sábado, 8 de janeiro de 2022

Economia da floresta: quanto vale?


Com um volume de negócios de 9,8 mil milhões de euros na indústria de base florestal e de mais de 952 milhões de euros nas empresas silvícolas em 2019, a economia da floresta tem um impacte muito significativo nas contas nacionais. De fora ficam valores não contabilizados e difíceis de mensurar, como o contributo para o turismo de natureza, a biodiversidade ou a produção de oxigénio, entre muitas outras atividades que contribuem para a economia da floresta.

A floresta é fonte de diversas atividades, matérias-primas e serviços. Como resultado, o seu contributo para a economia portuguesa é indiscutível. Embora não existam estatísticas oficiais que tracem o retrato completo da economia da floresta em todas as suas componentes, sabemos que as indústrias de base florestal – madeira, cortiça, mobiliário, e pasta, cartão e papel – geraram, em 2019, um volume de negócios superior a 9,8 mil milhões de euros. No mesmo ano, o volume de negócios das empresas dedicadas à silvicultura e exploração florestal ultrapassou os 950 milhões de euros.

Estes números indicam que as indústrias de base florestal e silvicultura contribuíram, respetivamente, para cerca de 4,6% e 0,44% do Produto Interno Bruto nacional (PIB) na ótica da produção, em 2019, ou seja, do valor de todos os bens e serviços finais produzidos em Portugal nesse ano.

De notar que nos últimos anos, o volume de negócios do sector florestal tem contribuído com cerca de 10 mil milhões de euros, o que representa cerca 5% do PIB do país (na ótica da produção).

Juntas, as empresas que atuam nestas áreas foram responsáveis, em 2019, por cerca de 2,7 mil milhões de euros de Valor Acrescentado Bruto (VAB), ou seja, do valor da atividade produtiva nacional menos os custos de produção. Mesmo com algumas variações desde 2015, ano em que o sector foi responsável por cerca de 2,2 mil milhões de euros de VAB, a atividade industrial representou cerca de 90% deste valor.

Isto significa também que o VAB do sector florestal tem sido responsável por cerca de 1,5 % do VAB nacional total, um contributo que se manteve relativamente estável desde 2015.

As indústrias de base florestal são uma componente robusta do sector e da indústria transformadora nacional. Os seus contributos para a criação de riqueza, investimento e produtividade são indispensáveis à saúde financeira de Portugal, assim como ao emprego, com perto de 75 mil postos de trabalho em cerca de 10 mil empresas, em 2019 (sobretudo nas regiões Norte e Centro) e às exportações, que rondaram os 5 mil milhões de euros em 2019 (e um pouco menos em 2020, a acusar os efeitos da contração causada pela pandemia).

No total, estas indústrias representaram, em 2019, um VAB de mais de 2,4 mil milhões de euros (9,4% do VAB da indústria portuguesa). Com o seu volume de negócios superior a 9,8 mil milhões de euros, além de representarem mais de 4,5% do PIB português na ótica da produção, as indústrias florestais contribuíram para mais de 10% do volume de negócios de toda a indústria transformadora nacional (que em 2019 se situou nos 97,2 mil milhões).

É ainda de destacar, em matéria de investimento, que estas indústrias totalizaram, em 2019, mais de 523 milhões de euros em Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), ou seja, de investimento em ativos fixos usados por mais de um ano na produção de bens e serviços, como é o caso de software ou maquinaria.

Contas feitas, tratou-se de um investimento sectorial que representou quase 11% do montante em FBCF do total da indústria transformadora nacional em 2019, embora os valores de investimento da indústria de base florestal apresentem reduções face a anos anteriores: eram 614,4 milhões de euros em 2017 e 731,7 milhões de euros em 2018.

Seguem-se com valores muito próximos entre si a indústria do mobiliário, excluindo colchões, a indústria da madeira e a da cortiça, com volumes de negócios, respetivamente, de 1,797, 1,782 e 1,747 mil milhões de euros, o que significa que cada um destes grupos de empresas representou, em 2019, cerca de 18% do volume de negócios da indústria e base florestal.

No que diz respeito ao VAB, a indústria da pasta e papel assegurava, em 2019, 992,4 milhões de euros, o que representava um pouco mais de 40% dos quase 2,439 mil milhões do VAB das indústrias de base florestal. Apesar de representativo, o montante gerado por esta indústria em 2019 ficou abaixo dos mais de mil milhões do ano anterior (1,096 mil milhões de euros). As restantes indústrias têm mantido uma trajetória relativamente regular nos últimos anos, embora com resultados mais modestos.
Silvicultura: valor da produção acima de 1,3 mil milhões de euros

As empresas dedicadas à silvicultura e exploração florestal contribuíram, em 2019, com um volume de negócios de 950 milhões de euros para a economia da floresta, mas o valor dos seus produtos e serviços ascendeu a mais de 1,3 mil milhões de euros, segundo relevam as Contas Económicas da Silvicultura relativas ao mesmo ano.

A produção de bens silvícolas (madeira, cortiça, plantas de viveiros e outros produtos silvícolas) foi responsável por perto de 855 milhões de euros, tendo a produção de serviços silvícolas e de exploração florestal e outras atividades secundárias contribuído com cerca de 376 milhões de euros e 76 milhões de euros, respetivamente, em 2019.

De acordo com o mesmo documento, o peso relativo do VAB das atividades silvícolas na economia nacional desceu em 2019 para o nível mais baixo da década: 0,4%. Este é um contributo semelhante ao registado em 2009, mas mesmo assim coloca Portugal a meio do “pelotão” europeu – em 11º lugar – no que diz respeito ao peso da silvicultura para as contas de cada país.

Apesar de estar longe de países como a Letónia ou a Finlândia, cujo peso relativo do VAB da silvicultura no VAB da economia ronda os 2%, a verdade é que Portugal supera outros países da Europa mediterrânica com grandes áreas florestais, como a Espanha, Itália e França, com contributos do sector florestal entre 0,1% e 0,2% do VAB.

Embora o valor total resultante da produção silvícola tenha descido em 2019, manteve-se acima dos 1,3 mil milhões de euros, como acontecera em 2018. O maior contributo para este total, com cerca de 65%, vem do subsector Produção de Bens Silvícolas, com a Madeira de Folhosas para Triturar e a Cortiça a darem os contributos mais expressivos: cerca de 291 milhões de euros e de 258 milhões de euros, respetivamente.

A descer esteve também o investimento realizado, com a Formação Bruta de Capital Fixo a passar de quase 129 milhões de euros em 2017 para 112 milhões de euros em 2019, isto depois de ter rondado os 120 milhões entre 2015 e 2017. Um pouco mais de metade foi investido em florestação e reflorestação.

O valor “invisível” da economia da floresta

A riqueza gerada diretamente pelas indústrias de base florestal e pela silvicultura é só uma pequena parte do valor da economia da floresta. Os números deixam de fora vários contributos, como por exemplo o dos produtos florestais não lenhosos – como a castanha, o pinhão, o mel, os cogumelos silvestres ou as plantas aromáticas e medicinais – o dos novos produtos criados a partir de fibras florestais e o das atividades de caça e pesca em zonas florestais.

Fora destas contas da economia da floresta convencional ficam também os contributos mais difíceis de quantificar como o do oxigénio que respiramos, do carbono armazenado, da conservação da biodiversidade e paisagem, da preservação do solo e da água ou do valor da floresta como espaço de recreação, desporto e lazer.

É difícil estimar o valor destes serviços ambientais, embora sejam uma preocupação recorrente e histórica na silvicultura. Estas preocupações estiveram até na origem do Regime Florestal de 1901 que decretava, a propósito, “o revestimento florestal dos terrenos cuja arborização seja de utilidade pública, e conveniente ou necessária para o bom regime das águas e defesa das várzeas, para a valorização das planícies áridas e benefício do clima, ou para a fixação e conservação do solo, nas montanhas, e das areias, no litoral marítimo”.

Apesar da dificuldade em quantificar estes serviços dos ecossistemas florestais, vários trabalhos técnicos e académicos têm contribuído com projeções que estimam estes valores. O professor de economia Américo Mendes, por exemplo, calculou que os serviços do ecossistema gerassem, em 2018, o equivalente a mais de 880 milhões de euros em Portugal.

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.

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