sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Livro do dia- "Vidas Vencidas"


Maria Ondina Braga (1922-2003) é talvez a escritora mais cosmopolita da literatura portuguesa do século XX.
«Lá em casa, em Braga, sempre as tisanas sobre os repastos. Meu pai, agora, a ler, pausadamente, entre cada golada, os nomes estranhos da lista do Brasil. Minha mãe, por seu lado, a encolher os ombros. A sua predilecção por nomes de santos e o seu senso prático: medo de possíveis complicações para a menina na escola, as demais crianças a amacacarem-lhe o chamamento. Nomes fáceis, familiares, afectivos, sim. Nomes das nossas gentes. Nomes da nossa terra. Agarrando, então, no “Petit Larousse”, o tio explicou o significado de Ondina: o génio do amor que vive nas águas. Sereia, uma sereia, mas não dos mares mortíferos, não, dos lagos transparentes e tranquilos. Uma gentil ninfa que, se um dia algum mortal a quisesse para esposa, ganharia mesmo alma como qualquer criatura de Cristo. Muito embora sem se opor, a mãe ainda de pé atrás. E que história era aquela de não ter alma a Ondina?»
Este é um extracto deste lindo livro. Uma obra que nos retrata de um modo romanceado a infância e a juventude da autora.

Maria Ondina Braga nasceu em Braga, a 13 de Janeiro de 1922, onde fez os estudos liceais e de onde partiu na década de cinquenta para estudar línguas em Paris e Londres, onde se licenciou em literatura Inglesa pela Royal Asiatic Society of Arts. Em 1959, rumou até Angola, Goa (onde esteve aquando da ocupação indiana) e, mais tarde, Macau, onde ensinou Português e Inglês até 1965, data do seu regresso a Portugal. Exerceu o cargo de Leitora de Português no Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim em 1982, ano em que redigiu as crónicas sofridas reunidas em “Angústia em Pequim” (1984). A convite da Fundação Oriente, Maria Ondina Braga regressou a Macau em 1991, tendo registado esse reencontro em algumas páginas da narrativa de viagens “Passagem do Cabo” (1994).
Incluindo na sua bibliografia a poesia e as crónicas de viagem, Maria Ondina Braga afirmou-se como ficcionista, sendo considerada um dos grandes nomes femininos da narrativa portuguesa contemporânea. Depois de ter vivido em Lisboa por muitos anos, voltou a Braga, onde morreu em 14 de Março de 2003 no lar Conde de Agrolongo.

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