O ativista e arrecadador de fundos Dan Pallotta chama a atenção para o duplo padrão que impulsiona nosso relacionamento quebrado com instituições de caridade. Muitas organizações sem fins lucrativos, diz ele, são recompensadas pelo pouco que gastam – não pelo que fazem. Em vez de igualar frugalidade com moralidade, ele nos pede para começar a recompensar instituições de caridade por seus grandes objetivos e grandes realizações (mesmo que isso venha com grandes despesas). Nesta palestra ousada, ele diz: Vamos mudar a maneira como pensamos em mudar o mundo.
“A caridade não mudou o mundo como esperávamos porque não foi o que pedimos dela. Nós exigimos que as organizações mantivessem suas despesas gerais baixas e doassem o máximo para a causa, sem investir em pessoal ou em formas de arrecadar mais. Se elas estão fazendo a diferença, isso fica em segundo plano”, afirma.
Pallotta diz que o terceiro setor compete por recursos em grande desvantagem em relação ao setor privado, sendo encorajado a continuar pequeno. Para ele, esse abismo diminuiria com investimento em melhores salários nas organizações, o uso do marketing e da propaganda para atrair novos doadores e a possibilidade de acessar mercados de risco, que remuneram de forma mais agressiva. Também seria precisa contar com a paciência dos investidores para criar novas formas de arrecadação — o que pode levar muito mais que um ano fiscal.
Ele afirma que as ONGs precisam “se libertar dessa prisão” para conseguir atrair mais doadores e multiplicar seu impacto. Para isso, seria preciso convencer os atuais financiadores da importância de mudar a estratégia. “Se eu não posso gastar para conseguir mais recursos, eu não consigo encontrar outros doadores, e aí eu preciso voltar a te pedir dinheiro”, argumenta.
O ativista defende uma “alfabetização para a doação”, que explique as desvantagens de seguir pelo caminho traçado até agora. Seu livro mais recente, The Everyday Philanthropist (sem tradução para o português), é uma das ferramentas que ele indica para popularizar essas ideias e conversar de outra forma com seus financiadores. Mas ele reconhece que é um caminho árduo, que exige muita repetição e convencimento. “Promova discussões sobre o tema, fale como o ‘jeito antigo’ não tem funcionado, e repita, repita, repita”.
E ele tem repetido seu mantra, inclusive para bilionários que buscam sua ajuda. “Eu digo a eles: pare de doar seu dinheiro para as crianças ou para os pobres. Encontre as melhores organizações que ajudam as crianças e os pobres, e dê seu dinheiro para o departamento de arrecadação. Peça um plano de negócio voltado especificamente para este fim, para que eles encontrem mais doadores e consigam mais dinheiro”, diz.
Nascido na década de 1960, Pallotta gosta de citar a missão Apollo, que colocou o homem na Lua, como exemplo de um sonho levado a sério e que resultou em inovação e avanço para toda a humanidade. “A partir do momento em que você desafia alguém, como John F. Kennedy fez ao estipular um prazo, você passa a conversar sobre o assunto e adota uma postura mais corajosa, que leva à colaboração e à criação de novos pensamentos”, afirma.
Ele quer inspirar as organizações a se lembrarem do sonho que as motivou a trabalhar com determinada causa, e fazer com que elas adotem uma nova postura para mudar sua trajetória. “Nós mudamos o jeito como as pessoas pensavam sobre o cinto de segurança, sobre o casamento gay. A história nada mais é do que um registro da mudança. E agora precisamos mudar a forma como as pessoas pensam sobre caridade”, conclui.
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