sábado, 27 de julho de 2024

Projecto dos abacates


Domingo passado, levámos o absurdo projecto dos abacates perto de Bruxelas, através do programa Europamagazin do canal televisivo alemão ARD.
Temos esperanças de que a União Europeia se aperceba do impedimento que certas decisões políticas, e lobbies agrícolas poderosos, estão a colocar aos imperiosos e louváveis objectivos comunitários de conservação da natureza.
Este projecto é um óbvio exemplo disso, colocando em causa a sobrevivência de um vasto e variado ecossistema na bacia do Sado, assim como das comunidades humanas locais, por via da depleção do aquífero, além da directa destruição e fragmentação de habitats .
As populações de Grândola e Alcácer do Sal estão unidas na oposição a este projecto. Aparentemente, só o Presidente da Câmara de Alcácer do Sal é que não.
As necessidades hídricas constantes no EIA reformulado do projecto em epígrafe são 3,997 hm3/ano, 2,858 hm3/ano extraídos do aquífero e 1,139 hm3/ano de água do canal.
Assumindo que continua a não ser possível usar água do canal para regar culturas não temporárias (como é o caso dos abacateiros), se compararmos com os últimos dados (2021) de consumos públicos (domésticos + municipais) do Pordata, chegamos à conclusão de que a extração de água de aquífero estimada no projeto reformulado, é equivalente à água distribuída pela rede pública para:
- 55% de toda a água consumida no Alentejo Litoral
- 3,42 vezes toda a água consumida no concelho de Alcácer do Sal (2º maior concelho em área de Portugal)
- 2,60 vezes toda a água consumida no concelho de Odemira (maior concelho em área de Portugal)
- 2,14 vezes toda a água consumida no concelho de Grândola
- 3 vezes toda a água consumida no concelho de Santiago do Cacém
- 3,05 vezes toda a água consumida no concelho de Sines
(Já estão licenciados para o concelho de Alcácer por autorizações dos últimos anos 13,06 hm3/ano.)

Original: aqui



"Fora da Lei". Inquérito confirma espera excessiva por consultas em hospitais


O estudo da DECO, realizado entre abril e maio deste ano, questionou mais de 700 portugueses (721) entre os 30 e os 79 anos. Cerca de metade receberam a indicação, por parte do médico de família, de que a consulta tinha prioridade normal. Significa isto que, por lei, a mesma deveria ocorrer num prazo máximo de 120 dias, o que não se verificou num quarto dos casos. Já nas consultas prioritárias (22 por cento), o Tempo Máximo de Resposta Garantido foi ultrapassado em quase metade das situações.
Os prazos referidos no inquérito aplicam-se à primeira consulta de especialidade no hospital, com exceção das que são motivadas por doença cardíaca ou oncológica, que devem acontecer no prazo de 15 a 30 dias, consoante a prioridade.

O presidente da Associação de Administradores Hospitalares (AAH) assume “preocupação” e admite que “faltam e vão faltar médicos”. Entrevistado na RTP3, Xavier Barreto considera “totalmente inaceitável” doentes que esperem por consulta nos hospitais “há 400 dias”. Para o dirigente da associação, a reorganização do SNS tem de ser feita, uma vez que “os hospitais têm aumentado a atividade “cinco por cento, seis por cento e até mais”, mas a procura também aumenta.

"Reclamem sem receios"
A DECO alerta ainda para outra conclusão do estudo: 91 por cento dos inquiridos encaminhados para uma consulta da especialidade nos hospitais nunca reclamaram de que o tempo de espera ultrapassou o que está definido por lei. 

Perante este dado, Xavier Barreto transmite uma mensagem aos doentes para que “reclamem sem receios de represálias. Não tenham medo”.

O desconhecimento que os consumidores têm dos seus direitos é sublinhado no estudo. Por exemplo, um em cada quatro inquiridos desconhecia a existência de Tempos Máximos de Resposta Garantidos, 24 por cento não sabia que podia reclamar e 28 por cento acreditam que não valia a pena reclamar por não resultar “qualquer consequência”. Apenas “uma minoria afirmou saber os prazos em concreto”. 
 
A DECO refere ainda que entre os 721 inquiridos “o número de consultas muito prioritárias declarado no estudo foi residual. Porém, mais de um quinto dos inquiridos assinalou "não sei qual o grau de prioridade". Susana Santos, especialista na área de Saúde da Deco PROteste, foi também entrevistada na manhã desta quinta-feira no programa Bom Dia Portugal.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Death In Rome feat. Deutscher W - Kebab Träume (DAF - Cover)


[Verse 1]
Kebab-Träume in der Mauerstadt
Türk-Kültür hinter Stacheldraht
Neu-Izmir ist in der DDR
Atatürk, der neue Herr

[Verse 2]
Miliyet für die Sowjet-Union
In jeder Imbißstube, ein Spion
Im ZK, Agent aus Türkei
Deutschland, Deutschland, alles ist vorbei!

[Verse 1]
Kebab-Träume in der Mauerstadt
Türk-Kültür hinter Stacheldraht
Neu-Izmir ist in der DDR
Atatürk, der neue Herr

[Verse 2]
Miliyet für die Sowjet-Union
In jeder Imbißstube, ein Spion
Im ZK, Agent aus Türkei
Deutschland, Deutschland, alles ist vorbei!

[Verse 1]
Kebab-Träume in der Mauerstadt
Türk-Kültür hinter Stacheldraht
Neu-Izmir ist in der DDR
Atatürk, der neue Herr

[Verse 2]
Miliyet für die Sowjet-Union
In jeder Imbißstube, ein Spion
Im ZK, Agent aus Türkei
Deutschland, Deutschland, alles ist vorbei!

Wir sind die Türken von morgen!

Tufão Gaemi afeta mais de 600.000 pessoas na China após causar cinco mortes em Taiwan

Taiwan na rota de um dos tufões mais violentos dos últimos anos

Cerca de 630.000 pessoas foram afetadas, no sudeste da China, pela chegada do tufão Gaemi, que desencadeou o primeiro alerta vermelho do ano no país, após ter causado cinco mortos e quase 700 feridos em Taiwan.

Segundo a agência de notícias oficial Xinhua, 290.000 habitantes tiveram de ser temporariamente deslocados devido à tempestade, que atingiu a província de Fujian, no sudeste do país, por volta das 19:50 locais (12:50, em Lisboa) de quinta-feira, com ventos máximos de 118,8 quilómetros por hora.

Entre a manhã de quarta-feira e a manhã desta sexta-feira, dezenas de localidades de Fujian registaram precipitações superiores a 250 milímetros (mm), atingindo, em alguns casos, 512,8 mm.

Prevê-se que o tufão se desloque para noroeste a cerca de 20 quilómetros por hora e perca força até chegar à província vizinha de Jiangxi, na tarde de sexta-feira. De acordo com o portal de acompanhamento de tempestades Zoom.earth, o Gaemi já tinha descido para o nível de tempestade tropical, com ventos de 75 quilómetros por hora, às 12:30 locais (05:30, em Lisboa).

Em vésperas da época dos tufões e das inundações, que se verifica normalmente nas últimas semanas de julho e nas primeiras semanas de agosto, as autoridades chinesas apelaram a uma intensificação dos esforços de prevenção e de salvamento.

Preveem-se inundações ao longo das principais bacias hidrográficas, como o rio Amarelo e o Yangtsé e deslizamentos de terras nas zonas montanhosas.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Death In Rome - Wide Open (The Chemical Brothers - Cover)


O butô ou ainda Ankoku Butô é uma dança que surgiu no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970. Criada por Tatsumi Hijikata na década de 1950 o butô é também inspirado nos movimentos de vanguarda, expressionismo, surrealismo, construtivismo, entre outros. Wikipédia

Original

The Chemical Brothers - The Making Of Wide Open

James Webb deteta ‘super Júpiter’ que demora mais de um século a dar a volta à sua estrela

O aglomerado de galáxias SMACS 0723 em primeiro plano

Um ‘super Júpiter’ foi avistado em torno de uma estrela vizinha pelo Telescópio Espacial James Webb, revelou na quarta-feira uma equipa de cientistas, acrescentando que o planeta tem também uma ‘superórbita’.

O planeta tem aproximadamente o mesmo diâmetro que Júpiter, mas com seis vezes a massa. A sua atmosfera é também rica em hidrogénio como a de Júpiter.

A grande diferença é que este planeta demora mais de um século, possivelmente até 250 anos, a dar uma volta em torno da sua estrela. É 15 vezes mais a distância para a sua estrela do que da Terra ao Sol.

Os cientistas já suspeitavam há muito tempo que um grande planeta orbitava esta estrela a 12 anos-luz de distância, mas não tão massivo ou longe da sua estrela. Um ano-luz tem cerca de 9,46 triliões de quilómetros.

Estas novas observações mostram que o planeta orbita a estrela Epsilon Indi A, parte de um sistema de três estrelas.

Uma equipa internacional liderada por Elisabeth Matthews, do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha, recolheu as imagens no ano passado e publicou as descobertas na quarta-feira, na revista Nature.

Os astrónomos observaram diretamente o gigante gasoso incrivelmente antigo e frio — um feito raro e complicado —através do uso de um dispositivo de sombreado especial no Webb.

Ao bloquear a luz das estrelas, o planeta destacou-se como um pequeno ponto de luz infravermelha.

O planeta e a estrela têm 3,5 mil milhões de anos, 1 mil milhões de anos mais novos do que o nosso sistema solar, mas ainda assim considerados antigos e mais brilhantes do que o esperado, de acordo com Matthews.

A estrela está tão próxima e brilhante do nosso sistema solar que é visível a olho nu no hemisfério sul.
“Este é um gigante gasoso sem superfície dura ou oceanos de água líquida”, explicou Matthews, em declarações à agência Associated Press (AP).

É improvável que este sistema solar tenha mais gigantes gasosos, realçou mas pequenos mundos rochosos podem estar à espreita.

Mundos semelhantes a Júpiter podem ajudar os cientistas a compreender “como estes planetas evoluem em escalas de tempo de giga anos”, acrescentou.

Os primeiros planetas fora do nosso sistema solar – apelidados de exoplanetas – foram confirmados no início da década de 1990.

A contagem da NASA é agora de 5.690 em meados de julho. A grande maioria foi detetada através do método de trânsito, em que uma queda fugaz da luz das estrelas, repetida a intervalos regulares, indica um planeta em órbita.

Os telescópios no espaço e também no solo estão à procura de ainda mais, especialmente planetas que possam ser semelhantes à Terra.

Lançado em 2021, o telescópio Webb da NASA e da Agência Espacial Europeia é o maior e mais poderoso observatório astronómico alguma vez colocado no espaço.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Música do BioTerra: Lowlife - Truth in Needleds


Just a little downward pressure
Was sure all it took
To take away the pleasures
That he overlooked

He'd had an arm full of it
It still tasted sweet
His blindness was a part of him

So turn the lights out
And let him rest now
Tie yourself up and work it out
Tie yourself down and work it out

He worked it all out for himself
And took himself out
He worked it all out for himself
And took himself out

He let it go as long as he could
He sought the stinking truth
Truth too big for his own good
Surprised enough to shoot

He'd had a face full of it
He dropped like stone
His blindness was a part of him

So turn the lights out
And let him rest now
Strap yourself down and work it out
Strap yourself down and work it out

He worked it all out for himself
And took himself out
He worked it all out for himself
And took himself out

So turn the lights out
And let him rest now
Strap yourself down

On June 4th, 2010, Craig Lorentson (leader vocalist and lyrics) passed away due to kidney and liver problems at the age of 44.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Elefantes machos dão o sinal de “vamos” com sons profundos


Os elefantes reúnem-se na frescura da noite para beber. Depois de algum tempo, um macho sénior levanta a cabeça e afasta-se do charco. Com as orelhas a abanar suavemente, solta um ruído profundo e ressonante.

Os outros respondem, um a um, e as suas vozes sobrepõem-se num coro sonoro e infrasónico que sussurra por toda a savana. Este quarteto de barbearia de elefantes transmite uma mensagem clara: É altura de seguir em frente.

Gradualmente, os elefantes mudam de posição, os seus corpos maciços balançam à medida que seguem o seu líder ruidoso para a próxima paragem nas suas deambulações noturnas.

Pela primeira vez, cientistas da Universidade de Stanford e de outras instituições documentaram elefantes machos a usarem sons de “vamos” para assinalar o início da partida de grupos do charco de Mushara, no Parque Nacional de Etosha, na Namíbia.

As vocalizações são iniciadas pelos machos mais integrados socialmente, e frequentemente os mais dominantes, em grupos sociais muito unidos.

As descobertas, apresentadas em pormenor na revista de acesso livre PeerJ, são surpreendentes porque se pensava que este comportamento era exclusivo das elefantes fêmeas em grupos familiares.

“Ficámos espantados ao descobrir que os elefantes machos, normalmente considerados como tendo laços sociais frouxos, se envolvem numa coordenação vocal tão sofisticada para desencadear ações”, disse a autora principal do estudo, Caitlin O’Connell-Rodwell, uma investigadora associada do Centro de Biologia da Conservação da Universidade de Stanford.

“Estas chamadas mostram-nos que há muito mais a acontecer na sua comunicação vocal do que se sabia anteriormente”, acrescentou.

Um projeto de 20 anos
O’Connell-Rodwell gravou pela primeira vez o estrondo do macho “ vamos lá” em 2004, enquanto realizava trabalho de campo à noite para compreender como as vocalizações dos elefantes se propagam pelo solo.

“Fiquei muito entusiasmada quando o consegui gravar”, recorda, sublinhando que “foi emocionante perceber que estes machos estavam a usar uma coordenação vocal complexa, tal como as fêmeas.”

De 2005 a 2017, a equipa recolheu dados no charco de Mushara, principalmente durante as estações secas. Utilizaram equipamento de gravação de alta tecnologia, incluindo microfones enterrados e câmaras de vídeo de visão noturna, para captar as vocalizações infrasónicas, inaudíveis aos ouvidos humanos, e os comportamentos dos elefantes machos.

Os investigadores analisaram as vocalizações em busca de propriedades e padrões acústicos e utilizaram a análise de redes sociais para compreender as relações e a hierarquia entre os machos, registando quais os elefantes que iniciavam os estrondos, como os outros respondiam e a sequência de acontecimentos que conduziam às partidas coordenadas.

Um ritual transmitido
Os ruídos de “vamos embora” observados nos elefantes machos têm semelhanças impressionantes com os anteriormente registados nas elefantes fêmeas. De facto, O’Connell-Rodwell e a sua equipa colocam a hipótese de os elefantes machos aprenderem o comportamento quando são jovens.

“Eles cresceram numa família onde todas as líderes femininas participavam neste ritual”, disse O’Connell-Rodwell. “Pensamos que à medida que amadurecem e formam os seus próprios grupos, adaptam-se e utilizam estes comportamentos aprendidos para se coordenarem com outros machos”, acrescentou.

No caso dos elefantes machos e fêmeas, o grito do iniciador é seguido pelo ruído do indivíduo seguinte, com cada elefante a esperar que o som anterior quase termine antes de acrescentar a sua própria voz. Isto cria um padrão harmonioso e rotativo semelhante a um quarteto de barbearia, disse O’Connell-Rodwell.

“É muito sincronizado e ritualizado. Quando um vai alto, o outro vai baixo, e eles têm esse espaço vocal onde estão coordenando”, explicou.

Este estudo segue-se a outro estudo inovador que utilizou a IA para revelar que os elefantes selvagens têm nomes únicos uns para os outros, o que indica a utilização de substantivos na sua comunicação.

“No nosso artigo, mostramos que os elefantes estão a usar verbos na forma deste grito de ‘vamos embora’. Se eles estão a usar combinações de substantivos e verbos em conjunto, isso é sintaxe. Isso é linguagem”, disse O’Connell-Rodwell.

Mentoria de elefantes
Para além destes conhecimentos linguísticos, o estudo também revela que alguns elefantes machos dominantes desempenham papéis cruciais nos seus grupos sociais, ajudando a manter a coesão e a estabilidade.

“Estes indivíduos assumem papéis de mentores”, afirmou O’Connell-Rodwell. “Preocupam-se com estes jovens que são muito carentes e querem sempre estar em contacto físico. Os machos mais velhos estão dispostos a tomá-los sob a sua asa, a guiá-los, a partilhar recursos com eles e a participar nos seus altos e baixos emocionais”, acrescentou.

Nos países onde a caça é permitida, deve ter-se o cuidado de evitar caçar os elefantes machos mais velhos, socialmente ligados, acrescentou, uma vez que a sua remoção poderia perturbar a coesão social e as estruturas de tutoria nas populações de elefantes.

A investigação também sugere que fortes laços e interacções sociais são essenciais para o bem-estar dos elefantes machos em cativeiro e semi-cativeiro, salientando a necessidade de ambientes que apoiem estas estruturas sociais.

“As nossas descobertas não só sublinham a complexidade e a riqueza da vida social dos elefantes machos”, disse O’Connell-Rodwell, ”como também aumentam a nossa compreensão da forma como utilizam as vocalizações em rituais e coordenação e, na verdade, aproximam-nos da ideia de linguagem dos elefantes”, conclui.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Asimbonanga!

A fachosfera deve rever a pequenês e mesquinha "alma" e hipocrisia e ódio que instilam sem necessidade. Vejam este maravilhoso flashmob e pesquisem não só a vida de Mandela como a biografia de Johnny Clegg. Intolerância ao racismo e xenofobia.
 
Asimbonanga
Asimbonang' uMandela thina
Laph'ekhona
Laph'ehleli khona

Asimbonanga
Asimbonang' uMandela thina
Laph'ekhona
Laph'ehleli khona

Hey wena
Hey wena nawe
Siyofika nini la' siyakhona

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Qual o impacto dos nanoplásticos e PFAS na saúde humana?


Segundo o site EcoDebate alguns investigadores descobriram como os nanoplásticos e as substâncias por e polifluoroalquil (PFAS) – comumente conhecidas como produtos químicos para sempre – perturbam a estrutura e a função biomolecular. O trabalho mostra que os compostos podem alterar as proteínas encontradas no leite materno humano e nas fórmulas infantis – potencialmente causando problemas de desenvolvimento.

A mesma fonte refere ainda que nanoplásticos e produtos químicos para sempre são compostos artificiais presentes em todo o ambiente; uma série de estudos recentes ligaram-nos a inúmeros resultados negativos para a saúde. Embora os nanoplásticos tenham origem principalmente como resultado da degradação de materiais plásticos maiores, como garrafas de água e embalagens de alimentos, produtos químicos para sempre são encontrados em vários produtos, como utensílios de cozinha e roupas.

O artigo do EcoDebate explica que a equipa de pesquisa concentrou-se no impacto dos compostos em três proteínas críticas para o desenvolvimento e função humana: beta-lactoglobulina, alfa-lactalbumina e mioglobina. As suas descobertas, que fornecem uma visão de nível atómico sobre os efeitos prejudiciais dos nanoplásticos e do PFAS na saúde humana, são descritas em dois artigos recentes no Journal of the American Chemical Society e na ACS Applied Materials and Interfaces. Em resumo:

1. Proteína do Leite: Beta-Lactoglobulina (BLG)
BLG é uma proteína encontrada no leite de ovelhas e vacas e é comumente usada como ingrediente em fórmulas infantis. A proteína liga-se ao retinol (vitamina A) e ácidos gordos e é crucial para a visão e o desenvolvimento do cérebro em bebés.                            A equipa de pesquisa descobriu que a eficiência de ligação do BLG ao retinol e a ácidos gordos diminui após a exposição a nanoplásticos e PFAS. Esse decréscimo pode levar a problemas significativos de desenvolvimento em bebés neonatais. Além disso, pela primeira vez, a equipa observou que o PFAS se liga à proteína do leite, transformando-a em um transportador para esses compostos.
 
2. Leite materno humano: alfa-lactalbumina
A alfa-lactalbumina é encontrada no leite materno humano, participa na síntese de lactose e é ingerida por bebés para ajudar a suprir as necessidades nutricionais. Os pesquisadores da UTEP descobriram que os nanoplásticos e o PFAS corrompem a estrutura da proteína alfa-lactalbumina, comprometendo assim potencialmente a formação de lactose. A equipa disse que a interrupção pode levar a defeitos de
desenvolvimento em bebés neonatais, como imunidade comprometida e redução da absorção de minerais.
 
3. Armazenamento de oxigénio: Mioglobina
A mioglobina, encontrada no sangue e tecido muscular da maioria dos mamíferos, é crucial para armazenar oxigénio. A equipa de pesquisa da UTEP descobriu que os nanoplásticos e o PFAS comprometem a funcionalidade da proteína da mioglobina, interrompendo a sua capacidade de armazenar oxigénio. Essa interrupção pode levar a problemas de saúde, como falta de ar e anemia. Experiências adicionais da equipa demonstraram que a exposição a nanoplásticos prejudica a locomoção em vermes, com efeitos comparáveis ao paraquat – um herbicida que está na causa à doença de Parkinson.

Dia Internacional Nelson Mandela - Asimbonanga!


Documentário: Vida e obra de Johnny Clegg

quarta-feira, 17 de julho de 2024

UE deverá falhar metas de hidrogénio renovável e tem de repensar caminho a seguir


Bruxelas, 17 jul 2024 (Lusa) – A União Europeia (UE) não deverá cumprir os objetivos que fixou para a produção e importação de hidrogénio renovável e deve agora decidir sobre o caminho estratégico a seguir para a descarbonização, considera o Tribunal de Contas Europeu (TCE).

No relatório especial Política Industrial da UE para o Hidrogénio Renovável, hoje divulgado, o TCE destaca, pela positiva, que quatro anos depois da publicação, pela Comissão Europeia, da estratégia para o hidrogénio renovável – como parte do esforço para a neutralidade carbónica do bloco em 2050 -, “o quadro jurídico relativo ao hidrogénio renovável está praticamente concluído”.

No entanto, não foram discriminadas metas vinculativas para produção e importação de hidrogénio renovável para os Estados-membros até 2030 e as da UE não deverão ser cumpridas, nomeadamente a da produção de dez milhões de toneladas de hidrogénio renovável e da importação de outro tanto, objetivos que o TCE considera terem resultado de vontade política e não de uma “análise rigorosa”.
Em declarações aos jornalistas, o membro do TCE responsável pelo relatório, Stef Blok, referiu que os auditores recomendam a Bruxelas “a atualização da estratégia para o hidrogénio com base numa avaliação cuidadosa”.

Blok destacou três aspetos que a Comissão Europeia deve ter em conta, começando pelas implicações geopolíticas da produção da UE em comparação com as importações de países terceiros, ou seja, “que indústrias quer a UE manter e a que preço”.

Dar prioridade ao financiamento da UE, decidindo em que partes da cadeia de valor do hidrogénio se deve concentrar, e calibrar os incentivos de mercado para a produção e utilização de hidrogénio renovável e com baixo teor de carbono são outros dois pontos das recomendações do TCE.

A decisão sobre o caminho a seguir deve ainda ter em conta “a situação concorrencial das principais indústrias da UE”.

O financiamento total da UE para projetos relacionados com o hidrogénio está atualmente estimado em 18,8 mil milhões de euros, sendo atribuído através de vários programas, avaliaram os auditores, montante que Blok considera escasso.

O membro do TCE considerou ser necessário “fazer um ponto da situação da política industrial da UE para o hidrogénio renovável", devendo a UE continuar o caminho para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, “mas sem prejudicar a competitividade das suas principais indústrias nem criar novas dependências estratégicas".

A auditoria do TCE abrangeu o período de 2020 a 2023 em quatro Estados-membros: Alemanha, Espanha, Países Baixos e Polónia.

terça-feira, 16 de julho de 2024

A economia não é verde


A economia não é verde. Nada em concreto. Exemplo: Prevê-se que uma poderosa e prolongada onda de calor continue na península dos Balcãs e na Europa de Leste, com temperaturas a atingir os 42-44 °C. Isto está mais de dez graus C acima da média para o período de meados de julho. Imagem: Climate Book (Copernicus)

A powerful and prolonged heatwave is forecast to continue across the Balkan peninsula and Eastern Europe, with temperatures reaching 42-44 °C. This is more than ten degrees C above the average for the mid-July period.

domingo, 14 de julho de 2024

Em apenas dez anos morreram em solo dos EUA quase tantos americanos como aqueles que morreram na segunda grande guerra mundial


Recentemente em 2022, na sequência de um massacre numa escola dos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump discursou na convenção da poderosa Associação Nacional do Rifle (NRA), principal financiadora do lobby das armas no país, e afirmou que a melhor solução contra a violência é armar ainda mais a população.
De 2021 a 2023 houve mais de 600 tiroteios em massa nos EUA, quase dois por dia em média, segundo a organização americana GunViolence.
Devido ao porte de arma generalizado nos EUA, de 2021 a 2023 morreram quase 60.000  pessoas no país (excluindo suicídios com recurso a arma), o que dá a espantosa média de quase 20.000 mortes por ano nos três últimos anos.
Desses 60.000 cerca de 4800 eram crianças ou adolescentes, o que dá uma média de 1.600 mortes dentro dessas faixas etárias nos três últimos anos.
Já os suicídios com uso de arma de fogo rondam em média as mais de 26.000 mortes nos três últimos anos, ou seja, cerca de 78.000 pessoas suicidaram-se nos EUA nestes três últimos anos recorrendo a armas de fogo.
De 2021 a 2023, armas de fogo foram directamente responsáveis por quase 140.000 mortes nos EUA!
Para termos uma noção, morreram nas duas guerras do Iraque cerca de 9.000 soldados americanos. No Afeganistão morreram cerca de 2.400.
Cerca de 36.500 soldados americanos morreram durante a Guerra da Coreia. 
Aproximadamente 58.220 soldados americanos morreram na Guerra do Vietname.
116.516 soldados americanos morreram durante a Primeira Guerra Mundial.
Apenas na segunda guerra mundial morreram mais americanos do que nos EUA em tempo de paz de 2021 a 2023. Nesse conflito cerca de 405.000 soldados americanos morreram, estando nós a falar do conflito mais mortífero alguma vez ocorrido no planeta.
Se no entanto alargarmos esta estatística para os últimos dez anos, aproximadamente 400.000 americanos morreram devido a armas de fogo, considerando homicídios, suicídios e acidentes.
Em apenas dez anos morreram em solo dos EUA quase tantos americanos como aqueles que morreram na segunda grande guerra mundial.

Entrevista a Uta Jungermann: “Uma empresa realmente responsável reconhece que estamos a experienciar uma policrise”


O planeta atravessa uma crise multidimensional sem precedentes na História da humanidade: uma policrise, como alguns lhe chamam, que inclui alterações climáticas, perda de biodiversidade, poluição, desigualdades sociais, entre outras.

Para combater as suas causas e efeitos, é preciso um esforço conjunto de todos os setores das sociedades humanas, incluindo as empresas, às quais vem sendo exigido, cada vez mais, que reduzam os seus impactos negativos e que, idealmente, abandonem lógicas de fazer negócio assentes na mera extração a favor de abordagens com impactos neutros ou até mesmo de regeneração dos danos causados.

Uta Jungermann, diretora de Member Engagement & Global Network do Conselho Empresarial Global para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), contou à Green Savers que “uma empresa realmente responsável, primeiro que tudo, reconhece que estamos a experienciar uma policrise – alterações climáticas, perda de Natureza e crescente desigualdade”.

À margem da conferência anual do BCSD Portugal, associação que faz parte do WBCSD, que decorreu no passado dia 3 de julho em Lisboa, a responsável disse que quando a consciência dessa policrise é internalizada pelas empresas “também reconhecem a urgência em agir e que é preciso começar a perceber o que se pode fazer para se preparem para liderar a limitação dos impactos das alterações climáticas, para restaurar a Natureza, para abraçarem a noção de retribuir e não apenas de extrair”.

Reconhecida a existência desse quadro crítico e os riscos que representa para sociedades e, claro, empresas, “começamos a perceber que são necessárias transformações realmente profundas, da parte de todos”. Da parte dos negócios, são necessárias mudanças não só ao nível das suas operações diretas, mas também ao longo de toda a cadeia de valor.

“Para mim, uma empresa responsável, que é credível e responsabilizável, estabelece compromissos e metas com base na ciência, que são mensuráveis, que a coloquem num caminho para a neutralidade carbónica”, afirmou Uta, mas também assume, com precisão, os seus impactos no ambiente e na sociedade, “e comunica esse progresso de uma forma muito transparente”. Uma empresa responsável, em suma, “é verdadeira acerca dos seus impactos positivos, mas também reconhece os negativos e procura mitigá-los”.

É preciso que as empresas mudem a forma de estar no mundo?
Para Uta Jungermann, as empresas estão cada vez mais cientes de que não podem ser bem-sucedidas se as sociedades e ambientes dos quais fazem parte não forem, também eles, bem-sucedidos.

“Acho que estamos a experienciar essa mudança. Penso que as empresas estão a começar a perceber que não podem ter sucesso em sociedades que fracassam, há uma evidente interdependência. Os negócios querem prosperar, as sociedades querem prosperar. Os negócios só podem ser viáveis em sociedades saudáveis. Sei que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas creio que as empresas que internalizaram isso estão a pensar já que, para o seu sucesso a longo-prazo, precisam de criar as condições para que as sociedades em que operam possam prosperar”.

E acredita que “a mudança está a começar”, embora reconheça que “provavelmente não está a acontecer tão rapidamente quanto todos gostaríamos”. Para a responsável, a demora está, em certa medida, a ser causada por “este mundo polarizado em que vivemos”, e, sobretudo, devido à ausência de quadros regulatórios claros no que diz respeito à jornada da sustentabilidade das empresas.

“As empresas gostariam de ter quadros regulatórios muito claros e estabilidade. Tornaria tudo muito mais rápido, mas não é esse o caso. Há muita polarização em torno destes temas, e isso certamente obstaculiza a velocidade e a escala que precisamos, mas acredito que há um número cada vez maior de empresas que realmente percebem que isto é inevitável”.

Uta disse-nos que, acima de tudo, é preciso perceber que as alterações climáticas, a perda de Natureza e as desigualdades sociais são várias facetas de um mesmo problema e que não é possível resolver um sem combater os demais.

“A interdependência destes três desafios é tão clara e penso que as empresas estão a perceber isso”, referiu, acrescentando que “muitas vezes é mais fácil começar com as emissões de carbono, porque é uma só métrica, fácil de medir, mas as empresas estão a reconhecer que não é a única métrica” e estão a procurar abordagens que permitam responder a essas dimensões interconectadas e interdependentes.

Questionada sobre se as empresas, no que toca à sustentabilidade, deveriam assumir a dianteira desses esforços e não ficar à espera de que os legisladores criem as regras do jogo, Uta disse “sim, por vezes sim”.

“As empresas estão numa posição única para liderar. Têm uma influência significativa a vários níveis da sociedade e em diferentes geografias, ao longo das suas cadeias de valor, etc. Obviamente que as políticas são importantes, mas, ao mesmo tempo, se estivermos à espera de uma única abordagem global, pode nunca chegar. Não temos tempo para estar à espera. Por isso, as empresas podem, nas suas esferas de influência, fazer muito e liderar pelo exemplo”.

O combate à policrise não pode ser feito sem as empresas
“As empresas não podem fazê-lo sozinhas, mas também não pode ser feito sem elas”, salientou Uta Jungermann, pois “as empresas têm uma capacidade única para liderar”, sobretudo porque têm à sua disposição recursos e capacidade para a inovação que muitas vezes falta ao setor público.

Contudo, as transformações necessárias para combater a policrise aconteceriam mais rapidamente, sugeriu a responsável, “se tivéssemos vontade política para fazer acontecer”. Ainda assim, na ausência dessa vontade, as empresas podem ainda assumir a dianteira. “Não creio que tenhamos a inovação que precisamos sem as empresas na liderança”, disse Uta, e deixou um apelo: “Temos de parar de demonizar o setor privado”.

Mas será realmente possível mudar a forma como as empresas operam e se posicionam no mundo sem alterar o próprio sistema em que estão inseridas? A responsável explicou que o atual sistema económico global “não distingue entre a criação de valor e a extração de valor, e basicamente está desenhado apenas para extrair valor, em vez de criá-lo”.

Dessa forma, “existem poucos ou nenhuns incentivos para as empresas criarem verdadeiro valor”, pelo que há que “reinventar o capitalismo” de forma a “criar as condições para o sucesso dos negócios a longo-prazo, e assegurar que os mercados recompensam comportamentos que reforçam os sistemas ambientais e sociais que alicerçam a prosperidade económica”.

“Mas atualmente não é isso que se passa, e torna difícil que as empresas mudem, inovem, transformem”, lamentou.

Preparar para o futuro pode implicar alguns sacrifícios
As transformações profundas que são entendidas como necessárias para alinhar as empresas e a forma de fazer negócios com os objetivos de combate às crises planetárias pode, por vezes, implicar investimentos sem retorno imediato. Será que as empresas estão dispostas a fazer esses sacrifícios, não só em prol das sociedades e do planeta em geral, mas também da viabilidade dos seus próprios negócios no futuro?

Uta Jungermann acredita que “depende de quão avançada uma empresa está na sua jornada de sustentabilidade”, uma vez que “cada empresa está numa etapa diferente”.

Para a responsável, “as empresas com visão de futuro percebem que a sustentabilidade não é apenas uma opção ética, mas sim um imperativo estratégico para a viabilidade a longo-prazo”.

Se as empresas tiverem uma verdadeira visão de futuro, sublinhou, então perceberão que é preciso fazer certos sacrifícios para garantir a sustentabilidade dos seus negócios.

“Cada vez mais, as empresas apercebem-se dos riscos financeiros causados, por exemplo, pelos riscos físicos das alterações climáticas. Por isso, quando olham para o futuro, as empresas reconhecem que, por vezes, é preciso fazer certos sacrifícios.”

Um ‘empurrão’ regulatório e uma dose de auto-motivação
Uta Jungermann salientou que atualmente há um “ritmo sem precedentes” no desenvolvimento de quadros regulatórios sobre a sustentabilidade das empresas, com a Europa a impulsionar grande parte dos esforços, e, a nível global, “isso significa que o reporte obrigatório está a tornar-se inevitável”.

“Algumas empresas fazem isso há anos voluntariamente”, referiu, mas a obrigatoriedade do reporte está a acelerar a transformação e a trazer todas as empresas para o mesmo plano, o do rumo à sustentabilidade.

No entanto, para essa transformação é preciso não apenas obrigatoriedades regulatórias, mas também estar disposto a ir mais além. Ou seja, é preciso haver um equilíbrio entre o que as empresas são obrigadas a fazer e o que, como parte integrante das sociedades, devem fazer para lá do que lhes é legalmente exigido.

“Obviamente que a regulamentação é importante, mas ao mesmo tempo as empresas têm de ter auto-motivação também. Penso que as empresas estão a adotar essa mentalidade”, afirmou.

“Claro que precisamos de mitigar os impactos, isso é essencial. A mitigação é sempre importante. Temos de minimizar e eliminar os impactos negativos onde podemos, mas também precisamos de restaurar, precisamos de recuperar os danos que causámos. No final de contas, todos queremos prosperar. É uma longa viagem, mas acredito que estamos no caminho certo.”

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Organização Meteorológica Mundial alerta para impacto humano nas poeiras da atmosfera


A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou hoje para o impacto das atividades humanas na libertação de poeiras na atmosfera, cujas concentrações aumentaram em 2023 em certas zonas do planeta, como China e Mongólia.

“Necessitamos de estar vigilantes face à contínua degradação ambiental e às alterações climáticas. Provas científicas demonstram que as atividades humanas estão a ter impacto nas tempestades de areia e poeiras. Por exemplo, temperaturas mais elevadas, secas e maior evaporação levam a uma menor humidade do solo, que, combinada com a má gestão da terra, conduz a mais tempestades de areia e poeiras”, advertiu, citada em comunicado, a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.

Segundo a OMM, que hoje divulgou o relatório anual sobre poeiras, no Dia Internacional de Combate às Tempestades de Areia e Poeiras, todos os anos “cerca de dois mil milhões de toneladas de poeiras entram na atmosfera, escurecendo os céus e prejudicando a qualidade do ar em regiões que podem estar a milhares de quilómetros de distância, afetando economias, ecossistemas, tempo e clima”.

Em grande parte, tal deve-se a “uma má gestão da água e da terra”, assinala a OMM, agência da ONU, organização liderada pelo português António Guterres que estima que pelo menos 25% das emissões globais de poeiras têm origem em atividades humanas.

De acordo com o relatório hoje publicado, as concentrações médias de poeiras aumentaram em 2023 no oeste da Ásia Central, no centro-norte da China e no Sul da Mongólia face a 2022.

No ano passado, a tempestade de areia mais severa ocorreu em março na Mongólia, atingindo uma área de mais de quatro milhões de metros quadrados, incluindo 20 províncias da China.

No hemisfério sul, as concentrações de poeiras alcançaram o seu nível mais alto em partes da Austrália Central e na costa oeste da África do Sul.

De acordo com a OMM, as regiões mais vulneráveis ao transporte de poeiras de longa distância são o norte do oceano Atlântico tropical, entre a África Ocidental e as Caraíbas, a América do Sul, o mar Mediterrâneo, o mar Arábico, a baía de Bengala e o Centro-Leste da China.

Em 2023, o pico anual estimado para a concentração média de poeiras registou-se em algumas áreas do Chade, país no Centro-Norte de África abrangido pelo deserto do Sara.

No ano passado, em agosto, uma nuvem de poeiras do norte de África afetou a qualidade do ar em Portugal continental.

As poeiras com origem nesta região do globo voltaram em 2024 a afetar Portugal, e com mais frequência, nos meses de março, abril e junho.

Mas nem tudo é mau, segundo a Organização Meteorológica Mundial, que, citando um novo estudo, realça que a deposição de poeiras do Sara nas águas do Atlântico favorece o crescimento de fitoplâncton (algas microscópicas e cianobactérias), de que se alimentam peixes como o atum-bonito, cuja captura aumentou entre as décadas de 1950 e 2020.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Há cada vez mais conselhos de administração a procurar CEO com esta competência


Actualmente, os conselhos de administração procuram CEOs com elevados níveis de inteligência emocional, ou seja, a capacidade de ler e interpretar os sentimentos dos outros e reagir em conformidade na tomada de decisões, de acordo com o Insider.

Especialistas em diversidade e inclusão afirmam que a pressão sobre os CEOs para implementarem mudanças sociais nas empresas significa que cada vez mais líderes serão julgados pela sua inteligência emocional.

Para muitos conselhos de administração, contratar executivos de topo já não se trata de priorizar capacidades “úteis na obtenção de lucro”. Um estudo da Harvard revela que uma nova competência se sobrepõe às demais: inteligência emocional/social skills.

Investigadores analisaram cerca de cinco mil descrições de cargos executivos da Russell Reynolds, empresa de consultoria em liderança, entre 2000 a 2019 e descobriram que as palavras-chave mais mencionadas andam à volta de inteligência emocional, autoconsciência e a capacidade de trabalhar bem com os outros.

Este estudo junta-se a outros, reforçando a crescente importância desta competência. Um inquérito da plataforma Capterra, publicado em Janeiro, mostrava que líderes com elevada inteligência emocional eram 11% mais bem sucedidos na concretização de projectos, comparativamente aos que afirmaram ter menor inteligência emocional. Um estudo de 2009, divulgado no Leadership & Organization Development Journal, indicava que os executivos com níveis mais altos de empatia e auto-estima eram mais propensos a gerar altos lucros para as empresas.

«É uma competência de liderança que não pode faltar e será cada vez mais falada no futuro», revela Arquella Hargrove, consultora de Diversidade e Inclusão e Leadership coach, à Insider.

Entre os temas da igualdade, diversidade e inclusão, os consultores esperam que a procura por competências de inteligência emocional aumente nos próximos anos. «Estamos a lidar com pessoas e queremos humanizar estes temas. As emoções estão incluídas», acrescenta a consultora.

«Se estamos a tentar focar-nos na humanidade e aceitar as pessoas como são, competências de compreensão e empatia são fundamentais», declara Doris Quintanilla, directora executiva e cofundadora da consultora The Melanin Collective.

Qualquer líder (e gestores no geral) pode trabalhar para desenvolver a sua inteligência emocional. Uma das vertentes é a consciência social, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa. É ter empatia, escrevem Daniel Goleman, autor de “Emotional Intelligence 2.0”, e Richard E. Boyatzis, professor de Psicologia na Case Western Reserve University, na Harvard Business Review.

Para trabalhar o tema da empatia, Arquella Hargrove e Doris Quintanilla recomendam que os líderes passem mais tempo com os seus colaboradores de backgrounds mais sub-representados, convidando-os a partilhar as suas histórias e experiências. «Quando os líderes ouvem os seus colaboradores de diferentes origens, começam a valorizar essas diferenças e fazem as pessoas sentir-se incluídas na equipa», disse Arquella Hargrove.

Outro lado importante da inteligência emocional é a forma como se gerem relações ou a capacidade de comunicar eficazmente e trabalhar com os outros. «Ter inteligência emocional é também pedir feedback e ser capaz de o aceitar, seja positivo ou negativo. Esta capacidade torna-nos melhores líderes e gestores», acrescenta.

Portugal é o país da UE com mais famílias só com um filho


“É, aliás, um país de filhos únicos”, destacou a mesma fonte, referindo que apenas 27% das famílias tem crianças e, entre estas, quase dois terços tem apenas um filho.

Na União Europeia, as famílias numerosas (com pelo menos três filhos) representam 13% das famílias com filhos, “o dobro da proporção de Portugal (6%)”, segundo a mesma fonte.

As famílias monoparentais aumentaram 22% e o número de pessoas a viver só, aumentou 28%.

Na esmagadora maioria das famílias monoparentais (87,3%), o adulto é uma mulher, o que está 3,5 pontos percentuais acima da média europeia (83,8%).

“Na Estónia e na Suécia, em cerca de um terço das famílias monoparentais, o adulto é homem”, sublinhou a PORDATA.

The world is on fire and there's no driver at the wheel

Cocteau Twins - Rilkean Heart And Half-Gifts

Sinead O'Connor - Song To The Siren

Cocteau Twins - Aikea-Guinea

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Biologices


Esta fascinante planta (Monotropa uniflora) é uma das estranhas maravilhas da natureza porque não tem clorofila e não depende da fotossíntese. Pode crescer nas florestas mais escuras.
Muitas pessoas se referem a ela como fungo do cachimbo da Índia ou planta branca fantasmagórica, mas não é um fungo mesmo que pareça. Na verdade, é uma planta com flores e membro da família de mirtilo (Ericáceas).

sexta-feira, 5 de julho de 2024

A saúde das plantas e o seu impacto na economia, sustentabilidade social e ambiental


As pragas e doenças que afetam as plantas são, segundo a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, responsáveis por cerca de 40% de perdas das culturas alimentares a nível global, pelo que o seu combate eficaz é determinante para o suprimento das necessidades alimentares mundiais, em particular dos países mais vulneráveis.

A globalização, o comércio internacional, as alterações climáticas, o movimento crescente de pessoas e bens, têm contribuído, nos últimos anos, para a dispersão de pragas e doenças entre países e entre continentes. Os seus efeitos podem ser devastadores na economia, sustentabilidade social e ambiental dos territórios afetados.

Em Portugal, atualmente, são inúmeras as ameaças fitossanitárias que podem causar danos importantes à nossa agricultura e floresta. A nossa grande diversidade de culturas e de espécies vegetais e as nossas condições climáticas favorecem a dispersão e estabelecimento de pragas e doenças e dificultam o seu combate, pelo que é de extrema relevância as ações de prevenção. São exemplo, a introdução do nematode da madeira do pinheiro que atinge atualmente praticamente toda a nossa área de pinheiro-bravo, o escaravelho da palmeira que dizimou, em poucos anos, a maior parte das nossas palmeiras. Culturas tão importantes como são, por exemplo, a pera Rocha, a laranja do Algarve, ou as nossas vinhas, são também atingidas por pragas e doenças, que, além de conduzirem a importantes perdas de produção e de qualidade, implicam grandes intervenções para o seu controlo, por vezes mesmo culminando na destruição total de pomares e vinhas.

É, portanto, reconhecida a crescente importância das autoridades fitossanitárias na criação de normas fitossanitárias que permitam atuar na prevenção e deteção precoce de pragas e doenças emergentes, e com capacidade de acionar, quando necessário e atempadamente, medidas de erradicação.
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), enquanto autoridade fitossanitária nacional, implementa dezenas de programas de prospeção fitossanitários em todo o território nacional. Igualmente em todos os portos marítimos e aeroportos nacionais, os serviços de inspeção fitossanitária são responsáveis pela inspeção a vegetais e produtos vegetais, limitando assim a possível entrada de pragas e doenças por via dos produtos importados, mas é premente informar que uma mera peça de fruta ou uma planta trazida na mala de viagem, pode esconder um inimigo para as nossas culturas e florestas.

Devemos estar preparados para enfrentar crises fitossanitárias, priorizando a prevenção por forma a reduzirmos os impactos económicos, ambientais e sociais derivados de ataques de pragas e doenças nas nossas culturas e na nossa floresta.

É também fundamental que a sociedade em geral assuma o seu papel na salvaguarda na saúde das plantas e entenda os desafios e as dificuldades que os agricultores enfrentam diariamente para assegurar o abastecimento de alimentos saudáveis, nutritivos e diversificados, assim como o seu papel determinante na manutenção das áreas rurais e da biodiversidade.

Visando aumentar a consciência de todos para esta problemática, a Autoridade Europeia da Segurança dos Alimentos (EFSA), lança a campanha #PlantHealth4Life que une os esforços conjuntos da EFSA, de 22 países europeus e da Comissão Europeia.

Cada um de nós pode ser um embaixador desta campanha, ajude a divulgá-la, porque a «Proteger as Plantas é Proteger a Vida».

quinta-feira, 4 de julho de 2024

ICNF identifica nova colónia de abutre-preto nidificante no Alentejo


Uma nova colónia de abutres-pretos (Aegypius monachus), constituída por dez indivíduos adultos, foi identificada na Herdade do Monte da Ribeira, no concelho da Vidigueira (no Alentejo), no âmbito das ações de monitorização realizadas pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), revelou este instituto em comunicado.

A mesma fonte estima que esta colónia seja constituída por quatro ou cinco casais reprodutores, embora só tenham sido observados quatro ninhos. A colónia foi identificada em plena época de reprodução, período especialmente sensível para esta espécie, existindo reprodução comprovada em, pelo menos, um dos ninhos, no qual foi possível observar um indivíduo juvenil já emplumado.

A Direção Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo encetou os procedimentos necessários para monitorizar e salvaguardar esta colónia, em colaboração com os proprietários da Herdade do Monte da Ribeira.

O abutre-preto é uma ave necrófaga com o estatuto “Criticamente em Perigo” em Portugal, sendo, igualmente, considerada de interesse comunitário e prioritária no contexto da Diretiva Aves. É a maior ave de rapina da Europa, podendo atingir os três metros de envergadura de asa.

A época de reprodução ocorre entre fevereiro e agosto e cada casal produz um ovo por ano.

Após mais de meio século de declínio demográfico e ausência como nidificante no país, o abutre-preto restabeleceu a condição de nidificante em Portugal em 2010 com várias pequenas colónias, a maioria em áreas protegidas, como o Parque Natural do Tejo Internacional, a Serra da Malcata e o Parque Natural do Douro Internacional. Mais recentemente, em 2019, surgiu uma nova colónia na Herdade da Contenda, em Moura, que conta, atualmente, com 11 casais.

Com esta descoberta passa para cinco o número de colónias conhecidas de abutre-preto no país.

O ICNF tem vindo a apoiar a conservação da população nacional de abutre-preto em Portugal. De 2022 a 2027, o projeto “Aegypius return – Consolidação e expansão da população de abutre-negro em Portugal e no oeste de Espanha”, que tem a colaboração do ICNF, conta com o cofinanciamento do instrumento financeiro europeu LIFE, com vista a melhorar e acelerar a recolonização natural em curso da espécie.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

A civilização é a causa original do ecocídio


Recentemente li um texto chamado It’s Not Capitalism that’s Driving Ecocide; it’s Civilization (Não é o capitalismo que está impulsionando o ecocídio, é a civilização), escrito por Kollibri terre Sonnenblume, e resolvi escrever algo sobre isso. Você pode ler a tradução aqui. Eu concordo que não é apenas o capitalismo que está impulsionando o ecocídio e que a sociedade colonialista já estava fazendo isso desde muito antes. Pelo título, algumas pessoas podem achar que ele está dizendo que o capitalismo não é um grande problema, o que seria equivocado já que o texto afirma que “o capitalismo não pode ser reformado e deve ser desmantelado”.

O ponto central do texto deve ser lido como uma pergunta: é possível conciliar o marxismo e o ambientalismo? Embora ecossocialistas garantam que sim, existem algumas complicações a serem resolvidas, especialmente quando se consideram conceitos como “supremacia humana” e antropocentrismo. E com isso não estou dizendo que movimentos como o Earth First sejam mais coerentes. Não tenho condições pra fazer essa avaliação.

O problema é que boa parte da ecologia e do socialismo são antropocêntricas. A maioria dos ecologistas e ecossocialistas não problematizam a civilização. Uma parte do eco-anarquismo compreende essa crítica porque se abriu para outras perspectivas ecológicas. O Estado também não pode ser reformado e deve ser desmantelado. A crise ecológica torna o capitalismo ainda mais contraditório, mas a contradição civilizatória está presente desde a fundação da sociedade de classes: a oposição entre ser humano e outros seres.

A questão é: quão longe o ecossocialismo pode ir na sua crítica ao domínio humano sobre a natureza? Para refletir sobre isso, podemos começar pensando nas palavras de Ailton Krenak: “Botei em questão se tem algo possível de se pensar como sustentável no modo de vida urbano e moderno que nós compartilhamos em vários lugares (…). Qual atividade pode ser sustentável dentro de um sistema desse?”

Se a civilização iniciou o ecocídio muito antes do capitalismo, como pode o fim do capitalismo ser o fim do ecocídio? É possível uma civilização socialista, ecológica e sustentável?

Continuando com a reflexão de Krenak, “a produção de alimento com certeza não é sustentável”. A revolução agrícola (também chamada de revolução neolítica) é considerada um grande avanço na história da humanidade, assim como a revolução verde (uso de novas tecnologias para o aumento da produção agrícola, a partir dos anos 60). Mas ambas foram desastrosas para a natureza e para a vida humana. A biotecnologia representa um próximo passo na mesma direção, enquanto a agroecologia promete reverter os efeitos devastadores dessas “revoluções”, transformando a agricultura numa prática sustentável.

Mas consideremos a sustentabilidade enquanto mito, ou “como uma narrativa que foi criada pelas corporações para continuar conquistando consumidores com a ideia de aquilo que você está consumindo é produzido de uma maneira sustentável, mas é uma mentira”. Neste sentido, como saber se a agroecologia é realmente sustentável?

Mesmo com a agricultura mais ecológica do mundo, é possível que “a conta não feche”, como diz Krenak. Isso porque as necessidades que temos agora não correspondem às necessidades naturalmente sustentáveis para seres humanos. São necessidades criadas pela civilização, que jamais seriam possíveis sem um modo de vida baseado em patriarcado, exploração, acúmulo, expansão, invasão, escravidão, genocídio, epistemicídio e ecocídio. Se de fato “a infraestrutura que existe nas cidades vai sofrer um colapso” e “todas as tentativas do mundo de regular o consumo, produção, distribuição de mercadoria são insustentáveis”, o que fazer?

Bem, nós sabemos o que não fazer. Não podemos continuar assumindo as mesmas premissas de que basta acabar com o desperdício gerado pelo capitalismo, ou investir em avanços científicos e tecnológicos que visem o bem comum (da humanidade) ou invés do lucro de empresas. Isso ainda pode ser insuficiente. A tecnologia nos confere poderes extraordinários. Podemos usar todos esses grandes poderes produzidos pelo nosso “avanço” tecnocientífico para o bem de todas as espécies e do planeta como um todo? Isso é humanamente possível? Isso é possível sem antropocentrismo ou excepcionalismo humano?

É preciso entender que “estamos fazendo escolhas erradas”. Não apenas os capitalistas, mas todos nós estamos fazendo escolhas erradas há muito, muito tempo. Podemos assumir toda a responsabilidade que vem junto com os poderes concedidos pelo desenvolvimento tecnológico? Ambientalistas em geral não criticam a tecnologia ou o modo de vida urbano em si. Pelo contrário, falam de cidades sustentáveis e tecnologia verde. Mas e se o modo de vida urbano e tecnológico for, necessariamente, uma “armadilha”, algo inerentemente insustentável?

A proposta de Krenak é uma sociedade humana que não deixe rastros de sua passagem pela terra. “Nós deixamos rastro demais e toda cultura que deixa rastros é insustentável”. O mais importante dessa ideia, para mim, passa despercebido para a maioria das pessoas: que estamos aqui só de passagem. Não apenas nós enquanto indivíduos, mas a humanidade como um todo está aqui só de passagem. Isso é, a humanidade tem uma existência finita. A civilização é, em muitos sentidos, a negação desse fato. A nossa cultura não se perdeu, não se tornou insustentável por um acidente de percurso. Ela é insustentável desde que nasceu.

Estamos alienados “em relação a origem de tudo que a gente come, bebe, veste”. Mas também estamos alienados em relação ao descarte, isso é, do destino final de tudo que a gente come, bebe, veste, e até do nosso próprio destino final. Nosso modo de vida, nosso consumo e nossa própria existência se tornou insustentável. E por isso tentar ser individualmente “mais sustentável” é uma “vaidade pessoal”. Não mudaremos nada se não mudarmos tudo.

A ideia de que você pode salvar o planeta fazendo sua parte cria “um ambiente psicológico que despista a verdadeira razão” da crise ecológica. O modo como estamos vivendo, num sentido mais fundamental que apenas o sistema econômico, é a causa da crise ecológica. Mas somos levados a crer que não há outro modo de viver, já que estamos no modo mais “avançado”, e já que não podemos “retroceder” ou “voltar no tempo”.

Há outras maneiras de viver, mas como diz Krenak, algumas delas são “racistas e de classe, sugerem que quem sabe viver no mundo são os ricos”. Esta frase pode ser reinterpretada ou completada do seguinte modo: sugerem que quem sabe viver no mundo são os brancos. São os povos que criaram a revolução industrial. São os povos que criaram impérios. São os povos que criaram um modo de vida baseado no uso intensivo de animais e do solo. Percebe? Quem inventou a riqueza e a pobreza?

Podemos impedir os processos industriais de acabar com nossa água? Em outras palavras, podemos impedir a civilização de destruir o mundo? Para citar um dos problemas mais difíceis: como abandonar o uso de combustível fóssil? Como diz Krenak, “o combustível fóssil já deveria ter sido abandonado na década de 90”. Sabíamos que era preciso parar, mas não paramos. Por que vai ser diferente agora?

A esperança numa civilização sustentável guarda uma crença, uma mitologia moderna, que é a “ideia de autossuficiência” da humanidade. Acreditamos que tudo é possível se nos esforçarmos. Basta um sistema melhor. “Com o avanço disso que foi chamado de civilização, e com o advento da globalização, esse circuito tomou conta do planeta inteiro”, diz Krenak. A civilização tem se apresentado como sustentável desde sempre, e tem sempre falhado nisso. Repito: por que seria diferente numa nova civilização?

A experiência urbana nos afastou da natureza. A simplicidade dessa frase é enganadora. Estar afastado da natureza não é somente não saber como viver sem geladeira e fogão. Significa, antes de tudo, não lembrar QUEM você é e o que está fazendo AQUI. “Muitos valores que temos, que achamos fundamentais para a humanidade foram criados e foram incutidos na nossa cultura, na nossa mentalidade”. Não são valores da humanidade, são valores de uma cultura que nega a humanidade, porque nega a natureza. Assim como nega a vida, porque nega a morte.

Essa “perda de memória” é um conceito central. Quando o poeta diz “as pessoas não são más, elas só estão perdidas”, ele reflete uma ideia ancestral. Quando alguém fazia algo errado, os outros membros da comunidade se juntavam para LEMBRAR àquela pessoa das coisas boas que ela fez de de QUEM ELA É.

Desse modo, a pergunta central para a crítica ao ecocídio não é: “como ser sustentável?”, mas sim “quem somos nós?”, ou ainda, “o que é o ser humano?”. Não parece uma pergunta muito pragmática e você pode protestar que precisamos de mais ação e menos filosofia. Porém, a aderência a essa filosofia silenciosa e não questionada da civilização é que nos trouxe até este pesadelo.

É por isso que considero tão importante que Krenak decida falar sobre “cosmovisão”, e mais especificamente, a cosmovisão de que “a Terra é um organismo vivo”. Isso não deve ser interpretado como metáfora. Não é tratar a Terra “como se” ela fosse um organismo vivo. Se a Terra é realmente um organismo vivo, tudo que a civilização entendeu sobre o mundo está errado, porque todo conhecimento civilizado está baseado na objetificação do mundo natural.

O aquecimento global é apenas a febre da Terra. Não é a doença em si, mas um sintoma. Ambientalistas tradicionais se concentram em tratar o sintoma, mas como tratar a doença? Como diagnosticar a doença?

O ser humano é capaz de sobreviver se largado pelado no mato, mas não é capaz de causar muito dano ao meio ambiente. Para destruir o seu habitat, é preciso criar ferramentas e técnicas especiais para isso, que nada tem a ver com a necessidade de sobrevivência. As culturas que não criaram esses aparatos “não estão engajados no consumo planetário”. Se esses povos são o “remédio”, nos dizeres de Krenak, quem ou o que é a doença? Como ele diz, “sobrou gente fora desse balaio civilizatório que ainda sabe, ainda reflete sobre uma cosmovisão, estão protegidos por essa memória e são capazes ainda de pensar outros mundos e construir outras perspectivas de mundo”. Isso sugere que nós, civilizados, somos aqueles que esqueceram quem são, estamos presos numa única forma de pensar e construir o mundo. Nossa visão é restrita. O peso do sistema técnico que criamos para alterar o mundo como bem entendermos pode ser impossível de carregar, insustentável num sentido mais profundo da palavra.

A tecnocultura civilizatória “é fascinante”, mas também “é um veneno”. “Todo mundo cria dependência com relação a esse grande abarcamento do mundo das aparentes necessidades humanas”. É um vício, como também diz Kollibri. Agora imagine o quanto é difícil se livrar de um vício coletivo que nos domina há milhares de anos… Lógico que parece utópico. Mas ao mesmo tempo, nada poderia ser mais irrealista do que permanecer nesse vício. Como deveria estar nítido, o maior dano desse vício não é exatamente à Terra, mas ao espírito humano. Do mesmo modo que, aquele que pesa excessivamente na vida da sua própria família, causa mais dano à sua própria auto-estima que à sua família.

Não conseguimos eliminar esse peso da nossa consciência. Estamos experimentando uma “dissociação” entre a experiência humana e o planeta. Porém, não destruímos o mundo sem saber o que estamos fazendo. Utilizamos toda nossa inteligência nesse projeto. A necrocivilização, para fazer um paralelo com o necrocapitalismo, nos colocou num mundo simulado, no qual gostamos de estar. Nos leva a fingir que tudo vai ficar bem, quando obviamente não vai. Obviamente o dano que causamos ao mundo não pode ser simplesmente apagado. Como uma mentira que foi sendo mantida a todo custo, as consequências de admitir a verdade agora são necessariamente desastrosas para nós.

“Fomos convertidos a uma ideia de humanidade que não é real. É uma pós-humanidade”, diz Krenak. A humanidade que tentamos realizar não pode se realizar. A tentativa de realizar esse ideal, passando por cima dos outros, é o processo civilizatório, “é o núcleo do pensamento colonial”. Os conceitos de civilização e de humanidade que usamos estão impregnados de colonialidade. “O colonialismo diz: vamos modernizar, vamos civilizar, vamos humanizar”. A saída não é colonizar outros planetas, mas conhecer a si mesmo.

O quão longe os críticos tradicionais do capitalismo tem ousado ir na viagem “para dentro de nós mesmos”? O quanto tem questionado aquilo que tem sido considerado como humanamente necessário, e o quanto tem simplesmente aceito o processo histórico civilizado como se este contasse a história da humanidade?

O cerne da crítica ao antropocentrismo pode ser resumido na seguinte frase de Krenak: “O problema é quando pensamos que somos a única vida aqui, a ponto de, quando a base para sua continuidade aqui não for suficiente, a gente vai reproduzir em outro lugar”. Isto me leva novamente à negação do limite, do fim inevitável da vida. Tudo que começa tem um fim. Mas o conceito antropocêntrico de sustentabilidade não enxerga um fim para a humanidade. Mesmo quando a perspectiva ecológica se considera ecocêntrica ou biocêntrica, ela não pensa na existência humana dentro de um ciclo com começo, meio e fim. Ela quer barganhar a continuidade do esquema.

Novas mentes, por outro lado, não querem mais a continuidade do esquema. “É isso que os meninos e meninas estão fazendo, estão dizendo ao mundo que os adultos falsificam uma narrativa sobre o mundo, e eles não querem”. Algumas pessoas percebem isso mais facilmente. Como um amigo recentemente me fez pensar, a civilização criou uma linguagem excludente para pensar o mundo, uma linguagem neurotípica ou “normal”, que exclui a diversidade natural de formas de pensamento, porque essa diversidade não é eficiente para a produção de um projeto civilizatório. É comum pessoas com estruturas mentais neurodiversas terem dificuldade de compreender regras sociais e de comunicação, pois elas não parecem fazer o menor sentido. Somos obrigados a reprimir uma parte de nós mesmos para nos tornarmos “funcionais”, e geralmente isso vem com uma sensação de estar agindo como um robô. De certo modo, é exatamente como qualquer pessoa se sente na civilização, em algum grau. Isso apenas passa mais despercebido quando a sua atuação é aceita pela sociedade. Mentes “normais” se esquecem de como é pensar fora da caixinha que a civilização nos coloca, mas mentes “diferentes” não conseguem esquecer, porque são péssimos em fingir.

É por isso que a tolerância ou convivência com o diferente não é suficiente. É preciso uma “alternância”. A alternância implica em saber passar a bola, e também saber quando ir embora, descansar, parar, desistir. Voltar depois, quem sabe. A maioria dos homens que se sentem ameaçados pelas mulheres tem dificuldade justamente nesse ponto: não sabem perder. Acreditam que todo peso de uma estrutura de opressão milenar pode ser dissipado com uma política de “participação” da mulher nos mesmos esquemas que o patriarcado criou, sem deslocá-los ou incomodá-los de modo algum. Ou seja, acreditam na “continuidade do esquema”. Como se as coisas não precisassem pesar para os homens. Isso só seria possível se o patriarcado não tivesse produzido privilégios. Nunca é fácil perder privilégios e confortos, mas algumas vezes é necessário.

Isso não deveria ser lido como uma apologia ao catastrofismo ou um pessimismo paralisante, ou pior, uma conivência com um sistema de descarte de pessoas. Mas é difícil não se parecer com um sádico quando se tem más notícias para dar. Eu não pretendo “contar a verdade e correr”. Eu pretendo ajudar quem está recebendo a mensagem a suportá-la. É preciso coragem pra abandonar certos vícios. Mas talvez o que nos prenda seja de outra natureza, algo bem mais difícil de abandonar.

Volto à questão principal aqui: o que ambientalistas estão dispostos a perder em nome da alternância com o Outro? A julgar pelo discurso ecológico mainstream, a resposta seria: nada. Eu poderia citar um exemplo: “Eu não concordo que mais progresso será feito apelando para o coração das pessoas do que para suas carteiras”, diz o economista ecológico Robert Constanza, fundador da International Society for Ecological Economics, principal referência em economia ecológica. Parece romântico demais dizer que é justamente o coração, e não a razão, que pode nos salvar agora. Se for verdade que a ação humana sempre busca a vantagem comparativa, a cosmovisão apresentada aqui não tem nenhuma chance. Porém, se ela tem algum sentido, a economia como um todo precisa ser questionada, não apenas a economia liberal, mas toda nossa auto-imagem como “ser racional” criado pelo mito do “homo economicus”.

O ecocapitalismo quer colocar um preço na natureza para poder protegê-la. O ecossocialismo quer a propriedade coletiva dos meios de produção (como objetivo final) e uma regulação estatal mais eficaz da economia (como objetivo mais imediato) para proteger a natureza. Como Kollibri sugere, o ecocapitalismo é bem mais fácil de refutar. O ecossocialismo, porém, é bem mais complexo de responder. Isso porque, embora ele possa ser mais ecológico, não é exatamente “sustentável”. Como assim?

A resposta, para mim, começa nessa fala de Krenak: “Em algumas culturas, a ideia de cair está dentro do ciclo da existência. Ela se articula com a ideia da semente, que se enterra, morre e vira a árvore e dá mais semente, e frutas, e vira semente, e enterra de novo. Ciclos”. Nossa cultura judaico-cristã, porém, enxerga a queda como um problema. Nós não queremos cair, somos especiais, estamos destinados a um lugar especial, onde ninguém mais morre e ninguém mais cai. E porque não sabemos cair, não podemos ser realmente sustentáveis, porque negamos a alternância. O ciclo da vida inclui a morte. Não queremos o fim da civilização, queremos evitar o colapso desse modelo econômico baseado em cidades que contemplam a eternidade. Queremos usar as técnicas, os conhecimentos, a ciência e a tecnologia civilizadas para impedir a queda e construir um mundo supostamente avançado, e supostamente mais humano. Ao invés disso, deveríamos aceitar as consequências de um acúmulo imensurável de decisões erradas. Decisões tão erradas que não podem mais ser corrigidas. Precisamos aprender a largar e cair. Podemos fazê-lo, ou o poder civilizado é tentador demais?