O músico e produtor britânico, consumado que foi o Brexit, despede-se dos “amigos” europeus – na esperança de os voltar a encontrar “numa geração ou duas” –, apontando críticas ao Reino Unido e fazendo soar alarmes para o exterior. “A revolução aconteceu e estávamos alapados a ver Netflix”, recordou aos britânicos. A quem fica na UE, pede somente: “Não façam os mesmos erros estúpidos que nós”.
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Britânico de Woodbridge, cidade de 11. 385 habitantes no leste de Inglaterra, músico, do rock nos Roxy Music ao minimal ambiental mais a solo, produtor, de David Bowie aos Talking Heads, de Paul Simon aos Slowdive, de Brian Eno se pode dizer que é uma “autoridade”.
E puxou Brian Eno dos seus galões para, no site Democracy in Movement 2025 (do qual fazem parte figuras como Julian Assange, o ex-ministro grego Varoufakis ou o fundador do Livre Rui Tavares), se despedir dos “amigos europeus”, agora que o Brexit se consumou e o Reino Unido não faz já parte da União Europeia.
O músico britânico começa por garantir que, embora o Reino Unido tenha decidido de forma “louca, infantil e provavelmente suicida abandonar a Europa”, ele, Eno, continua a “sentir orgulho de ser europeu e da grande experiência social que a União Europeia representa”. “Na minha cabeça, ainda estou na Europa e é lá que vou ficar. Para a Inglaterra está tudo acabado e as gerações vindouras avaliarão os resultados”, garante em seguida.
A carta serve igualmente para Brian Eno dizer aos europeus “o que aconteceu à Inglaterra”. E o que é que aconteceu? O que é que está na origem do Brexit? “Uma imprensa corrupta e enganadora, pertença de umas poucas pessoas muito ricas; uma ilusão absurda e bem alimentada sobre o passado imperial de Inglaterra; uma imprensa que vive de atenção e de cliques e, por isso, amplia as hipóteses políticas de entertainers como Donald Trump e Boris Johnson; um ecossistema de redes sociais que conduz à polarização, em vez de compromisso; e uma série de líderes indistintos que aparentemente nada sabiam sobre estes problemas sistémicos”, explica.
Mas outra razão houve, acima de todas, segundo o músico, que tornou o Brexit uma realidade. A desatenção dos privilegiados. “Aqueles que, de entre nós, se consideram liberais ou socialistas ou democratas, não estiveram atentos. A maioria não reparou que, para a classe trabalhadora, as condições se agravavam de ano para ano. E não nos apercebemos que a imprensa de esgoto atribuía a culpa dessas condições às vítimas – os imigrantes, os pobres, os assistentes sociais, os professores, os estrangeiros e, acima de tudo, à União Europeia”, pode ler-se na carta publicada na Democracy in Movement 2025.
E conlui depois, Eno: “Não reparámos porque a nossa vida não era assim tão má - todos tínhamos os nossos iPhones e as nossas aplicações e as nossas contas na Amazon e os nossos voos baratos para zonas costeiras e outras formas de gastar o tempo. Entretanto, uma revolução estava a acontecer. Não a reconhecemos porque sempre pensámos que os revolucionários devíamos ser nós. A revolução aconteceu e nós estávamos alapados a ver Netflix”.
O cenário traçado por Eno é catrastófico, acreditanto o músico que “outros países também enfrentarão, em breve, campanhas para sair” da União Europeia, “se é que já não enfrentaram”. É que a União Europeia é “um alvo fácil para qualquer político ambicioso” que pretenda “cavalgar a onda nacionalista com a ajuda que os media inevitavelmente lhe darão”, lamenta.
Eno desejou, a terminar, esperando “ver-vos [europeus] dentro de uma geração ou duas”: “Por favor, amigos na Europa - não façam os mesmos erros estúpidos que nós. Não se limitem a rir de pessoas como Trump e Johnson e todos os outros, porque em breve eles irão devorar-vos. Se queremos uma Europa unificada, precisamos de defendê-la agora. Falar sobre ela. Pensar sobre ela. Melhorar e resolver as coisas”.
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