quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Estudo comprova que produção de combustíveis fósseis está 110% acima dos limites recomendados até 2030

Para o estudo, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente comparou a produção de carvão, petróleo e gás planeada dos governos assinantes, com os níveis estabelecidos no Acordo de Paris.


Os governos de todo o mundo planeiam produzir mais do dobro da quantidade máxima de combustíveis fósseis até 2030, limite que permitia manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus, alertou esta segunda-feira a ONU.

“Os planos dos governos para expandir a produção de combustíveis fósseis estão a prejudicar a transição energética necessária para alcançar zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa, colocando em dúvida o futuro da humanidade”, salientou a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Inger Andersen, em comunicado.

O PNUMA, com sede em Nairobi, apresentou estes dados na nova edição do Relatório sobre as Lacunas de Produção, produzido em conjunto com o Instituto do Ambiente de Estocolmo (SEI), a organização não governamental Climate Analytics e o grupo de reflexão europeu E3G.

O estudo comparou a produção de carvão, petróleo e gás planeada pelos governos com os níveis estabelecidos no Acordo de Paris (assinado em 2015 e que, por si só, tem como objetivo combater o aquecimento global) para cumprir os limites de aumento da temperatura para evitar efeitos ainda mais devastadores da crise climática.

Os planos de 20 governos analisados no relatório envolvem a produção de cerca de 110% mais combustíveis fósseis até 2030 do que o necessário para evitar um aquecimento de 1,5 graus e 69% mais do que um aumento de 2 graus.

Os países analisados incluem alguns dos maiores produtores mundiais de combustíveis fósseis, incluindo Austrália, Brasil, Estados Unidos, Rússia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, China, Nigéria, África do Sul, Colômbia e México.

“A maior parte destes governos continua a dar um apoio financeiro e legislativo significativo à produção de combustíveis fósseis”, destacou o PNUMA.

Embora 17 governos se tenham comprometido a atingir emissões líquidas nulas e muitos tenham lançado iniciativas para as reduzir, nenhum deles se comprometeu a reduzir a produção de carvão, petróleo e gás para cumprir os objetivos climáticos.

Assim, os planos destes governos significam um aumento da produção mundial de carvão até, pelo menos, 2030 e da produção mundial de petróleo e gás até, pelo menos, 2050.

“Vemos que muitos governos estão a promover o gás fóssil como um combustível essencial de ‘transição’, mas sem planos aparentes para o abandonar mais tarde”, afirmou um dos principais autores do relatório e cientista do SEI Ploy Achakulwisut.

O documento sublinhou ainda que uma “transição energética equitativa” deve “reconhecer as diferentes responsabilidades e capacidades dos países”.

“Os governos com maior capacidade para se afastarem da produção de combustíveis fósseis têm a maior responsabilidade de o fazer, ao mesmo tempo que fornecem financiamento e apoio para ajudar outros países a fazer o mesmo”, afirmou Michael Lazarus, outro autor do estudo e diretor da sede do SEI nos EUA.

Andersen apelou aos países para que se unam em torno de uma “eliminação controlada e equitativa do carvão, do petróleo e do gás” na próxima Cimeira da ONU sobre as Alterações Climáticas (COP28), que começa a 30 de novembro no Dubai e é o principal fórum político sobre o clima.

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