segunda-feira, 3 de junho de 2013

Crepusculário

Amigo 

1. Amigo, toma para ti o que quiseres, 
passeia o teu olhar pelos meus recantos, 
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira, 
com suas brancas avenidas e canções. 

2. Amigo - faz com que na tarde se desvaneça 
este inútil e velho desejo de vencer. 

Bebe do meu cântaro se tens sede. 

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça 
este desejo de que todas as roseiras 
me pertençam. 

Amigo, 
se tens fome come do meu pão. 

3. Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto 
que sem olhares verás na minha casa vazia: 
tudo isto que sobe pelo muros direitos 
- como o meu coração - sempre buscando altura. 

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe 
entregar nas mãos o que se esconde dentro, 
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares, 
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança... 

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido 
é uma rosa branca que se abre em silêncio... 

Pablo Neruda, "Crepusculário" 

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