quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Balanço do Ambiente em 2008, feitos pela UICN e Quercus, são inquietantes

Relatório aqui

Mamíferos e anfíbios estão a atravessar crise de extinção Público, 06.10.2008 - 12h29 Ricardo Garcia

Os mamíferos e os anfíbios do mundo estão numa crise de extinção, diz a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). De acordo com a edição de 2008 da Lista Vermelha das espécies ameaçadas, divulgada hoje, há 1141 mamíferos em risco de extinção: cerca de 21 por cento das 5487 espécies conhecidas. Pela primeira vez, a Lista Vermelha avaliou todas as espécies descritas de mamíferos. Mas, entre elas, há 836 para as quais não há dados suficientes para se saber se estão ou não ameaçadas. O número de mamíferos em perigo pode chegar aos 36 por cento do total. Há 188 mamíferos criticamente em perigo de desaparecer, entre eles o lince ibérico (Lynx pardinus), que é utilizado pela UICN este ano como exemplo da actual crise da biodiversidade. Só em Espanha é que o lince ibérico tem sido avistado na natureza. Segundo um comunicado da UICN, a espécie tem uma população de 84 a 143 adultos e que continua em declínio. Também os anfíbios atravessam uma séria crise de sobrevivência, segundo a UICN. Praticamente um em cada três espécies que existem no mundo corre o risco de se extinguir. Mamíferos, anfíbios e aves são os únicos grupos de seres vivos cujas espécies identificadas estão avaliadas quase que integralmente na Lista Vermelha. O mesmo não ocorre com répteis, peixes, invertebrados e plantas. No total, dos cerca de 1,6 milhões de espécies até agora descritas no mundo, apenas 2,7 por cento foram avaliadas pela Lista Vermelha. Destas, 38 por cento estão em risco de extinção. Do resto pouco se sabe, sendo impossível fazer-se uma avaliação completa, por exemplo, das quase 300 mil plantas ou dos 1,2 milhões de invertebrados que se conhecem. Por isso, a UICN está a lançar um índice que funciona como uma espécie de Dow Jones (o indicador da tendência das bolsas norte-americanas) para a biodiversidade. O índice SRLI (Sampled Red List Index) avalia a tendência de extinção dentro de um grupo a partir de uma amostra aleatória de suas espécies. Na Lista Vermelha de 2008, Portugal aparece com 159 espécies em risco de extinção. A maior fatia refere-se a 67 espécies de caracóis da Madeira e Açores. A seguir, vêm 38 espécies de peixes. Há onze mamíferos em risco, dentre eles o lince. 
Apesar do ano 2008 ter sido marcado por questões económicas, como a subida do preço do petróleo e a crise financeira, as questões ambientais não foram relegadas para o esquecimento. É cada vez mais unânime nas sociedades actuais que a melhoria do desempenho ambiental é também uma forma de combater os problemas sociais e económicos. Na verdade, a subida do preço do petróleo fez aumentar o investimento público e privado nas energias renováveis e, apesar de ter voltado a descer tão abruptamente quanto subiu, a sociedade já percebeu a necessidade de encontrar alternativas energéticas ao petróleo, não só pelos problemas ambientais que provoca, mas também pela volatilidade do seu preço nos mercados internacionais. No entanto, apesar de 2008 ter sido o primeiro ano de cumprimento do protocolo de Quioto, para além dos efeitos decorrentes da subida do preço dos combustíveis, não se notou nenhum esforço acrescido para reduzir as emissões dos gases com efeito de estufa em Portugal.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Olhar para o céu 365 dias

Por John Dale
Uma colectânea de imagens sobre nuvens actualizadas do céu em Lisboa, mas podia ser em qualquer lugar.
Recorda-me o belo poema de Alberto Caeiro
 O meu olhar azul como o céu
 É calmo como a água ao sol.
 É assim, azul e calmo,
 Porque não interroga nem se espanta ...
 Se eu interrogasse e me espantasse
 Não nasciam flores novas nos prados
 Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo... 
Finalmente, termino a postagem, divulgando ao público o excelente trabalho do sítio Planeta Ciência, excelente com mais materiais de estudo para Alunos.


COP10 – Buenos Aires (dezembro de 2004)



A décima sessão da Conferência das Partes reuniu representantes de 200 países signatários da Convenção do Clima (cerca de 6.000 pessoas) num momento em que o regime internacional sobre mudança do clima sofreu positiva alteração com a adesão russa ao Protocolo de Quioto. A COP10 foi marcada pela certeza da entrada em vigor do Protocolo, em fevereiro de 2005 e pela consequente revitalização de um regime que muitos julgavam superado. Especial atenção foi dada à discussão sobre o segundo período de cumprimento do Protocolo (2013 em diante).

COP9 – Milão, Itália (dezembro de 2003)


A nona sessão da Conferência das Partes reuniu representantes de 180 países signatários da Convenção do Clima e teve como ponto forte a discussão sobre as regras e procedimentos para projetos florestais no MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, entre outros aspectos.

Nesse sentido, o grande avanço realizado foi o fechamento de um “pacote de regras” que define a maneira como os projetos de florestamento e reflorestamento deverão ser conduzidos para reconhecimento junto à Convenção do Clima e obtenção de créditos de carbono, no escopo do MDL.

Saiba mais sobre a COP9

domingo, 28 de dezembro de 2008

Odete Santos declama "Calçada de Carriche" de António Gedeão


Aos 39:14 minutos a ex-deputada Odete Santos declama com muita sabedoria o poema "Calçada de Carriche" de António Gedeão

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

António Gedeão, in 'Teatro do Mundo' 1958

sábado, 27 de dezembro de 2008

Petição CES



POR SERVIÇOS PÚBLICOS DE ALTA QUALIDADE E ACESSÍVEIS A TODOS
JUNTOS, EXIGIMOS SERVIÇOS PÚBLICOS QUE VÃO AO ENCONTRO DAS NECESSIDADES DAS PESSOAS E APELAMOS À COMISSÃO EUROPEIA QUE FAÇA PROGREDIR A LEGISLAÇÃO EUROPEIA.
[1]

EU ASSINO A PETIÇÃO

Os serviços públicos [2] são essenciais para a coesão social, económica e regional na Europa. Estes serviços devem ser de alta qualidade e acessíveis a toda a população. Até agora, as únicas opções para o desenvolvimento dos serviços públicos foram a privatização ou liberalização (nomeadamente em sectores como a Energia, os Correios e as Telecomunicações). É tempo de encontrar soluções diferentes!

Por estas razões, apelamos à Comissão Europeia para que proponha uma Legislação Europeia para os Serviços Públicos visando:

Dar prioridade ao interesse geral, consubstanciado nos serviços públicos;
Garantir que toda a população tenha acesso aos serviços públicos; Reforçar os serviços públicos de forma a garantir os direitos fundamentais dos cidadãos;
Garantir mais segurança legal, de forma a permitir o desenvolvimento sustentável das missões dos serviços públicos;
Confiar aos serviços públicos uma base legal sólida e, deste modo, imune em relação aos ataques ideológicos do mercado livre.

Linques

Porquê uma petição ?

Quem somos ?

Mais informação sobre os serviços públicos

Nós apoiamos

Notas

[1] A terminologia europeia emprega geralmente o termo “directiva” ou directiva-quadro” para designar a legislação.

[2] Na terminologia da União Europeia os serviços públicos são conhecidos como Serviços de Interesse Geral (SIG) e Serviços de Interesse Económico Geral (SIEG).


quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Educação Ambiental no Youtube: Peak Moment e Richard Heinberg, autor do livro "Peak Everything"



Richard Heinberg entrevistado pela equipa Peak Moment e adicionado em 22 de Junho de 2008.

Momento do Pico (Peak Moment) é uma série semanal apresentando perspectivas e iniciativas locais de auto-suficiência. Canal inaugurado em 17 de Setembro de 2007, em que Janaia Donaldson entrevista ou em passeios com os convidados, discutindo temas como conservação da energia, reduzir o caos climático e a incerteza económica e agricultura biológica.

Mais info:
  1. Página oficial de Richard Heinberg
  2. Richard Heinberg

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A maior flor do mundo - curta-metragem Juan Pablo Etcheverry

Boas Festas a todos!

História para crianças (e adultos), escrito e narrado por José Saramago. Uma pequena curta-metragem cheia de símbolos e enigmas, para uma criança que cresce num mundo quebrado pelo individualismo, desespero e falta de ideais.História e vídeo universais.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Cartazes do Dia: publicidade criativa contra o aquecimento global e alterações climáticas


Em plena COPenhaga, eis uma nova, excelente e oportuna compilação de cartazes ecológicos, desta vez feita por Ivan Raszl (página pessoal). Escolhi alguns: celebridades, naturistas e alertas às emissões de GEE. Toda a colecção podes ver aqui
Já noutra postagem do BioTerra, apresentei uma excelente colectânea de cartazes promovidos pela WWF. Ver aqui

The Copenhagen climate conference is on the cover of all newspapers nowadays, so I thought it's time to revisit this topic and post all the cool new ads that appeared across the globe on the subject of global warming trying to educate and raise awareness, says
Ivan Raszl.
All colection here




















More creative ads here in another BioTerra´s post

domingo, 21 de dezembro de 2008

Boas Festas a todos


Um video ecoartivista, da minha autoria- agora um ano depois- e um poema de esperança, 40 anos depois!
Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção.

(Carlos Drummond de Andrade, Dezembro de 1968)

Vale a pena reler

Natal Alternativista

Dossiê Educação Ambiental e Espiritualidade



sábado, 20 de dezembro de 2008

Comuna da Luz (em Odemira) e a Comuna Clarão (em Sintra) foram as 1ªs comunidades portuguesas anarquistas-naturistas fundadas por A. Gonçalves Correia


Imagem de uma comunidade anarquista-naturista-vegetariana em França numa sessão de Esperanto

A Comuna da Luz ( situada na herdade das Fornalhas Velhas, em Vale de Santiago, concelho de Odemira, hoje com a designação de Monte da Comuna, mas que já pouco resta das antigas instalações) é considerada a primeira comunidade anarquista a ser criada em Portugal, tendo perdurado ao longo de dois anos (1917 e 1918).

O principal promotor foi o anarquista António Gonçalves Correia, inspirado pelas ideias de Tolstoi e do pedagogo libertário Francisco Ferrer.

Pelo que se sabe, a comunidade contava com cerca de quinze companheiros que se dedicavam à agricultura e ao fabrico de calçado, praticando o vegetarianismo e o naturismo (nudismo). Fazia parte do grupo uma professora, o que na época era allgo de extraordinário, e a sua presença é justificada pela orientação racionalista que o mentor e principal promotor da Comunidade atribuía à aplicação dos métodos pedagógicos racionalistas do grande intelectual e pedagogo espanhol Francisco Ferrer

Durante a sua curta duração, a comunidade anarquista foi alvo de preconceitos burgueses e da repressão policial, os quais acusaram constantemente que a mesma comuna tenha desencadeado e organizado o surto grevista dos trabalhadores rurais que varreu o Alentejo.

Com efeito à greve geral de Novembro de 1918 não foi estranho os ideais libertários que os membros da Comuna da Luz espalharam entre as populações locais de Vale de Santiago. Em 1918, a mesma foi extinta , quando se espalharam rumores de que a comunidade estava associada à morte de Sidónio Pais. Após o seu desmantelamento, António Gonçalves Correia foi preso.

De qualquer forma , António Gonçalves Correia não se dá por vencido. Após a sua saída da prisão, em meados de 1926, funda a Comuna Clarão localizada em Albarraque ( na freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra)

Ambas as comunidades anarquistas tentaram aproximar-se do ideal libertário de Tolstoi - uma das maiores fontes de inspiração do anarquismo português protagonizado por António Gonçalves Correia.

A Comuna Clarão tinha como objectivo declarado pôr em prática um ideal de vida alternativo, dedicando-se à floricultura, à horticultura, e assumindo-se também, depois de 1926, como foco de resistência à ditadura, servindo mesmo de esconderijo a muitos perseguidos.

Também aqui as coisas nem sempre correram bem para Gonçalves Correia que entrou em desacordo com alguns companheiros, porventura menos honestos e menos coerentes com os ideais proclamados de fraternidade e tolerância, acabando por se extinguir.




Comunidade anarquista-naturista francesa - um exemplo dos célebres Milieux Libres



Quem foi António Gonçalves Correia

António Gonçalves Correia (1886 – 1967), natural da aldeia de S. Marcos da Ataboeira (Castro Verde), foi caixeiro viajante, vegetariano e tolstoiano, e é hoje ainda uma figura humana que perdura na memória de muitos alentejanos, na história da sua luta social, na imagem do “revolucionário” que percorria o Baixo Alentejo na difusão do ideal anarquista.

Nas palavras de Raul Brandão, que o descreve no seu livro «Os Operários», este homem «extraordinário, de grandes barbas tolstoianas e o cabelo caído pelas costas à nazareno» percorria o Alentejo, com a sua maleta de caixeiro-viajante cheia de sonhos. Gonçalves Correia era visto ainda como o homem que comprava pássaros para depois os soltar, no meio de vivas à liberdade.


Figura justamente celebrada, pelas edições do empolgante CD “No Paraíso Real” (ao qual Gonçalves Correia dava a capa e motivo de alguns dos testemunhos orais acerca da “revolta e utopia no sul de Portugal”) e sobretudo pela pequena biografia da autoria de Alberto Franco “A Revolução é a Minha Namorada. Memória de António Gonçalves Correia, anarquista alentejano” (da qual se remetem as citações que se seguem) a qual procura “fazer justiça ao movimento anarquista português de princípios do século, cuja memória foi meticulosamente apagada por 48 anos de ditadura, mas também por algumas forças de esquerda, ansiosas por monopolizar o combate ao Estado Novo”.

Homem culto, autodidacta, poeta social (que usa por vezes o pseudónimo de Pedro Monséni), adepto de Tolstoi, utiliza também a escrita como veículo de propaganda dos seus ideais. Colabora em vários jornais, como A Batalha, A Aurora, O Rebelde. Em 1916, por exemplo, funda o semanário A Questão Social, na vila de Cuba. Aí, publica uma série de artigos onde faz a apologia das suas ideias inovadoras – a defesa da liberdade e da emancipação da mulher, do naturismo, do respeito pelos animais, da ecologia, do amor livre e liberto das peias do casamento, da nãoviolência; a condenação do militarismo e do flagelo da guerra, e até da caça e do consumo do álcool.

Um ano depois, em 1917, publica um longo opúsculo, intitulado Estreia de um crente, que constitui, como diz justamente Alberto Franco, «um pequeno manual do pensamento libertário, temperado com o lirismo humanista do seu autor» (pág.35). Os capítulos da obra correspondem, aliás, a cartas dirigidas «a um anarquista», «a um tio rico», «a um republicano», «a um caçador», «a uma mulher», «a um advogado», «a um condenado», servindo cada uma delas como pretexto para o desenvolvimento dessas ideias. É precisamente na sua carta a um advoga- do que Gonçalves Correia escreve: «A revolução é a minha namorada».

Também num outro opúsculo, A Felicidade de todos os Seres na Sociedade Futura (1ª ed., 1923), Gonçalves Correia defende a colectivização da propriedade, a modernização da agricultura, manifestando a sua crença no pro- gresso e no contributo fundamental da máquina para a libertação do Homem.

A vida de Gonçalves Correia cruza-se pois com a história da primeira metade do século XX, política, económica e social. Cruza-se e funde-se com o emancipar das ideias anarquista, com as lutas anarco-sindicalistas das minas de Aljustrel, São Domingos ou Lousal, com as lutas dos camponeses do Alto ao Baixo Alentejo e com os vários grupos e jornais anarquistas de Portalegre e Évora, a Odemira ou Cercal do Alentejo, etc. Sobre os princípios de vida de Gonçalves Correia, a sua biografia chama a atenção para que quem hoje olhe para os “tópicos da cultura libertária de há 100 anos, não deixará de se surpreender com a actualidade de muitas das propostas. Com efeito, grande número dos princípios que enformam a nossa modernidade – a liberdade, a emancipação da mulher, a defesa do amor livre, a ecologia, o respeito pelos animais, o naturismo, certos estilos alternativos de vida – mergulham as suas raízes na velha moral anarquista”.

Certos do reconhecimento da autêntica sementeira e germinal de valores e princípios anarquistas na actual “modernidade”, pese o seu persistente escamoteamento, não chegamos porém a concluir, como Alberto Franco, que “um século depois, estão socialmente consagrados muitos dos postulados do pensamento libertário, fruto de um debate intelectual estimulante e, sob muitos aspectos, antecipador”. Os postulados anti-autoritários do pensamento libertário travam mais do que nunca uma luta pela sua vitória, e nesta luta a memória histórica do anarquismo agita-se hoje ainda, no debate, na prática, e nos novos desafios que colocados à velha moral anarquista não a condenam à velhice, antes a estimulam incorrigivelmente a prosseguir na “Felicidade de todos os seres na Sociedade Futura”, como já apelava o nosso anarquista de S. Marcos da Atabueira.

Gonçalves Correia perfilhava as ideias do anarquismo tolstoniano: pacifista, na condenação de todas as formas de violência; pela transformação do indivíduo através da bondade e da fraternidade. Um tom essencialmente moral, que contudo comunga no movimento libertário com correntes mais centradas na acção directa (seja ela violenta ou não) dos mesmos objectivos emancipadores do homem ao Estado e à autoridade.

A noção de socialismo de Gonçalves Correia ( segundo o opúsculo de 1917 “Estreia de um Crente”, a sua primeira obra, a que se seguirá em 1923 “A Felicidade de todos os Seres na Sociedade Futura”) é formulado nos seguintes termos:

“… bom, será definirmos o que é o socialismo, pois temos duas espécies: temos o socialismo parlamentar, nocivo, intervencionista (…) e temos o socialismo libertário, consciente, da acção directa, que só por si faz tremer os cómodos barões que desfrutam os benefícios do património comum. Esse sim. É o socialismo do futuro, sem deputados, sem eleições, sem o deprimente «carneiro com batatas», que corrompe consciências, que aniquila caracteres”.

Note-se o intento alter-globalizador “sentido que a humanidade só será feliz no dia em que der as mãos, alheia à fraternidade oficial, uma mentira repugnante, [pelo que Gonçalves Correia] declara-se anti-patriótico”, reivindicando a “abolição das fronteiras, separadoras de povos, de raças”.

Bibliografia:

FRANCO, Alberto (2000): "A revolução é a minha namorada - Memórias de António Gonçalves Correia, anarquista alentejano", ed. Câmara Municipal de Castro Verde; Destaque ainda para "No Paraíso Real: tradição, revolta e utopia no Sul de Portugal" (CD), ed. O Canto do Som, 2000.

“Naturismo e comunismo: uma aliança sagrada” foi o título da comunicação apresentada por Gonçalves Correia no 1.º Congresso Vegetariano Naturista da Península, realizado em Lisboa em Junho de 1919.

ROCHA, Francisco Canais, e LABAREDAS, Maria Rosalina (1982): "Os trabalhadores rurais do Alentejo e o sidonismo: ocupação de terras no Vale de Santiago", Lisboa, Edições Um de Outubro: pp. 168-69

Consultar:
António Gonçalves Correia
http://goncalvescorreia.blogspot.com/
http://pimentanegra.blogspot.com/2008/12/comuna-da-luz-em-odemira-e-comuna-claro.html

Entrevista exclusiva com Lester Brown, um dos maiores pensadores ambientais do mundo



Para Lester Brown, um dos mais importantes pensadores ambientais do mundo, a injeção de recursos dos governos norte-americano e europeus não será suficiente para tornar mais sustentável a combalida economia internacional. O momento urgente sugere um plano B. A transição para a sustentabilidade passa, segundo ele, por taxar atividades baseadas na queima de combustíveis fósseis, incentivar o desenvolvimento e uso de energias renováveis e, com isso, criar novos empregos.

Em seu mais recente livro, “Plan B 3.0: mobilizing to save civilization”, Brown mostra que evitar o declínio da economia significa impedir o colapso da civilização.

“As corporações precisam reconhecer que seu futuro é inseparável do futuro da civilização e que elas também são responsáveis pela manutenção da vida na Terra. Devem, portanto, contribuir com a construção de uma economia global sustentável. Sem isso, vamos enfrentar um colapso.  Nenhuma companhia terá lucro avançando na escalada rumo à destruição. Precisamos rever rapidamente a economia global e particularmente a matriz energética por meio de políticas econômicas que reestruturem taxas e pressionem o mercado a contar a verdade ambiental”, ressalta o especialista.

A “verdade ambiental” a que se refere Brown diz respeito à inabilidade do mercado em incorporar impactos indiretos -- também conhecidos como externalidades -- causados ao meio ambiente e à sociedade pelas atividades econômicas. A inversão dessa lógica, que seria favorecer as tecnologias e práticas mais limpas em detrimento das baseadas na queima de combustíveis fósseis, representa uma oportunidade para criar novos postos de trabalho.

Apresentar a visão de um futuro sustentável e também os meios práticos para construí-la tem sido a missão de Brown ao longo de 40 anos dedicados à militância ambiental. Em 1974, ele fundou o Worldwatch Institute, uma organização sem fins lucrativos especializada na análise das questões ambientais globais. Em 1984, lançou a série de relatórios “O Estado do Mundo”. Traduzido para as principais línguas, os documentos alcançaram status semi-oficial, tornando-se uma espécie de “Bíblia” do movimento ambiental. Em 2001, Brown criou a Earth Policy Institute, do qual ainda hoje é presidente. A organização passou a disseminar informações na área ambiental utilizando, como suporte, uma rede mundial de editores, principalmente na Internet.

Apesar de entusiasta do termo desenvolvimento sustentável, Brown acredita que ele não seja muito empolgante. Em sua opinião, a associação de aspectos sociais e políticos à discussão - inicialmente apenas ecológica – esvaziou de certa forma o sentido do conceito. “Ao se tornar tão ampla, a sustentabilidade passou a significar pouco. O termo não mobiliza as pessoas”, ressalta Brown.

Em entrevista exclusiva à repórter Juliana Lopes, da Revista Idéia Socioambiental, Brown falou das medidas necessárias para reverter a tendência de destruição e colocar a economia nos trilhos da sustentabilidade, entre outros temas que o leitor confere a seguir.

Idéia Socioambiental: Como o senhor avalia a evolução do conceito da sustentabilidade? A popularização do termo está contribuindo para o desenvolvimento de novos modelos econômicos e mentais para uma sociedade sustentável?

Lester Brown: O conceito de desenvolvimento sustentável evoluiu nos últimos 35 anos. A princípio, falávamos apenas de sustentabilidade ecológica, mas o termo tem sofrido mutações para incluir a sustentabilidade social e política. Em alguns pontos, isso é tão amplo que não chega a significar muito.

Embora  intelectualmente útil, o termo sustentabilidade parece não empolgar e mobilizar as pessoas. Por isso, no Earth Policy Institute, começamos a falar sobre salvar a civilização ao invés de desenvolvimento sustentável porque é disso que realmente se trata. Assim, a discussão adquire um senso de urgência muito maior quanto ao que está em jogo.

IS: De que maneira a crise econômica, ambiental e social que vivemos atualmente está relacionada com a teoria econômica de base mecanicista?

LB: O modelo mental por trás da crise financeira é o mesmo que criou a crise ambiental e a insustentabilidade da economia – em termos ambientais. Esse modelo valoriza o presente em vez de se expandir para o futuro. Isso nos leva não apenas a déficits econômicos –a parte central dessa crise – mas também aos déficits ecológicos, que são parte central da crise ambiental hoje vivida.

Mudança climática, desmatamento, erosão do solo,  colapso de algumas indústrias de pesca ou a queda de aquíferos dizem respeito, de um jeito ou de outro, a déficits ecológicos. Em suas origens, a crise econômica mundial está muito ligada à crise ambiental que estamos experimentando já há algum tempo.

IS: Qual deveria ser a base de novos modelos econômicos e mentais capazes de nos conduzir para uma sociedade sustentável?

LB: Na verdade, o único modelo que pode salvar a civilização é aquele que satisfaz as necessidades atuais sem prejudicar a capacidade das futuras gerações atenderem as suas próprias. Se continuarmos, por exemplo, a queimar combustíveis fósseis em larga escala, aumentando a temperatura da atmosfera, as camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida derreterão. Com isso, veremos um aumento enorme no nível do mar e, por consequência, um enorme caos.

Em uma região como a Ásia, por exemplo, o derretimento dos glaciais nas montanhas do Himalaia, ao norte da Índia, ou do planalto do Tibete, alimentará os rios da região fora dos períodos das monções. Se essas camadas de gelo derreterem completamente com o aumento da temperatura, os rios desaparecerão na época de seca, prejudicando fazendeiros que dependem desses cursos d’água para irrigação. Isso não é apenas importante para países como a Índia e China, mas para todo o mundo, na medida em que poderemos viver a escassez de alimento em uma escala inimaginável.

IS: Um estudo recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente mostrou que combater o aquecimento global pode ajudar a criar novos empregos. Partindo dessa premissa, o senhor acredita que a crise financeira atual, de alguma forma, pode ser uma oportunidade para rever o nosso modelo econômico e tornar mais sustentável a economia?

LB: Claro que sim. Com as fontes renováveis de energia em desenvolvimento, como a eólica, a solar e a geotérmica, há uma oportunidade enorme de criar novos postos de trabalho. Posso citar um caso recente, que vi na Alemanha, onde se divulgou que o número de postos de trabalho criados por capacidade de produção de megawatt de energia elétrica, decorrente de energia eólica ou solar, é dez vezes superior ao de usinas termoelétricas de carvão ou nucleares.

As novas fontes de energia têm um potencial muito maior de geração de emprego do que as de combustíveis fósseis. E isso é bom, pois, para sair da crise atual,  precisamos criar empregos em todo o mundo e em uma escala monumental. Vale observar a situação dos Estados Unidos. Só na transição de fontes de energia, saindo dos combustíveis fósseis, a projeção é de geração de sete milhões de empregos.

IS: No seu último livro, Plan B: 3.0, o senhor lança o desafio de reduzir as emissões de dióxido de carbono em 80% até 2020. Na sua opinião, quais são os principais desafios para construir uma economia de baixa emissão de carbono?

LB: O mercado faz várias coisas bem, mas uma das coisas que não faz é incorporar impactos indiretos da queima de combustíveis fósseis. Por exemplo, ele não inclui o custo da mudança climática no preço da energia gerada pelo petróleo ou no preço da gasolina. Assim, os preços seriam muito mais altos do que são e, portanto, mais honestos e verdadeiros. Quando compramos um galão de gasolina nos EUA, pagamos pela extração do petróleo, o transporte do produto para uma refinaria, a produção da gasolina e então, o transporte da gasolina para uma estação servil. Não se contabiliza o custo da mudança climática.

Se reestruturarmos os tributos, reduzindo o imposto de renda e aumentando a taxação de atividades ambientalmente destrutivas, podemos levar o mercado a contar a verdade ambiental. Ao fazermos isso, a economia energética começará, muito rapidamente, a se reestruturar e a responder aos sinais de preço do mercado. Essa é a medida mais importante para nos mover em direção a uma economia de baixa emissão de carbono. Enquanto isso, precisamos subsidiar o desenvolvimento das fontes renováveis de energia – eólica, solar e geotérmica – com impostos atraentes.


Ideia Socioambiental: E como fica o Protocolo de Kyoto nessa perspectiva?

Lester Brown: Há mais de uma década, houve a negociação do Protocolo de Kyoto. Agora estamos próximos de negociar um sucessor para o acordo que expira em 2012. Minha conclusão é que acordos climáticos, negociados internacionalmente, não dão certo. A razão para isso é simples: nenhum governo concorda em fazer mais do que os outros países se dispõem a fazer. O resultado é um acordo com padrões mínimos. O próprio Protocolo de Kyoto constitui um bom exemplo disso. Deveríamos ter nos afastado dele com algumas metas de cortes de emissões dramáticas, mas não o fizemos. Concordamos que os países industrializados cortassem as emissões em torno de 7%. O fato é que a maioria deles não está nem perto de atingir essa meta de percentual.

Acredito que não temos tempo para continuar negociando novos acordos climáticos para reduzir as emissões de carbono. Por isso, temos que pensar em uma maneira de diminuir drasticamente as emissões, como apontamos no Plan B: 3.0. Se quisermos ter uma chance decente de salvar a civilização, teremos que cortar as emissões de carbono algo em torno de 80% até 2020. Isso soa ousado, mas está começando a gerar uma mobilização semelhante a dos tempos de guerra para reestruturar a economia energética dos EUA e mudar a matriz.

IS: E qual o caminho alternativo aos acordos internacionais?

LB: Acredito em ações locais. Muitos governos começarão a cortar rapidamente as emissões de seus países. Na Nova Zelândia, por exemplo, a primeira ministra Helen Clark tomou decisões importantes, independentemente de qualquer negociação internacional. Seu país se comprometeu a aumentar o uso de fontes renováveis para geração de energia elétrica dos atuais 70% para 90% até 2020. Também assumiu o compromisso de reduzir pela metade o uso de combustível para carros por habitante até 2040. Vai plantar cerca de 200 mil hectares de árvores, algo em torno de 31 árvores por habitante, número significativo para o sequestro de carbono.

Nos EUA, observa-se um extraordinário movimento político, especialmente nos últimos 18 meses, de oposição às novas fábricas termoelétricas alimentadas com carvão. E esse movimento tem influenciado Wall Street. Alguns dos maiores bancos, como o JP Morgan, o CitiBank e o Morgan Stanley, entre outros, criaram os “Carbon Principles”.

Com base neles, afirmaram que não financiarão mais empresas de energia para a construção de novas usinas termoelétricas a carvão, a não ser que esses projetos possam demonstrar a viabilidade econômica das plantas, depois que o governo americano impor restrições às emissões de carbono. Mas como ninguém sabe quais seriam essas restrições e os custos para atendê-las, não há como mostrar a viabilidade econômica dos projetos.

IS: Grandes companhias têm lançado linhas de produtos sustentáveis como, por exemplo, a General Electric, com a Ecoimagination. Como o senhor enxerga o movimento corporativo nessa área?

LB: Praticamente toda grande corporação, em todo o mundo, está tentando se tornar verde de um jeito ou de outro. Mas as empresas têm a obrigação de gerar retorno aos seus acionistas. Por isso, para tomarem decisões, dependem dos preços como sinais do mercado. O problema é que o mercado está fornecendo má informação e, consequentemente, as corporações vêm tomando más decisões. Precisamos pressionar o mercado a contar a verdade ambiental, a partir da reestruturação do sistema tributário. Essa é a chave para se criar um futuro sustentável ou, de forma mais clara, salvar a civilização.

IS: Qual o papel dos consumidores na promoção de uma economia mais sustentável? Iniciativas como a rotulagem de produtos de acordo com as emissões de carbono, prática que tem avançado na Europa e nos EUA, são importantes para promoção de padrões mais sustentáveis de consumo?

LB: Os consumidores, é claro, têm um papel muito importante. No entanto, quando me questionam sobre o que podem fazer, quase sempre esperam que eu responda sobre mudanças no estilo de vida, sobre alterações no sistema de iluminação da casa ou no descarte adequado de lixo. Essas e outras tantas atitudes são importantes. E a rotulagem ajuda os consumidores a tomarem melhores decisões. Mas estamos agora em uma situação muito grave na qual necessitamos reestruturar rápido a economia global, principalmente a economia energética. E isso exigirá novas políticas econômicas.

Nós, do campo ambiental, falamos nas últimas décadas sobre salvar o planeta. Mas o que está em jogo agora é a própria civilização. Se quisermos salvar a civilização, precisamos nos tornar politicamente ativos e isso significa não apenas votar nas eleições, mas também atacar algumas questões importantes. Salvar civilizações não é um desporto para expectadores.

Todos precisamos tomar parte no futuro. Precisamos encarar desafios específicos, como, por exemplo, banir a construção de novas usinas termoelétricas de carvão, criar programas de reciclagem na nossa comunidade ou ainda trabalhar para ajudar a estabilizar a população mundial.

Caso não façamos isso, fracassaremos. Acredito que vamos testemunhar uma degradação contínua do sistema de serviços ambientais, das florestas, dos solos e dos açudes. Como consequência, a economia global começará a se deteriorar, pois depende desses sistemas naturais. Se os destruirmos, a civilização terá o mesmo desfecho dos Sumérios e dos Maias.

IS: Na sua opinião, quais são os principais desafios para um estilo de vida mais sustentável nas cidades?

LB: Pela primeira vez na história da humanidade existem mais pessoas vivendo nas cidades do que fora delas. Em decorrência disso, estamos vivenciando crises em questões fundamentais como a mobilidade. As tecnologias de transporte funcionam em comunidades-modelo. Cresci numa comunidade de fazendeiros onde sem os carros teríamos enorme dificuldade de locomoção. Mas à medida que os carros se multiplicam nas cidades, descobrimos que eles promovem, na verdade, a imobilidade. Em Londres, por exemplo, a velocidade média de um carro é menor do que a de uma carruagem do século 20. Ainda sim, investimos grandes quantias de dinheiro em carros que podem andar mais rápido. Por isso, as grandes cidades de países ricos e em desenvolvimento estão repensando os transportes.

A melhor alternativa é o transporte público rápido. A experiência do sistema de ônibus de Curitiba é um modelo inspirador para prefeitos de vários lugares do mundo. Observo com interesse o que as cidades estão fazendo para abrir espaço às bicicletas. Na China, por exemplo, houve um movimento na direção de substituir as bicicletas pelos carros. Mas, diante das evidências de que isso não daria certo, já se planeja seriamente como restaurar o equilíbrio entre os dois tipos de veículo.

IS: Qual é o papel de florestas tropicais, como a Amazônica, na redução das emissões de carbono?

LB: O desmatamento está se tornando a maior causa da mudança climática porque também lidamos com as queimadas das florestas. Acredito que na Indonésia, por exemplo, está acontecendo o mesmo. Aquela região é a terceira ou talvez a quarta região com maior emissão de dióxido de carbono no mundo. Isso não se dá por conta do número de automóveis, mas em decorrência do desmatamento. Pelo mesmo motivo, o Brasil também está em uma posição alta nesse ranking. O que precisamos ter em mente é que as florestas tropicais desempenham um papel muito importante. Elas sequestram carbono e, no Brasil, “reciclam” as chuvas que vêm do litoral para o interior do país.

Uma das preocupações dos ecologistas é que o desmatamento continue na Amazônia, o que eventualmente fará com que a floresta comece a secar e fique vulnerável ao fogo natural, causado por raios, por exemplo. Se isso ocorrer, poderemos assistir ao completo desaparecimento da floresta tropical. O planeta teria uma paisagem muito diferente da que existe hoje. No lugar de densa vegetação, nasceria um ecossistema de savana ou talvez de deserto.

Estamos nos aproximando de um ponto em que o futuro da Amazônia está em xeque. E não vai demorar muito para chegarmos a um outro ponto, em que não seremos mais capazes de salvar o que restará da floresta. Nada, então, poderá ser feito. Isso será um desastre não apenas para o Brasil, mas para todo o mundo.

IS: Qual é a principal tendência para uma economia mais sustentável nos próximos 10 anos e como as corporações deveriam se preparar para essa nova realidade?

LB: Bem-estar e sobrevivência são essenciais no longo prazo. As empresas não podem sobreviver num mundo no qual a civilização está em colapso. As companhias que enxergam um futuro sustentável começam a desenvolver seus produtos a partir dessa perspectiva. Elas serão as vencedoras no longo prazo.

No início dos anos 1980, a Dinamarca começou a construir turbinas eólicas para os primeiros parques eólicos no mundo, que ficavam na Califórnia, nos Estados Unidos. Alguns anos depois, os EUA perderam o interesse em energia eólica e removeram os incentivos. A Dinamarca criou incentivos para as suas próprias fábricas e continuou a construir, redesenhar e melhorar os geradores e turbinas. Há alguns anos, este pequeno país de cinco milhões de habitantes estava produzindo e licenciando quase metade das turbinas eólicas vendidas no mundo.

Existe um campo emergente de postos de trabalho no segmento das energias renováveis. Precisaremos de um enorme contingente de carpinteiros, encanadores e eletricistas para instalar aquecedores de água solares e células de energia solar. No lugar dos geólogos de petróleo, precisaremos de geólogos geotérmicos, mineralogistas e arquitetos solares.

Temos aí uma enorme oportunidade para desenvolver e expandir a economia. Os potenciais são enormes. Basta que os países e as empresas tenham a capacidade de enxergar mais longe.

Leia também: 
1) Entrevista com Fritjof Capra: Abaixo o humanismo individualista 
2) Entrevista com Ricardo Abramovay: A era da inovação e do limite 
3) Entrevista com Israel Klabin: A estrada depois da curva 
4) Entrevista com Ricardo Young: Novas empresas para um novo capitalismo

Biografia

Earth Spirit Action: A Deep Ecology Journey (curta-metragem da RainForest)



Earth Spirit Action, é uma nova curta metragem produzida e dirigida por Ruth Rosenhek da Rainforest Information Centre (Austrália), com intervenções de Starhawk, Vandana Shiva, Ruth Rosenhek, John Seed e Matthew Fox falando sobre Ecologia Profunda, Democracia e Revolução na Consciência num rápido movimento de discursos retratando o tipo de mudança que é urgente fazer para um futuro sustentável.

Um filme inspirador e estimulante, incluindo uma bela filmagem da natureza e um colorido leque de acções globais.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Colapso Ecológico no Tibete


Tibetan plateau melts in the face of climate change , vídeo de 2006

Mary Stuart indicou-me esta notícia da EEN mais recente onde refere este colapso ecológico no Tibete.



quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Documentário : Living in the Future's Past


Vivendo no Passado do Futuro - Este filme revira a nossa maneira de pensar e fornece percepções originais sobre nossas motivações subconscientes, as consequências não intencionais e como nossa natureza fundamental influencia nosso futuro como humanidade.

Que tipo de futuro queremos viver? Jeff Bridges apresenta belas imagens de pensamento original sobre quem somos e os desafios da vida. Remontando nossa maneira de pensar, o documentário traz reflexões sobre as motivações do subconsciente e como a nossa natureza influencia o futuro da humanidade.

Os seres humanos são apenas uma das inúmeras espécies na Terra, todas que tiveram que se adaptar ao longo do tempo para sobreviver às mudanças nas condições. A diferença entre os humanos e todas as outras espécies é que os humanos aprenderam a controlar seu ambiente em conjunto com essa adaptação para sobreviver além de atender às necessidades básicas. Grande parte dessa necessidade de maior controle e conforto é motivada cultural e socialmente e pode ser alcançada por meio da superprodução de bens além do nível de subsistência. Ser capaz de alcançá-lo se resume à questão básica de energia. No entanto, esta situação teve a consequência não intencional de afetar negativamente o ambiente holístico em que vivem os humanos e todas as outras espécies da Terra. Embora as espécies existentes tenham sido capazes de se adaptar para sobreviver, essa mudança impulsionada pelo homem é diferente de tudo o que já experimentou e a velocidade da mudança pode afetar se as espécies forem capazes de se adaptar sem um caminho diferente. A maioria concordando que o caminho atual é aquele que a maioria não quer ver para nossos filhos e seus filhos e assim por diante, a questão então se torna o que os humanos podem fazer individualmente, socialmente e globalmente para o futuro que queremos ver para as gerações futuras.

Elenco (entre outros):
Jeff Bridges, Piers Sellers, Wesley Clark, Oren Lyons e Daniel Goleman

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

COP 14 - Wangari Maathai

Balanço da Conferência de Poznan desanimadora

A Conferência de Poznan teve um balanço desanimador, apesar dos sinais físicos de alterações climática que estão à nossa volta.
Se não houver vontade política, o objectivo delineado em Bali e reforçado pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, por AlGore, por cientistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas e por muitos Ministros de alguns países, não será atingido [refere a Quercus].
O fotógrafo americano Gary Braasch tem documentado imagens das alterações ambientais desde 1999. Entretanto o seu sítio tem melhorado imenso com vasta documentação e hiperligações.

A imagem da esquerda é de 1859 mostrando o glaciar Rhone em Valais, Suíça.
Em 2001 (menos de 150 anos!), o glaciar encolheu 2,5 km , e sua tromba deslocou-se cerca de 450 metros acima.

Saber mais:
Todas as COP, Informações e Encontros Internacionais (sítio da UNFCC)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O herbicida mais famoso da Monsanto contamina os lençóis freáticos

O herbicida da Monsanto, Roundup, o mais vendido em todo o mundo, contem o glifosato, o comprovado carcinogénico e agora um estudo recente comprova que contamina os lençóis freáticos.
The explosive study that confirmed the contamination effect of Monsanto’s Roundup was published in Analytical and Bioanalytical Chemistry last month, in which researchers discovered that 41% of the 140 groundwater samples taken from Catalonia Spain were actually above the limit of quantification. 

This means that glyphosate was actually not breaking down rapidly, despite Monsanto’s claims that the chemical would do so. Without the key ability to readily break down, it is apparent that glyphosate is polluting groundwater in alarming quantities, enough to pose a significant threat to the purity of drinking water wherever it is used.
Glyphosate is carcinogenic, genotoxicity, neurotoxicty, hepatoxicity, and nephrotoxicity. 
Glyphosate is classified by the the EPA as a Class III toxic substance, and can kill an adult in as little as 30 grams. Even more concerning is the fact that glyphosate, and Monsanto’s Roundup as a whole, have been linked to conditions such as: Hormonal disorders Lymphoma DNA damage Endocrine disease Skin cancer Kidney damage Liver damage [Fonte: Activist Post]

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A Educação Ambiental em Portugal: raízes, influências, protagonistas e principais acções


Entre muitos autores e artigos desta edição nº21 da revista Educação, Sociedade e Culturas, saliento o muito bom artigo do investigador em Educação Ambiental, José Ramos Pinto, disponível para descarregar aqui. Boas leituras.



domingo, 14 de dezembro de 2008

Somos o que semeamos - artigos científicos sobre efeitos dos transgénicos



Os Catalães da ONG Som Lo que Sembrem, compilaram e disponibilizam para consulta uma série de artigos científicos sobre efeitos dos OGM.

A acrescentar à enorme base artigos já compilados pela ONG Portuguesa, Plataforma Transgénicos Fora A bibliografia aumenta. Que risco que desejamos correr? E para o ambiente?

MON 810 i altres plantes Bt
Títol Autor/a Descàrrega
Intestinal and Peripheral Immune Response to MON810 Maize Ingestion in Weaning and Old Mice - 2008 Alberto Finamore finamore08.pdf
Biological effects of transgenic maize NK603xMON810 fed in long term reproduction studies in mice - 2008 Alberta Velimirov forschungsbericht_3-2008(1).pdf
Effects on health and environment of transgenic (or GM) Bt brinjal - 2009 Gilles-Eric Seralini SeraliniberenjenaIndia.pdf
New Analysis of a Rat Feeding Study with a Genetically Modified Maize Reveals
Signs of Hepatorenal Toxicity - 2007
Gilles-Eric Seralini Seralinietal2007.pdf
A three-year longitudinal study on the effects of a diet containing genetically modified Bt176 maize on the health status and performance of sheep - 2008 Massimo Trabalza-Marinucci Trabalzaetal2008Bt176ovejas.pdf
Evaluation of stress- and immune-response biomarkers in Atlantic salmon, Salmo salar L., fed different levels of genetically modified maize (Bt maize), compared with its near-isogenic parental line and a commercial suprex maize - 2007 A. Sagstad maizBtsalmon.pdf
A three generation study with genetically modified Bt corn in rats: Biochemical and histopathological investigation - 2008 Aysun Kılıc, M. Turan Akay Kilic&Akay08BtMaizeFeedingStudy.pdf
Safety assessment of transgenic Bacillus thuringiensis VIP insecticidal protein gene by feeding studies - 2007 - Food and Chemical Toxicology
Donghai Peng Peng07FCT(BtVIP).pdf
Characterization of the mucosal and systemic immune response induced by Cry1Ac protein from Bacillus thuringiensis HD 73 in mice - 2000 - Brazilian Journal of Medical and Biological Research
Vazquez-Padron
Vasquez00BJMBR.pdf
Protoxin from Bacil.lus thuringiensis sp. kurstaki HD 73 binds to surface proteins in the mouse small intestine - 2000 - Biochemical and Byophysical Research communication
Vazquez-Padron
Vasquez00BBRC.pdf
Detection of corn intrinsic and recombinant DNA fragments and Cry1Ab protein in the gastrointestinal contents of pigs fed genetically modified corn Bt11
2003. 81:2546-2551
E. H. Chowdhury, H. Kuribara, A. Hino, P. Sultana, O. Mikami, N.
Shimada, K. S. Guruge,
M. Saito and Y. Nakajima
J Anim Sci
detecciopanisBt11tocinosChowdury.pdf
Tracing residual recombinant feed molecules during digestion and rumen bacterial diversity in cattle fed transgene maize Ralf Einspanier · Bodo Lutz · Stefanie Rief ·
Oksana Berezina · Vladimir Zverlov ·
Wolfgang Schwarz · Johann Mayer
detecciopanisBt176vaquesEinspanier.pdf
Soja transgènica
Títol Autor/a Descàrrega
A long-term study on female mice fed on a genetically modiWed soybean: eVects on liver ageing - 2008 Manuela Malatesta fetgeratessojaMalatesta2008(2).pdf
Ultrastructural analysis of pancreatic acinar cells from mice fed on genetically modified soybean - 2002 Manuela Malatesta Malatestaetal2002b.pdf
Ultrastructural analysis of testes from mice fed on genetically modified soybean - 2004 L. Vecchio Vecchioetal2004.pdf
Ultrastructural morphometrical and inmunocy tochemical analyses of hepatocyte nuclei from mice fed on genetically modified soybean - 2002 Manuela Malatesta Malatesta2002.pdf
Pancreatic response of rats fed genetically modified soybean - 2008 Javier A. Magaña-Gómez Magañaetal2008.pdf
Proteomic sensitivity to dietary manipulations - 2003 - Biochimica and Biophysica Acta Martin Martin03BBA(feedingtrout).pdf
Herbicida Roundup associat a les plantes tolerants aquest herbicida (soja transgènica)
Títol Autor/a Descàrrega
Differential Effects of Glyphosate and Roundup on Human Placental Cells and Aromatase - 2005 Sophie Richard Richardetal2005Roundup.pdf
Glyphosate Formulations Induce Apoptosis and Necrosis in Human Umbilical, Embryonic, and Placental Cells - 2009 Nora Benachour / Gilles-Eric Seralini SeraliniBenachour09.pdf
Time- and Dose-Dependent Effects of Roundup on Human Embryonic and
Placental Cells - 2007
N. Benachour Glyphosate.pdf
Efectes alergènics i tòxics d'altres transgènics (patates, pèsols etc..)
Títol Autor/a Descàrrega
Transgenic Expression of Bean r-Amylase Inhibitor in Peas Results in Altered Structure and Immunogenicity - 2005 Vanessa E. Prescott Prescottetal2005.pdf
Genetically Modified Foods: Potential Human Healt Effects - 2003 A. Pusztai Pusztaietal2003.pdf
Nutritional assessment of genetically modified rapeseed synthesizing high amounts of mid-chain fatty acids including production responses of growing-finishing pigs
Archives of Animal Nutrition
August 2007; 61(4): 308 – 316
HARTWIG BOHME1, EIKE RUDLOFF2, FRIEDRICH SCHONE3 Bohmeetal2007.pdf
GM (gna lectin) rice fed rats: Poulsen at all - 2007

Fine Structural Changes in the Ileum of Mice Fed on d Endotoxin-Treated Potatoes and Transgenic Potatoes - 1998 Nagui H. Fares and Adel K. El-Sayed Fares&ElSayed1998.pdf
Effect of diets containing genetically modified potatoes expressing Galanthus nivalis lectin on rat small intestine - 1999 Stanley WB Ewen. Arpad Pusztai articlePusztai.pdf
Mutacions genètiques en el procès de fabricació del transgènics i la impredictibilitat de les plantes OGM en la interacció amb l'entorn
Títol Autor/a Descàrrega
Characterisation of 30 transgene insertion site and derived mRNAs in MON810 YieldGard maize - 2008 Alessio Rosati Rosati2008.pdf
Detection of RNA variants transcribed from the transgene in Roundup Ready soybean - 2005 Andreas Rang Rangetal2005.pdf
The Mutational Consequences of Plant Transformation - 2006 Jonathan R. Latham Lathametal2006.pdf
Valoracions generals del risc i altres problemes dels transgènics relacionats amb la salut humana i animal
Títol Autor/a Descàrrega
A different perspective on GM food - 2002 David Schubert Schubert2002.pdf
The Problem with Nutritionally Enhanced Plants - 2008 David Schubert Schubert2008.pdf
In vivo studies on possible health consequences of genetically modified food and feed—with particular regard to ingredients consisting of genetically modified plant materials - 2003 Ian f. Pryme / Rolf Lembcke Pryme&Lembcke2003.pdf
Health risks of genetically modified foods - 1999 The Lancet Lancet1999.pdf
Protecting the Food Supply in an Era of Pharmaceutical and Industrial Crops - 2004 David Andow pharmacrops.pdf
Critically important antibacterial agents for human medicine for risk management strategies of non-human use - 2005 Canberra - Australia InformeWHO_genes_marcadores2005.pdf
Presence of the antibiotic resistance marker gene nptII in GM plants for food and feed uses - 2007 European Medicines Agency InformeEMEA_genesmarcadores2007.pdf
Biotechnological, molecular and ecophysiological aspects of nutrition - 2003 A.Puztai and S. Bardocz Pusztai03FoodSafety-book.pdf
Genetically modified foods: Potential Human Health Effects - 2006 A. Puztai - S. Bardocz - S.W.B. Ewen Pusztai06BiolNutr-book.pdf
Transformation-induced mutations in transgenic plants: analysis and
biosafety implications - 2006 - Biotechnology and Genetic Engineering Reviews
Allison Wilson Wilson06BGER.pdf
Genome Scrambling - Myth or Reality?
Transformation-Induced Mutations in Transgenic Crop Plants - 2004
Allison Wilson - Jonathan Latham - Ricarda Steinbrecher Wilson04-Econexus.pdf
Health Risks of GM Foods: Many Opinions but Few Data - 2000 - Universitat Rovira i Virgili
Vol. 288. no. 5472, pp. 1748 - 1749
DOI: 10.1126/science.288.5472.1748
Letters
Jose Luis Domingo Domingo2000.doc
Toxicity Studies of Genetically Modified Plants: A Review of the Published Literature - 2007 - Critical Reviews in Food Science and Nutrition
47:721–733
Jose Luis Domingo Domingo2007.pdf
Secondary metabolism and the risks of GMOs - 1999 - Department of Biology, University of York Richard D. Firn, Clive G. Jones Finn&Jones1999.pdf
Health Risks of Genetically Modified Foods - 2009 - Critical Reviews in Food Science and Nutrition, 49:164–175 Artemis Dona, Ioannnis S. Arvanitoyannis Dona&Arvanitoyannis2009.pdf