A organização ambientalista quer uma moratória ao aumento da capacidade de produção dos pequenos aglomerados de madeira usados para aquecimento e o fim do financiamento público ao fabrico deste material.
A organização ambientalista Zero divulgou este sábado o primeiro “Barómetro Anual sobre Indústria dos Pellets em Portugal” no qual se evidenciam “dados preocupantes que colocam em causa a sustentabilidade na utilização de madeira na indústria para a produção de produtos de maior valor acrescentado”.
Num comunicado de imprensa em que sintetiza estes dados, a instituição salienta que “a curto prazo, o aumento na capacidade instalada e a pressão resultante do boicote da Europa ao gás e ao petróleo proveniente da Rússia irá levar os governos a priorizar outras formas de energia”. Isto levará a “um maior incentivo à utilização de biomassa” que “terá também um forte impacto climático”.
De acordo com o estudo, no país, o ano passado 26 fábricas produziram 815.000 toneladas de pellets que são os pequenos aglomerados de madeira para aquecimento e produção de energia. Para isso, foram necessárias mais de 1,5 milhões de toneladas de madeira. A maior parte, 510.000 toneladas, foram para o estrangeiro, sobretudo para “centrais a carvão que foram, entretanto, convertidas e outras centrais de queima de biomassa para produção de eletricidade no Reino Unido, na Dinamarca e na Holanda”.
O total da capacidade total de produção instalada até agora é superior a 1,7 milhões de toneladas por ano que implicariam três milhões de toneladas de madeira. A maior parte são pinheiros-bravos provenientes de operações florestais. Há ainda uma “pequena fração”, cerca de 25% de “subprodutos de serração”.
Este ano, alertam os ambientalistas, pode acontecer um “aumento significativo na produção” já que que quatro fábricas entram em funcionamento ou reabrem. Estas têm uma capacidade combinada de quase 600.000 toneladas/ano, representando um aumento de 50% da capacidade nacional de produção de pellets.
A análise descobriu também que, desde 2008, as fábricas receberam “pelo menos 100 milhões de euros de financiamento público” para exportarem o produto para o norte da Europa. Uma venda de “baixa importância estratégica”, considera-se, já que é responsável por apenas 3% do valor de exportação dos produtos à base de madeira de pinho.
A pouca importância estratégica choca com o forte impacto florestal. Com a floresta de pinheiro-bravo “em declínio acentuado”, “a quantidade de madeira de pinho retirada das florestas será superior à que pode ser extraída de forma sustentável, exigindo à indústria a importação de grandes quantidades, sobretudo de Espanha, para suprir a escassez de matéria-prima para as indústrias ligadas ao Pinheiro-bravo”.
Contraria-se ainda as alegações desta indústria de que a queima de pellets seria baixa em carbono e sustentável: nas contas das empresas “as emissões provenientes da combustão das pellets são completamente ignoradas” e “as emissões de carbono por unidade de energia produzida associadas à queima de madeira são superiores às associadas à queima de carvão”. Para além disso, “o tempo que leva a compensar estas emissões através do efeito sumidouro é muito variável dependendo do tipo de madeira que está a ser queimada, sendo necessário esperar décadas até que a floresta volte a estar restabelecida”.
O sistema é assim insustentável: “a indústria da produção de pellets, coloca, de forma muito evidente, uma grande pressão na utilização dos recursos florestais, tendo como forte aliado uma indústria do norte da Europa francamente subsidiada sob o chapéu de uma produção de energia renovável”.
A Zero recomenda que se aumente a transparência nesta indústria porque as empresas não disponibilizam dados precisos sobre a produção total de pellets e a quantidade e tipologia de madeira utilizada, que se imponha uma moratória ao aumento da capacidade de produção, que se acabe com o seu financiamento público e que se aumente o investimento público na gestão da floresta de pinheiro-bravo.
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Um estudo recente nos EUA demonstra que até mesmo as pellets de madeira produzidas a partir de galhos e ramos proveniente de podas têm impactes negativos no clima durante um período superior a 40 anos.
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