Ao invés de receitas, há um conjunto de conceitos e técnicas que viabilizam o acesso a suas características fundamentais. O criador da Agricultura Sintrópica, Ernst Götsch, baseia sua cosmovisão transdisciplinar em muita ciência e a prática diária de mais de cinco décadas. A lógica que orienta sua tomada de decisão percorre um trajeto que nasce na ética de Kant e atravessa a física, a filosofia grega e a matemática. Ele também se apoia na biologia, química, ecologia e botânica, e se abastece da cena tecnológica do momento, adaptando técnicas e ferramentas de outras áreas. Portanto, a agricultura de Ernst Götsch se vale de um encadeamento coerente e sistemático de dados, livre de contradições internas, que não somente percorre uma narrativa lógica como também inclui uma expressão concreta no fim do caminho. Do planejamento à execução do plantio, há método, e há resultado prático. Mais que uma boa ideia, a Agricultura Sintrópica comprovadamente funciona, e pode responder aos maiores desafios sociais e ambientais do nosso tempo. Leia abaixo o artigo onde Ernst descreve os 15 princípios nos quais baseia a Agricultura Sintrópica.
Peculiaridades da Agricultura Sintrópica
Na Agricultura Sintrópica cova passa a ser berço, sementes passam a ser genes, a capina é a colheita, concorrência e competição dão lugar à cooperação e ao amor incondicional e as pragas são, na verdade, os agentes-de-otimização-do-sistema. Esses e outros termos não surgem por acaso, mas sim, derivam de uma mudança na própria forma de ver, interpretar e se relacionar com a natureza.
Muitas das práticas agrícolas preconizadas como sustentáveis baseiam-se na lógica da substituição de insumos. Troca-se os químicos por orgânicos, plástico por material biodegradável, defensivos por preparados. Porém, a forma de pensar ainda está muito próxima daquela a quem fazem oposição. Em comum, combatem as consequências da falta de condições adequadas para o crescimento saudável das plantas. A Agricultura Sintrópica, por outro lado, capacita o agricultor a replicar e acelerar os processos naturais de sucessão ecológica e estratificação, dando às plantas condições ideais para seu desenvolvimento, cada qual ocupando sua posição natural no espaço (estratificação) e no tempo (sucessão). É uma agricultura baseada em processos, e não insumos. A colheita agrícola passa a ser vista como um efeito colateral da regeneração de ecossistemas, ou vice-versa.
“O milho é emergente, com ciclo de vida curto, da placenta de Sistemas de Abundância”. É comum ouvir quem trabalha com agricultura sintrópica se referir a qualquer espécie mencionando ao menos essas quatro categorias. Elas se referem a critérios fundamentais que devem ser observados na orquestração dos cultivos sintrópicos. Há que se harmonizar o espaço (estratificação) ao longo do tempo (ciclo de vida), respeitando os passos sucessionais (Placentas, Secundárias e Clímax) dentro de cada um dos Sistemas (Colonização, Acumulação e Abundância ou Escoamento), segundo definições de Ernst Götsch. Uma agrofloresta sintrópica, portanto, se desenvolve e se transforma ao longo do tempo e do espaço, sempre “no sentido do incremento da quantidade e da qualidade de vida consolidada”, diz Ernst.
Ao trazer o conceito de sintropia para a agricultura, Ernst Götsch introduz uma perspectiva inédita associada a essa prática. A partir dela entende-se que, no contexto do ecossistema, fazem parte do metabolismo dos organismos não apenas os processos dissociativos, mas também a reorganização de resíduos entrópicos. Esse seria o mecanismo por meio do qual a vida prospera, gerando sempre, segundo Götsch, um saldo energético positivo, tanto no sub-local da interação quanto no planeta por inteiro. Portanto, quando dizemos que queremos trabalhar a favor da natureza e não contra ela, é dessa natureza que estamos falando. Ter a sintropia como matriz fundamental de interpretação e manejo dos sistemas cultivados é o que dá suporte para a capacidade regenerativa da agricultura sintrópica e é assim que entendemos que toda nossa agricultura deveria ser.
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