domingo, 23 de outubro de 2022

“Porque se Chama Assim?”: A origem dos nomes com “bolinha” de aldeias e vilas portuguesas

Do livro "Porque se Chama Assim? A origem dos (estranhos) nomes de aldeias e vilas portuguesas", da jornalista Vanessa Fidalgo, extraímos a parte dedicada aos nomes "com bolinha" que explicam os nomes das terras mais obscenos de Portugal "com bolinha" que explicam os nomes das terras mais obscenos de Portugal

Portugal pode ser pequeno no território, mas é enorme no génio popular, e os nomes das nossas vilas, lugares e aldeias são um bom reflexo dessa imaginação e criatividade. De norte a sul, encontram-se nomes de terras de todos os géneros – e proveniências.

O livro “Porque se Chama Assim? A origem dos (estranhos) nomes de aldeias e vilas portuguesas”, escrito por Vanessa Fidalgo, conta a origem de várias localidades cujos nomes são uma ode à cultura popular portuguesa.

Vanessa Fidalgo nasceu em Lisboa a 15 de maio de 1978. Licenciada em Comunicação Social, tem no jornalismo a sua principal ocupação desde 1997. Atualmente, coordena o programa Língua Mãe (CMTV), realizado em parceria com a Sociedade Portuguesa de Autores.

A VISÃO extraiu a parte dedicada aos nomes “com bolinha”, que explicam os nomes das terras mais obscenos de Portugal:


A malandrice é apanágio do génio popular. apesar de haver quase sempre uma explicação lógica e razoável para a maioria das localidades com nomes de gosto “duvidoso”, as segundas intenções espreitam em qualquer comentário e dão azo a muitas piadas. uns respiram fundo e enchem o peito de orgulho, outros ficam com os nervos em franja e até preferiam mudar o nome à terra que os viu nascer. certeza, porém, há só uma: há certos cantos de portugal que só são famosos por causa destes nomes!

Picha

Com pouco mais de 50 habitantes, distribuídos por algumas dezenas de habitações, a aldeia de Picha, em Pedrógão Grande, tem muito provavelmente um dos nomes mais difíceis de digerir neste bizarro mapa de Portugal.

Não obstante tal designação, Picha é um lugar bonito, onde a maioria da população vive da indústria florestal. O que poucos sabem é que este topónimo teve precisamente origem na predominância dessa nobre atividade económica, mais concretamente na recolha da resina do pinheiro, a qual foi durante vários anos a principal fonte de subsistência da aldeia. Durante séculos, a cada pinheiro é acoplado um recipiente onde a resina vai caindo, gota a gota, e que normalmente é fixo no pinheiro com um prego, e que dá pelo nome de… picha!

Ao longo dos tempos, o significado original quase se perdeu, sobretudo porque os próprios resineiros começaram a evitar usar a palavra, optando por usar sinónimos mais conhecidos e sem conotação malandreca, como púcaro, vaso ou caneco.

A população da aldeia é, atualmente, bastante diversificada, integrando desde uma geração mais velha e hoje maioritariamente na reforma, a jovens famílias naturais da terra ou que para lá se mudaram em busca de melhores ares e até mesmo um cidadão inglês que resolveu escolher este lugar para viver em sossego e em comunhão com a natureza a sua velhice.

De tantas vezes serem referidos e apontados no mapa, os pichenses já se habituaram às perguntas dos forasteiros sobre tão invulgar e brejeira toponímia. Habituaram- -se aos trocadilhos e às piadas quando a conversa passa pela morada, mas reagem com sentido de humor. E até houve quem o quisesse perpetuar no seu próprio negócio. É o caso de um certo restaurante na zona baixa da aldeia, junto à estrada nacional n.º 2, chamado Café da Picha. Famoso pelo nome, mas também pela chanfana e pela simpatia dos proprietários.

É por lá que se conta uma história que ilustra bem o efeito que o nome da terra tem sobre os forasteiros. “Um dia houve aqui um grande nevão e a estrada da Picha ficou intransitável. E houve um rapaz, novito até, que ficou aí preso. E ligou para a mulher: Estou? Estou preso na Picha. E ela desligou. E ele ligou de novo: Amor, estou na Picha. E ela voltou a desligar. E tive de ser eu a explicar à senhora que era mesmo verdade, que há uma localidade chamada Picha e que ele estava cá preso”, contou Manuel José, numa reportagem da Rádio Observador.

Mas também houve quem quisesse trocar a tabuleta que indica o desvio para entrar na localidade por outra menos pecaminosa, mais concretamente Nossa Senhora do Carmo, que é a Santa Padroeira da Terra. O assunto chegou a andar de mãos em mãos, para que fossem recolhidas as devidas assinaturas mas, afinal, concluiu-se que os pichenses gostam de ser da Picha, pois, apesar das piadas, nem metade assinou o tal papel! E assim ficou Picha até hoje.

Panasco

Do mapa do concelho de Torres Vedras faz atualmente parte a aldeia de Nossa Senhora da Glória, mas o que poucos sabem é que esta nem sempre se chamou assim!

Antes, a terra era conhecida como Panasqueiro, por culpa de uma erva muito comum que cresce na região, o panasco. Na verdade, e segundo rezam os manuais de botânica, trata-se de uma planta herbácea, muito comum e de origem espontânea no território português, que pertence à família das gramíneas e que é muito apreciada por pequenos mamíferos, o que não foram atributos suficientes para tornar Panasqueiro um nome muito apreciado pelos moradores.

Segundo consta, para a maioria dos que lá viviam, era difícil admitir perante amigos, familiares ou colegas de trabalho que se tinha vindo do Panasqueiro. A revolta popular não se fez esperar e, em 1937, por iniciativa de José Maria Baltazar – que promoveu um abaixo-assinado para dar andamento à mudança – a terriola foi rebatizada e acabaram-se as piadinhas, as zangas e as confusões!

Colo do Pito

Fica em Monteiras, Castro Daire, no noroeste da Beira Alta, e é uma das pérolas mais faladas da toponímia nacional.

A história da aldeia de Colo do Pito, porém, nada tem de brejeiro nem se escreveu com segundas intenções. Em boa verdade, o nome tem origem no latim: os romanos que invadiram e colonizaram a Península Ibérica acharam o lugar tão belo que lhe chamaram Colum Pictum que, em abono da verdade, significa ‘colina pintada’.

Só que a língua foi mudando ao longo dos séculos, adaptando-se mais à fala do povo do que aos requintes linguísticos, e de colum pictum a Colo do Pito foi, digamos, um pulinho, que até aos dias de hoje dá muito que falar.

As gentes da terra – são cerca de duzentos os seus habitantes – não se importam. “De outra forma”, garantem, “ninguém saberia que existiam” algures em Portugal.

Praia da Rata

A Praia da Rata é uma pequena enseada frente ao edifício do antigo hotel Estoril-Sol, no Monte Estoril, que, até há algumas décadas, era a praia exclusiva dos hóspedes.

Ao longo do tempo, foram várias as tentativas para rebatizá- la como Praia das Moitas, mas não pegou. E a justificação para as “ratas” nem parece coisa digna da linha de Cascais: deve-se aos roedores que por ali deambulavam em abundância devido aos antigos esgotos que desaguavam em pleno areal.

Ao menos, hoje, o problema está sanado, pois a água está limpa e a praia é aberta a todos. Ou melhor, aos que conhecem a forma de lá chegar. Situada junto ao espaço pedonal, a meio caminho entre Cascais e o Monte Estoril, a praia não tem estacionamento para automóveis, sendo apenas acessível por via pedonal ou de bicicleta.

O que ninguém conseguiu ainda apagar é a piada comum entre veraneantes: “Vou apanhar sol na Rata.”.

Mas esta não é a única Rata famosa do país. Lá para os lados de Aveiro, junto à localidade de Eirol, existe o lugar de Fonte da Rata e a Ponte da Rata. Para o nome da terriola parece não haver explicação, mas a ponte partilha com Cascais a invasão de roedores.

Existem várias teorias sobre o nome mas uma delas diz precisamente que, quando estavam a projetar a estrutura, uma ratazana atravessou o rio a nado de um lado ao outro, batizando o projeto.

A edificação original, construída para ligar as localidades de Eirol e Almear, fazia parte da estrada que ligava Aveiro a Águeda. Foi desativada e demolida em 2002, dando lugar a uma nova ponte, mas também esta, curiosamente, continuou a ser conhecida por Ponte da Rata.

Vale da Rata

Por conta da desertificação que se abateu sobre o Alentejo, em Vale da Rata, lugar do concelho de Almodôvar, já quase não resta ninguém para contar a história de tão intrigante e maroto nome. A muito custo, um repórter do jornal online O Observador, lá conseguiu achar a D. Maria, senhora de noventa e muitos anos, sem papas na língua, que não se inibiu de falar das ratas:

“Oh, isso é muito antigo. Aquilo era um vale, não vivia lá ninguém, não tinha nada, e quando as primeiras pessoas foram para lá construir casas, contava-se, tinham problemas com os ratos, que atacavam a comida e as plantações. E ficou o Vale da Rata, contou Maria, ao portão de sua casa, a fazer sombra com a mão na testa, de olhos semicerrados, que o sol ia baixando.”

Ela, como o sobrinho Zé, nunca tiveram problemas com o nome do lugar onde cresceram, de onde são naturais. Mas outras gerações sim. “Vou-lhe contar uma história: certo dia o meu neto foi sair à noite para Almodôvar e conheceu uma moça. E ela perguntou-lhe de onde ele era. Ele respondeu: ‘Sou do Vale da Rata’. A moça desatou a rir e ele, chegado a casa, muito envergonhado, disse para a mãe: ‘Nunca mais digo a ninguém de onde sou’.”

Escusado será dizer que a moça escapou-lhe e o idealizado namorico nem chegou a começar. Hoje, é apenas uma história que os moradores contam, com algum desdém até, e pouco ou nada incomodados com os sorrisos e as piadas que a placa a indicar o desvio na estrada que vai dar a aldeia costuma provocar….

Bicos

Não deixe a imaginação voar já para onde não deve… Bicos, freguesia do concelho de Odemira, surgiu precisamente no ponto de união de quatro grandes herdades. Ora aí foi erguido um monte, ao qual se deu o nome de Bicos da Ponta, em alusão ao encontro de territórios. Em redor do monte, desenvolveu-se a atual povoação, elevada a freguesia em 1988.

Albergaria das Cabras

Mais um nome maroto, com uma explicação bastante corriqueira. Albergaria das Cabras é uma localidade da freguesia de Nossa Senhora da Assunção, concelho de Arouca, que deve o seu nome à obra e graça de D. Mafalda, primeira rainha de Portugal, que resolveu mandar ali construir um albergue para acolher pessoas doentes, junto à atual igreja matriz. No entanto, como existiam outros abrigos do género em povoações vizinhas, os daquele tempo não estiveram com meias medidas e aproveitaram o facto de muitos dos que ali moravam se dedicarem à criação de caprinos para batizar o abrigo como “o das cabras”, simplesmente pela necessidade de o distinguirem dos demais… para azar de quem, graças a este espírito pragmático, ficou para sempre com este nome inscrito na certidão de nascimento.

Pega

O nome desta localidade da freguesia da Campanhã, Pega, na cidade do Porto, advém muito provavelmente da palavra pelagus que, segundo os linguistas, serve para designar ribeiro, rio ou riacho. Mas há contradições. Outras teorias, como a que foi defendida pelo cónego Arlindo da Cunha em Os Tecidos na Toponímia, admitem que Pega vem de pego, ou seja, a tarefa de curtir o linho.

Coito

Uma visualização rápida pelo mapa de Portugal permite chegar a uma conclusão óbvia: este é um país de coitos. Coito dá nome a várias localidades espalhadas pelo território (como, por exemplo, em Tomar e em Alcoutim) e da palavra formaram muitas outras variações: Fonte de Coito (também em Tomar), o Monte do Coito Grande (Almodôvar), Vila Nova de Coito (Santarém), Moinhos do Ribeiro do Coito e até a povoação de Nossa Senhora do Coito (em Gouveia), o Coito da Enchacana (Rosmaninhal). Mas desengane-se quem pensa que a inspiração veio do desejo carnal. Coito é na realidade couto, que significa terra ou território de alguém ou terra que se distingue por uma qualquer característica singular (ex. Couto de Baixo e Couto de Cima, ambos no distrito de Viseu).

O investigador e arqueólogo Manuel Sabino Perestrelo, num artigo publicado no jornal O Interior, sobre a origem do culto a Nossa Senhora do Coito, deixa bem explícita esta relação entre o conceito de propriedade e a origem etimológica da palavra, que surge desde os tempos da formação do território português.

“Na pequena povoação de Nabais (concelho de Gouveia), localizada em plena vertente norte da serra da Estrela, a caminho de Folgosinho, realiza-se uma festa na última semana de maio em honra de Nossa Senhora do Coito. Curiosamente, uma capela de Nabainhos, freguesia de Melo, construída nos séculos xv ou xvi tem como padroeira a Senhora do Coito. Como se terá formado este culto? Qual terá sido a sua origem?

Embora se possa pensar em explicações mágico-religiosas relacionadas com antigos rituais de fertilidade, a origem deste nome será meramente profana. Estará relacionado com a existência de uma propriedade senhorial com certos privilégios. Com efeito, a aldeia de Nabais seria, na Idade Média, um couto, ou seja, uma terra imune pertencente a um fidalgo. E o maior fidalgo da região na Idade Média era o senhor de Melo, uma povoação vizinha de Nabais, terra de Vergílio Ferreira. No século xiii, em pleno reinado de D. Afonso II, a povoação foi doada ao homem que viria a fundar a casa nobre de Melo, o cavaleiro D. Mem Soares de Melo. Junto à povoação edificou o seu paço cujas ruínas ainda podem ser vistas na encosta da serra.

As cartas de couto eram concedidas pelos reis aos membros da nobreza, aos mosteiros ou às igrejas. O proprietário de uma terra coutada podia exercer o domínio pleno sobre o terreno e sobre os homens relativo à justiça, à cobrança de impostos entre outros. As cartas de couto foram muito frequentes entre os séculos xi e xiii e os funcionários reais estavam proibidos de entrar nessas terras, os moradores estavam isentos do servir no exército real ou de pagar qualquer multa ao fisco real.

Em geral, um couto correspondia à área de uma paróquia como parece ter sido o caso de Nabais. A tradição oral popular terá identificado o nome da senhora da paróquia com a natureza jurídica da terra onde se invocava a senhora. A palavra com origem na palavra latina cautum (guardado, garantido) passou para o português como couto, coto ou coito. Muitos outros coitos foram semeados pela Beira Interior. Por exemplo, na freguesia do Salgueiro, concelho do Fundão, encontramos o Coito de Cima e o Coito de Baixo. Nas proximidades da Guarda, em Santana da Azinha, outra propriedade aparece designada como Coito.

Voltando ao coito de Nabais, a história da aldeia não se esgota no coito medieval. Os sinais presentes em muitas casas da zona antiga assinalam a forte presença judaica e cristã-nova nesta povoação serrana desde tempos muito recuados. As inúmeras cruzes gravadas nas pedras de entrada das habitações assinalam que ali havia cristãos e não marranos (….).”

Tendo em conta esta explicação, não há nada que enganar: o Monte do Coito Grande inseria-se em tempos numa grande propriedade rural, enquanto Fonte do Coito era, claro está, a nascente de uma grande quinta tomarense onde antigamente se ia buscar água para matar a sede!

Porca

Perto de Ponte de Lima, no lugar da Porca, há quem não se conforme com o nome da terra que lhe coube em sorte. Tanto que, quem precisa de encontrar a terra, costuma deparar-se com dificuldades: uns dizem ser “mais acima”, outros garantem que fica “mais abaixo”, mas certo e sabido é que ninguém quer ser da Porca.

Esforços redobrados e lá se encontrou alguém disposto a dar uma digna explicação: “A minha avó contava-me que era uma mulher muito porca que aqui vivia, que não lavava a roupa ou que não se lavava ela, não sei. Já não era do tempo da minha avó sequer – e ela já morreu há 30 anos. Mas a história que eu sei é essa. Eu tenho três tias-avós, todas com os seus 90 anos, que vivem numa daquelas primeiras casinhas à entrada da Porca. É a segunda à direita, mesmo na curva. Batam lá à porta que elas lhe contam esta história melhor do que eu”, sugeriu a interlocutora aos repórteres do site O Observador.

Anais
Desengane-se quem pensa que houve malícia na escolha do topónimo de Anais para batizar uma freguesia do concelho de Ponte de Lima. Muito pelo contrário: esta terra é santa!

Tal como em muitas outras de Portugal, o nome deriva da sua padroeira, Santa Marinha de Anais. Nas inquirições (registos administrativos) no reinado de D. Dinis, em 1290, encontra-se a primeira referência à existência da localidade de Santa Maria de Asnães, na altura integrada na chamada Terra de Penela.

Ancas

Ancas existe desde o século xii, altura em que D. Afonso Henriques terá doado este espaço – na altura, uma propriedade – a D. Marinha Soares.

Mas nada na história oficial indica que esta senhora fosse dona de uma silhueta impactante! Na verdade, o nome desta localidade de Anadia, conhecida pela sua corrida anual de burros em agosto, terá resultado de uma evolução natural da grafia ao longo de quase 900 anos – de Enchas passou a Encas, chegando nos últimos séculos a Ancas.

Pau Gordo

Mais um nome que não lembra ao diabo: Pau Gordo. E nem sequer é uma aldeia perdida no interior, mas com uma localidade do concelho de Cascais.

Segundo quem lá mora, os comentários e as piadas são frequentes, bem como as confusões: de quem não fixa o nome da terra à primeira, ouvem-se enganos ainda mais interessantes: “pau grosso”, “pau feito” e outras variações pecaminosas, segundo uma reportagem do jornal I, publicada a 25 de janeiro de 2017 e assinada por Joana Marques Alves. Mas segundo o livro Toponímia do Concelho de Cascais não há nada de lascivo por estas paragens, bem pelo contrário: o nome faz alusão à vegetação, concretamente a um pinheiro especialmente corpulento que existiu na terra noutros tempos.

Chiqueiro

Entre as belíssimas e tradicionais aldeias de xisto, existe pelo menos uma que se distingue pelo nome caricato. Trata-se de Chiqueiro, que nos anos 1940 chegou a ter 45 habitantes dos quais agora restam apenas dois, um casal, na única casa ainda habitada da aldeia. A razão de ser do nome também é fácil de contar: a criação e a matança de porcos era a principal fonte de subsistência do lugar, por isso, quem o batizou não foi mais longe… e chiqueiro a aldeia ficou!

Beco do Olho do Cu

Beco do Olho do Cu. Custa a acreditar que exista mesmo um sítio com tal nome, que mais parece um insulto ou uma piada de mau gosto, mas o lugar de Nespereira da Beira Alta, em Gouveia, desafia todas essas probabilidades.

Não se sabe que demónio tomou conta da alminha que escolheu este nome para uma rua onde mora gente (mas provavelmente será algum inimigo!) mas há algumas décadas, quando mudou o presidente da junta, e todo o restante executivo, considerou-se que o nome Beco do Olho do Cu não dignificava a terra e numa das reuniões da nova assembleia decidiu-se retirar a palavra cu, passando a rua a designar-se apenas Beco do Olho. Curiosamente, a decisão não chegou a bom porto e, desta vez, por causa da iniciativa popular. Colocou-se por cima da velha placa uma novinha em folha, com o nome reformulado pela sensatez. Passado uns dias, durante a noite, uns mariolas resolveram desenterrar o cu, que as autoridades tornaram a tapar mas que acabou novamente destapado. Após meses de tapa e destapa, venceu a guerrilha e, hoje, lá continua a existir, em Gouveia, um Beco do Olho do Cu. Mas não é caso único no país…

Betesga do Olho

Uma pequena viela de Chaves quase tira a exclusividade ao brejeiro beco de Gouveia. Na verdade, durante muitas e longas décadas, os flavienses trataram-na como Rua do Olho do Cu, apesar de a toponímia oficial a anunciar somente como Betesga do Olho. Mas a razão é simples, segundo a Toponímia Flaviense, de Firmino Aires. O livro desvenda que dantes “existia ali uma taberna conhecida como Taberna do Olho do Cu, que costumava ter sempre vinho apreciado pelos bebedores. Era propriedade de Artur Rogério Freire, onde vendia o bom vinho da sua quinta do Pedrete, em Casas-dos-Montes. Deu-se o citado nome como lembrança para os vindouros daquela patusca taberna, lá existente”. Pelo menos neste caso não restam dúvidas sobre os efeitos de uns copitos a mais na sui-generis (e nem sempre ilustre!) toponímia de Portugal.

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