sábado, 18 de março de 2023

Intervenções climáticas podem ameaçar o oceano profundo alertam especialistas


Uma equipa internacional de especialistas do Grupo de Trabalho do Clima da Deep Ocean Stewardship Initiative, no qual se inclui Nélia Mestre, investigadora do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve, reuniu-se remotamente para analisar o impacto ambiental das intervenções climáticas nos ecossistemas do mar profundo e na biodiversidade.

Liderado por Lisa Levin do Scripps Institution of Oceanography, da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), este grupo conta com duas portuguesas. Além de Nélia Mestre, também integra esta equipa a investigadora Ana Colaço, do Instituto de Ciências Marinhas - Okeanos, Universidade dos Açores.

O mundo enfrenta uma crise climática e a urgência em criar medidas para mitigar o aumento da temperatura e do dióxido de carbono na atmosfera evoluiu para soluções de geoengenharia que podem operar em larga escala. Segundo esta equipa internacional, “as intervenções climáticas baseadas no Oceano são, cada vez mais, reivindicadas como soluções promissoras para mitigar as alterações climáticas”. No entanto, referem, “pouco se sabe sobre os impactos destas tecnologias na biogeoquímica oceânica e na biodiversidade dos ecossistemas. Isto é verdade em particular para os ecossistemas do mar profundo, que cobrem mais de 40% da Terra e contêm espécies e ecossistemas altamente vulneráveis”.

São diversas as questões colocadas por este grupo internacional, que podem ser consultadas no Insights do Policy Forum da revista científica Science “Deep-sea impacts of climate interventions”. Requerem um esforço de investigação integrado para avaliar cuidadosamente os custos e os benefícios de cada intervenção, que terá de incluir os impactos no mar profundo nos planos de mitigação. A primeira autora, Lisa Levin, vê “a intervenção climática baseada no oceano como uma área emergente, que apresenta importantes desafios para os ecossistemas de profundidade e, portanto, exige-se um maior esforço de investigação científica antes de nos comprometermos com a ação".

Também para Nélia Mestre, investigadora da UAlg, “a escala espacial de ação destas intervenções climáticas terá de ser enorme para ser eficaz e pode induzir uma escala proporcional de impactos nos ecossistemas, incluindo os do mar profundo”. Segundo a própria, “estamos num ponto crítico onde o conhecimento é fundamental para possibilitar decisões positivas”.

O mar profundo enfrenta ameaças sem precedentes devido ao impacto da pesca industrial, poluição, aquecimento global, desoxigenação, acidificação e outros problemas relacionados com as alterações climáticas. Para estes investigadores, “as intervenções climáticas baseadas no oceano podem aumentar as pressões e ameaçar o funcionamento desses ecossistemas essenciais para todo o planeta”.

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