Bioterra
quarta-feira, 3 de março de 2021
terça-feira, 2 de março de 2021
As minhas mãos
As minhas mãos durante 54 anos
As minhas mãos
Já abraçaram imensas árvores
Texturas e cascas
Teixos, castanheiros, figueiras, bétulas, faias, as sete
palmeiras magníficas do Palácio de Cristal
Abraço ainda ao liquidâmbares e os castanheiros-da-Índia da
Fundação de Serralves
Já abraçou imensos Alunos, amigos, familiares e doentes
Já acenderam velas por Tibete, Etiópia, Sudão, Síria, Sara
Ocidental, Líbano
Sarajevo, Guerra do Golfo Pérsico e vítimas do 11 de Setembro, Chile e EUA
E velas em memória das vítimas dos atentados bombistas em Paris, Bruxelas e Londres
Acendo ainda velas pela Palestina, pelo Tibete e pelos Refugiados
pedindo Paz
Já fizeram bolos, muitos, pão e cerveja
Já plantei árvores, carvalhos por Valongo, Serra da Freita e
Marão
Na minha infância pegava na enxada e plantei morangos,
batatas
Semeei favas e ervilhas
Lia e leio atentamente o Seringador
Trepei a árvores, era mais magro e subia a laranjeiras e
figueiras
Colhi muitas vezes frutos
laranjas, tangerinas, morangos, uvas, dióspiros, castanhas
Faço as refeições com as mãos
Na minha infância, a minha mãe foi vítima de violência
doméstica
O meu pai usava bengala e vergastava a minha mãe
Quantas vezes lhe tirei a bengala e o meu pai caía no chão
Terminando com o pesadelo e o horror
Parti pinhões, avelãs e nozes para fazer o bolo rei
Parti pinhões e nozes e pão de cacete para fazer os formigos
A minha mãe viu o jeito que tinha para desenhar e pedia-me
para copiar
Os desenhos naturalistas de revistas de bordados
Quantas vezes enovelei resmas de cordões de lãs e
A minha mãe fazia camisolas
Aplauso vivamente em concertos de rock, indie e música do
mundo ao vivo, em espaços abertos e nos Coliseus e na Casa da Música e Meo Arena
Aos vinte anos tocava teclados numa banda de garagem
Os Lilás Postes Mórbidos
Influenciados por The Cure, Joy Division, Bauhaus e Birthday
Party
Tocamos em alguns espaços conhecidos no Porto
E bares
em Gaia
Dancei e danço coreografias góticas imitando as aves da
noite
O mocho-real, a coruja-das-torres
E sei dançar valsa e tango
Já fiz rádio
Na faculdade e no curso de Biologia colhi plantas silvestres
para fazer um herbário
Fiz anilhagem de dois grifos e de um abutre-negro
Fiz castelos de areia e cidades medievais na praia com o meu
filho
Com ele pegamos e tocamos e sentimos a pele das lagartixas, da
cobra-de-água, das rãs
Das verrugas do sapo comum
Pegamos em tartarugas, aranhas, tarântulas e tocamos em
golfinhos e focas
Pegamos em búzios e caranguejos-eremitas e devolvíamos ao mar
Ensinei-o a abraçar árvores
Fizemos pizzas caseiras, ensinamos a fazer folares da Páscoa
e saladas diversas
Hoje uso ainda muito as minhas mãos
Para comunicar, gesticulo, para acentuar assuntos e ideias e
conceitos
Quantas vezes escrevi no quadro escolar
Mapas de conceitos, diagramas, tabelas
Para os meus Alunos
Desenhei imensos acetatos quando só havia retroprojectores
Ensinei os meus alunos a fazer dobras, falhas e interior das
células bacterianas,
Células animais e vegetais em plasticina
Depois vieram os computadores
E faço belos powerpoints com animações
E escrevo no computador e projecto no ecrã
As tabelas resumo da matéria leccionada e mais uma vez mapas
de conceitos por preencher
Abracei prisioneiras quando dei aulas na prisão da secção
feminina de Custóias
Conduzir também me dá prazer, seja de carro, seja de
bicicleta
Nadei em vários rios e conheço o Atlântico de lés a lés do
meu País e do Norte de Espanha
Nadei em Veneza
A poesia está em mim, mas vai-se embora durante alguns
tempos
Escrevi imensos poemas para aniversários ou aniversários de
casamentos dos meus amigos e familiares
Poemas e mensagens de Natal
Agora tenho vontade de escrever poemas
As minhas mãos cuidaram dos meus sobrinhos quando eram bebés
As minhas mãos afagaram e alimentaram cães e gatos ao longo
destes anos
Recordo os meus cães e a sua alegria em passeá-los e correr
no areal da praia
Sempre adoptei cães e gatos. Dois gatos recolhi-os da rua
Uma estava na roda de um pneu de carro
Outra perdida da sua mãe
Participei em manifestações contra os OGM
Empunhei cartazes pela valorização profissional dos Professores
Redigi algumas petições pela preservação do ambiente
segunda-feira, 1 de março de 2021
17º Aniversário do blogue BioTerra
domingo, 28 de fevereiro de 2021
Fidel Castro advierte del desastre ecológico de Brasil en 1992
Filme - "Viagem ao Princípio do Mundo" de Manoel de Oliveira, 1997
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Ricardo Rocha: “Atormenta-me o rápido declínio de muitas espécies que consideramos ‘comuns’”
Ricardo Rocha é investigador de pós-doutoramento do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, associado à Universidade do Porto e ao Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.
WILDER: O que espera de 2021 para a Conservação da Natureza em Portugal e no mundo?
Ricardo Rocha: Espero que se faça mais e melhor. No meu ver, o ano anterior acabou por trazer ao de cima – de forma bem dolorosa – três coisas extremamente importantes: i) que a saúde humana e a saúde dos ecossistemas e das espécies selvagens estão interligadas; ii) enfatizou a importância da ciência, tanto fundamental como aplicada, na resolução de problemas locais e globais; e, iii) mostrou-nos a importância de assentarmos as nossas decisões em dados viáveis e de revermos as nossas ações com base em informação rigorosa e actualizada. Em 2021, espero que os decisores políticos tenham a capacidade de incorporar estes ensinamentos numa estratégia concertada de conservação da natureza, que esteja assente em dados científicos sólidos, de acordo com prioridades bem delineadas e em colaboração próxima com investigadores sérios. Estou ciente que dito desta forma, parece um pouco abstrato, mas na prática o que espero para 2021 é que as políticas de conservação de natureza se assentem na filosofia de conservação com base na evidência (do inglês “Evidence-based Conservation”), na qual – com base em ciência – fazemos mais do que funciona, e menos do que não funciona. Aconselho os leitores a explorarem este site https://www.conservationevidence.com/, caso queiram conhecer mais sobre esta forma de fazer conservação.
W: No seu entender, quais devem ser as prioridades para este ano em prol da natureza em Portugal? E mais concretamente, para a presidência portuguesa da União Europeia?
Ricardo Rocha: A Organização das Nações Unidas designou 2021-2030 como a década do restauro de ecossistemas. Em Portugal temos excelentes exemplos de projectos de restauro de ecossistemas, em particular no que toca ao restauro de sistemas insulares. Veja-se, por exemplo, o trabalho pela SPEA e pelas autoridades açorianas na recuperação da floresta laurissilva da Ilha de São Miguel, lar do Priolo (Pyrrhula murina) ou, mais recentemente, o projecto LIFE Berlengas, finalistas do Prémio Europeu Natura 2000 no ano anterior, na categoria “Conservação”. Eu acho que as prioridades em Portugal devem seguir o mote da década do restauro de ecossistemas, nomeadamente “prevenir, abrandar e reverter a degradação dos ecossistemas” e, mesmo que se usem espécies bandeira – espécies apelativas e capazes de mobilizar um maior apoio para ações de conservação – a estratégia deverá passar por uma visão de ecossistema, que vise repor funções ecológicas importantes (ex. controle de pragas florestais/agrícolas por vertebrados insectívoros) e conservar processos naturais (ex. reciclagem de nutrientes).
No último ano tivemos o anúncio do Pacto Ecológico Europeu que mostra um compromisso grande da União Europeia (UE) com políticas de conservação da natureza. Com a liderança da UE Portugal tem uma oportunidade única para assumir um papel de líder na transição para um mundo mais verde, menos poluído e no qual a nossa espécie vive em maior harmonia com as demais. Espero que Portugal lidere pelo exemplo, começando por projectos e políticas nacionais em linha com o Pacto Ecológico, e ações a nível internacional que desincentivem a destruição de ecossistemas naturais e promovam actividades sustentáveis do ponto de vista ambiental e social. Relativamente ao último ponto, é fundamental que a UE use o seu poderio económico e diplomático, de forma a pressionar os seus parceiros a optarem por políticas que se alinhem com os princípios europeus de defesa ambiental e dos direitos humanos. Em 2019 fiz parte de um grupo de mais de 600 investigadores e ambientalistas que escreveu uma carta na revista Science, na qual apresentavamos um exemplo concreto do que a UE pode fazer neste sentido, na sua relação com o Brasil. Tendo em conta os números assombrosos relativos à desflorestação na Amazónia em 2019 e 2020 (nos últimos dois anos perdeu-se uma área de Amazónia 20 vezes superior à área da Ilha da Madeira), o que escrevemos nessa carta é hoje particularmente relevante.
W: Quais as espécies ameaçadas que, na sua opinião, precisam de ajuda premente em 2021?
Ricardo Rocha: Infelizmente há toda uma imensidão de espécies em perigo crítico de desaparecer do planeta e que precisam de auxílio urgente – veja-se por exemplo a situação da vaquita Phocoena sinus, um pequeno golfinho endémico do Golfo da Califórnia cujo efectivo populacional poderá ser inferior a uma dezena de indivíduos. No entanto, algo que me atormenta e que recebe menos atenção é o rápido declínio – em termos de abundância e área de distribuição – de muitas espécies que consideramos “comuns”. Por exemplo, a população de rola-brava Streptopelia turtur teve um declínio de 80% nos últimos 15 anos em Portugal. Embora não esteja em perigo crítico de desaparecer, os sinais de alarme estão a tocar e a hora de actuar é agora. O problema é ainda maior para espécies e subespécies que apenas ocorrem num determinado território e para as quais não temos dados populacionais. Veja-se, por exemplo, a situação do Pardal da terra da Madeira Petronia petronia madeirensis, uma subespécie endémica do arquipélago. Qual o seu tamanho populacional? Qual a sua área de distribuição? Está em declínio? É extremamente importante que tenhamos respostas para estas perguntas, antes que estas espécies/subespécies desapareçam debaixo da cortina de fumo de serem comuns. A situação é ainda pior para muitas espécies de plantas e invertebrados.
W: Se coubesse a si decidir, qual seria a principal medida que tomaria este ano para tentar travar a extinção das espécies?
Ricardo Rocha: Promover uma dieta com menos carne. O consumo excessivo de carne é, directa e indirectamente, uma das maiores ameaças à biodiversidade. Isto materializa-se através da destruição de habitats naturais para pasto e produção de rações que são utilizadas para alimentar animais que acabamos por consumir, ou através de um agravamento do aquecimento global através da libertação de gases produzida pelas atividades pecuárias.
W: Qual, ou quais, os projectos na área da Biodiversidade em que estará a trabalhar em 2021 que mais o entusiasmam?
Ricardo Rocha: Ao longo dos últimos anos tenho estado a trabalhar principalmente em ecossistemas tropicais. No entanto, agora estou a centrar os meus projectos um pouco mais perto de casa, na Macaronésia, com um ênfase particular na Madeira, de onde sou natural. Durante a maior parte de 2021 estarei a fazer trabalho de campo no arquipélago da Madeira, principalmente com morcegos, com vista a conhecer mais sobre a sua ecologia, potenciais contributos ao nível de serviços de ecossistema e necessidades de conservação. Em paralelo conto também trabalhar com outros grupos de vertebrados terrestres do arquipélago, nomeadamente com aves e répteis, sobre os quais sabemos muito pouco.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Pressão mineira no Parque Natural de Montesinho
sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo.
O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original
diante da realidade, e o coração, depois, não hesite…
Começa logo porque fica no cimo de Portugal,
como os ninhos ficam no cimo das árvores
para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos.”
(Miguel Torga)



'PIB cresce, mas destrói biodiversidade': economista ecológico propõe mudar forma como medimos nossa produção de riqueza
