Decorria 2009, quando me senti impelido a investigar sobre a temática da microgeração. Pode parecer algo de banal, contudo, havia um motivo forte para que isso se tivesse tornado uma questão premente. Meses antes, tinha tido uma experiência marcante, derivada do meu activismo em prol do património natural, o qual sempre se pautou pela racionalidade. Muito antes de ser comum ouvir-se falar de “energias renováveis”, já eu tinha incluído esta expressão no meu vocabulário, contudo, e nessa altura, eu era olhado meio de lado, já que a “onda verde” ainda não tinha a força que actualmente tem. O tempo acabou por me dar razão. Da mesma forma, o tempo também me mostrou que as ditas “energias renováveis” têm de ser desenvolvidas e aplicadas com regras, ordenamento e de acordo com o interesse dos cidadãos.
Escrever um artigo científico sobre o impacto de parques eólicos não era, até então, algo que estivesse nos meus horizontes, porém, e dado o que vi acontecer a uma das últimas serras sem torres eólicas e/ou sem pedreiras, na região de Sicó, foi mesmo o que veio a acontecer em 2010.
Os anos passaram e, em 2016, no FICIS – Fórum Internacional das Comunidades Inteligentes e Sustentáveis, que decorreu no Theatro Circo, em Braga, decidi fazer o que poucos fazem, ou seja, intervir quando me foi dada essa possibilidade. Sim, vamos muito a congressos, mas, na hora de falarmos, ficamos… sentados e calados. E a intervenção foi cirúrgica, pois questionei um alto quadro de uma grande empresa energética sobre as potencialidades da microgeração no espaço urbano. Referi que não fazia sentido andarmos a degradar paisagens naturais quando o que não nos falta são telhados e paredes disponíveis para potenciar a microgeração nas nossas aldeias, vilas e cidades. Destaquei a energia solar e a eólica, onde a tecnologia já permite fazer algo que é o futuro. O que me respondeu o alto quadro em causa? Bem, digamos que não tinha uma resposta objectiva e fundamentada para me dar. Não estranhei o facto, já que, aliás, a minha questão tinha sido precisamente para pôr em evidência algo de muito simples, expondo uma vulnerabilidade da empresa e um mercado por explorar.
Num mercado energético fortemente polarizado, como o português, é normal que os principais actores não tenham propriamente interesse em alterar a relação de poder que há décadas se instalou. O mesmo para a mudança de paradigma. A microgeração tem um potencial disruptor em termos de mercado, já que estando a fonte energética (e.g. solar; eólica) nas mãos do consumidor, aí a relação de poder altera-se radicalmente. Não será, portanto, de estranhar que, caso alguém tente alterar o paradigma, os obstáculos não faltem e as regras do jogo teimem em ser alteradas em benefício de um mercado francamente polarizado.
Urge alterar o paradigma energético, a bem da sustentabilidade e do interesse comum. Sem microgeração, não teremos vilas e cidades realmente inteligentes. Vamos olhar para os telhados e paredes de uma outra forma?
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