Beijar a boca de um homem, embranhar-se no mastro
Queria perder as escamas e rasgar as barbatanas
Até que pernas humanas lhe saissem da carne
Poder conhecer o doce o amargo e o ácido
Ali tudo era salgado azulado e aquático
Partir o aquário deixar de vez o Atlântico
E rogava por ajuda dos marinheiros com o seu cântico
Mas seu cântico era grito que não suportavam
E só Ulisses vivera depois de a ter escutado
O seu canto era um feitiço carpido como o fado
Que levava navios perdidos para outro lado
Eu tenho um búzio que me diz coisas estranhas ao ouvido (4x)
Sua voz era livre como ela não era
Como sempre quisera que o seu corpo fosse
E por cantar o sonho e a sua quimera
Era para as almas como um cúmplice
Forte como um coice, como uma foice
Trespassava gelada o silêncio fundo da noite
Enquanto a sua melodia como a maresia
Envolvia em maravilha a lonjura da sua corte
Chega a maré vazia para lavar em água fria
A sua melancolia e o medo da morte
Não é que a lágrima é da mesma água salgada
Gritava entre o mar e a estrela da madrugada
Eu tenho um coração de esponja que cresce com a tristeza (4x)
Sereia louca que vai deixar tentar deixar o mar
Com a coragem de quem sai do seu habitat
Sereia louca que vai gritar, chorar
Bramir, esbracejar tentar até conseguir
Sereia louca que vai sentir a falta do mar
Sentir a falta do ar que há neste lugar
Sempre que digam que é louca
É melhor muda que rouca
Eu fico nua que é roupa que aperta o respirar
E grito ainda mais alto neste barco suspenso
Que pior que o meu canto há-de ser o meu silêncio
Pior que o meu canto há-de ser o meu silêncio
Eu tenho um búzio que me diz coisas estranhas ao ouvido (4x)
Eu tenho um coração de esponja que cresce com a tristeza (4x)
Não é que a lágrima é da mesma água salgada
Gritava entre o mar e a estrela da madrugada
E grito ainda mais alto neste barco suspenso
Que pior que o meu canto há-de ser o meu silêncio!
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