quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Morreu o cineasta Lauro António


JN 3.2.22
Morreu o cineasta Lauro António, aos 79 anos. Era professor, realizador, crítico de cinema e diretor de festivais. Tinha no filme "Manhã Submersa" a sua obra maior.

Nascido em Lisboa, a 18 de Agosto de 1942, Lauro António tirou o curso de História. Foi membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa e do ABC Cine-Clube, verdadeiras "escolas de cinema" da época, numa altura em que a Cinemateca tinha uma actividade muito limitada, a televisão não exibia muitos filmes e não existiam os chamados cinemas de arte e ensaio.

Do cine-clubismo para a escrita foi um passo, com a passagem por inúmeros jornais, revistas - foi director de "Isto é Espectáculo" e "Isto é Cinema" - programas de rádio e de televisão. Foi aliás após algumas temporadas a apresentar filmes na TVI que Herman José criou um "boneco" por si inspirado, o Lauro Dérmio, acentuando-se a sua peculiar pronúncia inglesa, na frase que ficou famosa: "let"s look at the traila"!

Conseguindo realizar o sonho de muita gente que escreve sobre cinema mas nunca teve coragem de o fazer, Lauro António passou à realização, no final da década de 70. As duas curtas-metragens "Prefácio a Vergílio Ferreira" e "Vamos ao Nimas" foram mesmo o balão de ensaio para a obra maior de Lauro António, "Manhã Submersa".

O filme, estreado em 1980, chegou ao mesmo tempo que outros títulos que almejavam também uma relação mais "pacífica" com o espectador comum, como "Cerromaior", de Luís Filipe Rocha, "A Culpa", de António Victorino d"Almeida" ou "Oxalá", de António-Pedro Vasconcelos. Um dos momentos altos, dos muitos altos e baixos que o cinema português tem vivido.

Lauro António seguiu carreira. Fez uma série de quatro "Histórias de Mulheres", para a RTP, e mais uma longa-metragem, "O vestido cor de fogo". Um projecto não realizado sobre Florbela Espanca ter-lhe-á retirado a vontade de fazer mais cinema. Mas tem continuado, de novo deste lado. No ensino universitário, na organização de festivais de cinema (Seia, Famalicão, Viana do Castelo) onde nem sempre o bom cinema chega.

Em maio de 2021, inaugurou em Setúbal a Casa das Imagens, projeto que resulta de uma doação que Lauro António fez à Câmara Municipal de Setúbal de cerca de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes, documentos e objetos relacionados com cinema e imagem.

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