terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Relatório sobre responsabilidade climática das grandes empresas expõe inação climática de gigantes


O relatório de 2023 do Monitor da Responsabilidade Climática Empresarial (CCRM, na sigla inglesa), revela que as estratégias das empresas em termos de clima continuam a padecer de inconsistências incompatíveis com as alegações de “verdes” que as acompanham, informou a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em comunicado.

Entre as 24 empresas avaliadas este ano pelo CCRM, estão não só as maiores a nível mundial, como também as que alegam ser líderes na ação climática devido à sua associação à campanha "Race to Zero", patrocinada pelas Nações Unidas. Com uma receita conjunta acima de três biliões de euros e responsáveis por cerca de 4% das emissões a nível global, estas empresas são oriundas de uma grande variedade de países e fazem parte de sete sectores principais, tais como: automóvel, moda (retalho), supermercados, alimentação e agricultura, tecnologia e eletrónica, transportes marítimos e aéreos, e aço e cimento.

“Contudo, e apesar de alegarem ser campeãs na ação climática, a maioria das empresas avaliadas esconde a sua inação climática atrás dos seus aparentes planos verdes de neutralidade climática e simplesmente não estão a fazer aquilo que prometem”, escreve a ZERO.

“Este relatório expõe uma grave procrastinação por parte de multinacionais que não só têm um grande impacto no planeta, como dispõem de grande disponibilidade de meios para reduzir a sua pegada carbónica. É crucial exigir maior transparência às empresas que, até ao momento, têm aproveitado as suas próprias promessas enganosas de neutralidade climática para prosseguirem com campanhas de propaganda ambiental (greenwashing) das suas marcas, mantendo as suas operações inalteradas”, alerta a ZERO.

Assim, e de acordo com o comunicado, entre as 24 empresas analisadas não houve um único plano de mitigação climática que tenha recebido a pontuação correspondente a "alta integridade" no CCRM deste ano, sendo que as principais lacunas nos objetivos e planos climáticos destas empresas são, em grande parte, semelhantes às identificadas na edição do ano passado.

Também à semelhança da edição anterior, o relatório mostra que apenas uma empresa, a gigante dinamarquesa Maersk, alcançou o nível de "integridade razoável" no ranking. Já a Apple, a Arcelor Mittal, a Google, o Grupo H&M, a Holcim, a Microsoft, a Stellantis e a Thyssenkrupp, alcançaram apenas uma pontuação de "integridade moderada", enquanto que as restantes 15 empresas se situam num intervalo entre baixa e muito baixa integridade.

“Enganosamente”, as alegações de neutralidade carbónica de metade das empresas avaliadas, incluindo a Apple, a DHL, a Google e a Microsoft, apenas cobrem 3% das suas emissões, não contabilizando as emissões indiretas. “Ainda mais preocupante, três quartos destas empresas planeiam compensar ou neutralizar uma parte significativa das suas emissões usando créditos de carbono decorrentes de projetos de florestação e utilização do solo”, escreve a ZERO.

“Ainda assim, e apesar da geral falta de brio na prestação das empresas em análise, algumas mostraram bons resultados em algumas áreas da ação climática. A H&M, a Maersk e a Stellantis, por exemplo, puseram em prática compromissos potencialmente credíveis no sentido de aprofundar a descarbonização a longo prazo. A Google é pioneira em tecnologia que monitoriza e compara consumos e produção de energia renovável ininterruptamente, ao passo que a DHL está a investir na eletrificação da sua frota e a produzir combustíveis de baixo carbono. No entanto, estes avanços são muito reduzidos e estão muito aquém de permitirem o tipo de mudança que é urgentemente necessária. Falta sobretudo ambição e rigor na criação de metas climáticas de curto prazo.”


O relatório, que analisa a transparência e integridade das metas de redução de emissões e de neutralidade climática das principais empresas a nível global, é lançado pelo NewClimate Institute e a Carbon Market Watch, organização que a ZERO integra.

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