Ou como os católicos fundamentalistas são e actuam, incluindo membros dos partidos Chega e Iniciativa Liberal: hipócritas, preconceituosos, cépticos das alterações climáticas, negacionistas do covid e outras crises sanitárias, anti-aborto, LGBTfóbicos, machistas e como Trump racistas. Bolsonaro também é racista. Já afirmou que os índios devem viver nos jardins zoológicos.
Longe destas figuras que estão a assolar a Europa como "amigos de Deus, Pátria e Família".
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"Estamos numa hora em que o pensamento, a reflexão e até a linguagem sofrem. Não só se empobrece como se torna grosseiro, bárbaro e recorre a slogans. Por outro lado, todos nós sabemos: quando não há pensamento, os tons sobem e as palavras são ressoadas para provocar emoções, e isso vale para todos os lugares, até os comícios na praça.
Sendo velho não esqueço os escritos desbotados nas paredes que sobraram da era fascista: "Acredite, Obedeça, Lute!", "Autoridade, Ordem, Justiça!", "Deus, Pátria, Família!".
Parece-me significativo que tenham ressoado novamente hoje: "Deus, Pátria, Família" é um slogan que me perturba. Porque essas três palavras colocadas uma após a outra, feitas bandeira e estandarte entre as pessoas que se julgam fortes, ressoam para mim não apenas como sinistra, mas como uma blasfémia. Palavras de um tempo e de uma cultura que eu não gostaria de viver.
Como cristão, estou convencido de que a palavra "Deus" é um termo eminente, mas insuficiente, por trás do qual se escondem emoções que são projeções humanas. A maioria das imagens que forjamos de Deus são perversas. Como cristão, estou convencido de que somente Jesus disse e mostrou quem é Deus.
O Deus de Jesus não gosta de ser proclamado, nem invocado contra alguém, mas gosta de ser pensado como "Deus connosco". Não precisa de nós para defendê-lo ou impô-lo à sociedade em que vivemos. Ele se ofende se for explorado como elemento de identidade, se for arrastado para a arena política.
Quanto à Pátria, felizmente minha geração não serviu mais à ideologia nacionalista, ídolo em nome do qual, nas guerras, tantas vidas humanas foram sacrificadas. Amamos a nossa terra, mas também a dos outros, convencidos de que "toda terra para o cristão é estrangeira e toda terra estrangeira para o cristão é pátria", como lemos em A Diogneto, texto de um cristão do século II, quando os cristãos puderam viver como minorias em diálogo e paz na maré pagã do Império Romano. Não, para nós hoje não é mais bonito morrer pela pátria.
Quanto à "Família", aquela que poderia ser invocada não existe mais, foi estilhaçada com o paternalismo, a submissão das mulheres, a impossibilidade de os jovens falarem. Nascemos numa família e somos acolhidos por ela, e isso é uma grande graça. Mas quando temos que construir uma vida buscamos o amor fora da família.
Significa que até a família é insuficiente: não devemos torná-la um mito ou um ídolo. É preciso estar vigilante contra o familismo que forja uma ideologia não ao serviço do amor humano, mas dos controladores da ordem moral.
Ficamos escandalizados se estes slogans são gritados hoje na Rússia pelos poderes religiosos e políticos, mas depois permitimos que sejam propostos como um programa na nossa cansada e velha, mas ainda válida, democracia. O ídolo é sempre um falso antropológico, uma fonte de alienação. “Deus, País, Família!”: Três palavras que se gritadas são uma blasfémia e deveriam representar para todos o espectro de uma prisão."- Enzo Bianchi
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