescentou que o relatório também indica que "não é tarde demais para fazer a diferença, mas apenas se começarmos agora em todos os níveis, do local ao global".
Estudo
O Relatório de Avaliação Global do IPBES sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos é o mais abrangente já apresentado. É o primeiro relatório intergovernamental deste tipo e se baseia na histórica Avaliação Ecossistémica do Milénio de 2005, introduzindo formas inovadoras de avaliação das evidências.
O estudo foi produzido nos últimos três anos, por 145 autores especialistas de 50 países e contou com o apoio de outros 310 autores contribuintes. O relatório avalia as mudanças nas últimas cinco décadas, fornecendo uma visão abrangente da relação entre os caminhos do desenvolvimento econômico e seus impactos na natureza. Ele oferece ainda vários cenários possíveis para as próximas décadas.
Com base na revisão sistemática de cerca de 15 mil fontes científicas e governamentais, o relatório também apresenta, pela primeira vez nessa escala, conhecimentos indígenas e locais, particularmente sobre questões relevantes para os Povos Indígenas e Comunidades Locais.
Índices
De acordo com a professora argentina Sandra Díaz, que co-presidiu o estudo com outros especialistas, “a biodiversidade e as contribuições da natureza para as pessoas são a nossa herança comum e a mais importante 'rede de segurança' de apoio à vida da humanidade.” Ela explica que “a diversidade dentro das espécies, entre espécies e ecossistemas, assim como muitas contribuições fundamentais que derivamos da natureza, estão declinando rapidamente, embora ainda tenhamos os meios para garantir um futuro sustentável para as pessoas e o planeta.”
A abundância média de espécies nativas na maioria dos principais habitats terrestres caiu em pelo menos 20%, principalmente desde 1900. Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos recifes de corais e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados.
O quadro é menos claro para espécies de insetos, mas evidências disponíveis apoiam uma estimativa de que 10% delas estejam ameaças. Pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à extinção desde o século XVI. Mais de 9% de todas as raças domesticadas de mamíferos usados para alimentação e agricultura foram extintas até 2016, com pelo menos mais mil raças ainda ameaçadas.
Mais de 40% das espécies de anfíbios, quase 33% dos recifes de corais e mais de um terço de todos os mamíferos marinhos estão ameaçados.
Fatores
Para aumentar a relevância política do relatório, os autores da avaliação classificaram, pela primeira vez nessa escala e com base em uma análise minuciosa das evidências disponíveis, os cinco fatores diretos da mudança na natureza com os maiores impactos globais relacionados até o momento. Em ordem decrescente, estes são as mudanças no uso da terra e do mar, a exploração direta de organismos, a mudança climática, a poluição e as espécies exóticas invasoras.
O relatório observa que, desde 1980, as emissões de gases do efeito estufa dobraram, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7 graus Celsius. Com a mudança climática já afetando a natureza do ecossistema à genética, os impactos devem aumentar nas próximas décadas, em alguns casos, superando o impacto da mudança do uso da terra e do mar e outros fatores.
Apesar do progresso na conservação da natureza e implementação de políticas, o relatório também considera que as metas globais para conservar e usar a natureza de forma sustentável e alcançar a sustentabilidade não podem ser alcançadas pelas trajetórias atuais. Segundo o estudo, as metas para 2030 e além podem ser alcançadas apenas através de mudanças transformativas de fatores económicos, sociais, políticos e tecnológicos.
Com bons progressos em componentes de apenas quatro das 20 Metas de Biodiversidade de Aichi, é provável que a maioria delas não seja alcançada até o prazo de 2020.
Etiquetas:
Anfibios,
Aquecimento Global,
Biodiversidade,
Convenção Biodiversidade,
Corais,
Ecologia Política,
Economia Ecológica,
Extinção,
GEE,
Invertebrados,
IPBES,
Kofi Annan,
Mamíferos,
PNUD,
Relatório,
Reportagem
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
domingo, 22 de dezembro de 2019
O encontro do saber indígena com a ciência para resolver a alteração climática
Para enfrentar um problema da dimensão da alteração climática é preciso unir o conhecimento científico e o indígena, defende a ativista ambientalista Hindou Oumarou Ibrahim. Nesta palestra, ela mostra como a sua comunidade nómada do Chade está a atuar em conjunto com cientistas para restaurar ecossistemas ameaçados de extinção, e ensina como criar comunidades mais resilientes.
Etiquetas:
Alterações Climáticas,
Ciencia,
Crise Ecológica,
Desertificação,
Ecofeminismo,
Hindou Ibrahim,
Lagos,
Povos Indígenas,
Resiliencia,
Restauro,
Ted Talks
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
Documentário - Living the Change: Inspiring Stories for a Sustainable Future (2018)
Living the Change é um documentário de longa-metragem que explora soluções para as crises globais que enfrentamos hoje – soluções das quais qualquer um de nós pode fazer parte – por meio de histórias inspiradoras de pessoas pioneiras em mudanças nas suas próprias vidas e nas suas comunidades para viver de forma sustentável e regenerativa.
Os diretores Jordan Osmond e Antoinette Wilson reuniram histórias de suas viagens, juntamente com entrevistas com especialistas capazes de explicar como chegamos onde estamos hoje. De jardins florestais a banheiros de compostagem, agricultura apoiada pela comunidade e banco de tempo, Living the Change oferece maneiras pelas quais podemos repensar nossa abordagem de como vivemos.
Entrevistados:
Leo Murray, Charles Eisenstein, Shane Ward, Dr. Susane Krumdieck, Dr. Mike Joy, Frank van Steensel, Josje Neerincx, Greg Hart, Robert Guyton, Wiremu Puke, Andrew Martin, Ton Nicholson, Sarah Nelisiwe Nicholson, Sharon Stevens, Maria Lee, Stephen McLuckie, Weveney Warth, Matthew Luxon, Sharon McIver e Greg Inwood
Etiquetas:
A Pé,
Agricultura Biológica,
Agricultura Sintrópica,
Agroecologia,
Bicicleta,
Charles Eisenstein,
Compostagem,
Documentário,
Ecoaldeias,
Hortas Urbanas,
Lixo Zero,
Permacultura,
Regenerar,
Vermicompostagem
sábado, 14 de dezembro de 2019
COP25 aconteceu em Santiago, Chile, entre 2 e 13 de dezembro
A COP 25 aconteceu em Santiago, Chile, entre 2 e 13 de dezembro. Com o tema "As ações do clima dependem de todos nós. A hora de agir é agora!", após o Brasil desistir de realizar o evento.
Página Oficial
Youtube
Etiquetas:
Acordo de Paris,
Cooperação,
COP25,
Ecofeminismo,
Educação Ambiental,
LGBTQIA+,
Neutralidade Carbónica,
ONG,
Protocolo de Quioto,
Resiliencia
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
Baltasar Garzón - análise sobre as alterações climáticas
Meio Ambiente
Continuamos a matar a nossa Mãe Natureza. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) revela contundente e intransigentemente uma realidade que não é menos perturbadora por ser conhecida. As políticas governamentais, algumas em particular, os interesses econômicos das grandes corporações e a indiferença do público em geral, fazem ouvidos moucos aos apelos dos especialistas e da própria natureza. Estamos tão absortos no imediato que não percebemos o que está por vir se não pararmos com essa deriva.
Incêndios em maciços florestais no mundo, um atentado ao meio ambiente que contribui para as mudanças climáticas. É tempo, pois, de abrir um grande debate internacional em que todos os cidadãos reconsiderem e reflitam sobre a viabilidade, no futuro, da sua forma de viver e do seu tempo na Terra. Temos que parar para pensar na energia que consumimos e sua origem; os produtos que compramos e sua origem; o que comemos e como é produzido; as empresas cujos produtos e serviços utilizamos e seu impacto no meio ambiente e nos direitos humanos daqueles que sofrem primeiro os efeitos dessa depredação e exploração suicida. Não basta apenas exigir ações de partidos políticos, governos, municípios, União Europeia e outras organizações internacionais, mas devemos ser consistentes e nos perguntar, de forma coerente, como devemos rever nossa conduta na Terra para que continue a vida sendo possível neste planeta.
Um novo crime: Ecocídio
Porque a triste verdade é que continuam a ser cometidas verdadeiras atrocidades contra a natureza, catástrofes dirigidas pelos humanos através de grandes empresas e governos que estão por detrás da contaminação dos nossos oceanos e mares, do desaparecimento de espécies animais, da poluição da atmosfera e do ar que respirar, a destruição do subsolo, a pilhagem de florestas e selvas, ou a degradação dos rios. Enquanto alguns se recusam a vê-lo e permanecem obstinados em posições negacionistas que nenhum relatório científico moderadamente sério é capaz de sustentar, outros decidiram nomeá-lo e é ecocídio. Este conceito, desenvolvido pela falecida Polly Higgins, define magistralmente a destruição de todos estes ecossistemas para os tornar inúteis para a vida e usufruto dos seus habitantes: animais, plantas ou pessoas. Diante do ecocídio, é urgente ativar o direito e a justiça internacional e universal e lutar contra a impunidade derivada da barbárie climática e ecológica. É uma atitude inevitável que não deve ser adiada por um segundo.
Cúpula Mundial sobre a Crise Climática
Enquanto isso, e com o patrocínio da ONU, a maior cúpula mundial sobre a crise climática, a COP 25, acontecerá em Santiago do Chile em dezembro, na qual cerca de 30.000 participantes representando 200 países discutirão nossos mares, energias renováveis, ecossistemas, biodiversidade. .. Os acordos alcançados podem significar uma trégua para a Terra, afogada pela má gestão de nossos dirigentes. Mas de pouco servirá o melhor concerto se depois cederem a interesses espúrios, condicionados pelos resultados da empresa e pelas exigências dos accionistas que os conduziram à presidência. Como afirmou o Papa Francisco há alguns dias, há um palavrão para toda essa catástrofe ambiental: corrupção.
A resposta do cidadão
Devemos ir mais longe, proporcionando uma formação sólida às crianças e jovens, enquanto os adultos devem ser reeducados para cuidar melhor do nosso planeta e valorizar o legado que vamos transmitir às gerações seguintes. Esta educação deve traduzir-se numa maior ação política e cidadã inspirada em valores democráticos que fazem da política uma vocação de serviço a favor do bem comum e do bem maior e não no exercício grosseiro do poder a favor das elites e das suas economias benefícios. A participação cidadã é uma força capaz de conter os apetites vorazes dos poderosos. Mas também no âmbito legislativo, local e internacional, e especialmente no da justiça, é necessário dar passos definitivos acima dos interesses económicos ou políticos.
Devemos projetar esses novos espaços, por exemplo através da jurisdição universal, ampliando sua esfera de proteção à natureza. Como diz o teólogo Leonardo Boff: «O tempo das nações está passando; agora é a vez da Terra e temos que nos organizar para garantir os meios que vão sustentar a nossa vida e a da natureza”.
Etiquetas:
Ambiente,
Consumismo,
COP25,
Corrupção,
Crise Ecológica,
Ecocídio,
Estatuto Roma,
Ilustração,
IPCC,
Leonardo Boff,
Papa Francisco,
Pegada Ecológica,
Pegada Hídrica,
Polly Higgins,
TPI
Entrevista- Exploring the Amazing World of Lichens with Manuela Dal Forno
Os líquenes estão ao nosso redor – em árvores, rochas e até em alguns edifícios. Mas, o que é um líquen? E de que adiantam? A cientista de líquens Manuela Dal Forno ajudará os alunos a entender a relação simbiótica especial dentro de cada líquen. Ela mostrará aos alunos os diferentes passos que ela dá para estudar os líquenes: encontrá-los na natureza, observá-los ao microscópio e analisar seu DNA. Ela compartilhará por que nos preocupamos com os líquenes. Compreender a vida ao nosso redor é importante para entender a natureza e como os ambientes estão mudando. Por exemplo, muitos líquens são indicadores da qualidade do ar e outros fornecem habitats para insetos e material de ninho para beija-flores.
Este programa foi ao ar originalmente em 28 de março de 2019, como parte da série de webcast do Smithsonian Science How, projetada para levar pesquisas e cientistas de história natural para alunos do ensino fundamental e médio.
Saiba mais sobre o programa Science How e inscreva-se para uma transmissão ao vivo no canal Youtube do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
Veja o discurso completo em português de Greta Thunberg na COP 25
Jørgen Randers - “Global development on a finite planet towards 2050”
terça-feira, 10 de dezembro de 2019
O Tratado de Lisboa em Poucas Palavras
Dois referendos negativos a um Tratado Constitucional, em 2005, dão origem ao processo que conduz ao Tratado de Lisboa. O Conselho Europeu aprova-o e assina-o a 13 de dezembro de 2007, com entrada em vigor a 1 de dezembro de 2009.
- Presidência fixa do Conselho Europeu: o Tratado de Lisboa criou a figura do Presidente do Conselho Europeu, nomeado pelos dirigentes nacionais dos Estados-Membros, com mandato de dois anos e meio. Até então, a Presidência do Conselho Europeu era rotativa entre todos os Estados-Membros.
- Presidência rotativa do Conselho da União Europeia: com uma organização por trios, o Conselho da UE é presidido rotativamente pelos Estados-Membros, por períodos de seis meses. A Presidência do Conselho da UE tem como função dirigir os trabalhos e organizar as reuniões do Conselho da UE.
- Regra da maioria qualificada: para uma medida ser aprovada é necessária a concordância de 55% dos países da UE, percentagem essa que deve, também, representar 65% da população.
- Redução do direito de veto: o direito de veto fica restringido em mais de 30 áreas.
- Saída da União Europeia: foi o Tratado de Lisboa que introduziu a possibilidade de saída de um Estado-Membro da União Europeia.
- Redução do número de eurodeputados: o Parlamento Europeu passou a ter 750 eurodeputados mais um (o seu Presidente). Com o Brexit o número de eurodeputados passou para 705.
- Criação do cargo do Alto-Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança.
- Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia: fica fora do âmbito do Tratado, mantendo todo o seu valor jurídico.
- Iniciativa de Cidadania Europeia: o direito à petição é garantido quando se juntam um milhão de cidadãos e um número mínimo de sete Estados-Membros da União Europeia.
- Personalidade jurídica própria da UE: a União passa a ter capacidade para aderir a organizações internacionais e os seus Estados-Membros só podem celebrar acordos internacionais que estejam em conformidade com o direito da UE.
- Organização dos poderes da União Europeia em três tipos de competência: competência exclusiva, competência partilhada e competências de apoio.
O Tratado de Lisboa impulsionou uma nova dinâmica de transparência que pretende incentivar a proteção e a participação dos cidadãos e a responsabilidade democrática.
Documentos
Tratado de Lisboa - Parlamento
Etiquetas:
BCE,
Cidadania,
Ciência Cidadã,
Coesão Territorial,
Democracia,
Democracia Digital,
Democracia Local,
Democracia Participativa,
Dia Nacional,
E-livro,
Justiça Climática,
Petição,
Politica,
UE
Video da semana : "Como os lobos mudam os rios" (Legendado)
sábado, 7 de dezembro de 2019
Madrid ou a vergonha de Prometeu
Oque está a acontecer na COP 25 de Madrid é muito mais do que parece. Metaforicamente falando, poderíamos dizer que nas últimas quatro décadas confirmámos o que apenas uma elite de argutos observadores, com olhos de águia, havia percebido antes: não precisamos de temer o que vem do espaço. Nenhum asteroide constitui ameaça provável à existência da Terra. Na verdade, a única ameaça existencial à vida (ainda) exuberante no único planeta habitado conhecido do universo somos nós, a espécie humana. A COP 25 reproduz também outra figura da nossa iconografia ocidental. Pela 25.ª vez, Sísifo, desta vez corporizado pela imensa maquinaria da diplomacia ambiental, transportará a sua pedra penitencial até ao alto de mais uma cimeira, para a deixar rolar de novo, numa repetição ritual e aparentemente inútil.
Habitamos hoje numa sociedade desordenadamente global, que já não depende da política no sentido liberal clássico. A ideia de que o Estado democrático está revestido de um poder legítimo, que pode vencer ameaças existenciais e transformar a realidade para melhor, perde brilho em cada COP. Os grandes atores globais, o sistema financeiro mundial e as grandes multinacionais não estão sequer presentes à mesa das negociações. Limitam-se a passear pelos corredores. O motor do mundo contemporâneo reside numa inércia económica, autorizada pela capitulação cúmplice das políticas públicas, desde o início dos anos 1980. É esta inércia que constitui o novo e inexorável rosto do destino. Em Madrid, o imperativo da urgência face ao perigo ergue-se, para logo sucumbir à tragédia do inexorável fado do crescimento exponencial. Essa inércia que devora a Terra e todas as suas criaturas, tudo arrastando na sua voragem caudalosa.
A modernidade terminal em que estamos mergulhados nasceu sob o signo do humanismo confiante. Para alguns, a crença no homem tornou-se uma nova teologia. É verdade que tivemos alguns avisos. Pico della Mirandola alertava-nos em 1486: a liberdade humana tanto pode ascender à mais alta elevação do espírito como pode degradar-se abaixo das mais primitivas criaturas. Em 1881, Nietzsche advertia-nos para os enormes desafios deste tempo da "morte de Deus", temendo que acabássemos por sacrificar a liberdade recente à tutela de uma multidão de ídolos medíocres e cruéis. Acertou em cheio: o Prometeu emancipado cedo deu lugar ao Prometeu agrilhoado a novos ídolos: a nação, a raça, a história, o Estado, o mercado... Em 1945, com o Holocausto, pensávamos que o humanismo moderno havia batido no fundo. Contudo, o século XXI, dominado sem alternativa pelo ídolo do capital, o mais tenaz e virulento de todos, ameaça desaguar no colapso planetário, incluindo a extinção da nossa espécie. Se tal ocorrer, ninguém cá estará para testemunhar se algum deus verterá lágrimas pelo crepúsculo de Prometeu. Talvez o homem não seja mais do que um breve erro e uma frágil ilusão divina...
Do lixo à arte: 30 "animais" de Bordalo II que alertam sobre a poluição
"Big Trash Animals" de Artur Bordalo é uma série de obras de arte que visam chamar a atenção para a poluição através de obras criadas com lixo recolhido nas ruas.
![]() |
Fonte aqui |
O artista português teve tanto sucesso em transmitir a sua mensagem que se tornou num fenómeno global. O site Bored Panda reuniu alguns dos seus trabalhos mais recentes, variando de lugares tão diversos quanto os EUA, Estónia e, claro, Portugal. Bordalo II recolhe os seus materiais de resíduos que foram deixados na área e produz impressionantes esculturas de animais para simbolizar tanto a beleza da natureza quanto os resíduos que a ameaçam.
Artur Bordalo nasceu em 1987, em Lisboa, teve no avô, o pintor Real Bordalo, a grande fonte de inspiração para se transformar também ele em artista plástico (ou “artivista” como se define).
A tecnologia realmente “salvará” o planeta?
“Com a crise climática piorando e nenhum contrapoder efetivo no horizonte, o que precisamos desesperadamente é de um imaginário político completamente novo, que finalmente consiga libertar o mundo do domínio das corporações transnacionais”, escreve Carl Boggs, professor de ciências sociais na Universidade Nacional de Los Angeles, em artigo publicado por Rebelión, 06-12-2019. A tradução é do Cepat.
Na medida em que a crise ecológica se aprofunda e nos leva ao famoso “ponto de inflexão” - que nos aproxima de uma catástrofe planetária -, tentam nos convencer de que o “reverdecimento” da economia mundial nos afastará de um futuro muito obscuro. De alguma forma, contra toda lógica, adotamos uma fé coletiva na disposição dos governos e das grandes empresas em fazer a coisa certa. A pegada de carbono será drasticamente reduzida graças a uma combinação de estratégias de mercado e tecnologias mágicas. E, na medida em que progride sem complicações a mitigação do efeito estufa, as forças dominantes serão capazes de fazer o que melhor fazem: entregar-se à religião de acumulação e crescimento sem limites.
Esse cenário lindamente decorado é a mais deprimente e paralisante de todas as grandes ilusões. E em nenhum outro lugar sua influência é mais forte do que onde vivem os maiores vilões ambientais: os Estados Unidos.
O pomposo Acordo de Paris de 2015 foi vendido como a grande esperança, mas seria melhor defini-lo como um exercício bem-intencionado de futilidade, algo que o prestigiado climatologista James Hansen, definiu com desprezo como “uma farsa sem propostas de ação, apenas promessas”. Em Paris, os 200 membros participantes propuseram a fórmula 20/20/20: redução de 20% nas emissões de carbono, aumento de 20% nas fontes de energia renováveis e aumento de 20% na eficiência energética geral. Teoricamente, isso manteria a temperatura global média em menos de 2 graus (idealmente 1,5º) acima do nível pré-industrial.
O problema é que todos os objetivos são voluntários e não há mecanismo que obrigue o seu cumprimento. Segundo o Acordo de Paris, cada nação (atualmente as 187 signatárias) determina seus próprios planos, estabelece seus próprios resultados e relata suas iniciativas de mitigação de carbono. A realidade é que nenhum desses países ainda avançou na implementação de metas consistentes com a prescrição 20/20/20, e a maior parte deles se encontra muito longe desse objetivo. Embora o presidente Trump tenha retirado os Estados Unidos do Acordo, sua pegada de carbono não é pior do que a de outros grandes emissores (China, Índia, Rússia, Japão, Alemanha, Canadá e México).
Apesar de muitas nações terem aumentado sua utilização de energias limpas, o aumento do crescimento econômico global levou a um aumento paralelo das emissões de carbono: 1,6% em 2017, 2,7% em 2018 e se preveem aumentos ainda maiores para 2019. A economia fóssil se move a toda velocidade: as extrações de petróleo e gás atingiram recordes históricos e não se espera que diminuam. Mesmo com um aumento significativo das renováveis, como está ocorrendo na China, Índia, Estados Unidos e Europa, está previsto um aumento constante da pegada de carbono devido ao aumento total do crescimento econômico e do consumo de energia. Atualmente, os 10 países mais poluentes representam 67% do total de emissões de gases do efeito estufa (GEE) e há poucas mudanças à vista.
Recentemente, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), um organismo que dificilmente poderia ser chamado de radical, projetou que até 2030 a produção global de combustíveis fósseis seria mais do que o dobro da quantidade que devemos consumir se quisermos reverter o aquecimento global. Em outras palavras, os acordos de Paris estavam vazios de conteúdo. O relatório do PNUMA concluiu, extrapolando os dados de emissão dos oito países mais poluentes, que a “humanidade” avança por um caminho suicida em direção ao desastre ecológico, marcado por aumentos de temperatura de quatro graus ou mais.
De qualquer forma, mesmo que as principais nações cumprissem os objetivos 20/20/20, pouco mudaria. Na realidade, a soma de todos os compromissos assumidos em Paris não manteria a temperatura abaixo do aumento de dois graus (ou mais) nas próximas décadas. O consumo global de combustíveis fósseis, associado ao aumento do crescimento, anularia esses esforços, de modo que as estratégias existentes de mitigação de carbono seriam ilusórias.
De fato, muitos observadores aplicados acreditam que já é tarde demais e que, carregados com o fardo de uma herança de fracasso político, estamos indo diretamente para um desastre planetário. Ondas de protestos climáticos em todo o mundo estão tentando aumentar a indignação pública, mas esses protestos (e anteriores) ainda não geraram o tipo de oposição política coesa capaz de reverter a crise. Estamos presos em um ciclo de futilidade, uma imobilidade psicológica que David Wallace-Wells chama de “niilismo climático”, em seu livro “A terra inabitável” [1]. Os protestos massivos que ocorrem num ambiente como esse não se traduzem automaticamente em uma mudança no sistema, nem mesmo em grandes reformas, como as associadas aos diferentes Green New Deals.
Na opinião de escritores como Wallace-Wells, estamos presos em um mundo que avança inexoravelmente em direção a um aumento de quatro ou cinco graus no final do século, se não antes. O autor conclui afirmando que “se os próximos 30 anos de atividade industrial traçarem um arco ascendente semelhante ao dos últimos 30 anos, regiões inteiras serão inabitáveis pelos padrões atuais”.
O cataclismo ecológico devastará grandes regiões da Europa, América do Norte e do Sul. Nesse cenário, a economia mundial sofrerá tanta destruição que a famosa teoria da crise de Karl Marx parecerá tíbia. Wallace-Wells acrescenta: “Um aquecimento de três graus desencadeará um sofrimento maior do que os seres humanos experimentaram ao longo de milénios de tensões, conflitos e guerra total”.
Além da “atividade industrial”, Wallace-Wells poderia ter mencionado o âmbito ainda mais problemática da agricultura e da alimentação: esse será o elo mais fraco de um sistema em crise. Atualmente, 80% da água doce é dedicada à agricultura e pecuária, e metade é usada na produção de carne. Vivemos em um mundo onde são necessários cerca de 20.000 litros de água para produzir um quilo de carne bovina e 685 litros por um litro de leite.
A metade de toda a superfície cultivável é dedicada a pastagens, e não parece que esse valor diminua com a industrialização de novos países. A pegada de carbono da agricultura para alimentação animal pode atingir 30% do total, ou até mais, se considerarmos o uso de combustíveis fósseis. Como atualmente mais de 2 bilhões de pessoas estão privadas de água e alimentos adequados, seria necessário considerar seriamente a insustentabilidade da agroindústria capitalista.
Apesar dos apelos para “salvar o planeta” e do recente aumento do “ativismo climático”, poucos países lançaram um programa para reduzir radicalmente as emissões de carbono. Para governos e elites empresariais, tudo permanece igual. No livro “Leviatán climático” [2], os escritores britânicos marxistas Geoff Man e Jonathan Wainwright lamentam: “A possibilidade de conseguir uma rápida redução do carbono global que mitigue a mudança climática já passou. As elites mundiais, ao menos, parecem tê-la abandonado, se alguma vez a levaram a sério”. Em vez disso, parece que optaram por uma política de adaptação a um planeta em aquecimento contínuo.
Os mesmos gigantes corporativos que dominam a economia mundial são os que tomam as decisões que afetam o futuro ecológico. Na atualidade, e de acordo com Peter Phillips em “Gigantes. Os senhores do Mundo” [3], as 385 transnacionais que dominam o sistema mundial estão avaliadas em 255 trilhões de dólares e grande parte desse dinheiro é investido no setor de combustíveis fósseis.
Os Estados Unidos e a Europa possuem quase dois terços dessa quantia. Não mais de 100 empresas são responsáveis por pelo menos 70% de todas as emissões de GEE. No topo desta pirâmide, 17 gigantes financeiros dirigem a economia do mundo capitalista. Até o momento, não há sinais de que os chefes do capitalismo fóssil estejam dispostos a se desviar de seu curso historicamente destrutivo.
Atualmente, as elites tecnológicas nos Estados Unidos falam muito sobre reduzir sua pegada de carbono, um movimento que obviamente beneficiaria sua imagem corporativa. Os executivos da Amazon, Google, Microsoft e Facebook parecem ansiosos para lançar suas próprias cruzadas verdes. Ritualmente, pregam que a tecnologia verde é a maneira para mitigar a emissão de carbono. Jeff Bezos afirmou que a Amazon receberá 100% da energia que precisa de fontes alternativas em 2030. Outros oligarcas tecnológicos parecem prometer uma economia livre de carbono em resposta, pelo menos parcialmente, à escalada dos protestos dos trabalhadores.
Outra bela ilusão: os gigantes tecnológicos e os gigantes do petróleo decidiram, de fato, avançar estreitamente associados. Aparentemente, a ideia de “reverdecer” não impede que Google, Amazon, Microsoft e outros tirem proveito de sua contribuição para que esses outros gigantes (Shell, ExxonMobil, Chevron, BP etc.) possam encontrar locais melhores, mais baratos e mais eficientes para perfurar e fazer fracking.
As grandes empresas de tecnologia podem fornecer o que mais precisam: espaços na nuvem, inteligência artificial, robótica e informações geológicas e meteorológicas. Essas ferramentas foram especialmente úteis na exploração de reservas de petróleo de xisto betuminoso no Canadá e nos Estados Unidos. Referindo-se especificamente à ExxonMobil, Bezos disse que “precisamos ajudá-los, em vez de vilipendiá-los”. O que significa 50.000 barris diários a mais de petróleo de xisto apenas para uma das empresas destruidoras do clima.
Enquanto os negócios do Google, Microsoft e Amazon estão indo de vento em poupa, flui o descontentamento dos trabalhadores, que se manifestam através de protestos e greves direcionadas não apenas contra a hipocrisia do clima, mas também contra outras “colaborações” com os corpos policiais, os organismos de segurança nas fronteiras, as operações de inteligência e, claro, o Pentágono. Outra fantasia das grandes empresas de tecnologia é a captura e armazenamento de carbono, um projeto considerado muito problemático tanto técnica, quanto economicamente.
A obstinada realidade é que, até 2040, o mundo consumirá um terço a mais de energia do que atualmente e que provavelmente 85% dessa energia virá de gás, petróleo e carvão. O subsolo contém combustíveis fósseis no valor de muitos trilhões de dólares. A lógica empresarial determina que essa incrível fonte de riqueza seja utilizada ao máximo, independentemente dos objetivos “verdes” que possam surgir em Paris e na COP de Madri.
Ao mesmo tempo, reputadas projeções econômicas indicam que em 2040 a China liderará a economia mundial, com um PIB de 50 trilhões de dólares, seguida pelos Estados Unidos, com 34 trilhões de dólares, e pela Índia, com 28 trilhões. Presumivelmente, essas nações terão mais riqueza do que o resto do mundo como um todo. E, o que é mais impressionante, as duas principais nações possuirão mais riqueza (e controlarão mais recursos) do que o total do que existe atualmente no planeta.
Que implicações esse cenário aterrorizante terá para o consumo de energia? E para a alteração do clima? E para a miséria social? Para a agricultura e a escassez de alimentos? Para as guerras por recursos e o militarismo que se supõe ser a causa e o efeito dessas guerras? Podem o Acordo de Paris, a COP de Madri e outras cúpulas que acontecem - ou qualquer New Green Deal - mudar substancialmente a trajetória de um sistema tão insustentável?
Com a crise climática piorando e nenhum contrapoder efetivo no horizonte, o que precisamos desesperadamente é de um imaginário político completamente novo, que finalmente consiga libertar o mundo do domínio das corporações transnacionais.
Notas:
[1] A terra inabitável: Uma história do futuro. Wallace-Wells, David. Companhia da Letras, 2019.
[2] Leviatán climático. Mann, Geoff e Jonathan Mainwright. Editorial Biblioteca Nueva, 2018.
[3] Gigantes: Os Senhores do Mundo. Phillips, Peter. Desassossego, 2019.
Etiquetas:
Big Tech,
Capitalismo,
Carl Boggs,
COP25,
Corporações,
GAFA,
Geoff Mann,
Green Deal,
Industria Petrolifera,
James Hansen,
Lavagem Verde,
Marxismo,
Mitigação,
Motores de Busca,
PNUMA,
Protesto
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Middle Earth: the fight to save the Amazon's soul
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Lovins: Nuclear Makes Climate Crisis Worse by Blocking Faster Uptake of Cheaper Options
Contrary to industry propaganda, nuclear power plants are not an essential tool in the fight against climate change, but an increasingly dangerous drag on the deployment of more practical renewables and energy efficiency, Rocky Mountain Institute Chair and Chief Scientist Amory Lovins declares in a recent post for Forbes.
Though the recent World Nuclear Industry Status Report 2019 shows the global nuclear industry clearly “dying of an incurable attack of market forces,” writes Lovins, American support for the technology remains tenacious, with proponents across the political spectrum promoting nuclear as indispensable in the effort to lower carbon emissions.
And yet, “building new reactors, or operating most existing ones, makes climate change worse compared with spending the same money on more climate-effective ways to deliver the same energy services,” Lovins says.
The critical mistake among climate-focused supporters of nuclear generation is to look solely at the matter of carbon, he explains. The problem with that approach is that, with so much ground to catch up in so little time, “we must save the most carbon at the least cost and in the least time, counting all three variables—carbon and cost and time. Costly options save less carbon per dollar than cheaper options. Slow options save less carbon per year than faster options. Thus even a low- or no-carbon option that is too costly or too slow will reduce and retard achievable climate protection.”
Lovins makes clear that nuclear fails resoundingly on both cost and turnaround time: “Being carbon-free does not establish climate-effectiveness,” he declares.
Well-intentioned nuclear proponents aside, Lovins writes scathingly of industry magnates who “milk” the system, taking “multi-billion-dollar bailouts from malleable state legislatures for about a tenth of the nuclear fleet so far, postponing the economic reckoning by shooting the market messenger.” He warns that “such replacement of market choices with political logrolling distorts prices, crowds out competitors, slows innovation, reduces transparency, rewards undue influence, introduces bias, picks winners, invites corruption, and even threatens to destroy the competitive regional power markets where renewables and efficiency win.”
Lovins cautions against accepting the findings of a late May report by the International Energy Agency, which claimed that abandoning nuclear power would make climate action “drastically harder and more costly,” as well as the still widely-held assumption that the climate emergency “demands every option, including preserving nuclear power at any cost”. Invoking the “bedrock economic principle of ‘opportunity cost’,” he notes that “you can’t spend the same money on two different things at the same time. Each purchase foregoes others. Buying nuclear power displaces buying some mixture of fossil-fueled generation, renewable generation, and efficient use.”
At an estimated cost of US$118 to $192 per megawatt-hour in 2019, he adds, nuclear stands no competitive chance whatsoever against utility-scale solar power at $32 to 42/MWh, onshore wind power at $28 to 54/MWh, or energy efficiency at $0 to $50, but typically around $25/MWh. “Efficiency, being already delivered to your meter, also avoids roughly $42/MWh of average delivery cost that all remote generators incur,” he adds.
With new U.S. nuclear development off the table, Lovins adds, “today’s hot question” concerns the fate of “the 96 existing reactors, already averaging about a decade beyond their nominal original design life.” Operating costs exceed $40/MWh for the costlier half of the grouping, and $50/MWh for the “costliest quartile”, while wind farm maintenance costs come in “as low as $11/MWh” in 2018.
All the operating cost data swirling around the energy marketplace points to “an important climate opportunity”, Lovins observes. “Customer efficiency costs utilities only $20 to 30/MWh on average—less if they shop carefully. Therefore, closing a top-quartile-cost nuclear plant and buying efficiency instead, as utilities could volunteer or regulators require, would save considerably more carbon than continuing to run the nuclear plant.”
Those calculations show that “while we close coal plants to save carbon directly, we should also close distressed nuclear plants and reinvest their large saved operating cost in cheaper options to save carbon indirectly. These two climate-protecting steps are not alternatives; they are complements.”
And that doesn’t even address the glacially slow pace at which conventional nuclear plants are sited, approved, and built.
Even as the World Nuclear Association touts its product as “the fast track to decarbonization”, real-life experience shows that “nuclear plants take many years to build, typically around a decade, while renewable projects can take a year or less—even months or weeks,” he writes. “Further, national nuclear power programs need three times as much lead time for institutional preparations as modern renewables need. For both reasons, renewables can start saving carbon many years sooner.”
None of which has stopped the U.S. nuclear industry from pushing a new federal tax subsidy on nuclear fuel and maintenance costs, in a bid to “help level the playing field with other clean energy sources”. The legislation would cost $22 to $26 billion in the first decade, or $33 billion “counting the crowding-out of cheaper competitors,” Lovins notes. And “every billion dollars thus bilked from taxpayers is unavailable to provide more electrical services and save more carbon by cheaper means.”
Meanwhile, “unlike renewable credits that have helped to mature important new technologies, the nuclear credit would elicit no new production, capacity, or innovation,” but rather “simply transfer tens of billions of dollars to the owners of uncompetitive nuclear assets bought decades ago.”
This kind of “anti-market monkey business cannot indefinitely forestall the victory of cheaper competitors,” Lovins concludes. “But it can delay and diminish climate protection, while transferring tens of billions of unearned dollars from taxpayers and customers to nuclear owners.”
Which means the climate emergency and market health both demands vigilant attention, “not only to carbon but also to cost and time,” in tandem with a vigorous defence of “markets’ ability to choose climate solutions that can save the most carbon per dollar and per year.” Ultimately, Lovins says, “our best climate strategy would be to start taking economics seriously.”
Etiquetas:
Amory Lovins,
Economia Ecológica,
Eficiência Energética,
Emergencia Climatica,
Energia Renovavel,
EUA,
Lavagem Verde,
Nuclear,
Propaganda
Subscrever:
Mensagens (Atom)