quinta-feira, 15 de julho de 2021

O maior desafio das nossas vidas


Quanto mais sabemos sobre a dimensão da crise climática, mais constatamos que o que nos espera não será feito sem turbulência política, sem choques sociais e sem ameaças à sustentabilidade do actual modelo económico.

Quanto mais sabemos sobre a dimensão da crise climática, quanto mais reconhecemos que é precisa uma revolução na economia e nos hábitos quotidianos para evitar a catástrofe que se anuncia, mais constatamos que o que nos espera não será feito sem turbulência política, sem choques sociais e sem ameaças à sustentabilidade do actual modelo económico. Esta quarta-feira, a Comissão Europeia apresentou 13 propostas legislativas para orientar essa revolução e o comissário Frans Timmermans, o responsável pela pasta do clima, foi claro ao situar esses desafios: “Devemos ser honestos, nada disto vai ser fácil.”

Está, portanto, na hora de assumir que a indispensável transição a caminho de um modelo de economia e de sociedade com zero emissões, que a Comissão Europeia projecta entre o sonho, o desejo e a necessidade para 2050 não se fará com cimeiras solenes, o voluntarismo optimista das organizações ambientais ou as receitas que tendem a reduzir o problema a uma mera opção sem consequências. As 13 medidas propostas pela Comissão vão ter um custo anual de 350 mil milhões de euros [quase o dobro do PIB de Portugal], vão impor mais gastos às famílias em comida ou transportes, vão arrasar milhões de postos de trabalho e vão condenar milhares de empresas à inviabilidade pelos maiores custos do mercado de emissões de carbono.

Perante a dimensão destes desafios e dos problemas associados, seria tentador deixar tudo como está. Só que essa, infelizmente, não é uma opção. A crise climática que ameaça a sustentabilidade do planeta deixou de ser um problema do futuro. É uma ferida aberta no presente que se vai agravar a cada ano que passa. Por muito duras que sejam as alternativas, por muito que nos permitam antever problemas graves e de desfecho incerto, o pior que a actual geração no poder podia fazer era desistir de lutar pelo futuro. Felizmente, a União Europeia recusou a cobardia do imobilismo e aparece na liderança de um movimento que terá de olhar para as metas da Cimeira de Paris como uma obrigação colectiva.

Entalados entre a certeza de que as mudanças serão árduas, tormentosas e com consequências imprevisíveis, por um lado, e a certeza de que os custos da crise climática implicarão a morte e destruição de amplas zonas habitadas do planeta, as presentes gerações estão condenadas a escolher a única via que lhes concede alguma luz no futuro. Lutar por essa luz, recusar as soluções fáceis dos negacionistas e dos populistas, aceitar que não se faz uma mudança radical sem custos individuais e colectivos, pressionar o poder para cuidar dos mais vulneráveis e conceder meios para uma transição económica o mais suave possível tornou-se o maior desafio das nossas vidas.

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