Na linha de Eduardo Lourenço, este pequeno ensaio diligencia desenhar os quatro complexos culturais por que Portugal se foi concebendo a si próprio ao longo de 800 anos de História: ora um país gerado exemplarmente no mais remoto dos tempos e contra as mais difíceis circunstâncias (Viriato); ora um país que, durante e após os Descobrimentos, se vê a si próprio como nação superior às demais, sintetizada na majestática arquitectónica do Quinto Império de padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva; ora um país que, fracassado o sonho grandiloquente do Império, se lastima e se penitencia, considerando-se nação inferior, passível de máxima humilhação (Marquês de Pombal); ora, finalmente, país mesquinho, venenoso e bárbaro, permanentemente ansioso de purificação ortodoxa, no qual cada corrente política e intelectual tem sobrevivido da canibalização das correntes adversárias, negando-as e humilhando-as. Por efeito do ambiente educacional e social, cada português percorre na sua vida, recorrente e ciclicamente, estas quatro figurações da sua história e da sua cultura.
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