sábado, 26 de novembro de 2022

Relatório da OMS - Resistência aos antibióticos, não há tempo a perder


"Não há tempo a perder". O relatório OMS 29.4.19 sobre resistência a antibióticos apresenta um cenário catastrófico, para a saúde e para a economia global. Até 10 milhões de mortes por ano nas próximas três décadas, com custos sociais e picos de desigualdade comparáveis ​​aos da crise financeira de 2008. (1)

Resistência aos antibióticos, o problema e as suas causas

Resistência a antibióticos é um fenómeno que ocorre quando as bactérias 'aprendem a resistir' aos antibióticos, uma vez que são capazes de derrotá-los. E quando microorganismos antes considerados quase inofensivos começam a resistir a diferentes classes de antibióticos (resistência multi-antibióticos), o problema se torna grave. Aumento da mortalidade, internações prolongadas, indisponibilidade de tratamentos eficazes.

O exorbitante custar das especulações insanas das gigantes das drogas, como sempre, é terceirizada para a comunidade global. Que durante meio século revirou os cofres de Grande Farmácia, comprar antibióticos como balas para tosse. Sem que ninguém, até alguns anos atrás, levantasse dúvidas sobre os custos individuais e sociais de seu abuso. A não ser adicionar uma caixa de fermentos lácteos - às receitas ou sugestões de venda livre - para 'restaurar a flora intestinal', numa visão de conto de fadas de interação de armas químicas com o microbioma.

Criação animal por sua vez contribuiu e ainda contribui para causar e agravar a resistência aos antibióticos, uma vez que os medicamentos veterinários nas explorações de 'gado' têm sido utilizados de forma sistemática e não local, como uma 'maneira mais simples' de prevenir o aparecimento de focos de infecção. Se não também para compensar a falta de higiene e melhorar o desempenho da produção. O legislador europeu interveio, portanto, com uma reforma drástica (registo UE 2019/6), com o objetivo expresso de limitar ao mínimo o uso de antimicrobianos e antibióticos nas fazendas.

'Não há tempo a perder'. Relatório da OMS 29.4.19

'Sem Tempo para Esperar. Protegendo o Futuro das Infecções Resistentes a Drogas.' O relatório publicado em 29.4.19 pela OMS deriva das atividades do Grupo de Coordenação de Agências da ONU dedicados à resistência antimicrobiana (IACG, 'Grupo de Coordenação Interagências da ONU sobre Resistência Antimicrobiana'. (2) A gestão de uma crise sanitária e socioeconómica com impacto global pressupõe, de facto, uma abordagem partilhada, de acordo com a visão 'Uma Saúde'. Onde os 'Objetivos de Desenvolvimento Sustentável'(ODS), na agenda da ONU 2030, representam tanto objetivos quanto ferramentas para sobrevivência e solução de problemas. Em particular no que diz respeito aos direitos dos acesso a comida e água condições de segurança, saúde e higiene.

O estado atual, pelo menos 700 mortes a cada ano são atribuídas a doenças resistentes a medicamentos, 230 apenas a formas de tuberculose que não respondem ao tratamento. Doenças comuns tornam-se incuráveis ​​e protocolos que salvam vidas perdem sua eficácia. As cadeias de abastecimento de alimentos, por sua vez, aumentam a fragilidade, devido ao impacto de patógenos multirresistentes em 'segurança alimentar' (segurança alimentar) e assim por diante 'segurança alimentar«(segurança do abastecimento alimentar, ou seja, disponibilidade de alimentos para as populações). O IACG prevê que a resistência antimicrobiana levará 24 milhões de pessoas à pobreza extrema até 2030.

'Resistência antimicrobiana é uma das ameaças mais sérias que enfrentamos como comunidade global ' (Amina Mohammed, vice-secretária-geral da ONU e copresidente do IACG)

O cenário de previsão tem uma escala diferente, anuncia uma epidemia sem precedentes. Antibióticos, antivirais, antifúngicos estão se tornando ineficazes. A IACG relata 10 milhões de mortes a cada ano, globalmente, até 2050. Com prevalência nos países LMIC ('Países de renda média pequena'), mas sem excluir as economias mais maduras. O fenômeno é, de fato, registrado em níveis alarmantes em todos os países, independentemente do nível de renda nacional. Continuamos humanos e continuaremos a ser, todos nós, independentemente de apólices de seguro e contas correntes. Sem nunca perder, em todo caso, a esperança de alcançar aquela cobertura universal de saúde até então proclamada em vão pela própria ONU e pelos políticos que dela participam. Palavras vazias.

'Uma saúde', a sinergia indispensável

'Uma saude,. A saúde humana, o bem-estar animal, a segurança alimentar e a protecção do ambiente nas suas várias vertentes - incluindo a gestão dos resíduos e das águas residuais - são questões estreitamente relacionadas e devem ser geridas em sinergia. O relatório do IACG enfatiza a necessidade de uma abordagem coordenada e sistêmica, multissetorial. A Europa já embarcou neste caminho, começando com o Livro Branco sobre segurança alimentar (12.2.2000). E, no entanto, é essencial desenvolvê-lo, também no contexto internacional, em várias frentes.


'Abuso e uso excessivo antimicrobianos existentes em humanos, animais e plantas estão acelerando o desenvolvimento e a disseminação da resistência antimicrobiana', destaca o relatório do IACG. É necessário estabelecer sistemas regulatórios mais rígidos, conscientização sobre o uso correto de antibióticos, financiamento de pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias para combater a resistência aos seus princípios ativos, abolição do uso de antimicrobianos de importância crítica e outros medicamentos veterinários como promotores de crescimento na pecuária.

'As recomendações do relatório reconhecer que os antimicrobianos desempenham um papel fundamental na proteção da produção, saneamento e comércio de alimentos, bem como na saúde humana e animal, e promover seu uso responsável em todos os setores. Os países devem incentivar sistemas alimentares sustentáveis ​​e práticas agrícolas que reduzam o risco de resistência antimicrobiana, trabalhando juntos para promover alternativas viáveis ​​ao uso de antimicrobianos, conforme estabelecido nas recomendações do relatório'(José Graziano da Silva, FAO, Diretor-Geral)
Salmonela e campylobacter, aumenta a resistência

Relatórios recentes da EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) mostram como os antimicrobianos utilizados no tratamento de doenças transmissíveis entre animais e humanos (por exemplo, campilobacteriose e salmonelose) estão a perder eficácia e a resistência aos antibióticos não mostra sinais de diminuição.

Em alguns países da UE resistência a fluoroquinolonas (como ciprofloxacina) em tais bactérias Campylobacter é tão alto que esses antimicrobianos não funcionam mais para o tratamento de casos graves de campilobacteriose. Salmonella em humanos também é cada vez mais resistente às fluoroquinolonas, bem como sua resistência a diferentes classes de antibióticos (MDR, Resistência a Múltiplos Medicamentos).

Antibióticos, consumo em Portugal

O consumo de antibióticos em ambulatório aumentou ligeiramente entre 2013 e 2019 em Portugal, mas registou uma redução acentuada a partir de 2020 devido à pandemia de covid-19, avança um relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) hoje divulgado.

“Em ambulatório, a redução de incidência de infeções respiratórias bacterianas pela restrição à circulação e aglomeração de pessoas e pelo uso generalizado de máscara e, por outro lado, a redução de acesso a consulta médica determinaram uma franca redução de consumo de antibióticos”, adianta o relatório anual do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA) da DGS.

Publicado hoje, no Dia Mundial da Higiene das Mãos, o documento refere que o consumo de antibióticos em ambulatório teve uma “tendência ligeiramente crescente” entre 2013 e 2019, mas mantendo-se sempre abaixo da média europeia.

“Em 2020, pelo contexto pandémico, verificou-se uma marcada redução de consumo, que parece sustentada em 2021. Esta redução foi mais marcada do que a da média europeia”, adiantam ainda os dados do PPCIRA.

No entanto, o rácio de antibióticos de largo espetro sobre os de espetro estreito aumentou entre 2018 e 2021 e de forma mais acentuada do que na média europeia, o que faz com que Portugal tenha o “quinto pior resultado à escala europeia neste indicador”, alerta o relatório divulgado pela DGS.

Já relativamente ao consumo hospitalar de antibióticos, o documenta refere que se tem mantido estável desde 2013 e abaixo da média europeia.

“O consumo de um grupo de antibióticos de uso hospitalar mais associado ao tratamento de infeções causadas por bactérias multirresistentes tem-se mantido estável desde 2014, resolvendo a tendência crescente que se verificou entre 2011 e 2014”, nota ainda o relatório.

“Parece-nos que o contexto pandémico teve influência significativa nos indicadores de consumo de antibióticos”, admitem os autores do relatório do PPCIRA, programa prioritário de saúde criado em 2013.

O documento conclui também que a adesão ao cumprimento da higiene das mãos aumentou progressivamente a partir de 2016, sendo “particularmente significativo o aumento ocorrido entre 2019 e 2020 no contexto pandémico”.

Nas unidades de saúde, “entre esses dois anos, a taxa de cumprimento global e a taxa de cumprimento do primeiro momento de higiene das mãos aumentaram de 75,7 para 82,7% e de 68,0 para 76,2%, respetivamente”, refere o documento.

De acordo com os dados do programa, entre 2015 e 2020, verificou-se uma redução da incidência da taxa global de infeção em locais cirúrgicos, de infeção da corrente sanguínea adquirida em hospital, de pneumonia associada a tubo endotraqueal em unidades de cuidados intensivos de adultos e neonatais e de infeção por `Clostridioides difficile´.

“O período pandémico levou a significativo decréscimo da amostra de vigilância epidemiológica de infeções hospitalares, decorrente sobretudo da dedicação dos grupos locais do PPCIRA à batalha contra a covid-19”, reconhece o relatório.




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