Assinalaram-se, há dias, os 40 anos da primeira emissão de “O Tal Canal”. E a grande inquietação que nos atormenta é: como assim, o Herman José fez aquele programa há 40 anos? O mesmo Herman José que vemos, semanalmente, na televisão? O mesmo Herman José que acrescentou no Instagram uma vida artística às milhentas que já viveu? O mesmo Herman José que regressou à estrada, para dar espetáculos, abraçando, tantos anos depois, essa faceta de saltimbanco? Ao visionarmos, hoje, algumas das pérolas de inteligência e criatividade que o humorista lançou constatamos o quão revolucionária foi aquela dose de loucura boa que teve como cúmplices Helena Isabel, Vítor de Sousa, Lídia Franco e Manuel Cavaco. Aquilo que Herman José fez nos anos 80 é tão mais extraordinário se avaliado à luz dos atuais cânones da tolerância no humor. Tudo tem de ser explicado, contextualizado, num equilíbrio infantil para não melindrar ninguém. Aquele humor pós-revolução foi disruptivo porque, como reconheceu recentemente o “verdadeiro artista”, passaram a fazer o que eles gostavam e não o que o grande público gostava. Felizmente que houve um encontro de vontades.
É importante reconhecer, em vida, os feitos dos grandes. Não esperar que eles morram para lhes dizer, como temos obrigação de dizer ao Herman José, muito obrigado por tudo. Muito obrigado por ter plantado, em diferentes gerações de portugueses, o vício de rir. E rir das coisas mais parvas às mais sofisticadas. Quatro décadas depois de “O Tal Canal”, só podemos estar gratos por haver um bocadinho de Herman José em todos nós. Sabermos rir de nós próprios é, antes de tudo, um valioso exercício de liberdade individual e coletiva. Obrigado pelo Esteves, pelo Nelito, pelo Tony Silva, pela Marilú. Obrigado, Herman, pela seriedade com que todos eles nos ensinaram a ser um pouco mais felizes.
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