domingo, 8 de janeiro de 2023

No meio da natureza, Fabrizio Cardinali vive há 51 anos sem electricidade e nem pensa nos custos da energia

Fabrizio Cardinali vive de forma completamente autónoma há 51 anos, nas colinas de Verdicchio, em Itália. É uma das poucas pessoas na Europa despreocupadas com o aumento dos custos de energia.


Fabrizio Cardinali, 72 anos, não deseja as luzes brilhantes da cidade. Na realidade, não tem qualquer utilidade para a electricidade e há mais de meio século que vive sem estar ligado à rede.

Isto faz dele uma das poucas pessoas na Europa despreocupadas com o aumento dos custos de energia, neste Inverno.

Cardinali, cuja longa barba branca o faz parecer Karl Marx, o poeta Walt Whitman ou um Pai Natal magro, vive numa casa de pedra nas colinas da região vinícola de Verdicchio, perto de Ancona, na costa oriental do Adriático italiano.

 Fabrizio Cardinali, 72 anos, sentado na cozinha 

Fabrizio Cardinali na cozinha 

Por opção, não tem electricidade, nem gás, nem canalização interior.

"Não estava interessado em fazer parte do mundo como estava. Então, deixei tudo — família, universidade, amigos, a equipa de desporto e parti numa direcção completamente diferente", diz, sentado na cozinha a usar calças de bombazina remendadas. "Desistir de algo não é masoquista. Tu desistes de alguma coisa para conseguir outra mais importante."

Antes, vivia completamente sozinho

Agora, Fabrizio tem dois companheiros de casa, um galo, três galinhas e um gato numa comunidade a que chama "A Tribo das Nozes Harmoniosas".

Cardinali apanha azeitonas 

Os visitantes que procuram Cardinali e os seus amigos são aconselhados pelos habitantes da cidade mais próxima a seguirem o estreito caminho de terra que começa ao lado de um carvalho que hasteia uma bandeira de paz multicolorida.

Cardinali e os companheiros de casa, que apenas disseram chamar-se Agnese e Andrea, contam com um fogão a lenha para cozinharem e se aquecerem, e lêem com a ajuda de lâmpadas alimentadas a óleo de cozinha usado doado pelos vizinhos.

"Sinto-me privilegiada por ter a liberdade para escolher a minha liberdade", diz Agnese, 35 anos, que se mudou para ali há dois anos. Andrea, 46 anos, passa lá a semana, mas regressa a Macerata, a cerca de 50 quilómetros de distância, todos os fins-de-semana, para tomar conta da mãe.

 Agnese prepara o almoço na cozinha de madeira 

 Agnese, 35, Andrea, 46, e Cardinali almoçam juntos 

As "nozes harmoniosas" cultivam frutas e legumes, azeitonas para azeite, e abelhas para o mel. Uma cooperativa local vende-lhes sacos de leguminosas, cereais e trigo, que moem para fazer o seu próprio pão.

Quando é possível, trocam qualquer produção excedentária por tudo o que precisam.

Embora algumas pessoas o tenham apelidado de "o Eremita de Cupramontana", Cardinali diz que não é um eremita. Em vez disso, acredita que a vida é melhor vivida em pequenas comunidades.

 Cardinali quando fazia parte dos Carabiniere (polícia paramilitar) 

O primeiro conselho que dá a qualquer pessoa tentada a seguir o seu exemplo é: "Deitar fora o chamado telemóvel inteligente".

Cardinali percorre ocasionalmente curtas distâncias para visitar amigos, levar azeitonas a um lagar de pedra para produzir azeite e caminhar ou apanhar boleia até à cidade mais próxima para tomar um café com os habitantes locais ou visitar o médico.

"Vivo desta forma há cerca de 51 anos e nunca me arrependi. Com certeza, houve dificuldades, mas nunca me fizeram pensar que tinha feito a escolha errada ou deitado tudo a perder", diz. " De forma alguma.".
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2 comentários:

Carlos Faria disse...

Estes casos levantam outras questões: e se todos os europeus de repente mudassem para este estilo de vida? Seria ambientalmente viável, claro que não haveria consumo de petróleo, mais sobraria alguma árvore?
Porque se fala de fome em áfrica que se vê alastrar pelo campo, apenas vivem em equilíbrio com a natureza, quando esta não tem condições para uma comunidade de uma dada espécie, esta desaparece.
Idealismos, utopias, sonhos são lindos, o problema é que a realidade e a explosão demográfica são de facto aspetos ambientais que têm de ser equacionados de forma sensata e realista para ver se a humanidade dá a volta.

João Soares disse...

Ora nem mais. Em África fala-se muito em "reflorestá-la", estão muito investigadores tentando técnicas de agrofloresta, não concordo com as plantações transgénicas. Há também projectos de domesticação de alguns ruminantes selvagens e não a "importação de vacas". Um continente muito distópico. Inseguro, projectos pouco sólidos. Os habitantes não resistem e procuram o eldorado europeu. É um facto. Então o corno de África é uma situação humanitária e ecológica catastróficas.Na África Central domina a corrupção, estados ditatoriais e os habitantes comem de tudo. Rapidamente pode partir dali surgir epidemias ou pandemias.