As projeções de subida da temperatura média global elaboradas pela Organização das Nações Unidas (ONU), a partir dos compromissos e das políticas de redução dos gases com efeito de estufa, são mais incertas do que se admite.
Segundo as estimativas mais recentes da ONU, apesar dos novos compromissos para 2030 anunciados antes e durante a recente Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU para as Alterações Climáticas, a COP26, o planeta dirige-se para um aumento "catastrófico" de 2,7 graus centígrados (ºC) até ao final do século, longe dos objetivos do Acordo de Paris, de limitar bem abaixo de 2ºC, se possível 1,5ºC, em relação à era pré-industrial.
Mas a precisão aparente destas previsões induz em erro, segundo o estudo, do qual vários autores participaram também na elaboração da avaliação da ONU, que agora questionam.
Por causa da "precisão enganadora" dos anúncios feitos durante a COP26 em Glasgow, "os países podem ser levados a acreditar que estão a fazer progressos, quando se pode estar a passar o contrário", comentou a autoria principal do estudo, Ida Sognnaes, do centro de investigação CICERO, em Oslo.
A maior parte das projeções climáticas baseiam-se em modelos que partem da temperatura final desejada em 2100 -- um aumento de 1,5ºC ou 2ºC, por exemplo -- e procuram determinar a forma de aí chegar, ajustando variáveis como a utilização do carvão ou o desenvolvimento das renováveis
Ao contrário, este estudo "é uma previsão", reforçou Glen Peters, outro cientista do CICERO. "Nós modelizamos onde as políticas existentes nos conduzem e vemos para onde vamos", insistiu.
Sete grupos de modelização climática usaram este método para avaliar os compromissos assumidos para 2030 pelos cerca de 200 países signatários do Acordo de Paris.
Os resultados foram aumentos estimados entre 2,2ºC e 2,9ºC.
Mesmo que estes números não estejam muito afastados dos da ONU, os investigadores salientam a sua falta de certeza.
"Se olharmos para a parte inferior do intervalo, isso pode levar a pensar que estamos verdadeiramente próximos dos objetivos do Acordo de Paris (...). Mas também é provável que o aquecimento seja em torno dos 3ºC, o que implicaria políticas bem mais fortes", declarou Glen Peters, à AFP.
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