quarta-feira, 1 de maio de 2024

Poema - Vampiro, de Charles Baudelaire


"Tu que, como uma punhalada
Invadiste meu coração triste,
Tu que, forte como manada
De demónios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado
Encontrar o leito ao ascendente,
- Infame a que eu estou atado
Tal como o forçado à corrente,

Como a seu jogo o jogador,
Como à garrafa o beberrão,
Como aos vermes a podridão
- Maldita sejas, como for!

Implorei ao punhal veloz
Dar-me a liberdade, um dia,
Disse após ao veneno atroz
Que me amparasse a covardia.

Mas não! O veneno e o punhal
Disseram-me de ar zombeiro
"Ninguém te livrará afinal
De teu maldito cativeiro

Ah! imbecil-de teu retiro
Se te livrássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!"

Charles Baudelaire

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