2011-05-25 15:45:37 Ana Luísa Oliveira |
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Os produtos biológicos ainda não entraram na alimentação dos portugueses. Só 500 mil consomem, regularmente, estes produtos. Em média, gastam apenas 2,20 euros nos produtos da agricultura biológica. O sector movimenta 20 milhões de euros anualmente em Portugal e cresce 28% ao ano. Dados resultantes de dois trabalhos académicos da autoria de um docente do IPAM. São amigos do ambiente, são cultivados sem recurso a produtos químicos e, por isso, muitas vezes, considerados alimentos mais saudáveis. Mas ainda são pouco apetecíveis para os portugueses e escasseiam ainda nos carrinhos de compras e nos lares das famílias. Apenas 5% da população portuguesa, isto é, 500 mil consumidores, têm o hábito de comprar produtos biológicos. Do orçamento das famílias portuguesas reservado à alimentação, só 8,3% destina-se aos produtos provenientes da agricultura biológica. Em média, cada consumidor gasta apenas 2,20 euros por ano nestes produtos, o que coloca Portugal bastante abaixo de países como a Dinamarca, França, Suécia, Itália ou Holanda. Nestes países, os consumidores reservam, em média, 104 euros para a compra de produtos biológicos, o que representa 50% do orçamento. As contas são de Rui Rosa Dias, docente do IPAM de Matosinhos, que se tem dedicado ao estudo sobre a agricultura biológica – já defendeu duas teses sobre o tema, primeiro no mestrado em marketing agro-alimentar, em Saragoça, e depois no doutoramento em economia agrária, pela Universidade Politécnica de Madrid. O agricultor, que trabalha no sector do leite biológico, acredita que a falta de informação é um dos motivos da baixa procura dos portugueses por estes produtos. “A grande maioria não sabe o que é um produto biológico, não faz ideia dos benefícios que estes têm tanto para a saúde, com maior riqueza de nutrientes, como na questão ambiental”, sublinha. O outro problema é o preço. “É um mito que estes produtos sejam mais caros”, continua Rui Rosa Dias, que defende uma mudança de mentalidades dos consumidores em matéria de alimentação. “Não faz sentido discutirmos dois cêntimos de diferença na alface e não questionarmos o preço de 25 euros de uns sapatos. Os consumidores têm de apostar numa alimentação de qualidade, associada à adopção de um estilo de vida saudável”. Mulheres consomem mais produtos biológicos Tem entre 20 e 49 anos, é do sexo feminino e reside na cidade. É este o perfil do consumidor regular de produtos biológicos. Regra geral, são pessoas com níveis elevados de conhecimento e níveis médios de rendimento. Preferem os produtos da agricultura biológica por questões de saúde e ambientais. Rui Rosa Dias dá outro exemplo de um novo tipo de consumidor. “Cada vez mais, os pais reconhecem os benefícios do consumo de produtos biológicos para a saúde e optam por comprar para os filhos. É indiscutível que estes produtos são mais ricos em nutrientes”. Sector movimenta 20 milhões ao ano Atendendo aos números que apontam para 200 mil consumidores portugueses “assíduos” de produtos biológicos, o agricultor acredita que há um potencial de mercado a rondar os 10%, correspondente aos que nunca experimentaram. O sector movimenta 20 milhões de euros por ano em Portugal - 67 mil milhões em todo o mundo - e regista um crescimento de 28% ao ano no país. Graças à procura crescente de hortícolas, frutas e lacticínios. Os produtos biológicos transformados como as bolachas, os sumos e os vinhos têm atraído também cada vez mais consumidores. “O sector tem crescido de forma assinalável. É uma reacção à crescente procura e fruto também dos incentivos da União Europeia, que tem apoios para a agricultura biológica e tem atraído muitos produtores”, sublinha Rui Rosa Dias. Em 10 anos, o número de produtores passou dos 765 para os 1.650 - actualmente são 2.200. O que obriga, naturalmente, ao crescimento da área de cultivo dos produtos biológicos que, na última década, triplicou. Actualmente, representa uma área total de 160 mil hectares. Apesar de registar uma tendência francamente positiva, a agricultura biológica ainda tem uma representatividade “diminuta” no sector agro-alimentar no nosso país. Portugal tem uma balança comercial desfavorável no que toca aos produtos biológicos, porque importa mais do que exporta. Em 2015, o cenário não se deverá inverter, acredita Rui Rosa Dias. “Nessa altura, prevê-se que Portugal ainda não seja auto-suficiente na produção de produtos biológicos”, acredita o agricultor, acrescentando: “Temos de ser capazes de produzir em quantidade, mas sobretudo em qualidade, primando pela diferença e atendendo às necessidades de saúde e ambientais”. Rui Rosa Dias, acredita que uma das formas de incentivar o consumo destes produtos passa pela criação de espaços de venda com o apoio das autarquias, que permitam ao consumidor comprar directamente ao produtor. |
2 comentários:
Os produtos biológicos têm,de facto,o problema da comercialização.
A ideia de envolver as autarquias parece-me boa mas insuficiente.O comércio tradicional,micro e familiar poderia dar uma ajuda,com riscos de mistura e comparação de preços é verdade.
O preço é uma mentira bem embrulhada.Os produtos biológicos têm 30 a 40 % mais capacidade nutritiva,conforme os produtos,do que os de agricultura intensiva e com agrotóxicos.O maior tamanho é água e,quase sempre,de má qualidade.
A Agrobio poderia fazer uma maior divulgação e esclarecimento.
Há uma adesão grande à agricultura biológica por parte de aposentados que voltam ao campo e outras pessoas que querem,por necessidade,cultivar para consumo próprio.
Procurar grandes quantidades e grandes superficies para as vender parece-me totalmente inadequado.Foi assim que se enganaram,debilitaram e quase extinguiram as cooperativas.
mário
Sem dúvida, Mário.
E estou totalmente de acordo no que referes em relação à grandes superfícies.
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