domingo, 31 de dezembro de 2017

Carl Sagan e as Árvores

PT
"Nós, humanos, parecemos bastante diferentes de uma árvore. Sem dúvida, percebemos o mundo de forma diferente do que uma árvore faz. Mas no fundo, no coração molecular da vida, as árvores e nós somos essencialmente idênticos. "~ Carl Sagan, Cosmos

EN
We humans look rather different from a tree. Without a doubt we perceive the world differently than a tree does. But down deep, at the molecular heart of life, the trees and we are essentially identical.” ~ Carl Sagan, Cosmos

sábado, 30 de dezembro de 2017

Lourenço da Silva Mendonça - O primeiro ativista antiescravista


O debate moral e político sobre a abolição da escravatura sempre foi entendido como tendo sido iniciado pelos europeus no século XVIII. Nos casos onde os africanos são reconhecidos como tendo qualquer papel em acabar com a escravidão, seus esforços são tipicamente imaginados como confinados a atos impulsivos de resistência, como revoltas em navio, plantações e casa grande, fugas, marronagem e assim por diante. O livro que estou produzindo no momento, Lourenço da Silva Mendonça and the Black Atlantic Abolitionist Movement in the 17th Century , interrompe essa versão da história através do questionamento ao comércio atlântico de escravos feito por um membro de uma família real angolana no século XVII.

Príncipe Lourenço da Silva Mendonça
O Príncipe Lourenço da Silva Mendonça, um membro do povo Mbundu, nasceu em Angola, provavelmente em Pedras de Pungo-e-Ndongo. O ano de seu nascimento é desconhecido, mas seu avô, o rei Hari ou Philipe I, governou Pedras de Pungo-e-Ndongo de 1626 a 1664, período em que serviu lealmente aos portugueses. Seu sucessor, o tio de Mendonça “Dom João”, no entanto, não desejando permanecer como um rei vassalo obrigado a pagar anualmente 100 escravos (um imposto conhecido como baculamento) à Coroa portuguesa, rompeu a aliança e declarou guerra aos portugueses. Portugal retaliou, e em 1671, após a guerra de Pungo-e-Ndongo, Mendonça e seus três irmãos e dez primos foram exilados para Salvador, Bahia/Brasil, pelo governador de Luanda, Francisco de Távora “Cajanda”. Mendonça morou em Salvador por dezoito meses, depois foi enviado para o Rio de Janeiro em 1673, onde viveu possivelmente por seis meses.

Contudo, as autoridades do governo da Bahia e do Rio tinham Mendonça como uma ameaça. Eles temiam que ele e seus primos pudessem fugir e se unissem à comunidade de escravizados fugitivos ‘Quilombo dos Palmares’, que foi uma das primeiras comunidades quilombolas no Brasil. Em agosto de 1673, Mendonça e seus três irmãos foram enviados a Portugal por ordem da Coroa Portuguesa. Mendonça foi enviado para o Convento de Vilar de Frades, em Braga, enquanto seus irmãos foram para diferentes mosteiros na mesma cidade. No Convento de Vilar de Frades, Mendonça estudou durante três ou quatro anos, antes de se mudar para Lisboa, onde, em 1681, foi nomeado Advogado da Irmandade Negra. Os detalhes exatos da vida de Mendonça durante a meia década subsequente não são claros. O que sabemos é que, enquanto em Portugal, ele desenvolveu rigorosamente um argumento moral, político e legal contra a escravidão, e depois viajou para a Corte Real de Madrid, em Toledo, Espanha, onde viveu dezoito meses, e foi apoiado por Dom Carlos II, rei de Espanha e pelo arcebispo de Toledo, Luis Manuel Fernández de Portocarrero e Guzmán.

De lá, ele viajou para o Vaticano para mover um processo penal contra nações envolvidas na escravidão do Atlântico (incluindo o Vaticano, Itália, Espanha e Portugal), em 6 de março de 1684, acusando-os de cometer um crime contra a humanidade. Antes de chegar ao Vaticano, ele conseguiu galvanizar o apoio das confrarias das Irmandades Negras de escravos e pessoas livres de ascendência africana no Brasil, Portugal e Espanha (onde ele havia viajado e vivido), além de diferentes organizações de Homens, Mulheres e Juventude. Essas organizações formaram grupos de pressão, enviando cartas ao Vaticano que exigiam que o Papa Inocêncio XI tomasse medidas para abolir a escravidão no Atlântico. Em outras palavras, Mendonça mobilizou um movimento ativista contra a escravidão ainda no século XVII, o qual alcançou maior solidariedade internacional até do que os movimentos antiescravistas dos séculos XVIII e XIX. Além disso, embora fosse um esforço global empreendido pelos próprios africanos negros, também foi um movimento inclusivo. O caso apresentado por Mendonça pedia a libertação não apenas dos negros africanos, mas também de outros grupos constituintes da escravidão no Atlântico, como os cristãos-novos e os povos indígenas das Américas. A reivindicação de Mendonça pela liberdade era universal.

Pensamento antiescravagista de Mendonça
No seu processo legal enviado ao Vaticano, Mendonça descreveu pessoas escravizadas no Brasil e  noutros lugares como vivendo suspensas entre a violência e a miséria infligidas por seus senhores e a perda de esperança de existência humana expressa em suicídio, caso decidissem acabar com seu próprio sofrimento. Ele encapsulou sua condição na frase latina “mors certa est”, ou traduzida para o espanhol, “Morir Es Lo Mas Cierto”, ou seja, “A morte é certa”. Isto está inscrito no brasão da carta que o núncio vaticano em Portugal, Gasper de Mesquita, deu a Mendonça, e encapsula o seu processo contra a escravidão. É uma versão condensada do aforismo completo, que é “mors certa est, em eius hora incerta est”, ou “a morte é certa, sua hora não é”. Ao remover ‘hora incerta’ ou ‘sua hora não é’, Mendonça chamou a atenção para o erro fundamental da escravidão.

Da antiga mitologia e filosofia grega em diante, o conhecimento de que a morte é certa, mas não a sua hora, foi entendido como parte integrante da condição humana. Faz parte do que nos distingue dos Deuses (que são imortais) e também de outros animais (que não estão conscientes da sua própria mortalidade). Para os escravizados, no entanto, Mendonça argumentou, o “quod“, ou o quando, que não era mais um mistério. A “hora incerta” da morte de africanos escravizados, ameríndios nativos e também cristãos-novos sob inquisição em Portugal, havia sido removida, já que a morte era sua companheira diária. A cessação da vida não era, para eles, um futuro misterioso, mas uma característica constante do presente. Eles estavam morrendo a medida em que viviam. Assim, Mendonça omitiu intencionalmente a cláusula “hora incerta” para indicar que as pessoas escravizadas estavam sujeitas a uma violência e terror tão extremos e contínuos que viviam na mesma hora da morte. Eles eram, na verdade, mortos-vivos.

Ao remover a incerteza da hora de sua morte dessa maneira, sugere Mendonça, os escravos são removidos da categoria da humanidade. “Morir Es Lo Mas Cierto” era uma mensagem clara ao Papa de que a escravidão era um erro fundamental e universal contra a humanidade e incompatível com os preceitos do cristianismo. Vale a pena lembrar que um africano entregou essa mensagem cerca de cem anos antes de o movimento antiescravista europeu começar a ganhar ímpeto.

Saber mais:

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

As ruas e a arte de caminhar

A pé vê-se muito intensamente as cidades e paramos, pelo menos eu, travo e fixo e reflito e aprendo sempre mais. Mas também espanto-me e sinto as mesmas emoções com as "ruas" que as redes sociais nos dão a mostrar.
E pelas ruas não encontro "medos": Converso, falam comigo, há alguém que passeia um cão, indicam-me caminhos, não uso muito gps ou faço do gps móvel pretexto para conversar e sentir o barómetro da cidade, do local onde estou a caminhar.  E encontramos mensagens, nas paredes (refiro-me a arte de rua), a magia e a emoção e sonhos e mistérios quando avisto uma casa abandonada, uma quinta histórica. Por vezes estou em grupo. E o mais relevante  desligo o wifi e estar atento. Simples.

Arte de rua  Lisboa
Foto de autor

Arquitectos


Review "The End of Nature" by Bill McKibben


What will the end of the world look like? In 1989, Nicholas Wade reviewed Bill McKibben’s “The End of Nature,” which argued that society’s unchecked materialism and hunger for natural resources would lead to humanity’s end. Read an excerpt below.

When, Milton reports in “Paradise Lost,” Adam asked the archangel Raphael to explain the movement of the heavens, he was rebuffed with some frosty words about man dwelling in “An edifice too large for him to fill, / Lodg’d in a small partition, and the rest / Ordain’d for uses to his Lord best known.” Bill McKibben, a frequent contributor to The New Yorker, quotes the put-down with approval at the conclusion of his interesting essay, “The End of Nature.” The greenhouse effect is his text, and his moral is that humankind should stick to its small partition, halting its implicit program of polluting, dominating and managing the natural world.

By the end of nature Mr. McKibben means the end of nature as a force independent of man. He sees nature being dominated in two ways. First, the pollution created by human societies has now begun to have global impact. The feared climatic warming from the greenhouse effect, which Mr. McKibben considers to be a sure thing, is another.

It would be easy to dismiss the thesis as a restatement of the limits-to-growth debate or as yet another instance of how everyone uses the greenhouse effect to promote his own agenda. It would be reasonable to argue with his unmitigated trust in the computer models used to predict the greenhouse warming and his exaggeration of the present powers of genetic engineering.

But all such pretexts for dismissing the book would be easy ways of avoiding the hard questions it raises. The economic frame of reference in which most public debate takes place sets no intrinsic value on natural beauty or uniqueness. Unless protected by special lawslike the Endangered Species Act, natural habitats almost always yield to the bulldozer.

The conventional reply to critics like Mr. McKibben is that prosperity and individual choice are also high values, that economic systems always adapt with unexpected success to scarcity or the constraints imposed by antipollution laws and that better or more cleverly applied technology is a surer answer to environmental destruction than repudiating technical advance. If the climate heats up, and if the rate of warming should prove too fast for natural systems to adapt to, then there could be widespread ecological collapse. Most climatologists are unwilling to state that any degree of greenhouse warming has begun. But for a man preaching apocalypse, Mr. McKibben speaks in a measured and civilized voice that deserves a hearing. Even those who reject his idea that humans should not exceed the limits of their small partition may pause to wonder if the balance between man’s progress and nature’s decline has been struck at the right point.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Poema da Semana: Onde a Lua cruza os espinhos das estrelas, por João Soares

Onde a Lua cruza os espinhos das estrelas


Onde a Lua cruza os espinhos das estrelas
Onde o Sol espreita pelas raízes da erva
Onde no oceano, no frio do abismo, se descobre o mais profundo prémio da vida

Onde no fruto se antecipa o universo à espera
do infinito ao infinito

Onde na curva do ramo da árvore a silhueta esbelta
do limbo do Éden sagrado

Onde enfim dialogo com os cogumelos e os insectos
e serei água e solo e luz e fogo

Possuo uma agenda cósmica, acima das fronteiras
acima do ódio, bem no alto do mais alto penhasco

João Soares, 17.12.16.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Natividade


Bob Dylan- Just remember that death is not the end

 Nick Cave, Kylie Minogue, Shane MacGowan, Blixa Bargeld, Mick Harvey - Death is not the end

Very beautiful and moving Xmas song 

When you're sad and when you're lonely
And you haven't got a friend
Just remember that death is not the end

And all that you held sacred
Falls down and does not mend
Just remember that death is not the end
Not the end, not the end
Just remember that death is not the end

When you're standing on the crossroads
That you cannot comprehend
Just remember that death is not the end

And all your dreams have vanished
And you don't know what's up the bend
Just remember that death is not the end
Not the end, not the end
Just remember that death is not the end

When the storm clouds gather round you
And heavy rains descend
Just remember that death is not the end

And there's no-one there to comfort you
With a helping hand to lend
Just remember that death is not the end
Not the end, not the end
Just remember that death is not the end

For the tree of life is growing
Where the spirit never dies
And the bright light of salvation
Up in dark and empty skies
When the cities are on fire
With the burning flesh of men
Just remember that death is not the end

When you search in vain to find
Some law-abiding citizen
Just remember that death is not the end
Not the end, not the end
Just remember that death is not the end

Not the end, not the end
Just remember that death is not the end

2. O original de Bob Dylan (com extractos do filme Outrage (1950) dir. Ida Lupino, com Mala Powers como Ann Walton)

sábado, 23 de dezembro de 2017

Franklin D. Roosevelt e as Florestas


"Uma nação que destrói os seus solos está a autodestruir-se.  As florestas são os pulmões da nossa terra, purificando o ar e dando nova força para o nosso povo~ Franklin D. Roosevelt

"A nation that destroys its soils destroys itself. Forests are the lungs of our land, purifying the air and giving fresh strength to our people "~ Franklin D. Roosevelt

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Poema da Semana: Vastidão de pétalas soltas na língua, por João Soares

Vastidão de pétalas soltas na língua


Sim, vastidão de pétalas soltas na língua

Sim, amplos campos nos dedos de vento e pólen

Sim, gigantes faúlhas de cores amestradas pela Lua e Sol,

perdido contente entre as nuvens do éter dos poetas

dos loucos dias e momentos cravados em pele e pétalas

e os cheiros tremendos da carqueja e esteva e

além os abelharucos

num exotismo presente, aqui, nada mais

aqui e, sim, à vastidão das pétalas soltas na língua.

João Soares, 16.12.16

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Verdades inconvenientes sobre a migração


A sociologia, a antropologia e a história têm feito grandes incursões no debate sobre a imigração. Parece que o Homo economicus, que vive só pelo pão, deu lugar a alguém para quem um sentimento de pertença é pelo menos tão importante como comer.

Isso faz-nos duvidar de que a hostilidade para com a imigração em massa seja simplesmente um protesto contra perdas de empregos, baixos salários e desigualdades crescentes. A economia desempenhou certamente o seu papel no surgimento da política identitária, mas a crise da identidade não será eliminada apenas pelas reformas económicas. O bem-estar económico não é o mesmo que o bem-estar social.

Vamos começar, no entanto, pela economia, usando o Reino Unido – que está agora de saída da UE - como um exemplo. Entre 1991 e 2013, houve uma entrada líquida de 4,9 milhões de migrantes estrangeiros no país.

A teoria económica padrão diz-nos que a imigração líquida, como o comércio livre, beneficia a população nativa, mas com um certo atraso. O argumento aqui é que se aumentarmos a quantidade de mão-de-obra, o seu preço (salários) cai. Isso aumentará os lucros. O crescimento dos lucros gera mais investimentos, o que aumentará a procura por mão-de-obra, revertendo a queda inicial dos salários. A imigração permite assim que uma população maior desfrute do mesmo padrão de vida que a população menor, anteriormente - uma clara melhoria no bem-estar total.

No entanto, um estudo recente do economista da Universidade de Cambridge, Robert Rowthorn, mostrou que esse argumento está cheio de falhas. Os chamados efeitos temporários em termos de trabalhadores nativos deslocados e salários mais baixos podem durar cinco ou dez anos, enquanto os efeitos benéficos assumem a ausência de recessão. E, mesmo sem recessão, se houver uma entrada contínua de migrantes, em vez de um aumento extraordinário do tamanho da força de trabalho, a procura por mão-de-obra pode ficar constantemente aquém do crescimento da oferta. A "afirmação de que os imigrantes tiram os empregos dos trabalhadores locais e fazem baixar os seus salários", argumenta Rowthorn, "pode ser exagerada, mas nem sempre é falsa".

Um segundo argumento económico é que a imigração rejuvenescerá a força de trabalho e estabilizará as finanças públicas, porque os trabalhadores importados e jovens gerarão os impostos necessários para apoiar o aumento do número de pensionistas. A população do Reino Unido deverá superar os 70 milhões antes do final da próxima década, um aumento de 3,6 milhões, ou 5,5%, devido à imigração líquida e um excedente de nascimentos em relação às mortes entre os recém-chegados.

Rowthorn rejeita esse argumento. "O rejuvenescimento através da imigração é uma passadeira sem fim", diz ele. "Manter uma redução definitiva no índice de dependência requer um fluxo interminável de imigrantes. Assim que o fluxo pára, a estrutura etária reverterá para a sua trajectória original". Um fluxo menor e o aumento da idade da reforma seria uma solução muito melhor para o envelhecimento da população.

Assim, mesmo com resultados óptimos, como conseguir evitar uma recessão, os argumentos económicos para a imigração em larga escala não são conclusivos. Então, o cerne da questão é realmente o seu impacto social. Aqui, o benefício familiar da diversidade confronta-se com o risco negativo de uma perda de coesão social.

David Goodhart, antigo editor do jornal Prospect, debateu o argumento para uma restrição de uma perspectiva social-democrata. Goodhart não toma nenhuma posição sobre se a diversidade cultural é intrinsecamente ou moralmente boa ou má. Ele simplesmente dá por adquirido que a maioria das pessoas prefere viver com o seu próprio tipo e que os responsáveis políticos devem respeitar essa preferência. Uma atitude de laissez-faire em relação à composição da população de um país é tão insustentável como a indiferença em relação ao seu tamanho.

Para Goodhart, a raiz da hostilidade dos liberais para com os controlos de migração é a sua visão individualista da sociedade. Ao não compreenderem o apego das pessoas às comunidades estabelecidas, rotulam a hostilidade à imigração como irracional ou racista.

O excesso de optimismo liberal sobre a facilidade de integração dos migrantes tem a mesma origem: se a sociedade não é mais do que uma colecção de indivíduos, a integração nem é uma questão. Naturalmente, diz Goodhart, os imigrantes não precisam de abandonar completamente as suas tradições, mas "há uma coisa chamada sociedade", e se não fizerem nenhum esforço para se juntar a ela, os cidadãos nativos terão dificuldade em considerá-los parte da "comunidade imaginada".

Uma entrada muito rápida de imigrantes enfraquece os laços de solidariedade e, a longo prazo, diminui os laços afectivos necessários para sustentar o estado de bem-estar social. "As pessoas sempre favorecerão as suas próprias famílias e comunidades", argumenta Goodhart, e "é tarefa de um liberalismo realista esforçar-se para uma definição de comunidade suficientemente ampla para incluir pessoas de diferentes origens, sem ser tão ampla que lhe retire o sentido".

Os liberais económicos e políticos são aliados na defesa da imigração irrestrita. Os liberais económicos consideram as fronteiras nacionais como obstáculos irracionais para a integração global dos mercados. Muitos liberais políticos consideram os Estados-nação e as lealdades que inspiram como obstáculos à integração política mais ampla da humanidade. Ambos apelam a obrigações morais que se estendem muito além das fronteiras culturais e físicas das nações.

Em causa está o debate mais antigo nas ciências sociais. As comunidades podem ser criadas pela política e pelos mercados, ou pressupõem um sentimento anterior de pertença?

Parece-me que qualquer pessoa que pense sobre estes assuntos é obrigada a concordar com Goodhart que a cidadania, para a maioria das pessoas, é algo em que se nasceu. Os valores são cultivados a partir de uma história e geografia específicas. Se a composição de uma comunidade for alterada muito rapidamente, as pessoas são arrancadas da sua própria história e perdem as suas raízes. A ansiedade dos liberais de não parecerem racistas não os deixa ver essas verdades. Uma explosão do que se chama agora populismo é o resultado inevitável.

A conclusão política que se pode retirar é banal, mas vale a pena reafirmá-la. A tolerância das pessoas para com a mudança e a adaptação não deve ser forçada além dos seus limites, apesar das diferenças que possam existir entre países. A imigração não deve ser forçada em demasia, porque, caso contrário, gerará hostilidade. Os políticos que falham na tarefa de "controlar as fronteiras" não merecem a confiança do seu povo.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Encontros Improváveis- Nadir Afonso (citação) e Álfheimer - Pretty (música e video)


"O homem volta-se para a geometria como as plantas se voltam para o sol: é a mesma necessidade de clareza" ~ Nadir Afonso


O Natal cuja celebração original era Celta/Pagã, celebrava, no solstício do inverno, o fim da obscuridade e o retorno da luz e da esperança.

Portanto o Natal é uma transição interior e de harmonia que faça sentido. Esperança, Partilha. Genuíno. Renovação. Tempo de ação.

Um feliz Natal para todo os meus leitores e amig@s.
Merry Eco-Xmas to all my followers and friends

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Documentário- "Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade" (dublado)


Um documentário dirigido por Kip Andersen e Keegan Kuhn, que trata de questões ambientais. Lançado em 26 de junho de 2014, o documentário debate sobre como a agropecuária intensiva tem contribuído para diminuição dos recursos naturais e aumento na emissão de gases.

Kip Andersen, protagoniza o papel de investigador onde vai a procura das organizações ambientais mais prestigiadas do mundo, como por exemplo, a Greenpeace, com a finalidade de questionar o porquê que tais organizações evitam ou temem falar sobre como a criação animal tem trazido impactos ao meio ambiente.

Contando com 1h30min de duração, o documentário trás diversos questionamentos, críticas e conclusões. Quem assiste pode sentir-se motivado a analisar as próprias práticas de consumo e pesquisar sobre os dados mostrados, seja para concordar ou discordar, o ponto é que, o documentário gera um senso crítico e de conscientização.

Saber mais:

Página Oficial 


Criticismo sobre o filme

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Estudo Internacional revela que os eucaliptos reduzem de forma dramática a biodiversidade do território


O investigador Daniel Montesinos, do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), participou num estudo internacional, já publicado na revista "Global Ecology and Biogeography", juntamente com investigadores da Austrália, Chile, EUA e Índia.
Daniel Montesinos revela que "as substâncias químicas presentes nas folhas dos eucaliptos impedem o crescimento das raízes de outras espécies nativas, motivo pelo qual os eucaliptais contêm muita pouca biodiversidade fora da sua área nativa, na Austrália" e que "a plantação de eucaliptos é altamente prejudicial. O empobrecimento de espécies gerado pelos eucaliptos tem impacto em todo o ecossistema, por exemplo, ao nível do controlo da erosão dos solos ou da manutenção da biodiversidade".
O investigador, ressalva ainda que fora da Austrália, "ironicamente, algumas das espécies que de facto conseguem sobreviver debaixo dos eucaliptais são também espécies exóticas, criando um círculo vicioso de reduzida biodiversidade e espécies invasoras. Os resultados do trabalho mostram, já sem qualquer dúvida, o empobrecimento das superfícies plantadas com eucalipto, que mesmo que de longe possam ter uma aparência “verde”, são na realidade “desertos".

Fonte: Notícias de Coimbra

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Há cinco anos, o Brasil perdia Oscar Niemeyer, o Gênio do Concreto

Há cinco anos, o Brasil entrava em luto pela morte do artista que revolucionou a arquitetura moderna mundial e deu ao país um patrimônio que entrou para a história. Oscar Niemeyer (1907-2012) é considerado, ainda hoje, o maior arquiteto brasileiro. Reconhecido internacionalmente, o Gênio do Concreto deixou como legado a cidade que continua impressionando moradores e visitantes: Brasília.

A capital federal, maior e mais famosa obra de Niemeyer, é chamada pelo professor aposentado de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Carlos Cabral de "obra indelével". Cabral, paulista, veio para a cidade por influência do trabalho de Niemeyer ; queria aprender com o ícone.

O preferido do próprio Niemeyer, segundo o também professor da UnB Frederico Holanda, era o Congresso Nacional. Holanda lembra a genialidade do mestre também no projeto do Palácio Itamaraty, que resgata influências clássicas, como nas colunas ao redor, parecidas com o Partenon, na Grécia, e ao mesmo tempo homenageia o antigo palácio, no Rio de Janeiro, com arcos plenos (meio círculos) nas janelas.

No entanto, Holanda acredita que a verdadeira revolução de Niemeyer aconteceu antes mesmo de Brasília: no início da década de 1940, o carioca projetou o conjunto arquitetónico da Pampulha, em Belo Horizonte, e depois considerou esse o seu verdadeiro começo. "Ele introduz uma dimensão poética que não era comum e se insurgiu contra a linha dominante, mais racional, canônica, de modulações rígidas, traçados reguladores e ortogonalidade", explica o professor da UnB. Enquanto Le Corbusier, mestre e "guru assumido" de Niemeyer (ler Carta de Atenas)  e Lucio Costa, era racionalista, Oscar era poesia, imaginação e fantasia, segundo Holanda.