sábado, 9 de dezembro de 2023

“Numa trajetória desastrosa”: Cientistas alertam para risco de cinco pontos de inflexão da Terra


O aquecimento médio do planeta continua a progredir, impulsionado pelas emissões de gases com efeito de estufa geradas pelas atividades humanas e pela degradação e destruição da Natureza. Em 2015, em Paris, os governos do mundo acordaram que era preciso agir para impedir que a Terra aqueça mais do que 1,5 graus até ao final do século.

De ano para ano, surgem alertas de novos recordes de temperaturas máximas, de secas intensas, de incêndios devastadores e de tempestades sem precedentes, e, com isso, multiplicam-se o alertas de que é preciso fazer mais, melhor e mais rapidamente.

Apesar de ainda se considerar que nem tudo está para já perdido e que há tempo, mesmo que pouco, e conhecimento suficiente para alcançar esse objetivo, a janela de oportunidade está a fechar-se rapidamente e as ações climáticas tardam em chegar.

De acordo com os mais de 200 investigadores do projeto internacional Global Tipping Points, se nada for feito para contrariar essa tendência, a Terra poderá ultrapassar, pelo menos, cinco limiares naturais, pontos de inflexão em que pequenas alterações podem resultar em transformações rápidas e profundas, e além dos quais consequências negativas para a humanidade e para a Natureza podem ser irreversíveis. E três deles podem ser cruzados já na próxima década.

Num comunicado divulgado pela Universidade de Exeter, que coordenou o trabalho, os cientistas dizem que esta é “a avaliação dos pontos de inflexão mais abrangente alguma vez feita” e explicam que “a humanidade está atualmente numa trajetória desastrosa”.

Entre os limiares que poderão ser ultrapassados nos próximos anos, os cientistas destacam o colapso de grandes mantos de gelo na Gronelândia e na Antártida ocidental, o derretimento do pergelissolo (ou permafrost), a mortalidade generalizada de recifes de corais de água quente e o colapso da circulação atmosférica no Atlântico Norte.

Para Tim Lenton, um dos investigadores, “os pontos de inflexão no sistema da Terra representam ameaças de uma magnitude nunca antes enfrentada pela humanidade” e “podem provocar efeitos em dominó devastadores, incluindo a perda de ecossistemas inteiros e a capacidade para fazer uma agricultura estável, com impactos sociais que incluem deslocações em massa, instabilidade política e colapso financeiro”.

A investigação analisou 26 “pontos de inflexão negativos do sistema da Terra” e concluiu que “a atual governança global não é adequada à escala do desafio”, e que a manutenção do estado de coisas “já não é possível”, visto que “rápidas alterações na natureza e nas sociedades estão já a acontecer, e mais estão para vir”.

“Sem ação urgente para travar as crises climática e ecológica, as sociedades serão assoberbadas, enquanto o mundo natural se degrada”, avisam.

Apesar do tom alarmista do relatório, os cientistas acreditam que é possível promover “pontos de inflexão positivos”, que permitam contrair os negativos e manter o planeta numa rota de sustentabilidade.

“Uma cascata de pontos de inflexão positivos salvaria milhões de vidas”, pouparia biliões de dólares em prejuízos provocados por eventos climáticos extremos e permitira “começar a restaurar o mundo natural do qual todos nós dependemos”.

Lenton afirma que ações positivas estão já a ser realizadas, como o fortalecimento da aposta nas energias renováveis, a expansão da mobilidade elétrica e a transição para dietas menos intensas em produtos de origem animal.

Manjana Milkoreit, da Universidade de Oslo e que esteve também envolvida no projeto, considera que ações concretas para evitar os piores cenários “deverá ser o principal objetivo da COP28”.

E os investigadores deixam algumas sugestões para os líderes mundiais: acabar com as emissões dos combustíveis fósseis até 2050, reforçar a adaptação e os mecanismos de financiamento de perdas e danos, coordenar esforços globais para promover pontos de inflexão positivos, criar “uma cimeira global urgente sobre pontos de inflexão” e aprofundar o conhecimento sobre esses fenómenos.

“Resolver as crises climática e da natureza exigirá grandes transições em muitos setores – de mudanças nas dietas ao restauro de florestas”, passando pelo “abandono progressivo do motor de combustão interna”, avisa Kelly Levin, do Bezos Earth Fund, instituição parceira do projeto.

The 12 Early Warning Signs of Fascism


An appropriate time to revisit this sign from the U.S. Holocaust Museum, written by political scientist Laurence W. Britt, listing what to look for if you’re worried that your country may be slipping into fascism.

He is the author of Fascism, Anyone? 2003

Manifestação este sábado em Lisboa por um "Plano de Desarmamento Climático"


O movimento Climáximo convocou uma manifestação com o título “Resistência Climática” para as 14h00 deste sábado, 9 de dezembro. O ponto de partida é no Saldanha, passando pelo Marquês de Pombal e descendo a Avenida da Liberdade.

Em comunicado e no site, o movimento explica que “a manifestação apela a uma Resistência Climática para reivindicar um Plano de Desarmamento Climático".

Partido às 14h00 do Saldanha, os ativistas descem até à rotunda do Marquês de Pombal “onde vai ser organizada uma Assembleia de Resistência para discutir as prioridades do movimento pela justiça climática para o ano de 2024”.

A manifestação conta com o apoio das seguintes organizações:
CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral
Greve Climática Estudantil – Lisboa
Habita
Partido Ecologista “Os Verdes”
PATAV – Plataforma Anti Transporte dos Animais Vivos
Quercus
Scientist Rebellion Portugal
Sirigaita
SOS Racismo
SPN - Sindicato dos Professores do Norte
STCC - Sindicatos dos Trabalhadores de Call Center
Stop Despejos

Bob Dylan


Bod Dylan tem muito mais poemas, assim, quase aforismos. Cada estrofe um tratado filosófico. Um letrista e poeta como poucos. E ainda por cima talentoso na voz e guitarra.

Música do Bioterra: Codeseven - Rough Seas



Assim é a onda de extrema direita que emerge na Europa


Eleições nos Países Baixos
O Partido para a Liberdade (PVV), liderado por Geert Wilders Wilders, político anti-União Europeia, antimulçumanos e anti-imigração, conquistou 37 assentos nas recentes eleições dos Países Baixos. É mais do que o dobro do total de 2021.
Para o correspondente europeu do The Guardian, Jon Henley, “a surpreendente vitória de Geert Wilders confirma a trajetória ascendente dos partidos populistas e de extrema direita da Europa”.

Viktor Orbán na Hungria
O primeiro-ministro de extrema direita da Hungria, Viktor Orbán, deu suas felicitações a Wilders, em um post no X, e disse: “A Europa está a acordar”. Orbán, em um discurso público, disse que os europeus não deveriam “misturar-se com outras raças”.
“Resistiremos às ideias malucas dos burocratas de Bruxelas, à invasão de imigrantes, à propaganda de género, e resistiremos às ilusões sobre a guerra e à adesão despreparada da Ucrânia à UE”, disse Orbán ao seu partido, segundo a Reuters.

Giorgia Meloni na Itália
Já Giorgia Meloni, cujo partido Irmãos da Itália tem raízes no Movimiento Social Italiano, fundado por seguidores de Mussolini, lidera o governo atual da da Itália.
Embora tenha mudado a sua abordagem sobre a imigração desde que assumiu o cargo, facilitando a legalização de centenas de imigrantes, de acordo com o Politico, ela reforçou a sua retórica anti-LGBT.
Em agosto de 2023, Meloni exigiu que os cartórios registassem apenas os pais biológicos nas certidões de nascimento, deixando os pais do mesmo sexo num limbo jurídico.

Grécia: três partidos de extrema direita no parlamento
Na Grécia, três partidos ultraconservadores conquistaram 12% dos assentos nas eleições de junho de 2023. Um deles, Spartans, é apoiado pelo ex-líder do Golden Dawn (considerado uma organização criminosa), Ilias Kasidiaris, que está, atualmente, na prisão.

Apoio crescente a Marine Le Pen em França
Em França, a candidata Marine Le Pen obteria uma vitória de 55% se enfrentasse o presidente Macron hoje, indicou uma sondagem recente, realizada pelo grupo Elabe para o canal de televisão BFM.
Enquanto Le Pen se prepara para concorrer pela quarta vez à presidência, em 2027, o seu partido promete proteger os judeus franceses daquilo que chama de “o maior perigo”: o islamismo.

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Prémio Ernst Haeckel 2024 a Helena Freitas


A candidata proposta pela SPECO ao prémio Ernst Haeckel promovido pela European Ecological Federation (EEF), Professora Helena Freitas, foi a premiada do ano 2024. É o segundo candidato premiado que a SPECO propõe. O primeiro foi atribuído a Miguel Bastos Araújo, no ano 2018.

Este prémio foi atribuído pela primeira vez em 2011 e destina-se a homenagear um(a) ecólogo(a) pela sua contribuição notável para a ciência ecológica europeia.

Partilhamos convosco uma breve resenha histórica do seu percurso académico, profissional e de investigação na área da Ecologia:

Helena Freitas (Famalicão, 1962) obteve uma das primeiras teses de doutoramento em Ecologia em Portugal (1993). O Doutoramento, estudo sobre as respostas das plantas em ambientes extremos, foi desenvolvido na Universidade de Coimbra, em colaboração com a Universidade de Bielefeld, na Alemanha. Entre 1994 e 1996 realizou um pós-doutoramento na Universidade de Stanford, EUA, com Harold Mooney para melhor compreender o impacto do carbono nas alterações globais, particularmente nas alterações climáticas. Desde então, tem estado envolvida em projetos globais.

Diretora do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (2004 - 2012), preparou e coordenou o programa de requalificação deste espaço único de Coimbra e implementou estratégias de conservação. Para além da sua evolução académica no Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Helena Freitas ocupa a Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável desde 2014. Dentro desta Cátedra tem implementado e apoiado uma rede de investigadores e instituições nas áreas da biodiversidade, ecologia, conservação e desenvolvimento sustentável.

Ao longo da sua carreira tem contribuído para um melhor conhecimento sobre a ecologia funcional da vegetação mediterrânica e sobre a gestão de espécies exóticas e invasoras como estratégia para minimizar a perda de diversidade dos ecossistemas. Com todos estes conhecimentos adquiridos fundou o Centro de Ecologia Funcional - Ciência para as Pessoas e para o Planeta (cfe.uc.pt) onde ainda é actualmente Coordenadora. Recentemente, lançou o Laboratório Associado TERRA – Laboratório de Sustentabilidade do Uso da Terra e Serviços de Ecossistema.

O conhecimento de Helena Freitas é reconhecido a nível internacional sendo convidada (2019 até agora) para a Assembleia da Missão de Adaptação às Alterações Climáticas, incluindo a Transformação Social, da Comissão Europeia. Actualmente é Ponto Focal Português do IPBES (sigla inglesa para Plataforma Intergovernamental para a Biodiversidade e os Serviços de Ecossistema).

Coordenou ou participou em vários projetos e consórcios nacionais e internacionais, incluindo o Millennium Ecosystem Assessment. Orientou ou co-orientou mais de 30 dissertações de doutoramento sendo autor de mais de 200 publicações científicas internacionais indexadas e de diversas publicações de promoção e divulgação da ciência. Publica regularmente na imprensa nacional e regional, nomeadamente sobre ambiente, territórios e sociedade, planeamento e políticas de desenvolvimento baseadas no conhecimento. Em Março de 2000 foi agraciada com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio.

Esteve também envolvida em organizações não governamentais de ecologia e conservação, tais como: Presidente da Liga para a Protecção da Natureza (2002-2005), fundadora e Presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia (2004-2013) e Vice-Presidente da Sociedade Europeia de Ecologia (2009-2012).

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Sobre a Literatura


Ler um livro não é só passar um tempo lúdico e prazeroso. Se é verdade que muitas vezes, como diz Pessoa, acabo de viver outra vida dentro de minha vida, a literatura vai mais além. A literatura, os romances, os livros modificam-nos mesmo. As escolhas que tomámos, dão-nos um novo olhar, mais tolerância, mais abertura de mundos, novas e intrigantes personalidades, que nos agitam, confrontam os nosso preconceitos. A literatura (a boa literatura) ajuda-nos a amar mais!

Cartoon sobre as COP - Bado


Música do BioTerra: Echo And The Bunnymen - Show of Strength


Realistically, it's hard to dig it all, too happily
But I can see it's not always that real to me
A funny thing is always a funny thing
And though sadly things just get in the way

Open to suggestion
Falling over questions

Hopefully but that's as well as maybe
A shaking hand won't transmit all fidelity
And your golden smile would shame a politician
Typically, I'll apologize next time

Bonds will break and fade
Go snapping all in two
The lies that bind the tie
Come sailing out of you

Show of strength, is all you want
You can never set it down
Guts and passion
Those things you can't even set down
Don't ever set down, won't ever set down

Hey, I came in right on cue
One is me and one is you
Hey, I came in right on cue
One is me and one is you

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Dia de nascimento de Kateryna Bilokur



Hoje é o aniversário da grande artista ucraniana – Kateryna Bilokur (1900-1961). Ela poderia ter sido mais reconhecida durante a sua vida, mas não foi porque era mulher e camponesa. Mas agora podemos celebrar a arte dela como ela merece!

Biografia

COP28: Afinal, o que é isto do ‘unabated’?



Na 28.ª cimeira climática global das Nações Unidas (COP28), o fim dos combustíveis fósseis é reivindicado por muitos, não apenas por movimentos e organizações ambientalistas, mas também por povos indígenas e alguns países, sobretudo os mais vulneráveis aos efeitos devastadores das alterações climáticas.

Estima-se que, atualmente, mais de 100 países de África, das Caraíbas, do Pacífico e da União Europeia tenham já publicamente defendido o fim progressivo de todos os combustíveis fósseis, mas outros, como a Rússia, a Arábia Saudita e a China, posicionam-se do outro lado da barricada.

As negociações ainda decorrem e muita água há ainda para correr debaixo da ponte, mas é importante perceber o que está em causa. Alguns governos defendem o fim, mesmo que progressivo, de todos os combustíveis fósseis, outros pedem o abandono dos combustíveis fósseis cujas emissões não possam ser neutralizadas, por exemplo, por tecnologias de captura de carbono, outros pedem apenas uma redução do uso dessa energia e há ainda os que querem que tudo fique como está.

Na discussão, um termo que muito tem sido debatido é o ‘unabated’. Esta expressão refere-se, no jargão climático, às emissões de gases com efeito de estufa, não apenas o dióxido de carbono, mas também o metano, que não podem ser capturadas e armazenadas e, por isso, são libertadas na atmosfera e agravam as alterações climáticas.

Embora seja usada prolificamente num sem-número de documentos relativos a negociações e compromissos climáticos, a definição do que é essa neutralização, ou ‘abatement’, frequentemente não gera consenso. Contudo, num relatório deste ano do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), uma nota de rodapé explica que isso poderá ser definido como “as intervenções humanas que reduzem a quantidade de gases com efeito de estufa que é libertada para a atmosfera a partir de infraestruturas de combustíveis fósseis”.

Adicionalmente, outra nota de rodapé aponta que combustíveis fósseis ‘unabated’ são aqueles “produzidos e usados sem intervenções que reduzam substancialmente a quantidade de [gases com efeito de estufa] emitidos ao longo do seu ciclo de vida”.

Numa altura em que o fim dos combustíveis fósseis está em cima da mesa na COP28, a indefinição do que é ‘unabated’ poderá gerar ainda mais dissensos no âmbito dos trabalhos de negociação climática.

Na ausência de uma definição clara, a palavra ‘unabated’ poderá, por exemplo, permitir a continuação de emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, pois há espaço para argumentar que capturar 50% dessas emissões é neutralizar parte delas.

Outro debate acontece em torno do ‘phaseout’, ou abandono progressivo, e do ‘phasedown’, ou redução progressiva. Embora nenhum país defenda o fim dos combustíveis fósseis de um dia para o outro, a opção mais amplamente aceite é ‘phaseout’, permitindo uma transição energética justa que cause os menores impactos negativos sobre as sociedades e economias.

O ‘phaseout’ implica um abandono progressivo com vista ao seu eventual fim definitivo.

Contudo, há países que defendem o ‘phasedown’, sobretudo aqueles cujas economias dependem mais fortemente dos combustíveis fósseis, em que existiria uma redução faseada do uso de combustíveis fósseis, mas não o seu fim.

Quem são os grandes patrocinadores do Chega?


A extrema-direita não está contra o sistema. A extrema-direita é o pior que o sistema tem.

Além disso é incrível ouvir uma grande mentira por parte do André Ventura. É mesmo racista. André Ventura defende a teoria racista da substituição que inspirou massacres nos EUA, Europa e Nova Zelândia, apesar da Europa ter apenas 5% de imigrantes, que muito jeito dão para trabalhos que ninguém quer fazer.

O que ninguém diz sobre o novo aeroporto de Lisboa


Hoje, dia 6 de Dezembro de 2023, o velho aeroporto de Lisboa está saturado. Suponho que amanhã também estará, assim como para a próxima semana e possivelmente no próximo ano (já sem tantas certezas). Contudo, depois não sei.

O que eu aprendi nos estudos que fiz sobre obras de vulto foi que é necessário cenarizar o futuro. Atenção, cenários não são predições, nem são truques de astrologia – são futuros plausíveis!
No desenvolvimento dos cenários são utilizados modelos quantitativos e análises qualitativas. São simulações de sistemas multivariados que permitem perceber tendências.
Ou seja, quais as tendências do tráfego aéreo nos próximos 10-30-50 anos.
À partida ter-se-ão que avaliar todas as hipóteses: (a) o tráfego aéreo vai aumentar? (b) o tráfego aéreo vai manter-se? (c) o tráfego aéreo vai diminuir? e (d) a que velocidade?

Quais as variáveis que condicionam o tráfego aéreo?
A elaboração dos cenários que estão em cima da mesa baseia-se nas actuais condições e tendências e essas apontam claramente para um rápido aumento do tráfego aéreo.
Mas a questão não é linear e um estudo sério deverá considerar outros cenários hipotéticos que levem em conta outras variáveis plausíveis. Dou apenas um exemplo que tem a ver com as alterações climáticas que são uma realidade dramática.
Os acordos internacionais sobre a redução da emissão de gases com efeito de estufa são manifestamente insuficientes para retardar de forma significativa os efeitos do aquecimento global: alterações do calendário agrícola, alterações biogeográficas, alterações demográficas, conflitos territoriais, fomes, secas, cheias, aumento da frequência de acontecimentos imprevisíveis, subida do nível do mar particularmente acentuada no Atlântico, etc..
A breve prazo, a fim de evitar o descalabro ambiental e o social dele decorrente, novos acordos muito mais draconianos terão de ser assinados. A redução significativa de gases com efeito de estufa será feita, de forma significativa, à custa da redução do tráfego terrestre e aéreo.
Serão impostas quotas de tráfego e tudo leva a crer, importantes ao nível do tráfego aéreo. A decisão é simples: ou temos planeta, ou o destruímos a uma velocidade estonteante.
Portanto o que é espectável, em alternativa ao suicídio planetário, é uma diminuição significativa do tráfego aéreo. Isto leva de novo à questão: justificar-se-á um novo aeroporto?
Obviamente que isto é mau para uma economia de acumulação cada vez mais baseada no turismo (e não directamente no trabalho) como a nossa. Porque numa primeira fase a única forma que o sistema económico tem de cumprir acordos de diminuição de tráfego aéreo será tornar os preços das viagens proibitivos. Volto a questionar: justificar-se-á um novo aeroporto?
A minha resposta não é um não imediato. É, simplesmente, que faltam estudos sérios, honestos, que considerem os vários cenários plausíveis e que fundamentem a necessidade (ou não) da obra.

E coloca-se a questão central do Impacto ambiental.
Claro que há estudos de impacto ambiental honestos e também desonestos. Conheço exemplos de ambos os tipos.
Um estudo de impacto ambiental do presumível novo aeroporto, obrigatoriamente, vários capítulos. Logo o primeiro deverá incidir sobre a própria obra: o impacto da construção de estaleiros, o impacto do tráfego de camiões (ou outros meios) para transporte de materiais, o impacto da própria obra, depois o levantamento dos estaleiros, depois o próprio tráfego aéreo em função da época do ano (por exemplo, será diferente o impacto durante a nidificação das aves do impacto durante as migrações e do impacto durante o inverno, etc.), depois o impacto do transporte de passageiros ou de mercadorias para os seus destinos (não imagino que, por exemplo os turistas, venham fazer turismo exclusivamente para o Alcochete ou trincar bifanas para Vendas Novas)… e, um dia, o impacto da desactivação do aeroporto (para quem não sabe as regras aconselham).