sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Infodemia - uma nova crise do séc. XXI



Umberto Eco foi um daqueles homens que se pode designar como um polímata, isto é, como alguém é proficiente em mais do que uma área do saber. A nossa civilização está sequiosa de intelectuais. De construção sólida de conhecimento. Caso semelhante e em Portugal vejo em Pacheco Pereira. Nós crescidos passamos horas e horas "sagradas" a desconstruir as inverdades dos influencers digitais, mesmo na área da saúde e alimentação. Muitos mitos. Por outro lado são cada vez são menos os alunos que gostam da escola. Ano após ano o número de alunos que gostam da escola tem diminuído vertiginosamente. Atualmente estima-se que em média, um aluno gostará da escola e dos professores, em cada 23/25 por turma. É uma tragédia. Para além das várias crises, temos esta a da propagação de influencers com seguidores "fanáticos"...só escutam a eles e mais ninguém. Exercem sobre quem os ouve uma manipulação muito profunda, que depois para "re-educar" é uma tarefa herculiana.

No Youtube a Associação 25 de Abril tem apenas 3,44 mil subscritores. Jordan Peterson, um doente mental, homofóbico, de (extrema) direita, céptico climático tem 6,13 milhões de subscritores!! Prager U, um canal informativo de (extrema) direita norte-americano tem 3 milhões de subscritores. Outro exemplo. Os professores de Biologia nacionais têm que explicar aos alunos que a matéria de Biologia no Brasil é diferente de cá. Os conceitos são diferentes. Mil vezes a mesma tecla. Só o Samuel Cunha tem 1,06 milhões de subscritores (!!!) Mas há mais brasileiros a contrariar as nossas aulas- Guilherme Goulart, com 349 mil subscritores e Andrey "Tubarão", com 79,3 mil subscritores.

Excesso de informações e de influencers traz consequências para a saúde e prejudica o trabalho independente e científico dos próprios jornalistas. 
Interfere e muito na actividade pedagógica de académicos e professores em várias matérias.

É isso que Umberto Eco denuncia: muita informação e pouca ética.

E não é só o Youtube. O jornalista e professor da Fundação Cásper Líbero, Rodrigo Ratier, estudioso das media sociais, adverte que o WhatsApp, por sua própria natureza, “ não permite o contraditório. Não é uma praça pública digital, como é o Facebook, antes do reino algoritmo e as suas bolhas ideológicas, que um dia ambicionou ser. O WhatsApp é, desde o berço, um condomínio fechado, um clube restrito, uma rodinha de amigos que se esforçam em suas crenças (maluquices? preconceitos? fofocam, conspiram. Um ambiente em que a disputa por atenção privilegia o que parece espetacular, secreto, exclusivo, sensacional. Terreno fértil para boatos, distorções e mentiras de todo tipo”.

Uma das soluções viáveis, na minha perspectiva, é o aumento de imprensa local (mais de um quarto dos concelhos em Portugal não tem cobertura noticiosa frequente- dados de 2022) e a implementação de cidades dos 15 minutos. Cidades, aglomerados mais sólidos, com interações sociais mais ricas, reduzindo o ruído da desinformação e contribuindo para mitigação da pegada ecológica, maior sensibilidade para a conservação da natureza e para a preservação da biodiversidade.

Falhar melhor. O temperamento de cada um ditará se há na expressão de Samuel Beckett pessimismo, optimismo ou resignação. Ela é de tal modo poderosa, que corre o risco de vir a banalizar-se. Talvez já esteja à beira do lugar-comum. Dá bons títulos. É preciso voltar a lê-la no contexto em que nos foi oferecida pelo escritor irlandês em Worstward Ho, um dos seus últimos trabalhos. "Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importar. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor."

 Saiba tudo sobre infodemia aqui

Sem comentários: