quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Papa Francisco retira poder à Opus Dei



O papa Francisco decidiu com um "Motu Proprio", um documento papal, reformar a influente organização católica Opus Dei, conhecida na Europa e na América Latina pelas posições conservadoras.

O documento papal, sob o título "Ad charisma tuendum" ("Para proteger o carisma"), em vigor a partir desta quinta-feira e divulgado em julho, "reduz o poder e a independência" da poderosa organização dentro da Igreja, segundo especialistas em religião.

"Alguns interpretaram as disposições da Santa Sé como uma "desclassificação" ou "perda de poder". Não estamos interessados neste tipo de dialética, porque para um católico não faz sentido o poder" declarou Manuel Sánchez, assessor da Opus Dei, à agência France-Press.

O pontífice argentino, que desde que assumiu o papado em 2013 prometeu reformar a Cúria Romana, o governo central da Igreja mergulhado numa série de escândalos, aprovou várias medidas para modernizar e garantir a maior transparência dentro da instituição.

Desta vez, as disposições afetam uma poderosa organização religiosa, que o Papa João Paulo II elevou no início de seu pontificado, em 1982, à categoria de "prelatura pessoal".

"Quarenta anos depois, Francisco procura eliminar uma estrutura excessivamente hierárquica e "resgatar" os valores carismáticos de uma instituição marcada por lutas de poder e a singularidade que a torna única (no momento) no mundo", afirma Jesús Bastante, do site especializado Religião Digital.

Acusada pelos críticos de ser uma espécie de seita secreta para controlar o poder dentro e fora do Vaticano, o que nega prontamente, a Opus Dei está presente em mais de 60 países e é composta por cerca de 90 mil membros leigos, incluindo personalidades políticas e empresariais, e mais de dois mil sacerdotes, especialmente na Europa e na América Latina.

Foi fundada em 1928 pelo padre espanhol Josemaría Escrivá de Balaguer, falecido em Roma em 1975, aos 73 anos, cuja canonização em 2002 por João Paulo II gerou polémica devido à sua proximidade com a ditadura em Espanha no tempo de Francisco Franco.

De acordo com algumas das modificações decididas pelo papa argentino, esta prelatura passa a "depender do Dicastério [ou ministério] do Clero" e todos os anos, em vez de cinco, deverá apresentar um relatório sobre a situação interna e o desenvolvimento do seu trabalho apostólico.

De acordo com algumas interpretações do texto, o líder da Opus Dei deixa de ser considerado bispo e não poderá usar as vestes episcopais. A forma de governo da Opus Dei será "baseada mais no carisma do que na autoridade hierárquica", destacou o Papa Francisco no documento.

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