domingo, 21 de maio de 2023

Pedro Cabrita Reis- o artista trolha

A mediocridade da Arte Contemporânea


Da "Central Tejo".
Chamar isto de arte? Duas torres em alumínio, conexas e iluminadas, com...pasmem-se 10 metros de altura!! Visivelmente interfere negativamente com a "paisagem" da marginal do Tejo.

Análise
Toda a arte é divina. Talvez por isso o artista (o autor, o actor…) tenha um pé do lado de deus. E, quando esta metáfora é forma cabal dessa expressão, então temos artista. Porém, talvez se torne descabida qualquer tipo de elucidação a propósito desta palavra, pois ela é já explicação da explicação. Certo é que não se pode ser “quase” artista, autor, actor. Artista ou se é ou não se é. Só as obras poderão falar sobre a condição da sua arte.

Não obstante, o quadro pinta-se sozinho da mesma forma que o livro se escreve a si próprio. Ao artista apenas cabe estar ali. Ele é o veículo. Por tal razão não existe em si mesmo. Os materiais que ele usa são, apenas, a extensão do corpo (técnico), nunca da sua alma. O espírito – a arte – prevalece, exclusivamente, na conexão com o seu público. Ora acontece que a arte contemporânea não comunica. É de expressão livre, mas a sua observação não. Prova disso é que para ser compreendida tem de ser explicada.

Neste particular socorro-me de Aveline Lésper. “ A obsessão pedagógica, a necessidade de explicar cada obra, cada exposição gera a sobre-produção de textos que nada mais é do que uma encenação implícita de critérios, uma negação à experiência estética livre, uma sobre-intelectualização da obra para sobrevalorizá-la e impedir que a sua percepção seja exercida com naturalidade”. “ A arte contemporânea é endogâmica, elitista; com vocação segregacionista, é realizada para sua própria estrutura burocrática, favorecendo apenas às instituições e seus patrocinadores” [1].

Sei que os sentimentos brotam sem explicação, em total liberdade, etc… Porém sentir não é isento de conexão. Aqui ambas se tornam um só. Arte e comunicação.

Não há expressão artística sem comunicação fundada na sua dimensão mais elevada: a simplicidade. Comunicar é, e será sempre, isso mesmo: simplificar o mundo. Se complicar não comunica. Do mesmo modo, se a arte não comunica não é arte.

A necessidade de explicação de cada obra, a cada exposição, significa isso mesmo. A arte contemporânea torna-se iminentemente uma fraude ao exorcizar o público, expulsando-o do seu seio, transformando a arte em nada.

Conclusão 
Na arte contemporânea a expressão é livre mas a sua apreciação não. Assim, para ser compreendida tem de ser explicada. A despeito de reclamar maior atenção e conhecimentos por parte de quem a contempla do que de quem a produz, menoriza o espectador, exigindo-lhe que a ela se submeta, ou a abandone para sempre. Surge deste modo a primeira ditadura da mediocridade na arte.

Tal será fácil de compreender por força do mercado da arte, representado pela figura do mecenas que se torna artista, fomentando o artista fantasiado de artista. 

Sobre "instalações" como a Central Tejo
O gosto ou não gosto, em termos de manifestação artística, é coisa extremamente subjectiva ou pessoal. Por isso mesmo, em tempos de “instalações“, a torto e a direito, fica-nos muitas vezes a sensação de que o artista está a gozar com a nossa cara, como sói dizer-se. Depois, como a Arte passou a estar totalmente inserida no sacrossanto mercado, há muitos artistas que primam em cair em graça e estarão muito mais interessados nisso do que em ser engraçados. Como nem todos os mortais foram ungidos pela capacidade de serem entendidos em Arte por obra e graça de algum espírito mais ou menos santificado, perceber porque é que meia dúzia de caixotes empilhados, fora do contexto de algum armazém ou arrecadação, podem ser um estímulo emocional… não é coisa fácil. Pessoalmente, como um dos tais não ungidos, olho para aquilo… e vejo uns caixotes empilhados. E já Gedeão nos alertava para o fenómeno: vês moinhos, são moinhos.

[1] Aveline Lésper: El arte contemporáneo es una farsa

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