segunda-feira, 5 de julho de 2021

Os níveis de poluição fecal no estuário do Douro são inadmissíveis para uma cidade do mundo desenvolvido


Catarina Miranda, do grupo #MovRioDouro, diz que as autoridades portuguesas não estão a resolver os problemas graves no Douro e nos seus afluentes – e apela à remoção das barragens obsoletas

O mês passado, várias associações ambientalistas e cidadãos juntaram-se e criaram o #MovRioDouro, para chamar a atenção para as ameaças sobre a bacia hidrográfica. Uma necessidade que nasceu da inação das autoridades, diz Catarina Miranda, do grupo e do GEOTA, uma das organizações na génese do novo movimento, na conversa da VISÃO VERDE desta semana.

“Este movimento foi criado em maio, mas tem toda uma história prévia. A necessidade de o criar foi sentida nos últimos anos por entidades que trabalhavam juntas num projeto do Douro. O governo não monitorizava as questões dos sedimentos, por exemplo.”

A ambientalista lembra que os rios são dos ecossistemas mais ameaçados a nível global, tanto os leitos como as próprias margens, por espécies invasoras, construção imobiliária e barragens. No caso do Douro, isso é particularmente verdade, acrescenta. “Temos oito ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais) no estuário do Douro, e os níveis de poluição fecal são imensos e inadmissíveis para uma cidade do mundo desenvolvido.”

Por outro lado, as autoridades não estão a tomar atenção à situação. “As entidades responsáveis, como a Agência Portuguesa do Ambiente e as câmaras municipais do Porto e de Gondomar e as Águas do Porto e de Gondomar, têm-se remetido ao silêncio, e a sua inação faz com que sejam cúmplices de uma agressão ambiental”, acusa Catarina Miranda. “Temos praias que poderiam ser adequadas para banhos nesta região e que têm problemas grandes.

Temos de remover barragens

A ambientalista aponta, no entanto, o dedo às barragens como a ameaça mais grave à biodiversidade no Douro. “Ao construir uma barragem, fazemos com que os ecossistemas fiquem muito mais simples, afetando a cadeia alimentar de mamíferos, aves e peixes.”

Mas como conciliar a necessidade de apostar em energias renováveis e assim reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, para mitigar os efeitos das alterações climáticas, com a biodiversidade dos rios? Catarina Miranda sabe que o debate é complexo. “Primeiro que tudo, queremos usar energias que não contribuam para o efeito de estufa e vamos parar às renováveis, mas nem todas são limpas. As barragens são uma das renováveis com mais impactos ambientais, embora sejam energia renovável. A melhor estratégia seria investir na eficiência energética. Gastar menos energia.”

Está, aliás, na altura de começarmos a discutir a renaturalização dos rios. “Temos oito mil barreiras [grandes e pequenas barragens] em Portugal e estima-se que 25% estejam obsoletas. Não servem para nada. Outros países da Europa e do mundo estão a investir na remoção de barragens e Portugal precisa de começar a fazer esse caminho. Temos de começar a remover barragens que já não são necessárias.”

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