domingo, 23 de maio de 2021

Os extremos climáticos podem aumentar a morbilidade por AVC

Maio é considerado o mês do coração e sendo este a máquina que faz o nosso corpo funcionar é imprescindível estar atento aos seus sinais de fraqueza, pois quase sem se aperceber, é continuamente afetado e influenciado no seu dia-a-dia pelas condições climáticas, tornando-se vulnerável
O clima reflete-se significativamente no bem-estar do ser humano. De entre os vários elementos climáticos, a temperatura é, provavelmente, aquele que maior influência exerce no conforto do ser humano, sendo de salientar o grupo dos idosos, sobretudo o que experienciam situações de desfavorecimento económico e exclusão social, com pronunciada limitação no acesso aos cuidados de saúde.

De um leque diversificado de possibilidades de patologias, cuja ocorrência ou agravamento se poderá relacionar com o contexto climático, as doenças do foro cardiovascular têm sido objeto de estudo por diversos cientistas, o que não é despropositado, pois segundo a Organização Mundial da Saúde, nos países desenvolvidos uma das principais causas de morte são as doenças não transmissíveis, entre elas, as doenças cardiovasculares.
Proporção de óbitos por doenças cerebrovasculares, doença isquémica do coração e enfarte agudo do miocárdio, no país, 2009-2019. Fonte: INE

Em Portugal, o INE em 2019 fez um estudo complexo sobre as causas de morte, onde evidencia que as doenças do aparelho circulatório estão em primeiro lugar como causa de morte e, complicações como os acidentes vasculares cerebrais (AVC), a doença isquémica do coração e o enfarte agudo do miocárdio – o vulgarmente designado “ataque cardíaco” – representaram 3,8% da mortalidade total e quase 60% das mortes por doenças isquémicas do coração.

Este estudo refere também que as mulheres morreram mais de doenças cerebrovasculares, como o AVC, enquanto os homens foram as maiores vítimas das doenças do coração. E, conclui que geralmente estas complicações vitimam os idosos, sendo a média de idades superior a 81 anos.
Taxas brutas de mortalidade por 100 mil habitantes antes dos 65 anos, por grupo etário: doenças cerebrovasculares e doenças isquémicas do coração. Fonte: INE, 2019

Conforto bioclimático

Segundo vários autores, o corpo humano é um sistema termodinâmico que produz calor e interage continuamente com o ambiente para conseguir o balanço térmico indispensável para a vida. Esta exposição resulta da ocorrência da termorreceção, onde os diferentes níveis de energia térmica são percebidos pelo organismo humano, seguindo-se a sensação térmica que corresponde à consciencialização da mesma (se está frio ou se está calor); a satisfação (ou desagrado) com a referida ambiência é expressa em termos de conforto bioclimático.

O conforto térmico, sendo uma sensação humana, torna-se subjetivo, pois é um estado mental que expressa a satisfação do homem com o ambiente térmico que circundam e das características individuais, nomeadamente do sexo, da idade, da raça, dos hábitos alimentares, da altura, do peso, entre outras, sendo a temperatura do ar a principal variável do conforto térmico.

Os eventos térmicos extremos que tem ocorrido nos últimos anos, cada vez com mais frequência e intensidade, são já reconhecidos pelas autoridades mundiais e nacionais de saúde como geradores de impactes negativos para a saúde humana, e como causa, um aumento da mortalidade nesses períodos. Os impactes na saúde ocorrem especialmente nos grupos mais vulneráveis como os idosos e doentes crónicos.

Segundo um estudo realizado pela geógrafa Sofia Pinto, as temperaturas extremas (calor ou frio) influenciam e agravam a ocorrência de enfarte agudo do miocárdio nos idosos, devido principalmente à sua condição física e natural (ser-se um idoso) com a soma de outros determinantes de risco que, presenciando, um evento extremo de temperatura agrava a patologia.

Contudo, comparando os dois períodos (frio e calor) conclui que existe uma maior clareza de que é no frio intenso onde ocorre os maiores casos de morbilidade por enfarte do miocárdio, inclusive um maior registo de mortalidade face ao calor extremo.

A maioria das reações no calor extremo é a quebra de tensão ou desfalecimento que, por si só, não gera um “conflito” no funcionamento cardíaco como acontece no frio, onde o resfriamento e hipotermia são as reações mais comuns, já que para regularizar a temperatura corporal o coração tem um esforço acrescido em que pode criar stress e isso leva a um enfarte do miocárdio. Além de que, clinicamente, um indivíduo geneticamente com problemas cardíacos não deve expôr-se ao frio, pelos efeitos negativos e graves que resulta.

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