Numa revisão científica publicada agora, na mesma semana em que decorre a Cimeira do Clima COP27, uma equipa com 70 cientistas, de 19 países, avisa que não há tempo a perder e é preciso agir rapidamente.
Se não forem dados passos para proteger os insectos face às consequências das alterações climáticas, isso irá “reduzir drasticamente a nossa capacidade de construirmos um futuro sustentável baseado em ecossistemas saudáveis e funcionais”, alerta este novo artigo, que analisou os resultados de pesquisas realizadas por todo o mundo.
Os autores do trabalho, publicado na Ecological Monographs, lembram que o aquecimento global e os eventos climáticos extremos já estão a pressionar algumas espécies de insectos rumo à extinção. E se nada for feito, as coisas só vão piorar. “Alguns insectos vão ser forçados a mudar para climas mais frios para sobreviverem, enquanto outros vão enfrentar impactos na sua fertilidade, ciclo de vida e nas interacções com outras espécies”, explica uma informação sobre a revisão agora publicada, divulgada pela Universidade de Maryland.
O problema é que essas “disrupções drásticas dos ecossistemas” podem reflectir-se nas pessoas, afirma Anahí Espíndola, um dos co-autores do artigo e ligado àquela universidade americana. “Precisamos de perceber, como humanos, que somos uma espécie entre milhões de espécies, e que não há razão para assumirmos que nunca nos vamos extinguir. Estas mudanças nos insectos podem afectar a nossa espécie de formas muito drásticas.”
Ondas de calor? Insectos estéreis
Entre os vários efeitos das alterações climáticas incluídos no âmbito desta revisão, está por exemplo o declínio de várias espécies de abelhões na América do Norte. “Os insectos de sangue frio estão entre os grupos de organismos mais afectados pelas alterações climáticas, porque a sua temperatura corporal e metabolismo estão fortemente ligados à temperatura do ar circundante”, explica Jeffrey Harvey, que liderou esta revisão.
“A mudança gradual na temperatura global à superfície impacta os insectos na sua fisiologia, comportamento, fenologia, distribuição e interacções com espécies”, descreve o mesmo investigador, ligado à Universidade Vrije de Amesterdão e ao Instituto de Ecologia da Holanda, citado num comunicado desta última instituição.
Outro dos exemplos avançados é o efeito das ondas de calor sobre as moscas-da-fruta, as borboletas e os besouros-da-farinha (géneros Tribolium e Tenebrio). Estas espécies conseguem sobreviver, mas ficam estéreis e incapazes de assumir uma das suas principais funções: a reprodução.
Quanto aos serviços de ecossistema que podem acabar afectados pelas alterações climáticas, a equipa avança com três exemplos. Desde logo, os insectos reciclam os nutrientes e são um alimento para outros seres que estão mais acima na cadeia alimentar, incluindo os humanos. Em segundo lugar, o grupo dos polinizadores – como as abelhas, as moscas-das-flores e as borboletas – assegura o fornecimento de uma parte importante da comida a nível mundial. Em contrapartida, só os ecossistemas saudáveis é que evitam o crescimento descontrolado de pestes e de insectos portadores de doenças.
“Ao longo do tempo, os insectos precisam de ajustar os seus ciclos de vida sazonais e a sua distribuição, à medida que o mundo aquece”, acrescenta Harvey. “No entanto, a sua capacidade para fazer isso é prejudicada por outras ameaças de origem humana, como a destruição de habitats e a fragmentação dos mesmos, e os pesticidas.”
A equipa acredita que ainda é possível aos insectos sobreviverem às mudanças no clima. E entre as formas de ajuda que colocam em cima da mesa, estão várias que dependem dos cidadãos comuns. Por exemplo, cuidar de uma grande diversidade de plantas silvestres, e também fornecer comida e áreas onde os insectos se consigam abrigar de eventos extremos. Outra tarefa importante: reduzir o uso de pesticidas e de químicos em geral.
“A uma escala maior, precisamos de lidar com as alterações climáticas. Os programas de ‘rewilding’ também necessitam de planear micro-ecossistemas, que se foquem na preservação de pequenos animais como os insectos”, sublinha o mesmo responsável, que conclui: “São pequenas criaturas teimosas e devemos estar aliviados por ainda haver espaço para corrigirmos os nossos erros. Mas precisamos mesmo de lançar políticas que estabilizam o clima mundial.”
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