quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Gonçalo Ribeiro Telles, o ambientalista visionário

Muitas vezes apontado como o "pai" da ecologia em Portugal, o arquiteto e político morreu esta quarta-feira aos 98 anos. Marcelo já lembrou o amigo de longa data e Costa fala numa perda inestimável, tendo decretado um dia de luto nacional, na quinta-feira.



Foi ele quem lançou a proteção legal aos parques naturais, quem implementou o conceito dos jardins urbanos, defensor de sempre da conciliação entre o espaço rural e o citadino. Ambientalista quando poucos se perfilavam nesse campo, Gonçalo Ribeiro Telles, decano dos arquitetos paisagistas portugueses, morreu nesta quarta-feira, aos 98 anos.

Gonçalo Ribeiro Telles nasceu em Lisboa no dia 25 de maio de 1922. Licenciou-se em Engenharia Agrónoma pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, a mesma instituição onde se formou em Arquitetura Paisagista.

Iniciou a vida profissional na Câmara de Lisboa, onde integrou durante alguns anos o departamento de Arborização e Jardinagem, passando em 1955 a assumir funções de arquiteto paisagista no recém-criado Gabinete de Estudos de Urbanização.

Um dos grandes projetos da sua carreira foi o desenho dos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, um projeto em coautoria com António Viana Barreto, que lhe valeu o Prémio Valmor de 1975. Mas este está muito longe de ser o único projeto que, em Lisboa, leva a sua assinatura.

Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian foram projetados com o traço do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles.

Foi Gonçalo Ribeiro Telles quem desenhou, entre 1998 e 2002, um conjunto de projetos que define as estruturas verdes principais e secundárias da área metropolitana de Lisboa - o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica, o Vale de Chelas, o Parque Periférico, o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental.

São igualmente da sua assinatura o espaço público do Bairro das Estacas, em Alvalade; os jardins da Capela de São Jerónimo, no Restelo; a cobertura vegetal da colina do Castelo de São Jorge; ou o Jardim Amália Rodrigues, junto ao Parque Eduardo VII.

Gonçalo Ribeiro Telles teve igualmente um longo percurso de intervenção cívica e política. Católico e monárquico, foi fundador e presidente da Juventude Agrária e Rural Católica (JAC). Em 1957 funda o Movimento dos Monárquicos Independentes (MMI), com Francisco Sousa Tavares. A este seguir-se-ia o Movimento dos Monárquicos Populares, também com um claro posicionamento de oposição ao regime.

Em 1958 manifestou o seu apoio à candidatura presidencial de Humberto Delgado e, um ano depois, integrou a Comissão Eleitoral Monárquica (CEM) que se vem a juntar às listas da Ação Socialista Portuguesa de Mário Soares na coligação Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), que se apresenta às eleições para a Assembleia Nacional de 26 de outubro de 1969, não conseguindo eleger qualquer deputado. Em 71 ajuda a fundar o Movimento Convergência Monárquica.

Após o 25 de abril Gonçalo Ribeiro Telles funda o Partido popular Monárquico (PPM) que, em 1979, integra a Aliança Democrática com o PSD de Francisco Sá-Carneiro e o CDS de Freitas do Amaral. Um ano depois é eleito deputado à Assembleia da República e, em 1983/85 ocupa o cargo de ministro do Estado e da Qualidade de Vida, no VIII Governo Constitucional.


Gonçalo Ribeiro Telles com Francisco Sá Carneiro e Diogo Freitas do Amaral, numa manifestação da Aliança Democrática na Avenida da Liberdade, a 29 de outubro de 1979.

Fonte: DN

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