No momento em que as evidencias científicas inequivocamente atestam que as Alterações Climáticas são reais e a influência da ação humana no aquecimento do planeta indiscutível, temos de alargar o debate sobre a rapidez com que as alterações climáticas têm vindo a ocorrer em todas as geografias e a condicionar e desestabilizar os modos de vida e, consequentemente, as práticas coletivas do dia-a-dia, de forma reiterada e cada vez mais impactante. O seu potencial catastrófico para a vida planetária, exige a reflexão sobre o que mantém e reproduz este modelo sócio-ecológico dominante, ocidental, moderno e capitalista de relação com a natureza, que tem obstaculizado os necessários processos de transformação societal, ecológica e epistémica, com evidentes consequências ambientais e climáticas, políticas, sociais, económicas e éticas. Por serem um problema complexo e multidimensional, o debate impõe-se, pois o caminho é longo.
Falar sobre as Alterações Climáticas é falar sobre as possibilidades da vida na Terra, tal como a conhecemos. A Terra vista do espaço em suspensão parece-nos pequena e frágil e avassaladoramente bela. No entanto, ela abriga um número incalculável de seres que cumprem as mais diversas funções e autorizam a vida e a morte acontecer. Cruzamo-nos com essa vida e morte a cada instante, participamos dela, ainda que nem sempre tenhamos consciência disso. São inegáveis as relações de interdependência e interinfluência entre natureza e sociedade/cultura, mas a coexistência humanos/natureza não tem sido pacifica. Nós, humanos, afastámo-nos da natureza de tal forma que esta é vista, não como parte integrante de uma vida/morte comum, de um destino comum, mas como o reservatório de recursos dos humanos. Assim, ainda que os seres humanos sejam parte integrante da biodiversidade inerente ao sistema ecológico global e a cada um dos ecossistemas, têm vindo a exercer sobre eles uma violência crescente em termos de ritmo e de escala. Neste contexto, muitas espécies se foram extinguindo a cada dia e milhares se encontram ameaçadas pelo aquecimento global. O equilíbrio ecológico é algo dinâmico e frágil, e cada dia novos equilíbrios/desequilíbrios acontecem resultado deste turbilhão dinâmico, provocando mudanças por vezes impercetíveis, outras vezes não.
A redução da biodiversidade tem vindo a colocar o ser humano na lista das espécies ameaçadas pela extinção. Estamos confrontados com essa reflexão. Dela dependerá o nosso futuro na Terra. A Terra encontrará outras formas de se manter, de se revigorar, à semelhança do que já aconteceu em outros momentos da história geológica do planeta. Nós, humanos, não!
Atualmente temos mais de 1400 mil milhões de toneladas de CO2, emitidas desde o início da revolução industrial, retidas no nosso planeta. O progresso, o crescimento, a ciência, a tecnologia, proporcionaram-nos melhores condições de vida, mas também alteraram os equilíbrios na nossa ‘casa comum’ . A colonização conduziu à exploração de outros continentes para alimentar e permitir a manutenção desta industrialização e com ela a manutenção das desigualdades geográficas e das desigualdades sociais. O mundo em que vivemos é muito desigual.
A comunidade científica intensificou a pesquisa e os alertas. Os políticos parecem não chegar a acordo e, apesar das cimeiras, as decisões não acompanham a emergência do agir, nem as ações dirigidas para o cumprimento dos compromissos assumidos, e de marcos como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), no horizonte 2030.
Esta relação com a natureza trouxe e continua a trazer desequilíbrios que exigem a nossa atenção e reflexão: todos somos derrotados se não conseguirmos encontrar formas de relação com a natureza e entre sociedades que permitam alterar o curso vertiginoso que nos anuncia um futuro devastador para a humanidade. Todos devemos colaborar nesta luta por assegurar um futuro às gerações vindouras, como preconizava o Relatório Brundtland há mais de três décadas. Que planeta, que casa, que vida vamos deixar aos nossos filhos e netos? Que alternativas e que mudanças dispomos? Por onde queremos e podemos ir? A reflexão e o compromisso de todos/as impõe-se!
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