Oito áreas, trinta e cinco medidas para debate na campanha eleitoral que começa amanhã
Amanhã, dia 14 de setembro, dia em que se inicia oficialmente a campanha eleitoral para as eleições autárquicas, e dado o seu impacto direto na vida quotidiana dos portugueses, a ZERO apela a que os candidatos dos partidos políticos e dos movimentos de cidadãos independentes se comprometam com medidas concretas para garantir a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Para fomentar a reflexão e o debate durante este período, a ZERO apresenta um conjunto de medidas, algumas com impactos positivos nas contas dos municípios e das freguesias, que não só podem ser adotadas pelas listas candidatas, como podem vir a fazer parte das Grandes Opções dos Planos Municipais a aprovar pelos eleitos para os próximos quatro anos.
Neste contexto, foram identificadas oito áreas de atuação onde os autarcas terão um papel decisivo a desempenhar.
- Fazer da mitigação e adaptação às alterações climáticas uma verdadeira prioridade com metas e medidas a cumprir
- O combate às alterações climáticas é um dos maiores desafios para a humanidade e a ação a nível local é decisiva; é fundamental a adesão de todas as autarquias portuguesas ao Pacto dos Autarcas em Matéria de Clima e Energia e comprometerem-se principalmente com a meta de atingir a neutralidade climática até 2050. Note-se que atualmente apenas 169 autarquias são signatárias do Pacto dos Autarcas.
- O Plano de Recuperação e Resiliência vai ter um conjunto de investimentos à escala municipal associados ao pilar da transição verde, nomeadamente na componente relacionada com as alterações climáticas, que em conjunto com outras áreas como a resiliência e a transição digital, têm de ser bem aplicados na promoção da sustentabilidade, melhoria da qualidade de vida e bem-estar.
- Promover o combate à pobreza energética, investir na eficiência energética e na produção local de energia renovável
- Identificar e intervir na melhoria do conforto das famílias em pobreza energética, recorrendo à cooperação com as agências de energia e outras instituições relevantes.
- Apostar na reabilitação do parque edificado, integrando critérios exigentes de eficiência energética e promoção da produção local de energia renovável.
- Prioridade à instalação de unidades de produção em autoconsumo nos edifícios das autarquias (fotovoltaico e eólico), ambas as medidas com reflexos na diminuição de custos no médio/longo prazo.
- Assegurar a sustentabilidade da instalação de parques solares no concelho, envolvendo a população e assegurando uma compatibilização com a proteção da paisagem e da biodiversidade.
- Incentivar a mobilidade sustentável
- Promover a mobilidade sustentável nas vilas e cidades, tornando-as mais próximas dos seus cidadãos, dando prioridade aos serviços locais na malha social em que estes vivem, trabalham, estudam e se divertem.
- Redução do uso do transporte individual através da promoção do transporte público, mobilidade suave e penalização do uso do automóvel sempre que haja oferta alternativa.
- Criação de ciclovias por todo o território (com particular enfoque nos acessos a estabelecimentos de ensino) e generalização de redes de bicicletas partilhadas e de locais de estacionamento para bicicletas.
- Incremento das áreas pedonais urbanas, com aplicação de restrições à circulação de veículos.
- Garantir infraestruturas acessíveis e generalizadas para carregamento de veículos elétricos, já que esta é a principal restrição na promoção da mobilidade elétrica.
- Eletrificação progressiva dos transportes públicos e viaturas municipais
- Reabilitação ou criação de novos interfaces (nós do sistema de transportes que permitem conexões entre vários modos e/ou serviços de transporte que facilitam os transbordos), com o objetivo de reforçar a utilização do transporte público e, de igual modo, promover uma utilização conjunta deste com os modos suaves (andar a pé, bicicleta).
- Promover a alimentação com base na produção agrícola de proximidade
- Intervir nos mercados municipais e junto das empresas do concelho na promoção de fornecimento de recursos alimentares de proximidade.
- Criação e/ou continuação da dinamização de hortas comunitárias, com a distribuição de talhões para cultivo aos cidadãos interessados, de preferência em modo de produção biológico.
- Criação de bolsas de terrenos agrícolas municipais para facilitar o acesso à terra e, assim, estimular o aparecimento de novos produtores locais com surgimento ou consolidação de cadeias curtas agroalimentares.
- Dinamizar um consumo responsável assente nos princípios da economia circularDesenvolvimento e apoio a diferentes iniciativas promotoras de uma cultura resíduos zero:
- Criação de espaços agregadores de serviços locais de pequenas reparações de equipamentos e de mobiliário, e de promoção da reutilização (e.g. troca/venda de roupas em segunda mão, móveis, têxteis).
- Apoio a iniciativas coletivas e partilhadas de disponibilização de recipientes reutilizáveis para o pronto a comer na área do município.
- Proibição da utilização de pratos, copos e utensílios descartáveis em festas, romarias ou eventos realizados na área do seu município (públicos ou privados), promovendo, ao mesmo tempo, iniciativas de disponibilização e higienização de alternativas reutilizáveis.
- Promoção da utilização de fraldas reutilizáveis e de produtos menstruais reutilizáveis – copo menstrual, pensos reutilizáveis, cuecas menstruais, etc. – através da oferta de vouchers para aquisição destes produtos. No caso das fraldas é também importante o fomento de iniciativas de lavagem centralizada, no sentido de facilitar a vida às famílias.
- Distribuição alargada de compostores domésticos, instalação de compostores comunitários e dotar os espaços de restauração coletiva das escolas, dos lares e de outros serviços, de equipamentos de biocompostagem.
- Investimento na instalação de pequenas centrais de compostagem, por forma a evitar o transporte dos resíduos a longas distâncias, a facilitar a devolução dos nutrientes aos solos e apoiar a agricultura de proximidade.
- Investimento estrutural na recolha seletiva porta-a-porta, incluindo a dos resíduos orgânicos (40% do total de resíduos).
- Promover a eficiência e o uso sustentável da água
- Realização de auditorias ao sistema de abastecimento de água, com especial enfoque na análise ao volume de água não faturada.
- Promoção do consumo de água da torneira, em detrimento do uso de água engarrafada, e para divulgar boas práticas de prevenção do desperdício de água e de reutilização de águas pluviais.
- Investimento no tratamento de águas residuais, desenvolvendo esforços financeiros para melhorar a acessibilidade dos cidadãos às redes de drenagem e ao tratamento, dando especial atenção a investimentos em soluções de saneamento descentralizado (micro-ETAR, fito-ETAR), para melhorar a qualidade das águas superficiais.
- Gestão do território integrando os processos naturais nas decisões
- Implementação de estratégias baseadas na natureza na adaptação às alterações climáticas.
- Ponderação da designação de áreas protegidas de âmbito regional ou local
- Programação da reabilitação ecológica de espaços degradados, nomeadamente linhas de água e zonas húmidas.
Promoção da biodiversidade no interior das cidades e vilas, através nomeadamente:
- Do abandono do uso de pesticidas e dos fertilizantes artificiais;
- Da reciclagem dos resíduos da gestão dos espaços verdes, mantendo o solo vivo;
- Da utilização de espécies autóctones em detrimento de exóticas;
- Da promoção de iniciativas de cidadãos – como a criação de charcos, o reaproveitamento das águas pluviais, a plantação de sebes que favoreçam as aves e os polinizadores, a instalação de ‘hotéis’ para polinizadores, a colocação de caixas-ninho para aves e morcegos ou a criação de espirais de ervas aromáticas.
- Instituir Orçamentos Participativos
- Adoção de Orçamentos Participativos deliberativos como uma forma de melhorar a gestão autárquica, sem receio de envolverem os cidadãos e de aprofundar a democracia participativa a nível local.
- Criação de novas formas de “dinheiro”, como as moedas locais, senhas para aquisição de produtos locais, os bancos de tempo (trocas solidárias), e a incentivarem novas formas de economia cooperativa e colaborativa.
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