quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Devemos abolir os jatos privados?


Para ativistas a resposta é sim. A começar pelo facto de uma viagem de jato privado emitir 10 vezes mais gases com efeito de estufa por pessoa que um voo comercial.

Este janeiro soube-se que a desigualdade de emissões entre classes é maior que entre países. Uma viagem de jato privado emite, por pessoa, 10 vezes mais gases com efeito de estufa que um voo comercial. Menos de 0.1% das pessoas alguma vez puseram pés num.

Aos ouvidos de uma criança, razão suficiente para os abolir não falta, falta sim bom senso. E este brota abundantemente no movimento pela justiça climática.

Não bastava a aviação privada ser a indústria de transporte mais desigual, é também a mais poluente: as emissões causadas por um voo de jato privado entre Londres e Nova Iorque são superiores às que uma família portuguesa média fará num ano inteiro da sua vida.

Não nos acanhemos de apontar responsáveis. Segundo o Emissions Gap Report de 2020, da ONU, este minúsculo grupo (<1%) é responsável por mais de 97% das emissões e tem de as cortar na mesma proporção para que o mundo fique abaixo dos limites definidos pela ciência para prevenir o colapso climático.

Se os jatos privados já são o meio de transporte mais poluente e injusto em plena crise climática, porque continuam a existir e estão aliás em proliferação? Em todas as cimeiras do clima se pergunta: porque vão os governantes para lá de jato?

Os jatos privados são o cúmulo da hipocrisia e da inação climática, o sintoma perfeito da razão pela qual vivemos em crise. Quem governa, ou quem rege quem governa, é efetivamente responsável pela crise climática. E se historicamente todas as grandes mudanças sociais exigiram resistência ativa à injustiça, a maior crise que já enfrentámos não será diferente.

Nos anos 80 populações no norte de Portugal tiveram de arrancar ilegalmente 200 hectares de eucaliptos para a serra parar de arder, face a um estado e mercado ossificados. Terão de ser as pessoas normais a colocar mais uma vez a vida acima do luxo, desta vez perante um planeta em chamas.

Internacionalmente, esta é a tendência. No aeroporto de Schiphol, nos Países Baixos, um grupo de 300 pessoas invadiu a pista e impediu descolagens, cortando durante essas horas mais emissões da aviação do que o governo português planeia cortar esta década.

Em Portugal lançou-se a campanha Abolir Jatos Privados, focada em ações diretas e sem precedentes, tomando as crises do clima e da desigualdade com a seriedade que merecem.

Se nem nos conseguimos livrar das emissões absurdamente desnecessárias, como vamos chegar ao zero? Se é preciso cortar emissões comece-se pelas que só aos culpados fazem falta.

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