Desde que lançou seu best-seller “Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser” em 1995, o escritor e professor norte-americano Daniel Goleman tem sido uma das vozes mais comentadas na educação e na psicologia. Considerada polêmica quando surgiu, sua teoria sobre o impacto da inteligência emocional em todos os âmbitos da vida humana, e em especial na escola, ganhou adeptos e hoje influencia educadores, programas e instituições de ensino em diferentes partes do mundo.
Em uma entrevista exclusiva durante o 2º Congresso LIV Virtual, conduzida pelo idealizador e diretor do LIV, Caio Lo Bianco, Daniel Goleman falou sobre o conceito de inteligência emocional, bem como os dilemas atuais e as direções futuras que permeiam o tema. Além dessa apresentação, o evento contou com uma série de palestras, discursos e debates com convidados nacionais, levando a milhares de espectadores a oportunidade de falar sobre a educação a partir de uma multiplicidade de olhares. Para saber mais sobre esse evento exclusivo, clique aqui.
Quatro aspectos da inteligência emocional
Antes de navegar em aspectos mais complexos, como os dilemas e o futuro em torno do tema, Daniel Goleman foi convidado a explicar, com suas próprias palavras, o que ele entende por inteligência emocional, e esclareceu:
“Eu acho que a inteligência emocional quer dizer que somos inteligentes sobre nossas emoções. São quatro principais áreas. A primeira é o autoconhecimento, saber o que estamos sentindo, porque sentimos e como isso nos afeta. O próximo ponto é gerenciar as emoções, impulsionar as positivas, o entusiasmo, a energia para as metas, e minimizar as negativas, aquelas que nos perturbam para que não interfiram naquilo que nós podemos fazer. Depois, há a empatia, reconhecer as emoções em outras pessoas. E, (por fim) reunir tudo isso para termos uma boa relação entre pessoas”.
Como mensurar a inteligência emocional?
Avaliar o impacto de atividades focadas em promover a inteligência emocional de estudantes da educação básica sempre foi um ponto delicado no debate mundial sobre esse tema. Para Goleman, existem dois lados ao se realizar esse tipo de mensuração, sendo ao mesmo tempo uma ação importante e arriscada. “É importante porque queremos ter um perfil das forças e das limitações do aluno. Mas a dificuldade é que isso não quer dizer que o aluno sempre vai ser assim. Não mesmo! Isso vai contra um dos princípios básicos da educação socioemocional, que é uma aprendizagem”.
Nesse sentido, o autor diz que os alunos podem melhorar em todos os aspectos e que o importante é compreender que o resultado da avaliação socioemocional não será determinístico, pois o aluno estará sempre em constante mudança e processo de aprendizagem. “Todo aluno tem uma curva de aprendizagem que está crescendo, está se desenvolvendo. E cabe ao programa de educação socioemocional ajudar o aluno a melhorar cada vez mais de todas as formas”, destacou.
Outro ponto destacado por Daniel Goleman é o fato de que as avaliações no âmbito da educação socioemocional são bastante diferentes de outros tipos de avaliação. “Se você avalia matemática, você dá uma prova [para saber] como o aluno se sai em divisão, em multiplicação, em geometria. Se estamos avaliando as capacidades sociais ou emocionais, temos que fazer uma pergunta como: Esse aluno é gentil? Esse aluno tem empatia? Ele está antenado com os outros alunos? Ele consegue controlar seus próprios impulsos?”, indaga.
Questionado sobre a melhor forma de realizar essa análise, o autor destaca que os modelos de avaliação usados para mensurar as chamadas hard skills, como matemática e linguagens, não são adequadas e que é necessário encontrar novos formatos, mas sempre buscando diferentes ângulos. “A melhor avaliação é aquela que tem muitas perspectivas diferentes sobre a mesma pessoa. Porque não somos iguais com todos. Somos diferentes com uma criança, que é diferente com os pais dela do que é com seus amigos, por exemplo”, diz.
Saúde mental e suicídio
Levantamentos de dados cada vez mais frequentes mostram que, infelizmente, muitos estudantes em baixa idade têm cometido suicídio no Brasil e no mundo, enquanto alguns números mostram até que esses índices têm aumentado com o passar dos anos. Contudo, embora necessário, o tópico muitas vezes é evitado por famílias e escolas.
Para falar sobre essa temática, Caio Lo Bianco questionou Daniel Goleman sobre a responsabilidade da escola com relação a saúde mental dos alunos. Segundo o escritor, “as escolas podem dar às crianças uma mensagem errada, ao torná-las tão competitivas com relação a provas educacionais, e isso pode ser algo que acione depressão e suicídio de forma precoce entre jovens e adolescentes”. O especialista ponderou, contudo, que é preciso considerar também as realidades sociais das escolas. “Se ninguém da escola gostar de você, você pode começar a pensar: Eu sempre vou ter uma vida terrível, e acabar se deprimindo”, destaca.
Para ele, a educação socioemocional pode ajudar de ambas as formas, fomentando nos estudantes a possibilidade de reflexão sobre si, sobre seu desenvolvimento e aprendizado, para que possam entender que eles não estão em uma condição estática, mas sim têm a capacidade de mudar. “Nós temos o que chamamos de mentalidade de crescimento, que é ter uma visão positiva de si, de sua capacidade de aprender, crescer, desenvolver, melhorar”.
Ao longo da entrevista, Daniel Goleman falou ainda sobre a necessidade de desmistificar o conceito de “pensar positivo”, ponderando que mais do que olhar para essas ideias, a escola precisa buscar o que é realidade dentro do contexto de cada estudante. “Pensar positivo, no pior sentido da palavra, é negar a realidade do que está acontecendo, e eu acho que isso pode ser algo muito danoso, pois a criança sabe. Você está falando positivo, mas ela diz ‘minha vida é terrível!’. Isso não vai ajudá-la em nada. Mas, por outro lado, [podemos ajudar] se nós ouvirmos a criança e perguntarmos: Em que sentido sua vida é terrível?”.
O autor falou ainda sobre o futuro do tema nas escolas e no mercado de trabalho e os impactos dessa realidade para as crianças e os adolescentes. Quer continuar acompanhando essa conversa incrível? Assista a seguir à entrevista completa do escritor e professor Daniel Goleman e conheça mais sobre a inteligência emocional.
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