quinta-feira, 6 de junho de 2024

A Democracia em risco: o discurso de Maria Ressa em Harvard e os desafios que nos deixa


Num discurso emotivo e clarividente proferido na formatura dos estudantes da Universidade de Harvard, Maria Angelita Ressa , a laureada jornalista, prémio Nobel da Paz em 2021 e cofundadora do site de notícias Rappler, ao denunciar as questões cruciais que afetam o mundo contemporâneo e que nos devem unir, partilhou com a instituição que a convidou, uma enorme coragem nos dias que correm ao clamar por essa união e ao propor defender a verdade como base da democracia, lutar pela agencia e não ter medo. 

No seu discurso passou o testemunho da luta pela democracia aos recém-formados, alertando-os sobre o estado frágil em que as nossas sociedades se encontram a nível global e a necessidade de uma ação imediata e concertada para a salvaguarda da democracia, contra os fascistas que estão, literalmente, a instalar-se. Porque me revejo no seu discurso e nos fazem falta pessoas de coragem como ela, capazes de nos voltar a guiar para o coletivo, deixo-vos aqui algumas ideias-chave da sua intervenção, para que possamos continuar a refletir sobre elas. 

Ressa, ao dar voz aos nossos silêncios e cumplicidades com sistemas vigentes deturpados coloca o dedo na ferida ao expressar que a democracia está sob ataque em várias partes do mundo. A crescente desinformação, a polarização política e a manipulação das redes sociais são apenas alguns dos fatores que contribuem para a erosão dos sistemas democráticos.

Para ela, vivemos em tempos de teste onde a tecnologia acelerou os processos, desumanizou-nos também. A incapacidade dos sistemas e das suas instituições para ouvir é um outro problema crítico apontado. A evocação das alterações climáticas enquanto uma das maiores ameaças à humanidade que exigem sistemas democráticos para a sua superação, uma vez que exigem soluções políticas e ações coordenadas. Em regimes autoritários, a falta de transparência e a repressão dificultam a implementação de políticas ambientais eficazes e inclusivas. 

Para Ressa, numa democracia saudável há maior possibilidade de implementar políticas que promovam a justiça social e ambiental. As vozes das comunidades marginalizadas podem ser ouvidas e as suas necessidades atendidas. 

Face a estes desafios, Ressa propõe-nos três eixos de ação: 
i) uma ação empenhada e comprometida connosco próprios: escolher o nosso melhor eu, sabendo quais são os valores pelos quais vivemos. A integridade da informação e dos factos é crucial. Sem factos, não há verdade, e sem verdade, não há confiança, que são a base da democracia. 
ii) Propõe ainda transformar a crise em oportunidade. O ecossistema informativo tornou-se pobre, a integridade das informações está comprometida, as notícias são cada vez menos confiáveis e a propaganda é cada vez maior. Precisamos de lutar mais fortemente pela agência e pelo pensamento independente. 
iii) O terceiro eixo é ser-se vulnerável para alcançar algo significativo e não ter medo disso.

O seu discurso evidencia a importância de proteger e fortalecer a democracia. Esta é, em última análise, a chave para um futuro mais sustentável e equitativo. Termino com as suas próprias palavras: “Temos de ter coragem para imaginar e criar o mundo como deve ser: mais solidário, mais sustentável e mais equitativo(…). O nosso mundo a arder precisa de ti. Bem-vindos ao campo de batalha; juntem-se a nós!”

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