"Entre cravos e concertos: como Luís Montenegro banalizou a Liberdade com música de tasca e propaganda de feira
Este ano, o 25 de Abril e o 1.º de Maio não foram celebrados pelo Governo.
Foram transformados num arraial de conveniência política, montado às portas de São Bento, onde a história foi abafada pelo som das colunas e pelas palmas coreografadas.
Com a subtileza de um apresentador de programa das manhãs, trocou o cravo pela concertina e a responsabilidade política pelo entretenimento.
O palco foi entregue a Tony Carreira, Montenegro cantou Sonhos de Menino, e a democracia assistiu, incrédula, ao primeiro-ministro a converter duas datas fundadoras da nossa identidade colectiva numa espécie de “festival popular de propaganda patrocinado pelo contribuinte”.
Isto é uma afronta a todos os que, da direita à esquerda, ainda acreditam na honestidade, no mérito, na justiça e no valor da memória.
Porque o 25 de Abril não é uma selfie pirosa com a esposa para parecer do povinho.
O 1.º de Maio não é uma feira de comes e bebes para disfarçar a ausência de política laboral e a falta de responsabilidade.
A Liberdade não se comemora com copos na mão e discursos de propaganda eleitoral na residência oficial do primeiro-ministro.
E, enquanto nos entretém com música e circo, vai enchendo os bolsos dos mais poderosos e dos seus amigos do partido.
Este desrespeito pela separação entre Estado e negócio, entre memória e espectáculo, entre Governo e comício, é perigoso.
Desenganem-se os que acham que isto foi apenas mau gosto ou parolice.
Isto é um projecto de apagamento.
De esvaziamento do valor político da Liberdade, da ética e da justiça social.
É substituir a memória por marketing.
A política por animação.
A ética por fuga e ilusões.
A verdade por spins e whataboutism.
Este tipo de instrumentalização, de despolitização calculada, não é um acidente — é um sintoma grave de uma democracia que começa a tropeçar no seu próprio desleixo e grunhificação do discurso político.
E cabe a todos, da esquerda à direita, dizer com firmeza:
Não em nosso nome."
Eduardo Maltez da Silva
2 comentários:
https://www.abrilabril.pt/
'Frase do Dia'
«Sabeis o mais cínico? Os trabalhadores da CP chegaram a acordo com a administração para aumentos salariais, mas o Governo recusou promulgar, alegando estar em gestão.»
JOÃO RODRIGUES, LADRÕES DE BICICLETAS
3 de Maio de 2025
Verdade, estimado Manuel Pinto. Abraço
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