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Fósseis de um anfíbio gigante com cerca de 220 milhões de anos foram encontrados no Algarve, na aldeia da Penina, concelho de Loulé. Escavados em 2010 e 2011, nas rochas formadas num antigo lago, os fósseis são agora descritos como pertencentes a uma espécie nova do grupo dos metopossauros – anfíbios primitivos a partir dos quais evoluíram os anfíbios modernos, como os sapos e as salamandras. Nome científico da nova espécie:Metoposaurus algarvensis.
Os metopossauros eram parecidos com salamandras gigantes, alguns atingiam dois metros de comprimento, como este agora descoberto. Durante o período Triásico, viveram em lagos e rios, tal como vivem actualmente os crocodilos, explica em comunicado a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, à qual pertence o paleontólogo português Octávio Mateus, um dos elementos da equipa. Mas estes anfíbios primitivos, acrescenta o comunicado, eram parentes muito distantes das salamandras actuais.
A descoberta foi revelada num artigo científico na revista Journal of Vertebrate Paleontology, no qual se apresenta o Metoposaurus algarvensisnão só como uma espécie nova para a ciência, mas também como a “primeira espécie de metopossauro da Península Ibérica, tendo por base vários exemplares excepcionais de uma acumulação de ossos do Triásico Superior no Algarve”.
Até agora, o registo de metopossauros na Península Ibérica limitava-se a material fragmentado. Além da nova espécie portuguesa, na Europa apenas há mais duas outras espécies de metopossauros (a Metoposaurus diagnosticus e a Metoposaurus krasiejowensis), refere ainda o artigo assinado por cientistas das universidades de Edimburgo e Birmingham (Reino Unido) e do Museu de História Natural de Paris (França), além do paleontólogo português.
Para lá da Europa, têm sido encontrados fósseis de metopossauros em África e na América do Norte. Mas as diferenças na estrutura do crânio e da mandíbula dos fósseis descobertos em Portugal revelaram que são de uma nova espécie e que a distribuição geográfica dos metopossauros é maior do que se pensava até agora, sublinha o comunicado, divulgado no início desta semana.
“Este novo anfíbio parece saído de um filme de monstros. Era tão comprido como um pequeno carro e tinha centenas de dentes afiados numa grande cabeça achatada, que parecia a tampa de uma sanita quando as mandíbulas estavam fechadas”, considera o primeiro autor do estudo, Steve Brusatte, da Universidade de Edimburgo. “Era o tipo de predador feroz que os primeiros dinossauros tinham que enfrentar, muito antes dos dias gloriosos do T-rex e do Brachiosaurus”, refere ainda Steve Brusatte, no comunicado. “É uma daquelas criaturas do passado distante que parece um extraterrestre – mas, na verdade, é muito relevante. Este tipo de grandes anfíbios foi o ‘stock’ ancestral de onde vieram as rãs, as salamandras e os tritões”, acrescenta o paleontólogo à BCC online.
Em 2009, a equipa encontrou a acumulação de ossos, que na prática é um cemitério de anfíbios gigantes, onde centenas de animais terão morrido quando o lago secou. No ano seguinte, os cientistas começaram as escavações – “e até à data”, lê-se no artigo, “escavámos vários crânios e blocos de material pós-craniano desarticulado, que tem sido preparado no Museu da Lourinhã”, onde o paleontólogo português também é colaborador.
Até ao momento, foram escavados apenas quatro metros quadrados deste cemitério de anfíbios gigantes, o que é uma parte muito pequena da acumulação de fósseis. Ainda assim, segundo a BBC online, os cientistas encontraram ossos fossilizados de pelo menos dez indivíduos e, em escavações futuras, esperam escavar centenas. “Significa que teremos muitos fósseis que nos podem dizer como era esta criatura, como era a sua ecologia e o mundo em que habitava”, diz Steve Brusatte.
Ouvida pela BBC online, a paleontóloga Susan Evans, do University College de Londres, que não participou no trabalho, considera impressionante o novo metopossauro, até por ser o primeiro da Europa do Sul. “É um espécime muito bem preservado e numa nova localidade, mas estas coisas têm sido encontrados em vários locais”, comenta. “É um parente das salamandras na mesma medida em que os ornitorrincos são um nosso familiar distante.”
A maioria destes anfíbios monstruosos desapareceu durante uma extinção em massa há 201 milhões, um extermínio que marcou o fim do Triásico e o início do período Jurássico. Os dinossauros, que tinham aparecido uns 20 a 30 milhões de anos antes, escaparam-se e o supercontinente Pangea, que agrupava todos os continentes da Terra, estava a começar a dividir-se.
“Esta descoberta é o exemplo de um achado de uma época muito pouco conhecida em Portugal, o Triásico, há cerca de 200 milhões de anos, altura em que viveram alguns dos primeiros dinossauros”, sublinha Octávio Mateus.
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