sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Microplásticos detetados em nuvens suspensas no topo de duas montanhas japonesas


Os microplásticos estão presentes em todo o lado. Medem menos de 5mm de comprimento e são encontrados nos locais aparentemente mais inesperados, nas profundezas dos oceanos, em corpos de pinguins na Antártida e no gelo do Ártico. Representam um sério perigo para a vida selvagem e humana.

Agora uma nova investigação detetou-os num novo local alarmante, em nuvens suspensas no topo de duas montanhas japonesas, o Monte Fuji e o Monte Oyama. O artigo foi publicado na Environmental Chemistry Letters e os autores acreditam que é o primeiro a verificar a presença de microplásticos nas nuvens.

Mais de 10 milhões de toneladas de plástico entram anualmente no oceano vindos da terra e os organismos marinhos ingerem-nos inadvertidamente, podendo potencialmente obstruir o trato digestivo e acumular materiais perigosos nos seus tecidos internos.

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São também são encontrados em ecossistemas terrestres, com 79% dos resíduos plásticos globais depositados em aterros, devido à sua natureza persistente, que pode durar centenas de anos. A sua acumulação no solo pode reduzir as taxas de germinação de sementes e altura dos rebentos, bem como desencadear mudanças na capacidade de retenção de água e na própria estrutura do solo.

No entanto, são limitadas as análises quanto à presença de microplásticos transportados pelo ar e às suas consequências.

Uma realidade desconcertante
Os microplásticos são altamente móveis e podem viajar longas distâncias no ar e no meio ambiente. A troposfera é uma via importante para o transporte de longo alcance de poluentes atmosféricos devido à forte velocidade do vento. Já foi anteriormente observado que os microplásticos transportados pelo ar também são transportados na troposfera e contribuem para a poluição global.

A maioria dos microplásticos transportados pelo ar são maiores do que as partículas com diâmetro inferior às partículas finas em suspensão, como o PM 2,5, altamente prejudiciais à saúde. As suas fontes potenciais são diversas, como a poluição rodoviária, aterros sanitários, desgaste de pneus e travões, práticas agrícolas e vestuário.

Partículas microplásticas foram descobertas em pedras de granizo
O oceano também pode transferir microplásticos transportados pelo ar para a atmosfera através da espuma marinha, ou aerossóis, que são libertados quando as ondas rebentam ou as bolhas no oceano explodem. Os autores, aliás, concluem, através da análise da trajetória retroativa no cume do Monte Fuji, que estes tinham, precisamente, origem no oceano.

Como consequência, os investigadores sugerem que os microplásticos transportados pelo ar podem atuar como núcleos de condensação de nuvens e como partículas de núcleos de gelo durante o transporte na troposfera e na camada limite atmosférica, promovendo assim, potencialmente, a formação de nuvens.

Isto é, eventualmente, um problema, uma vez que os microplásticos se degradam muito mais rapidamente quando expostos à luz ultravioleta na alta atmosfera e emitem gases com efeito de estufa. Uma elevada concentração destes microplásticos nas nuvens em regiões polares sensíveis poderia prejudicar o equilíbrio ecológico, escrevem os autores.

“Se a poluição do ar pelo plástico não for atacada de forma proativa, as alterações climáticas e os riscos associados podem tornar-se numa realidade, causando danos sérios e irreversíveis no futuro”.

Os investigadores descobriram níveis preocupantes de microplásticos nas nuvens que circundam as duas montanhas japonesas. As amostras foram recolhidas a uma altitude entre os 1300 e 3776 metros, e revelaram nove tipos de polímeros aos investigadores de Waseda.

Foram detetados vários tipos de plásticos, cerca de 6,7 a 13,9 pedaços por litro, e entre eles um grande volume de pedaços de plástico “amantes da água”, o que sugere que a poluição “desempenha um papel fundamental na rápida formação de nuvens, o que pode eventualmente afetar o clima geral”.

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