sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Livro da Semana: Roma, temos um problema


A crise dos abusos sexuais de menores (e não só) na Igreja Católica não é um problema recente. Não começou nos últimos anos nem nas últimas décadas - nem sequer no século passado. A História mostra como logo no século I os primeiros cristãos sentiram necessidade de legislar especificamente contra esta prática.
Após séculos de perseguição aos abusadores, porém, a instituição mergulhou no secretismo para proteger a sua reputação. Só nos anos 80, com os primeiros casos mediáticos nos EUA, o tema voltou a ganhar expressão pública; as reportagens Spotlight, publicadas em 2002 e mais tarde imortalizadas no cinema, transformaram‑no numa crise global; e uma sucessão de escândalos em 2018 obrigou o papa Francisco a chamar os bispos de todo o mundo de urgência a Roma para dar início a uma reforma interna, que começa finalmente a dar frutos.
Com entrevistas a figuras de topo da hierarquia católica responsáveis pela gestão do problema no Vaticano e em Portugal, e incluindo a estatística mais completa até à data sobre os casos investigados no nosso país, este livro conta a história da crise dos abusos sexuais na Igreja, do tempo dos apóstolos ao papa Francisco.

Ver filme: Spotlight - Segredos Revelados

Livro - A Crise dos Insetos



Sobre o Autor:

Oliver Milman é jornalista, especializado em questões ambientais. Correspondente do Guardian nos Estados Unidos da América, conhece em primeira mão as consequências da crise climática, desde o degelo no Ártico aos incêndios devastadores da Califórnia e à destruição causada pelos furacões em Porto Rico. Ajudou a estabelecer as operações do Guardian na Austrália, reportando os efeitos crescentes das alterações climáticas nas cidades, nas quintas e na Grande Barreira de Coral. Os seus artigos sobre o ambiente, os negócios e a indústria dos media têm sido publicados em diversas revistas, nomeadamente The Age in Australia e The Ecologist e New Internationalist no Reino Unido.

Sinopse:

Os insetos estão por todo o lado. Três quartos das espécies animais conhecidas no nosso planeta são representados por insetos. Mas as pesquisas mais recentes sugerem que o número de insetos está em grave declínio em todo o mundo - nalgumas regiões a redução ultrapassa os 90%. "A Crise dos Insetos" explora essa emergência oculta e mostra que o seu impacto pode até rivalizar com o das alterações climáticas. A maior parte da nossa agricultura conta com os insetos para a polinização. Além disso, são uma fonte de alimento essencial para pássaros e peixes, muitas das suas espécies são responsáveis pela limpeza de rios e lagos e são um suporte fundamental para a manutenção da vida na Terra, especialmente a nossa. Numa investigação sólida e divertida, Oliver Milman fala com os cientistas e entomologistas que estudam esta catástrofe à escala planetária e pergunta por que motivos essas criaturas extraordinárias estão a desaparecer, quais as consequências da diminuição das suas populações e o que podemos fazer para conter a perda dos impérios em miniatura que sustentam a vida como a conhecemos. Constituindo um sinal de alarme, mas também uma celebração da incrível variedade do mundo dos insetos, este livro faz-nos despertar para esse desastre ambiental iminente.

Saber mais (resenhas)

Bibliografia
F. Sánchez-Bayo, K.A.G. Wyckhuys, 2019- Worldwide decline of the entomofauna: A review of its drivers

Críticas ao estudo

Nestlé's Darkest Secret: The Disturbing Truth


Nestlé: um filme de terror da vida real - Este mini-filme de negócios "história da Nestlé" analisa a controversa história da Nestlé, incluindo escândalos nos quais a Nestlé esteve envolvida e acusações contra o grupo Nestlé. No entanto, além de olhar para o mundo sombrio da Nestlé e a perturbadora história de controvérsias e escândalos da Nestlé, também aprenderemos a história de como a Nestlé começou de origens humildes com um produto que salva vidas. Honestamente, a Nestlé é uma história de negócios fascinante, especialmente considerando a frequência com que a Nestlé é mencionada on-line como uma das empresas mais odiadas / mais malignas. Então... Qual é a verdade sobre a Nestlé?

Saber mais:

Carlos Neto: “A escola a tempo inteiro é uma vergonha nacional”


Carlos Neto reformou-se só aos 70 anos. Teve uma vida dedicada à educação e, principalmente, ao papel do corpo e à importância da motricidade humana no processo de aprendizagem. Catedrático da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa (UL), é conhecido por dizer que brincar é um assunto sério e, nesta conversa com o PÚBLICO, é com determinação que defende que as “crianças não podem ser vítimas do trabalho dos pais”, porque não podem passar 50 horas por semana na escola, ou que “as crianças portuguesas brincam menos do que os prisioneiros nas prisões”. Depois da turbulência causada pelos confinamentos ditados pela covid-19, neste regresso “normal” à escola Neto avisa que “a maior pandemia” que temos agora “é o número de horas em que estamos sentados”.

Este ano lectivo que começa agora pode-se considerar o mais normal desde o início da pandemia. Sem máscaras, sem álcool-gel, sem circuitos alternativos. E os alunos, acha que já ultrapassaram alguns dos traumas da pandemia?
De facto, a pandemia penalizou altamente as crianças, sobretudo aquelas dos primeiros níveis de escolaridade. Foi um verdadeiro Big Brother, não só pelo facto de terem ficado muito limitadas do ponto de vista da expressão das suas energias, dos seus sentimentos, das suas ideias, da sua socialização. Notei que depois dos dois confinamentos, quando regressaram à escola, as crianças vinham com algumas alterações muito significativas do ponto de vista da saúde física, muitas com excesso de peso e algumas até com obesidade e, por outro lado, com um nível de auto-estima e autoconfiança mais baixo. Acima de tudo, notei uma desorganização, uma agitação “motórica” como nunca tinha percebido ao longo de 50 anos de trabalho.

Uma agitação “motórica” significa uma grande necessidade de contacto físico, de estar com os amigos, de correr, saltar, explorar o espaço. Durante a pandemia houve bolhas, corredores, impedimentos de as crianças se contactarem. No espaço escolar, o contacto físico é das coisas mais importantes para as crianças se conhecerem, se estruturarem. Muitos medos entraram no corpo e ainda não foram ainda totalmente digeridos, para além de uma instabilidade “motórica” e também emocional. Os efeitos desta pandemia não estão ainda sarados. Há muitas consequências que eventualmente ainda vão manifestar-se durante alguns anos. As coisas não passam de um dia para o outro. Do ponto de vista emocional, as crianças ficaram muito marcadas. Julgo que este ano temos condições de iniciar um ano lectivo em que possamos resolver muitos destes problemas. Depois da pandemia, também apareceram alguns sintomas de maior agressividade, elementos de bullying e violência.

Um estudo do Ministério da Educação de Maio concluía que um terço dos alunos e metade dos professores apresentavam sinais de sofrimento psicológico.
E também emocionais e físicos. Os corpos ficaram aprisionados, não se mexeram durante um grande período de tempo. Isto tem consequências ao nível da percepção do nosso corpo porque não houve movimento, actividade motora. Esse aprisionamento do corpo tem muitas consequências não só a nível da saúde mental, mas da saúde social e emocional também. Neste momento, temos de estar atentos a esses sinais que ainda estão a manifestar-se e que provavelmente vão durar ainda alguns anos. Julgo que já passámos o pior desta pandemia, mas há ainda um medo persistente na cabeça das pessoas, quer dos pais, quer das crianças e jovens.

Acha que as escolas estão conscientes ou preparadas para essa necessidade de estarem atentas aos sinais e de ajudarem a combater os efeitos desse aprisionamento do corpo?
Numa grande parte dos casos, os agrupamentos de escolas estão atentos, despertos para esse tipo de manifestações. Mas a escola está rodeada de outros factores que afectam o sistema educativo. Vivemos um momento de grande transição digital, robótica, IA, neurociências, genética, mas também uma transição climática e energética. Tudo isto implica uma reinvenção da escola. Esta é a questão principal que se coloca.
A escola tomou consciência, com esta pandemia e com a guerra que agora vivemos, que tem de mudar porque o mundo mudou. Temos de construir um novo modelo de funcionamento das instituições escolares porque nós temos um futuro desconhecido, incerto e imprevisível. A escola que sempre manteve uma função fundamental para o desenvolvimento da sociedade tem de redefinir o seu futuro. Isso implica — como aliás foi muito bem definido pelo relatório da UNESCO que foi publicado recentemente e que faz uma projecção para 2030 — um novo contrato social para a educação: temos de trabalhar juntos para reinventar uma escola nova. Temos de acabar com esta cultura egocêntrica, de um currículo estruturado em disciplinas com currículos exaustivos e intensos e com uma escola a tempo inteiro que, de facto, foi algo de muito penalizador para as crianças. Uma grande parte delas passa 50 horas na escola.

Na altura [primeiro governo de José Sócrates], a escola a tempo inteiro foi apresentada pelo governo como uma grande conquista.
As crianças não podem passar tanto tempo na escola. Têm de ter outras experiências, mais tempo com os pais, mais tempo informal. Hoje, a escola está completamente formatada e formalizada.

Há muitas famílias que não têm tempo para passar mais tempo com as crianças.
Temos de ter um equilíbrio nas políticas públicas no sentido de harmonizar o tempo de trabalho e o tempo passado em família. As crianças não podem, de nenhuma forma, ser vítimas do trabalho dos pais. O tempo escolar tem de ser apreciado de uma forma nova. As crianças deixaram de ter contacto com o espaço natural, de ter tempo para elas próprias, ter tempo para brincar, fazer aventuras, descobrir o espaço público e a sua comunidade. São transportadas para a escola, estão sentadas imensas horas, quase de manhã à noite, em casa, no automóvel, na sala de aula. A sala de aula aprisionou a criança na escola. A sala de aula também tem de ser desconstruída. Esta é uma mensagem fundamental que vem nesse estudo [da UNESCO].
Para além disso, é preciso conectar a aprendizagem com o espaço natural no sentido de haver mais experiências comunitárias. Por outro lado, é preciso ter atenção a esta abundância de propostas de digitalizar a escola de qualquer forma e feitio. Os instrumentos digitais vieram para ficar, mas não podem substituir o professor. Corpos activos são cérebros activos através da acumulação de sentimentos e emoções. Quem não percebe sentimentos não percebe nada de educação. É fundamental que o professor seja guia, mentor, tutor dos alunos a fornecer condições e contextos para que as crianças se apropriem de conhecimentos mas também de competências pessoais. Antes de pensarmos em alunos, temos de pensar em pessoas que estão a crescer, a desenvolver-se para um mundo que é desconhecido. Temos de reavaliar os modelos de ensino, daquilo que deve ser o ensino centrado na criança e no adolescente e não apenas sacrificar a aprendizagem através da avaliação. Há um excesso de cultura de escolarização na nossa escola que tem que ser aliviada. A escola não é só para fazer testes, ter médias, para entrar nos rankings.

A divulgação pública de rankings veio distorcer os objectivos da escola? Há famílias obcecadas com isso.
Há uma expectativa parental e escolar sobre os resultados. Agora com a semestralização é preciso ter algum cuidado sobre como isso vai ser feito. É preciso equilíbrio para que as crianças não tenham um modelo de ensino em que a escola seja apenas um local onde o conhecimento se replica. Não podemos ter uma escola replicativa com crianças sentadas a ouvir de forma pouco participativa. Tem de haver mais participação das crianças no processo de aprendizagem. Temos de tornar a escola um local acolhedor, com entusiasmo, onde seja possível haver alegria e busca de prazer. Isso só é possível numa escola participativa em que aquilo que se aprende é feito através de projectos, mais de perguntas do que de respostas e não apenas de preparação das crianças para testes. Muitas vezes estamos a preparar crianças para memorizar conhecimentos para depositarem nos testes e depois esquecerem. Temos de fazer uma grande reflexão nacional sobre as políticas de acesso ao ensino superior. As escolas, desde a creche até ao secundário, não servem para preparar crianças para entrarem na universidade. Devíamos libertar as escolas para que as crianças e os professores tivessem tempo para aprender as coisas que são importantes.

Mito: Não há necessidade de deixar as bermas das estradas com ervas e arbustos

Manhattan Waterfont

Muitas pessoas pensam assim mas as boas práticas ambientais, de acordo com estudos científicos recomendam a manutenção de corredores ecológicos a ligar as localidades entre as zonas ainda rurais e as urbanas. Esses "corredores ecológicos" são justamente as bermas floridas. Solo vivo com vegetação é uma mais valia. Infelizmente muitas ervas espontâneas da Flora Vascular de Portugal Continental já só ocorrem precisamente em bermas de estradas e há espécies animais, sobretudo insetos, que dependem delas para se abrigarem, efetuarem posturas de ovos e se alimentarem. 

É dramática a redução do número de espécies nativas de ervas espontâneas e paralelamente a expansão assustadora de espécies exóticas invasoras nas bermas dos caminhos e terrenos de Portugal (ex. Erva das Pampas, espanta-lobos, tintureiras, avoadinhas, etc). 

Um dos maiores erros é a aplicação de herbicida, que contamina o solo, o outro o corte das ervas espontâneas em flor, em plena Primavera, antes da fecundação e formação dos frutos e sementes. 

Como são plantas anuais que secam e morrem naturalmente, no fim do seu ciclo de vida, se não completarem o ciclo e não largarem as sementes no solo não se renovam no ano seguinte e vão desaparecendo, acabando por se extinguir.

Uma coisa é o controle e redução das espécies invasoras das bermas, outra coisa é o corte cego e raso. As plantas não são todas iguais.

Sugiro que consulte algumas páginas aqui no Facebook, como a do FLOWer Lab , a da rede polli.NET e Lousada Ambiente para ficar a perceber melhor e ficar a par de boas práticas no que respeita à conservação das ervas e insetos polinizadores, dos quais também depende a produção alimentar. 

Na Alemanha, por exemplo, o mel urbano já rivaliza com o mel das zonas rurais e há quem defenda ser melhor pelo facto de os seus produtores não usarem pesticidas na cidade, ao contrário do que sucede hoje em dia nas zonas rurais. 

Na Alemanha, em Munique por exemplo, o teto das paragens de autocarro e topo dos edifícios é usado para semear ervas (flores silvestres) para alimentar abelhas e outros insetos. Até a Kate, nora do Rei Carlos III contratou arquitetos paisagistas para lhe fazerem um jardim de "ervas daninhas" - flores silvestres- para que as crianças inglesas possam conhecer as espécies da flora selvagem de Inglaterra.

Nós temos uma biodiversidade incrível e damos cabo dela. Mas isto está a mudar. Já vai tarde para as plantas que desapareceram, mas mais vale tarde que nunca.

Benefícios dos Corredores Verdes e de deixar que bermas das estradas tenham ervas e arbustos

Se nos focamos nos benefícios para o meio ambiente, os mais importantes são:
  • Ao haver mais áreas verdes, aumentam a biodiversidade no contexto urbano.
  • Promovem uma mobilidade não poluente: bicicletas ou patinetes, por exemplo.
  • Reduzem a poluição atmosférica e poluição acústica da cidade.
  • Ajudam na não-formação do fenómeno "ilhas de calor", reduzindo a temperatura de forma eficaz.
  • Contribuem para uma melhor gestão das águas pluviais, ou seja, a água das chuvas.
  • Um dos aspectos mais relevantes dos corredores verdes é que, além dos benefícios para o meio ambiente já mencionados, também geram benfeitorias sociais, culturais e económicas. Por exemplo: melhoram a qualidade de vida das pessoas favorecendo a atividade física e o relaxamento mental, promovem a vida cultural ao contar com auditórios ao ar livre ou edifícios para exposições e, em vários casos, são um chamariz turístico com efeitos positivos na economia das cidades.
Saber mais:

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

O Ataque ao Calendário Escolar- Parte 2

Amesterdão, 2020. Hora de ponta.

Susana Peralta balizou o seu conceito (ataque às 13 semanas de férias escolares e e informou que temos entre 50% a 100% menos dias de férias ao longo do ano lectivo) num mundo da escola privada. Desculpe, mas a escola REAL portuguesa não é essa.

Além disso há todo um paradigma sócio-ecológico já questionado por vários peritos em diversas áreas (medicina, pediatria, arquitectos paisagistas, urbanistas, etc.) que dizem é urgente mudar Portugal, mas é o colectivo que tem que mudar. 

O ataque ao calendário escolar não vai alterar uma cultura. Temos de pensar muito bem como é que se gere o conceito de tempo, o tempo de vida, quer ao nível da família, amizades inter-pares, amizades intergeracionais, os espaços envolventes e sobretudo aliviar a nossa Escola - onde as crianças/jovens portugueses já passam muitas horas. 

Tem repercussões enormes não ir a pé para a escola, sair de bicicleta, andar na rua, fazer tarefas que permitam descobrir e viver o território de forma plena. As crianças/jovens ao serem transportadas de automóvel para a escola, serem conduzidas, é manipulá-las na sua liberdade de ação.

Educar é dar autonomia, distanciamento, dar a capacidade da criança /jovem resolver por si próprio os seus objetivos, de não ficarem aprisionados e serem conduzidos, manipulados, no seu quotidiano.Foto: Amesterdão, 2020. Hora de ponta.

O Ataque ao Calendário Escolar em Portugal- parte 1


Estou indignado com esta crónica! Temos um clima que não é o da Alemanha, nem Países Baixos ou Nórdicos. Que triste malhar uma vez mais nos professores!

A discussão em reduzir as 13 semanas é politicamente incorrecto e fora da realidade sócio-económica, condições climáticas e precariedade de Portugal.

A meu ver transcrever o ano lectivo dos países mencionados será válido para famílias portuguesas muito ricas e com os seus filhos no ensino privado.

Mais, as “férias” lectivas dos nossos alunos não são iguais às férias dos professores do ensino público. Temos retirados pelo menos 3 dias para fazermos a avaliação de cada período.

Alguns professores estão em Agosto a trabalhar por causa da 2ª chamada de exames nacionais.

Há muitos jovens com 16-19 anos que precisam exatamente das 13 semanas de férias escolares para trabalhar, ajudando os pais ou fazendo economias para entrar na faculdade e pagar apartamento.

Muitas aulas em Junho até já são uma tortura quando começam as vagas de calor cada vez mais duradouras e intensas. Pouco ou nada rendem!!

Imagine dar aulas de Verão no Alentejo ou Algarve e quero ver se aguentava temperaturas de 35-40ºc dentro da sala de aula e alunos aos berros.

"Eu acho que os miúdos não deviam ter férias e estar na escola das 6h às 21h e só com 15 minutos para almoço. De resto era sempre a levar com matéria." - é o que se conclui da sua crónica

Dia Mundial do Mar e Dia do Trabalhador Marítimo



O Dia Mundial do Mar celebra-se este ano a 29 de setembro de 2022, sob o tema “Novas Tecnologias para uma Navegação mais Verde”, antecedido do Dia do Trabalhador Marítimo, que será assinalado no dia 25 de junho de 2022, por iniciativa da Organização Marítima Internacional (IMO no acrónimo inglês). 

O tema escolhido para a celebração do Dia Mundial do Mar reflete a importância e a necessidade de apoio à transição verde do setor marítimo, tendo em vista garantir a sua sustentabilidade futura e sem deixar ninguém para trás num mundo pós-pandemia. 

Por sua vez, o Dia do Trabalhador Marítimo (Day of the Seafarer) pretende dar maior visibilidade à importância do trabalho dos marítimos, e agradecer a sua inestimável contribuição para a economia mundial e a sociedade civil. 

Para mais informações, consultar: 
IMO - International Maritime Organization
World Maritime Day

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Prado de Sequeiro, em Lisboa


Uma cidade verdejante, repleta de relvados, bem regados e com o corte em dia – a imagem que aprendemos a associar à qualidade da estrutura verde da cidade pode estar errada. Prezam-se os relvados, mas, para existirem, paga-se um preço alto. A sua manutenção faz-se através do uso intensivo da água, recurso escasso e cuja boa gestão é particularmente importante em meses secos.

Em Lisboa, a noção da cidade verde está a ser desafiada, assim como a própria perceção da cor. Relvados são substituídos por prados. Será o verde, na cidade, mesmo verde? Talvez seja preciso voltar a treinar o olho. Reformular: talvez o verde não seja o expoente maior da sustentabilidade.

Na ação climática urbana, a cor que dá pelo mesmo nome nem sempre é a resposta. A obsessão pelo relvado, perfeitamente aparado, pode não ser uma expectativa saudável para uma cidade que se quer sustentável no presente e preparada para um futuro marcado pelas alterações climáticas.
No Parque da Bela Vista, onde antes havia relva, existem agora prados. 

No Parque da Bela Vista, os relvados estão a ceder. É verão, os termómetros marcam mais de 30 graus e, onde antes havia relva, estão hoje dois talhões de prado de sequeiro biodiverso. O calor e a secura levam o amarelo a dominar.

No outono e inverno é o verde e, na primavera, todas as cores. A explicação é dada por um sinal vertical, não vá o mais incauto dos transeuntes pensar que o que ali se vê é a incúria na gestão do espaço. Não é. É um prado de sequeiro biodiverso – um espaço renaturalizado, marcado pela presença de “espécies autóctones, da nossa flora, adaptadas ao nosso clima e que têm um período de vida natural”, diz Rui Simão, chefe de divisão de Manutenção e Requalificação da Estrutura Verde da Câmara Municipal de Lisboa (CML).

Não precisam de rega, contribuem para a retenção de água no solo e atraem insetos que promovem o controlo de pragas. Nasceram em 2020, ano em que Lisboa hasteava a bandeira de Capital Verde Europeia, mas as primeiras experiências com estas estruturas naturais aconteceram em 2012, no Corredor Verde de Monsanto, nas traseiras do Palácio da Justiça.

Uma estratégia de todas as cores

“A estratégia não é só verde. É castanha, também”, diz Rui Simão. O ciclo biológico dos prados de sequeiro segue o calendário das estações. “Têm a produção, de sementes durante o verão, a semente cai para o solo, começa a aumentar o seu tamanho e germina, depois, na primavera”. As novas plantas, verdes, “fazem a floração e voltam a produzir a semente”. Assim se fecha o ciclo, explica o responsável.

Só aqui foram substituídos 20 mil metros quadrados – ou dois hectares – de espaço de rega por prados de sequeiro biodiverso. A eliminação da rega traduz-se numa poupança anual de 6 mil metros cúbicos de água – o mesmo que dizer seis milhões de litros, ou, de acordo com a Federação Internacional de Natação (FINA), o suficiente para encher duas piscinas olímpicas e ainda sobrar um milhão de litros.

A iniciativa faz parte do Life Lungs, um projeto de adaptação às alterações climáticas com financiamento europeu e liderado por Lisboa, em parceria com a cidade espanhola de Málaga.

“Temos de nos mentalizar que, com toda a conversa à volta das alterações climáticas, estamos a viver isso na pele e temos de tomar medidas para mudar a forma como interpretamos os nossos espaços verdes, especialmente na zona mediterrânica. Estamos numa área que tem vindo a evoluir para um clima semi desértico, infelizmente. E temos de nos adaptar”.

De acordo com o Plano de Ação Climática, Lisboa traçou, para 2030, uma meta que implica a redução em 70% das emissões de gases com efeito de estufa, relativamente a valores de 2002. Até 2018, a redução terá sido já de 40%, mas até 2040 a cidade pretende alcançar a neutralidade carbónica, dez anos antes da meta traçada pelo continente europeu.

Na estrutura verde urbana, são várias as mudanças que podem ajudar a colocar a cidade no caminho certo. Os prados são apenas uma face de um plano de adaptação e mitigação das alterações climáticas, que compreende ações como o Plano Geral de Drenagem de Lisboa, com um orçamento de 180 milhões de euros e o objetivo de ajudar a cidade a enfrentar inundações, ou a implementação de uma Zona de Emissões Reduzidas (ZER) no centro histórico da cidade, que prevê uma redução da circulação automóvel estimada em 40 mil veículos por dia.

A medida, que prevê restrições à circulação automóvel e uma redução nas emissões de 60 mil toneladas de gases com efeito de estufa por ano, chegou a estar prevista para o verão de 2020, encontrando-se a sua implementação, no entanto, suspensa.

Sobre a falácia dos carros eléctricos




Títulos "pseudo-verdes" dão nisto... e a malta não lê. No parágrafo seguinte ao título referem que são as emissões médias dos carros novos registados na UE. Ora, se a cota de elétricos aumentou, a consequência não poderia ser outro, no parâmetro que referem. Nada a ver com se há mais ou menos emissões de CO2 na globalidade.

Não falam que houve um decréscimo de emissões de CO2 forçada pelo confinamento.

Depois não falam da escandalosa poluição que é a mineração de minerais raros para as baterias dos elétricos.

A paisagem e o meio ambiente são também preocupações dos vários especialistas. É o lixo, são os resíduos, são os camiões a passar, é a poluição e é um buraco enorme que se está ali a formar com muita ‘ganga’ [minerais que são retirados do solo mas não têm valor económico], muito material que depois não sei o que vão fazer àquilo porque enquanto a mina está a funcionar não podem preenchê-la. Também a fauna e a flora estão serão afectadas.

Duas questões que diferenciam a pedreira da mina: a primeira é que as áreas que se pretendem para o lítio são muito maiores do que as áreas atualmente em pedreiras de granito. A segunda é que no granito não há uma lavaria.

Ora Portugal não tem infraestruturas para a lavaria.
Não falam que ao fim de 10 anos um elétrico vai à vida.
Não falam que substituição de uma bateria de carro eléctrico é tão cara como comprar um carro a diesel (em média) a 70.000 no mercado.
                                                 
Finalmente o orgulho hipócrita de um Europa "verde" escravizando países como Argentina, Bolívia e Chile a rastos com problemas ambientais sérios da mineração do lítio.  
                  
Atualmente cerca de um quarto do fornecimento mundial do minério vem de salinas no Atacama, ao norte do Chile, onde a extração e o refino por evaporação, em enormes piscinas sob o Sol, consome 21 milhões de litros d’água por dia. “A extração de lítio já causou conflitos por água com diferentes comunidades como em Toconao, no norte do Chile”, aponta o relatório da FoEI.

Mais da metade das reservas do metal identificadas no mundo estão localizadas no chamado “triângulo do lítio”, onde se encontram as fronteiras de três países: Chile, Bolívia e Argentina. Depois da América do Sul o maior produtor mundial são os Estados Unidos, seguidos de perto por China e Austrália

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Baloiços no rio!


Uma praga!
O nosso país está a ser alvo de uma campanha sem precedentes de dispêndio de dinheiros públicos em abusos e abastardamentos da paisagem. As paisagens não pertencem aos autarcas nem ao seu apetite: são património colectivo. Em certos lugares e contextos, alguns passadiços fazem todo o sentido (exemplos: protecção de cordões dunares, acessos a praias, acessos pontuais onde se pretende evitar o pisoteio de espécies, onde não existam trilhos ou caminhos...) - mas o que se anda a fazer de forma indiscriminada e sistemática é vilipendiar os recantos mais sagrados da natureza que devia ficar quieta e sossegada. Arouca deu o (mau) exemplo e agora qualquer autarca de seu nome quer ter igual! E a piroseira não tem limites: desde pontes feitas para ligar nenhures a parte alguma a baloiços pintados de lilás para ser "instagramável" vale tudo para sair nas revistas de "evasão" e de "ar livre". Onde o salto alto puder ir ao encontro da lagartixa, a lagartixa, que tem o direito de estar em paz e sossego, foge. Ou desaparece. O desrespeito pelo ambiente é total e prevalece a "onde criacionista": Afinal,  Deus criou o mundo para o Homem usar e dispor! - (um autarca de Arouca já me respondeu assim) -  e isso legitima tudo. Em nome da "Democratização do acesso à Natureza" se fazem "autoestradas" pedonais aos mais recônditos e sagrados recantos, destroem-se alinhamentos de vegetação ripícola, cortam-se cortinas naturais, para o "turismo natural" poder passar, na sua "caminhada". Sem referir casos conhecidos de corrupção que são originados nestas obras, nem as empresas que os promovem, e que são muito fáceis de identificar, mas optando por ficar apenas pelo que é objectivo .

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terça-feira, 27 de setembro de 2022

Sobre o ervado



A relva não tem valor ecológico (não cria biodiversidade), é uniforme e exigente em água potável. Em muitas regiões, as ervas do relvado estão a tornar-se invasoras.

As pradarias de relva podem interferir na saúde do gado [estudo]. O uso de herbicidas e glifosato no controle de ervas daninhas em relvados contaminam os lençóis freáticos  e na população das abelhas.  Um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences expôs as abelhas a níveis da substância encontrados em jardins e plantações e descobriu que, quando ingerido pelas abelhas, o glifosato afeta o microbioma intestinal dos insetos e diminui a sua capacidade de combater infecções.    
      
O ervado é precisamente o oposto: é belo, são plantas silvestres autóctones, não exigem manutenção e geralmente com menos consumos de água potável, um bem escasso. 

Como requerem menos manutenção do que os relvados, ainda ajudam a poupar dinheiro.

As flores silvestres melhoram a produção agrícola e biodiversidade [estudo] e potenciam a população de polinizadores.

E assim somos amigos das abelhas [declínio global dos polinizadores ameaça os ecossistemas e a humanidade], com elas regressam mais insectos, as aves insectívoras regressam e ajudam no controlo de pragas e temos micro-ecossitemas instalados. 

Os polinizadores assumem um papel vital na manutenção das populações de plantas silvestres, que por sua vez albergam muitos outros organismos, e no fornecimento de alimento, com cerca de 75% das nossas culturas a beneficiar de serviços de polinização [webinar- a força dos polinizadores].

Ervas e ervas aromáticas 
Tê-las num jardim é 6x vantajoso: comestível, bom para a nossa saúde, zero de poluição dos lençóis freáticos, bom para os polinizadores, bonito e protector da nossa flora autóctone!

As ervas têm uma grande influência na nossa saúde. Também consideram-se importantes fazer refeições, infusões e tinturas. Elas ajudam na pressão arterial, reduzem os níveis elevados de colesterol e suprimem as alergias sazonais.
 
Os frutos, flores e muitos componentes vegetais são benéficos para a nossa saúde, sobretudo quando frescos.

O ervado também se insere nas medidas destinadas à redução do risco de inundação numa cidade. 

Para obter sementes nativas portuguesas contacte Sementes de Portugal.

Corredores de flores silvestres em estradas e auto-estradas
Em Kingston upon Hull, uma cidade no nordeste da Inglaterra, os separadores centrais e as bermas de muitas estradas, incluindo algumas das mais movimentadas, estão agora cobertos de milhares de flores silvestres.

Kingston upon Hull
Saber mais:

Filme: "Andrei Rublev" de Andrei Tarkovsky 1966 HD - Legendado PT-BR (english subtitles added)


Andrei Rublev foi um pintor de ícones da Rússia do início do século XV. Encarregado de pintar as paredes da Catedral da Anunciação, no Kremlin, ele trabalha sob a direção do mestre grego Teófanes. Este é atormentado pela crueldade da época e a atribui à ira do Céu. 

Na época o país sofria com a pobreza, a rigidez da igreja ortodoxa e também as invasões tártaras. Nesse cenário caótico, estão inseridos os diversos episódios da vida de Andrei, que mais tarde abandonaria o seu trabalho como pintor, para se dedicar a Deus.  

Esta obra-prima do cinema russo é vista como incomparável, uma elevação espiritual de senso plástico deslumbrante, que mostrou ao mundo um jovem e promissor cineasta Andrei Tarkovski .
 
"Andrei Rublev" foi censurado pelas autoridades da ex-União Soviética durante anos, por questionar o enfoque narrativo da História.

Por ser uma obra que retrata um artista que viveu entre os séculos XIV e XV, há poucas informações sobre sua vida. Nem mesmo a década do seu nascimento tem-se certeza. Tarkovsky e seu co-roteirista Andrei Konchalovsky trabalharam por mais de dois anos no roteiro, estudando escritos e crónicas medievais e livros sobre história e arte medievais.



Saber mais:

Página Oficial de Andrei Rublev (russo)

Carlo Petrini desafia a Amazon: “Pessoal, boicotem-na”


Carlo Petrini revive o impulso que caracterizou o último ano de sua aventura na cúpula do Slow Food no Terra Madre: “se o movimento começasse sua jornada hoje, o inimigo não seria o Mc Donald's, mas a Amazon”. Palavras claras e fortemente contemporâneas com um final mais nostálgico: "Pessoal, vocês têm que prestar atenção na Amazon, é um ato de responsabilidade". Os jovens a quem se dirige são aqueles que estão ao pé do palco de Turim, onde conversa com o presidente da Acri e da Compagnia di San Paolo, Francesco Profumo.

A reportagem é de Luca Ferrua, publicada por La Stampa, 26-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Carlo Petrini e Slow Food, dois elementos indissolúveis para além dos encargos que o guru e fundador do movimento irá desempenhar, marcaram os últimos trinta anos da cultura alimentar mundial e é redutivo falar de gastronomia porque o desafio de Carlin – de San Francisco a Hong Kong até a sua Bra todo mundo o chama assim – diz respeito ao alimento em sua essência: o que antes de tudo nos alimenta, muda nossas vidas, a torna melhor, é fonte de renda e acima de tudo se transforma diariamente em um dos mais poderosos atos políticos que o homem pode realizar: comer.

O ataque à Amazon que Petrini realiza há um ano, a primeira vez que foi lançado em Bra durante o Cheese 2021 a partir do palco “il gusto”, é politicamente necessário e encarna perfeitamente as motivações que impulsionam todo movimento a criar um inimigo. Porque ter um inimigo, como dizia Umberto Eco: “É importante não apenas definir nossa identidade, mas também nos fornecer um obstáculo contra o qual medir nosso sistema de valores e mostrar, ao enfrentá-lo, o nosso valor”.

Quando o Slow Food escolheu um inimigo, não lutou para derrotá-lo, mas para mudá-lo.

A batalha do Slow Food acabou encontrando no “inimigo” Mc Donald's um interlocutor que modificou as estratégias, acrescentou produtos locais, mudou para melhor as contas de algumas DOPs italianas, até tomar um caminho diferente: do verde aos ingredientes. Aonde essa estrada levará, o descobriremos, mas uma mudança está ocorrendo.

A posição da Amazon é diferente, mais dominante. Mas o desafio de Petrini não visa derrubar a criatura de Bezos, porque Carlin não é Dom Quixote de la Mancha, ele visa abrir um diálogo, pretende ligar um farol para todos aqueles que são arrastados pelas lógicas do conforto e do delivery. As vítimas de uma cadeia de fornecimento tão curta que se torna um laço em volta do pescoço para os agricultores e muitos outros.

Aponta-se o dedo para o fato de que a perda de contato entre vendedor e comprador leva à despersonalização e torna muitos produtos iguais. Essa não é a ameaça porque no mundo a primeira motivação para escolher uma viagem é enogastronômica, ligada aos produtores e à experiência que eles podem oferecer. A verdadeira ameaça é o estrangulamento de uma cadeia de produção que não é apenas composta de experiências, mas também de cotidianidades e de grandes números capazes de garantir a sobrevivência, aliás, a sustentabilidade, para usar o termo em seu significado mais completo. Isso é ameaçado pela Amazon, isso quer defender Petrini.

Em um restaurante em Langa, onde se começa a sentir o cheiro da trufa branca de Alba, alguém ontem chamava a atenção que os preciosos fungos subterrâneos agora também podem ser comprados na Amazon e que os catadores estão pensando em se organizar para vender diretamente ao gigante estadunidense. Parece a enésima conquista do colosso de Bezos, mas talvez seja um pedaço da revolução que o mudará por dentro.

Sonhar não custa nada e Petrini mudou algumas partes do mundo à força de sonhar.

One Health: Você conhece o conceito de saúde única?


O conceito One Health

Nos últimos anos, o termo One Health vem ganhando espaço cada vez maior dentro das discussões científicas que tratam de questões ligadas à saúde e epidemiologia. No português, Saúde Única, o termo trata da integração entre a saúde humana, a saúde animal, o ambiente e a adoção de políticas públicas efetivas para prevenção e controle de enfermidades trabalhando nos níveis local, regional, nacional e global.

A expressão ainda é pouco conhecida fora do âmbito da saúde, mas os conceitos que o embasam são bem antigos. O médico patologista alemão Rudolf Virchow (1821-1902) já afirmava no século 19 que entre animais e a medicina humana não há divisórias; e nem deveria haver. E foi ele o responsável por cunhar o termo zoonose (doenças e/ou infecções transmitidas para o homem através dos animais).

Ao longo do século seguinte, cientistas ligados a várias especialidades constataram similaridade nos processos infecciosos causados por doenças em seres humanos e animais. No entanto, a medicina humana e a veterinária seguiram trajetórias independentes uma da outra. Somente nos últimos anos, que se teve início a um esforço de aproximação nos estudos entre essas duas áreas.

Com o lançamento da obra “Veterinary Medicine and Human Health” em 1984, o médico veterinário norte-americano Calvin W. Schwabe (1927-2006) discutiu e reforçou a importância da junção entre saúde humana, animal e ambiente. No livro, ele adota a expressão “One Medicine”, que mais tarde passa a ser conhecida como “One Health”.

No mundo, estima-se que as zoonoses causem 2,5 mil milhões de casos de doença e 2,7 milhões de mortes anualmente

Um esforço colaborativo

Em 2007, durante a Conferência Ministerial Internacional sobre Influenza Aviária e Pandêmica, realizada em Nova Deli, na Índia, que contou com a presença de representantes de 111 países e de 29 organizações internacionais, os governos e governantes foram encorajados a aplicar o conceito One Health, construindo pontes de ligação entre os sistemas de saúde humana e animal.

No ano seguinte, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organizações das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) passam a desenvolver estratégias conjuntas dentro do conceito One Health, com o objetivo de reduzir os riscos emergenciais e a disseminação de doenças infecciosas resultantes da interface entre animais, humanos e ecossistemas.

A interação Homem X Meio Ambiente

Enquanto as pessoas viverem próximas ou junto com animais – sejam eles de estimação, na pecuária ou selvagens – a realidade desse cenário é a iminência para doenças. À medida que o mundo de hoje se torna cada vez mais conectado, a necessidade de aplicar efetivamente o conceito One Health só aumenta. Não só para proteger pessoas e animais de doenças, mas também para impedir rupturas econômicas que podem acompanhar esses surtos de doenças.

O esforço ambicioso que o conceito One Health objetiva é reconhecido como um elemento-chave para manter as pessoas e os animais protegidos contra doenças para melhorar a qualidade de vida em todo o mundo.

Porém, essa conectividade acaba afetando diretamente a maneira de como pessoas, animais e o meio ambiente interagem.

Como funciona o conceito One Health

Essa conectividade pode levar a reemergência de muitas doenças. Por isso é necessária a abordagem One Health para entender melhor as zoonoses e doenças infecciosas. A priorização dessas doenças significa realizar vigilância, planejar atividades de resposta a surtos e criar estratégias de prevenção de doenças para reduzir a contaminação e mortes em pessoas e animais.

Por exemplo, a febre do vale do Rift (RVF) é causada pelo vírus RVFV que afeta seres humanos e ruminantes. É transmitido pela picada de mosquitos contaminados, pelo contato com o sangue do animal infectado ou ao beber o leite cru. Já causou vários surtos na África e no Oriente. O vírus pode causar doenças graves tanto em pessoas como animais. Ao impedir a RVF através da vacinação dos animais, menos pessoas serão infectadas por mosquitos portadores do vírus ou por contato direto com um animal doente, caso das pessoas que manipulam a carne no abate e veterinários. Além de proteger os animais em que as pessoas confiam como alimento ou fonte de renda.

5 doenças novas humanas surgem a cada ano. Três delas são de origem animal

Neste sentido, olhar o todo torna-se fundamental para garantir níveis excelentes de saúde. O One Health é um campo de conhecimento, de caráter multiprofissional e interdisciplinar que se refere a questões e problemas de saúde que transcendem as fronteiras nacionais, assim como seus determinantes e suas possíveis soluções.

Como a abordagem One Health pode nos ajudar?

Mais testes e monitoramento para detectar doenças em animais e pessoas e explorações agrícolas seguindo padrões para proteger os animais, as pessoas que trabalham lá e o ambiente ao redor ajudam a prevenir uma pandemia.

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Referências:

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Pedro, “vem-te”


Estamos em 1976. Na aldeia onde vivi, Lamaçães (Pedroso- Gaia), na rotunda, existe um cruzeiro medieval que anunciava este povoado como roteiro dos padres beneditinos até ao Mosteiro de Pedroso.
Em frente a ele e ao cimo da minha rua estava uma casa por alugar, há uns anitos. De repente, ou seja, de madrugada, chegou uma novidade. Ninguém ouviu nada, mas certamente que foi durante a madrugada que os novos habitantes fizeram a mudança com uma Citroën  2cv com móveis e bens que eram da D. Mariana e do pequenito Pedro.

De manhã, sábado, ainda me lembro, surgiu da casa a D. Mariana. A aldeia em peso ficou chocada. Era uma jovem, teria 26 anos e destacou-se logo por ter cabelo curto (?), fumar (?), conduzir (?), mãe solteira (?) e vestir calças (?). Outra revolucionária, comunista e puta!

A minha irmã Cindinha foi a pioneira nessas terras do Demo a usar calças. Pois, em 1965, teve logo a aldeia em peso condenando o seu atrevimento. Chegou a ser agredida e por onde passava insultavam-na. A aldeia também apontava o dedo à minha mãe, costureira, questionando a ousadia de coser essas calças. Era a mocidade, a rebeldia, o querer ser diferente, a idade de afirmação social e de manifestação terrena que está cá na Terra por muitos anos, era gente, mais uma pessoa com ideias na cabeça, pouco se importando perante uma sociedade retrógrada, caduca e bafienta. A minha mãe costurou mais de vinte calças num mês. Depois era hábito e passou a ser novamente a modista da aldeia, alinhavando saias e calças ao mesmo tempo.

A D. Mariana estava a marimbar-se para esta gente. Tinha cursado o 9º ano industrial, culta e lia muito ao fim de semana. Mãe adolescente, nasceu o Pedro. Era feminista. Não esteve com paciência para se subjugar às manias e ordens machistas do seu companheiro. Trataram do baptizado do menino, no Porto e cada um seguiu a sua vida.

Adorava capinar. A casa, que estava cheia de mato e silvas e ervas e jarros e rosas velhas, com um diospireiro ao fundo e uma linda cameleira perto do pátio da casa, ao fim de três meses estava transformada e exibia um terreno lavrado, roseiras novas, um pessegueiro jovem e um limoeiro. A Mariana adorava sumos de limão e de pêssego.

Matriculou o filho na Escola Básica dos Carvalhos e inteirou-se sobre qual era a minha turma. Disseram-lhe não havia vaga. Teve de o matricular noutra. E agora? Horários diferentes, ela a trabalhar, a aldeia em estado de sítio. “Pensa rápido, Mariana, pensa rápido. Fogo, tu consegues. Dás sempre a volta por cima”. Telefonou à mãe. Talvez a minha mãe, professora de várias costureiras, com a criançada a brincar no grande pátio da casa, não se importaria de ficar com o seu filho. E assim foi. A aldeia foi mastigando a intrusa. A aldeia viu que afinal até trabalhava no campo. Foi abrindo gradualmente as portas e deixou-se de impropérios. Estava arrependida. O Pedro brincava comigo, por vezes, pois tínhamos horários distintos.

Mas a aldeia esperava pelo belo momento em que a Mariana, regressando a casa do trabalho, chamava a bons pulmões: “Pedro, vem-te!”. Estalavam sorrisinhos marotos e carinhosos entre as mães da aldeia.

Baloiços e afins


Dinheiro público mal investido. Depois a moda passa. As pessoas vêm, tiram selfies e instas e não voltam ao local. Fauna e flora locais foram dizimadas. Este tipo de turismo é efémero e depois estas instalações vão custar mais caro: quero ver como vão retirar o cimento colocado e como resolver a ferrugem das estruturas. Recreio sim mas mais amigo do ambiente. Eu conheço Cinfães e Montemuro. Não tenho respostas para o isolamento e como atrair pessoas para esses locais. Considero, no entanto que, uma aposta mais direccionada para um turismo sustentável, sem ferir a belíssima paisagem dessa região se consegue gerar emprego sem ser à custa e pressa de obter dinheiro rápido e repito efémero. As pessoas vêm, gostam e não voltam mais.

Pollinators Are in Trouble. Here's How Transforming Your Lawn Into a Native Wildflower Habitat Can Help


Anyone can build a tiny habitat amidst the sea of green that is our lawns. Whether it’s a strip of right-of-way outside your urban apartment, your manicured suburban lawn or many mowed acres surrounding your house in the countryside, we’ve all got a little sod we could consider giving back to nature. Researchers have been learning more and more about declines in native pollinators, all while finding out the ways mowed, watered, fertilized and herbicided lawns can negatively affect the environment. That’s why University of Central Florida entomologist Barbara Sharanowski teamed up with ecologist Nash Turley to create the Lawn to Wildflowers program. They’ve developed an app to coach users on how to turn any patch of lawn into native wildflower habitat; it will also collect valuable data. Discover spoke with Sharanowski about the new project, which launched in May 2020.

Q: Some people might shrink at the thought of more bugs in their yard. What do you wish people knew about them?

BS: I’m an entomologist, and I love bugs. I think everybody should love bugs. Anyone can go out into their backyard and look at plants and see the interactions that they have with beneficial insects. Not all insects are something that you want to kill or you need to manage. Most of them are just doing their thing, and many are even helping us out, either controlling pests naturally, or pollinating our flowers and crops. So, I want people to go look at them, and be excited about bugs rather than afraid of them.

Q: We know that bees are in trouble. How will Lawn to Wildflowers help?
BS: Even though a lot of people talk about honeybees and colony collapse disorder, that’s a non-native, managed species in the U.S. What we really want to promote are native plants that improve biodiversity and abundance of native pollinators, of which there are thousands of species. Meanwhile, there are so many lawns in the world, and they use a lot of water and provide no resources for biodiversity. It’s kind of a waste, especially when even planting a small 6-foot-by-6-foot pollinator garden can really do a lot for the native insects. So we’re trying to get anyone who is able to convert part of their lawn into a pollinator habitat. That’s the whole end goal of the project: Create something that contributes to the greater health of the environment.

Q: What’s in the app?
BS: The app gives people information on how to convert a patch of lawn to wildflowers. There’s information like how to kill the grass in sustainable ways and what plants are best. We recommend using very different plants in different regions, but all you have to do is click your region to find the right mix for pollinators in your area. We also want people to collect data for us, because we want to know about pollinator abundance and diversity in the plots that they’ve made. So we’ve built a training game into the app, which teaches people to recognize major pollinator groups — things like honeybees versus bumblebees versus all kinds of other bees, plus butterflies, and some flies and beetles. People can play those games to study, and then once they get good enough at it, they can start to count pollinators in their plot and submit data we’ll use for our research.

Q: What will you do with the information the gardeners submit?
BS: We’ll use the data to study factors affecting pollinators in the U.S. and Canada. For instance, we want to see how different elements around the neighborhood, like how much natural area is nearby, impact pollinator abundance and diversity [meaning, population numbers and variety of species.]

Q: What are some of the biggest barriers to getting people to do this?
BS: We did a big mail-out survey and discovered that the largest barriers are time, and not knowing how to plant a pollinator garden. Time will obviously always be an issue, but we’re hoping the resources we provide in the app — like videos, howtos and other information — take away that latter barrier. The other persistent barriers are things like homeowners’ associations and local ordinances that might restrict unmowed areas. We can’t do a lot about those, but we’re hoping to motivate people to encourage their homeowners’ associations to provide an allowance for pollinator habitat, because it does beautify things. It doesn’t make it unkempt; it actually makes the neighborhood prettier and better serves biodiversity.

Fonte: Discover

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EWG And Carey Gillam Keep Lying About Glyphosate


The New Lede — the Environmental Working Group's "investigative reporting" outlet — continues to mislead readers about pesticides. This time it’s spreading nonsense about a recent lawsuit challenging the EPA's assessment of the weedkiller glyphosate. Let's have a look.

If glyphosate is such a deadly pesticide, why do activist groups have to lie about it? That's the question I asked myself after reading this ridiculous article written by Shannon Kelleher and Carey Gillam over at The New Lede. "US EPA to withdraw interim registration review decision for glyphosate," the headline declared. Sounds scandalous, but what does it actually mean? Kelleher and Gillam went on:

US regulators on Friday said they would withdraw all remaining portions of the interim registration review decision for the weed killer glyphosate.
The move comes after the 9th U.S. Circuit Court of Appeals issued an opinion saying the Environmental Protection Agency (EPA) had violated the law in its assessment of glyphosate, which is the world’s most widely used weed killer and the active ingredient in Roundup and numerous other herbicide products.

As we'll see. this is a serious exaggeration of the events. I counted four major errors in the story. Let's take them in turn.

What the EPA actually said

While it's true that the EPA withdrew its interim registration review in response to an order from a federal court, there's much more to the story. A handful of activist groups "challenged EPA’s conclusions on human health and insisted that EPA should have followed the [Endangered Species Act's] procedural requirements before issuing the Interim Decision," the court wrote.

We'll let the lawyers straighten out the procedural issues, but what of these "human health" concerns? The Ninth Circuit ruled that EPA’s conclusion that glyphosate probably isn't carcinogenic was "in tension with parts of the agency’s own analysis (p 6)." As AgriPulse reported in June:
In determining it could not come to a conclusion about the association between glyphosate exposure and [non-Hodgkin's Lymphoma], EPA’s “cancer paper discussed human epidemiological studies showing what could be considered suggestive evidence that glyphosate exposure causes NHL.”

However, “EPA discounted epidemiological studies showing increased NHL risk by concluding that ‘chance and/or bias’ could be ‘an explanation for observed associations in the database,’” the court said.

The EPA responded that it "intends to revisit and better explain its evaluation of the carcinogenic potential of glyphosate and to consider whether to do so for other aspects of its human health analysis (p 6)." Crucially, however, the federal agency did not repudiate its finding that glyphosate is unlikely to cause cancer. The New Lede included this statement from the EPA, which, frankly, made the story a non-story:
“EPA’s underlying scientific findings regarding glyphosate, including its finding that glyphosate is not likely to be carcinogenic to humans, remain the same,” the EPA said in a statement announcing its withdrawal of the glyphosate decision.

This invites an important question. Who's the authority on questions of pesticide safety, regulatory scientists or judges? As one commentator noted about the court's ruling:

What would it have taken for the judges involved in this decision to determine there is substantial evidence to support the likely safety of glyphosate? More importantly, would they know it if they saw it?

I have my doubts, because the evidence is there for anybody to see. Agricultural glyphosate use has exploded in recent decades, yet this increase has not led to an uptick in NHL cases among farmers or pesticide applicators—those with the highest exposure to the weedkiller. As one cancer epidemiologist put it, "there is no need for further study" of this chemical. That's the extent to which glyphosate has been scrutinized by independent experts. Anyone, federal judges included, who says the EPA's determination was inconsistent simply doesn't know the relevant science well enough.

What about IARC's monograph?

Back to The New Lede:
Bayer ... said that the backing of the EPA and similar support from other regulators in other countries is more valid than a 2015 assessment by the World Health Organization’s International Agency for Research on Cancer (IARC), which found that glyphosate was “probably” carcinogenic to humans.
Bayer is correct. IARC excluded evidence that would have invalidated its "probably carcinogenic" finding. [1] Statistician Dr. Robert Tarone has explained multiple times that the cancer agency badly botched its analysis of two rodent studies that were key to its conclusion. As he told Congress in 2017:

...[M]y published paper notes other instances in which rodent tumor rates that supported the conclusion that glyphosate caused tumors were included in IARC deliberations while tumor rates from those same studies that did not support that conclusion were excluded. The systematic exclusion of exculpatory evidence is inexcusable, particularly when it’s practiced by an influential source such as the IARC Monograph Programme. (p 78)

To appreciate how outrageous this is, imagine if Bayer or any other pesticide manufacturer had engaged in this sort of scientific chicanery instead of IARC. The cries of "corporate conspiracy" would never end. Hollywood would turn the story into an Erin Brockovich sequel.

"Industry" studies

Kelleher and Gillam also asserted that
The IARC finding was based on a review of years of independent, peer-reviewed, published scientific studies. The reviews by the EPA and other regulators focused more heavily on unpublished and non peer-reviewed studies submitted to regulators by Monsanto and other companies ...
These industry-conducted studies are mandated by federal law and they have to meet very exacting standards. The companies had to do them and the EPA had to review them. It is incumbent upon private companies to demonstrate to federal regulators at the EPA, who are perfectly qualified to peer-review the research, that their products are safe to use.

The "corporate documents" gambit
... [I]nternal corporate documents show Monsanto has long been aware of research showing a connection between the weed killer and cancer, but has sought to bury such research and/or attack and censor scientists who insist there is evidence of a cancer risk.​

I was especially curious about this claim, so I dug through all the "internal documents" Monsanto was obligated to release several years ago. In one story for the Genetic Literacy Project (GLP), I explained that the communications between Monsanto's scientists were taken out of context; these documents flatly contradict Kelleher and Gillam's allegation.

For instance, Gillam is fond of quoting this 2003 email from a company scientist who told her colleague, “You cannot say that Roundup is not a carcinogen. We have not done the necessary testing on the formulation to make that statement.” Now, here's the second half of the same quote:

We can make that statement about glyphosate and can infer that there is no reason to believe that Roundup would cause cancer.

What a difference twenty-two words make.

In a second piece co-authored with GLP executive director Jon Entine, we reported that Monsanto said the same things privately that independent scientists said publicly: IARC's conclusion was nonsense based on cherry-picked evidence.

That leads to our final point: there was no conspiracy to "bury" studies linking glyphosate exposure to serious adverse effects. You can find many such papers with a few keystrokes. This research is dismissed by most experts because it's bad. For example, feeding lab rats massive doses of a pesticide, far more than humans are ever exposed to, is a waste of time, money.

The New Lede is lying to its readers by omitting all this information. Ignore their commentary and you'll be far better informed about this important public health issue.

Font: ACSH

[1] ACSH advisor Dr. Alex Berezow nicely summarized the situation in Glyphosate-gate: IARC's Scientific Fraud