Um relatório da ONG Finance Watch alerta que os modelos usados pelos economistas para avaliar o impacto das alterações climáticas no crescimento económico estão "desligados" da ciência e perpetuam a inação dos decisores políticos.
Os modelos económicos que servem de base às decisões políticas são enganadores quanto aos efeitos das alterações climáticas, alerta o relatório publicado há dias pela ONG Finance Watch.
Para Thierry Philipponnat, o economista-chefe da Finance Watch citado pelo Euractiv, muitas análises do impacto económico das alterações climáticas não têm em conta os pontos de inflexão e os mecanismos de feedback que tornam o efeito das alterações climáticas quase imprevisível.
A Finance Watch dá o exemplo do relatório de 2020 do Conselho de Estabilidade Financeira, um organismo internacional que monitoriza e faz recomendações sobre o sistema financeiro mundial. Ao determinar qual seria o impacto de um aumento da temperatura média global em 4°C no ano 2105, o relatório cita um estudo de 2015 que indica um impacto negativo no valor dos ativos entre 3% e 10%. Ora este valor parece muito aquém da realidade prevista pelos cientistas sobre o que acontecerá quando o planeta aquecer a esse nível, com o IPCC a prever a perda de entre 80% a 100% das espécies nalgumas zonas tropicais, em especial no mar. Essas regiões seriam sujeitas a 300 dias por ano em que os níveis de calor e humidade colocam riscos para a saúde humana.
O que aconteceria nesse cenário em termos de subida do nível do mar, movimento de refugiados climáticos e dos prováveis conflitos geopolíticos subsequentes é dificilmente compatível com uma queda de 3% a 10% no valor dos ativos. Por isso, Thierry Philipponnat apela aos economistas para "adaptarem os modelos económicos, sob pena de prejudicarem tanto a mitigação como a adaptação às alterações climáticas".
"Os economistas que analisam o impacto das alterações climáticas não devem ser cúmplices, mesmo que involuntariamente, da inação dos decisores políticos", afirmou o responsável da Finance Watch, com os olhos postos no relatório que a Comissão Europeia encomendou ao BCE e outras instituições para avaliarem os riscos climáticos para o sistema financeiro até 2030. O prazo de conclusão do relatório será o mais tardar o início de 2025, mas a Finance Watch considera quase inútil que o alcance da previsão seja já daqui a seis anos, pois "é pouco provável que o mundo inverta a atual expansão do consumo de combustíveis fósseis antes dessa data".
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