Por um sonho mais feliz de cidade
Mais oxigênio e cidadania, menos poluição e violência. Os moradores das metrópoles lutam por dignidade e bem-estar
Liliane Oraggio Cocchiaro
Bogotá, Porto Alegre, Curitiba: estão na América Latina três metrópoles que deram a volta por cima no combate ao caos e à violência urbana e, com iniciativas brilhantes e pioneiras, vêm melhorando a vida de seus cidadãos - que se engajaram com tudo nos projetos e dão o exemplo para o mundo
Um fato inédito na história vai desafiar cada um de nós: em 2008, mais da metade da população mundial viverá em cidades, segundo relatório recente do Fundo de População das Nações Unidas. A cada ano, 60 milhões de pessoas - o e quivalente a duas cidades como Nova York - saem do campo e partem em busca de sonhos e realizações nas metrópoles. Em breve, seremos 3,4 bilhões de habitantes urbanos, com necessidade de ar puro, segurança, moradia, saneamento, saúde, educação e transporte. Pode ser caótico - e quem vive em São Paulo já sabe o que é fazer parte do caos. Houve um crescimento desordenado para abrigar seus 19 milhões de habitantes (12 milhões na capital e 7 milhões na região metropolitana). Essa massa, formada por paulistanos da gema e gente que chega em busca de oportunidades, espreme-se no trânsito, sufoca com a poluição, é tiranizada pela pressa e pelo medo da violência, pelas grandes e pequenas agressões diárias.
Esse cenário sombrio vem despertando a vontade de fazer alguma coisa para melhorar a vida nas cidades. Uma metrópole latino-americana deu o exemplo para o mundo: Bogotá. "Em 12 anos, a capital da Colômbia, que tem 8 milhões de habitantes, deixou de ser um lugar violento e caótico", conta a socióloga Maria Alice Setúbal, de São Paulo, que já morou lá. "Os três últimos prefeitos mostraram como solucionar os enormes problemas e tornar a cidade sustentável em termos de transporte, poluição e integração social."
Uma rede de ações foi responsável pela mudança positiva em Bogotá. Para combater a violência, o orçamento para segurança pública dobrou, foram fixadas metas jurídicas claras de combate ao crime, com punições severas para a corrupção na polícia. Depois, veio a lei seca: os bares fechavam à 1 da manhã para evitar os inúmeros crimes ligados ao alcoolismo. Resultado: em 12 anos, as mortes violentas reduziram à metade. Essa vitória fica mais retumbante quando se pensa que, não faz muito tempo, o nome da Colômbia era associado apenas ao narcotráfico.
A partir de 1998, a reforma de Bogotá se intensificou: foi aberto 1 milhão de metros quadrados de novas praças e áreas de lazer. Muitas ocuparam o lugar de cortiços e pontos de tráfico. A prefeitura investiu pesado em transportes coletivos eficientes. Seguindo o modelo de Curitiba, a metrópole implantou o Transmilênio, sistema de corredores de ônibus, que diminuiu o trânsito e reduziu a emissão de poluentes. Nas áreas centrais, foi proibido o tráfego de veículos e houve uma campanha de incentivo às caminhadas e ao uso de bicicletas. As calçadas foram ampliadas e hoje a cidade conta com 330 quilômetros de ciclovias, a maior rede do mundo - com isso derrotou a poluição.
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