sábado, 23 de julho de 2022

Não deixar ninguém para trás


Chegamos ao limite dos limites e é preciso agir. Um dos desafios centrais da emergência do agir perante o aquecimento global, a degradação ambiental, a perda de biodiversidade, bem como de todas as manifestações que temos vindo a presenciar resultantes do nosso afastamento da natureza e dos seus ritmos, é a articulação de conhecimentos e saberes plurais.
As soluções não passam por estratégias de marketing e discursos ‘lavados pelo verde’ (greenwashing), nem apenas por mais legislação ou educação/aprendizagem.
As mudanças necessárias requerem uma mudança transformadora das relações natureza-sociedades/culturas – o que requer desde logo no longo prazo. E este pode ser tarde!
Essas mudanças podem ocorrer de diversas formas e em cada contexto adquirir características particulares, tendo em conta as especificidades locais. Da reforma à revolução, os níveis de mergulho na mudança transformadora vão exigir que convoquemos todos os atores a participar, os responsabilizemos – dos indivíduos às corporações, aos estados, aos grupos etc -todos os saberes – das diversas ciências aos saberes tradicionais, locais, indígenas – e todos os poderes que entre eles se estabelecem, seja a nível formal seja a nível informal.
Se o progresso das ciências é inegável, bem como das políticas que se têm vindo a desenvolver para enfrentar as alterações climáticas nas suas múltiplas dimensões, comprometer todos os atores neste enfrentamento exige compreender a sua visão, a partir do seu ponto de vista e da sua posição, dos seus universos simbólicos. Os diversos atores trazem saberes e conhecimentos plurais, únicos, que contribuem para conhecer, compreender e enfrentar as alterações climáticas a partir dos contextos e especificidades locais, as suas necessidades, suas vulnerabilidades e suas potencialidades. Esse é o motivo pelo qual não se pode avançar deixando-os ficar para trás. São estes conhecimentos das margens que devem vir para o Centro e devem informar as decisões políticas e a definição de estratégias de reforço da resiliência individual e coletiva/local. Só assim, em estratégias onde todos participamos, conseguiremos mudanças transformadoras.
Sabemos tudo isto, mas estamos paralisados.
Precisamos de um novo modelo civilizacional onde a vida seja possível. Uma mudança transformadora que deve ser local, a partir dos contextos locais. Se não o fizermos a marcha em relação ao abismo é inexorável.

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