quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Agnatologia

"Durante muito tempo, a gente aprendeu que ignorância era só falta de informação. Que bastava ensinar melhor, divulgar mais, explicar com paciência. Esse raciocínio parte de uma ideia confortável: a de que todo mundo erra sem querer. Até que alguém resolveu olhar para o problema por outro ângulo e perguntar o que acontece quando a ignorância não é um acidente, mas um projeto.
Foi aí que conheci o trabalho de Robert Proctor, historiador da ciência, professor em Stanford, e o homem que deu nome a esse mecanismo desconfortável chamado agnotologia. Agnotologia é o estudo da produção deliberada da ignorância. Não do erro honesto. Não da dúvida legítima. Mas da ignorância construída com método, dinheiro, estratégia e paciência histórica.
Proctor chegou a isso estudando a indústria do tabaco. E aqui vale ser bem didático. Nos anos 1950, a ciência já havia identificado com clareza a relação entre cigarro e cancro de pulmão. O consenso estava se formando. O que a indústria fez não foi negar frontalmente esses estudos. Isso seria fácil de desmontar. O que ela fez foi algo muito mais sofisticado.
Ela financiou pesquisas paralelas, pagou especialistas para relativizar conclusões, criou institutos “independentes” e passou a repetir uma frase-chave: “a ciência ainda não é conclusiva”. Não era mentira direta. Era fabricação de dúvida. O objetivo não era convencer as pessoas de que fumar fazia bem. Era fazer com que elas pensassem que ainda era cedo demais para ter certeza.
Aqui está o ponto central da agnotologia: não se trata de convencer, mas de paralisar. Se existe dúvida, não há urgência. Se há controvérsia, não há decisão. Se tudo parece incerto, ninguém precisa agir agora.
Esse método deu tão certo que passou a ser reutilizado. Mudam os temas, mas a engrenagem é a mesma. Mudanças climáticas, por exemplo. Durante décadas, empresas financiaram campanhas não para negar o aquecimento global, mas para transformá-lo em “debate”. O planeta aquecia, os dados se acumulavam, mas a pergunta pública permanecia sempre a mesma: “Será mesmo?”
Vacinas seguiram caminho parecido. Não foi preciso provar que elas não funcionam. Bastou sugerir que talvez não fossem tão seguras assim, que talvez ainda houvesse algo escondido, que talvez fosse melhor esperar. A dúvida virou produto. A hesitação virou comportamento social.
História também entra nessa conta. Quando tudo vira “versão”, quando factos documentados passam a disputar espaço com opinião, quando arquivos viram narrativa opcional, a ignorância deixa de ser ausência e passa a ser política. Não é esquecimento. É escolha.
A agnotologia não nasceu na filosofia, mas dialoga diretamente com ideias que muita gente já sentiu na pele sem saber nomear. Michel Foucault já havia mostrado como saber e poder caminham juntos, como certos discursos ganham status de verdade enquanto outros são empurrados para a margem. Proctor mostra o outro lado da moeda: não apenas o que é dito, mas o que é sistematicamente impedido de ser sabido.
Décadas depois, pesquisadores como Naomi Oreskes deixaram isso ainda mais explícito ao analisar como a dúvida científica foi usada como arma política no debate climático. Não se vence a verdade com mentira escancarada. Vence-se desgastando-a, cercando-a de ruído, colocando-a no mesmo nível de qualquer palpite. Quando tudo vira opinião, a verdade deixa de ter urgência.
Esse mecanismo fica ainda mais eficiente quando encontra um terreno fértil chamado dissonância cognitiva. Um conceito da psicologia formulado por Leon Festinger, que explica algo simples e profundamente humano. A gente não gosta de informações que nos obrigam a rever quem somos, no que acreditamos ou ao grupo ao qual pertencemos. Quando uma informação ameaça nossa identidade, o cérebro não reage buscando verdade. Ele reage buscando alívio.
E a dúvida fabricada oferece exatamente isso. Ela não exige mudança. Não cobra revisão. Não pede desconforto. Ela apenas sussurra: “calma, talvez não seja bem assim”. A agnotologia não precisa criar essa tensão. Ela só precisa explorá-la.
As redes sociais transformaram esse processo em escala industrial. Algoritmos aprenderam a entregar conforto cognitivo com precisão assustadora. Se você acredita em algo, sempre haverá um conteúdo dizendo que você tem razão em duvidar do resto. Nesse ambiente, a ignorância não precisa ser imposta. Ela passa a ser escolhida.
Eu faço questão de falar disso aqui porque entender esse mecanismo é uma forma de defesa. Não contra pessoas, não contra ideias específicas, mas contra estruturas invisíveis que moldam o debate público. A melhor forma de se prevenir é entender o mecanismo. A agnotologia não te transforma automaticamente em alguém mais informado ou mais inteligente. Ela te transforma em alguém mais atento. E atenção, hoje, é um ato quase subversivo.
Talvez você nunca tenha ouvido essa palavra antes. E tudo bem. Ela não costuma circular fora da academia justamente porque nomear o problema é o primeiro passo para desmontá-lo. Mas o efeito dela está por toda parte. Nos debates que nunca avançam. Nas discussões que se repetem em círculos. Na sensação constante de que algo está errado, mas nunca errado o suficiente para exigir mudança imediata.
Quando identidade vira trincheira, qualquer dúvida que proteja essa identidade parece virtude. É assim que a guerra cultural se alimenta. Não pela força da verdade, mas pelo conforto da hesitação. Em certos momentos da história, não é a mentira que vence. É a dúvida bem administrada.
E é exatamente por isso que escrever este texto me dá um tipo específico de orgulho. Não aquele orgulho inflado, performático, mas um orgulho quieto, quase teimoso. O de continuar falando de coisas difíceis num tempo em que o fácil viraliza mais rápido. O de explicar um conceito pouco conhecido quando o mundo parece preferir gritar certezas rasas.
Com tudo o que tem acontecido comigo, com o debate público e com o próprio planeta, sentar para escrever sobre isso é, para mim, uma forma de resistência lúcida. E também um gesto de confiança em quem ainda lê com atenção. Se isso aqui servir como munição para quem pensa criticamente, mesmo que só para reconhecer a engrenagem, já valeu a pena "

O ano em revista: as espécies que deram sinais de esperança em 2025


Fique a conhecer os animais e plantas eleitos neste ano que está a terminar, por investigadores e conservacionistas que trabalham com a biodiversidade em Portugal.

1. Abutre-preto (Aegypius monachus)


Com uma envergadura de asa que pode chegar aos três metros, este que é o maior abutre da Europa deu este ano sinais de expansão e de consolidação das colónias existentes em Portugal, refere Samuel Infante, membro da Plataforma de Defesa do Tejo Internacional. De facto, nas contas do projeto LIFE Aegypius Return, que trabalha para a conservação desta espécie, em 2025 contaram-se 119 a 126 casais em território português, um forte contraste com os 40 pares contabilizados em 2022.

Hoje conhecem-se cinco núcleos reprodutores: no Tejo Internacional, “que continua a ser a área de maior concentração da população da espécie”, no Baixo Alentejo (Herdade da Contenda), na Reserva Natural da Malcata, no Douro Internacional e ainda na Vidigueira/Portel (Alentejo). A descoberta desta última colónia, em julho de 2024, “veio dar esperança de que a espécie possa recuperar em pleno”, acrescenta Samuel Infante. Ainda assim, o futuro é ainda frágil: apenas metade dos casais com ovos no ninho conseguiram assegurar descendência, este ano, afetados entre outras ameaças pelos fogos do último verão.

2. Cagarra (Calonectris borealis)

Apesar das pressões que se fazem sentir sobre estas e outras aves marinhas, como é o caso das capturas acidentais em artes de pesca, a maior colónia mundial de cagarras, na Selvagem Grande, arquipélago da Madeira, continua a crescer, nota Joana Andrade. A coordenadora de conservação marinha da SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves chama a atenção para um estudo científico publicado em janeiro passado, que analisou os resultados de contagens feitas entre 2009 e 2023 naquela ilha, e concluiu que ali nidificam atualmente cerca de 38.830 casais – um número que surpreendeu a equipa de investigadores.

Para o crescimento desta colónia contribuem várias medidas, como a aplicação de um regime de proteção estrita na Reserva Natural das Ilhas Selvagens (que inclui ainda a Selvagem Pequena, o Ilhéu de Fora e outros ilhéus adjacentes) e a erradicação total de coelhos e murganhos na Selvagem Grande.

3. Gaivota-de-audouin (Ichthyaetus audouinii)


A gaivota-de-audouin (Ichthyaetus audouinii) é outra das espécies que transmitiu um sinal de esperança ao longo de 2025, notam Joana Andrade, da SPEA, e Gonçalo Elias, ornitólogo e coordenador do portal Aves de Portugal. Esta ave marinha começou a nidificar em território nacional apenas no início do século XXI mas teve um crescimento surpreendente, empurrada por alterações que afetaram estas gaivotas junto ao Mediterrâneo.

Hoje, conta com uma população reprodutora de cerca de 7000 casais no Algarve, incluindo a maior colónia mundial da espécie, na ilha da Barreta, e uma colónia mais recente na ilha da Culatra, ambas na Ria Formosa. Gonçalo Elias considera que o projecto LIFE Ilhas Barreira (2019-2024) deu “um importante contributo para melhorar as condições de reprodução da gaivota-de-audouin no nosso país”. “Embora esteja classificada como Vulnerável a nível mundial, o recente aumento populacional permite ter esperança de que possa deixar de ser considerada ameaçada num futuro próximo”, conclui.

4. Insectos polinizadores


“O ano de 2025 foi um ano muito especial para o futuro da conservação dos insetos polinizadores em Portugal e deu-me um grande entusiasmo pelo que virá nos próximos anos”, afirma Hugo Gaspar, que se dedica à investigação nesta área. Em causa está um grupo grande com mais de 1000 espécies em Portugal, a maioria das quais abelhas selvagens, moscas-das-flores e borboletas diurnas, descreve. O investigador no FLOWer lab, grupo de investigação ligado à Universidade de Coimbra, lembra que se deram “passos importantes” neste último ano “para que possamos ter mais certezas e resultados” no que respeita à conservação destes insetos.

Em primeiro lugar, a publicação do Plano de Ação para a Conservação e Sustentabilidade dos Polinizadores, com um conjunto de medidas para melhorar o estado de conservação deste grupo em Portugal. Em segundo, foi também em 2025 que a União Europeia formalizou o compromisso de implementação do esquema de monitorização dos polinizadores, em linha com o Plano de Ação. Por fim, concluiu-se o projeto ARCADE, que melhorou o conhecimento e o estado das coleções de referência para o estudo dos polinizadores em Portugal. “Em conjunto, estas e outras ações trouxeram este ano muita esperança para este grupo de organismos, e os próximos anos assim o vão confirmar”, acredita Hugo Gaspar.

5. Lince-ibérico (Lynx pardinus)

O lince-ibérico, que nos últimos anos tem sido alvo de vários projetos de conservação que juntam Portugal e Espanha, é outra espécie que deu provas de esperança no ano que termina agora, apontam Samuel Infante, da Plataforma de Defesa do Tejo Internacional, e Francisco Álvares, cientista do CIBIO (Universidade do Porto), especializado em mamíferos.

O esforço de conservação desta espécie outrora à beira da extinção conseguiu o número de linces na Península Ibérica aumentasse para 2401 animais, foi anunciado em maio. Em novembro, foi anunciado um recorde de nascimentos nos centros de reprodução de Portugal e Espanha.

“É uma espécie icónica que foi considerada extinta em Portugal há pouco mais de duas décadas e actualmente apresenta uma população de mais de 300 indivíduos”, nota Francisco Álvares, lembrando que todavia este felino enfrenta ainda várias “ameaças sérias”. Desde logo, exemplifica, uma reduzida diversidade genética (com consequências na resistência a patologias), limitada disponibilidade de alimento (face à raridade do coelho-bravo) e mortalidade por causas humanas (por exemplo, atropelamentos e perseguição directa).

O investigador do CIBIO refere ainda outras espécies que também recuperaram em Portugal, “de forma extraordinária”, as suas populações nestes últimos anos. Exemplos? O corço, a cabra-montês, a águia-imperial e o abutre-preto. “Mas também estas espécies, enfrentam várias ameaças, muitas delas semelhantes às do lince-ibérico, por isso estes ‘sinais de esperança’ poderão ser atenuados se não houver esforços para a sua conservação efectiva”, alerta.

6. Saramugo (Anaecypris hispanica)


Este pequeno peixe de rios portugueses, em risco de extinção, surpreendeu recentemente os investigadores, lembra Filipe Ribeiro, cientista do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em 2025, um novo estudo conseguiu obter um conhecimento mais exato sobre a distribuição do saramugo. “Durante quase duas décadas, pensou-se que em cinco das 10 populações existentes em Portugal a espécie estaria localmente extinta, uma vez que ao longo deste tempo nunca foram capturados exemplares de saramugo”, explica Filipe Ribeiro. “Porém, através de um estudo baseado em DNA ambiental, realizado em 2023 e publicado em 2025, conseguimos detectar este peixe em todas as 10 populações portuguesas.”

Ainda assim, esses resultados não querem dizer que a situação do saramugo esteja melhor, ressalva o investigador, mas sim que “poderemos alocar esforços de monitorização, que entretanto tinha sido abandonada, e medidas de conservação, às populações que anteriormente tinham sido consideradas como perdidas”.

Para já, explica, são necessárias novas medidas para garantir um futuro ao saramugo, a longo prazo. “Deu-nos algum alento saber que a espécie ainda está nestes locais, porém é necessária uma monitorização dedicada e mais intensiva nestas populações, bem como medidas de melhoria de habitat e remoção de invasoras para a preservação desta espécie endémica da Península Ibérica.”

7. Tartaranhão-caçador (Circus pygargus)


“O aumento registado este ano no sucesso reprodutor do tartaranhão-caçador é bastante positivo, tendo em conta que, segundo os dados do primeiro censo da espécie realizado em Portugal em 2022-2023, esta ave se encontrava no limiar da extinção e, em Espanha, a situação também é bastante crítica”, refere Joaquim Teodósio, da organização não governamental de ambiente Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural e coordenador do projeto LIFE SOS Pygargus. Este ano, dos 251 ninhos desta espécie migradora que foram alvo de medidas de proteção, na Península Ibérica, 77% conseguiram assegurar pelo menos um juvenil voador. Ao mesmo tempo, atingiram-se 1,98 juvenis por casal nidificante, acima do limiar de viabilidade desta espécie.

8. Planta carnívora Utricularia subulata


A redescoberta da Utricularia subulata, uma planta carnívora que não era observada em Portugal desde 1967, é uma notícia esperançosa deste ano que passou, sublinha Sergio Chozas, ligado à Sociedade Portuguesa de Botânica. “De facto esta notícia dá nos esperanças de que algumas das espécies que foram dadas como extintas podem, de facto, andar ainda por aí, e também nos fazem lembrar da importância de continuarmos a fazer estudos e levantamentos da nossa flora”, sublinha este botânico, que é também investigador na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Né Ladeiras - Beijai o menino

"Beijai o menino, beijai- o agora
Beijai o menino, de nossa senhora
Beijai o menino, beijai-no pé
Beijai o menino, que é de São José

Os filhos dos homens em berços dourados
E bós meu menino em palhas deitado
Em palhas deitado, em palhas querido
Filho de uma rosa dum cravo nascido

Os filhos dos homens em bós travesseiros
E bós meu menino preso a um madeiro

Sois um manso cordeiro que estais nessa cruz
Com os braços abertos perdoai-nos Jesus
Sois o Salvador do mundo que tudo salvais
Salvei nossas almas bendito sejais."

Este é o resultado de dois anos de pesquisa de material relacionado com a música e a cultura tradicional transmontana, nomeadamente as recolhas efectuadas por Michel Giacometti e por Jorge e Margot Dias. Foram assim redescobertos, cantares que remontam ao séc. XVI e outros cuja origem se perderam na bruma dos tempos e que aqui são reinterpretados á luz dos nossos dias.

Tribunal suíço vai julgar caso histórico contra gigante do cimento Holcim



A Swiss court is set to hear a climate case against cement giant Holcim after admitting a complaint filed by four residents of the low-lying Indonesian island of Pari.

The residents say rising sea levels are swallowing their home and accuse Holcim of failing to cut carbon emissions.

The Cantonal Court of Zug admitted the complaint in full, marking the first time climate litigation against a corporation will proceed in Switzerland, according to Swiss Church Aid (HEKS/EPER), one of the NGOs assisting the islanders.

The case is part of a global effort to hold major companies accountable for climate damage that threatens millions, especially in poorer countries.

Climate change could submerge Pari by 2050
The case was brought in 2023 by four residents of Pari Island, Ibu Asmania, Pak Arif, Pak Edi, and Pak Bobby, to the court in Zug, where Holcim is headquartered. Rising waters linked to climate change could submerge most of the island by 2050. Pari sits just 1.5 meters (5 feet) above sea level.

The plaintiffs, supported by international NGOs including Swiss Church Aid (HEKS/EPER), the European Center for Constitutional and Human Rights, and The Indonesian Forum for Living Environment (WALHI), say Holcim is one of the world's largest emitters of greenhouse gases. They are demanding rapid cuts in CO2 emissions — 43% by 2030 and 69% by 2040 — as well as compensation for damage and funding for flood protection.

Ibu Asmania said he and the other plaintiffs were "very pleased" by the court's decision.

"This decision gives us the strength to continue our fight," he said. "This is good news for us and our families."

Cement giant plans to appeal
Holcim, which has not operated cement plants in Indonesia since 2019, plans to appeal the court's decision to allow the case to move ahead. The company has repeatedly stressed it is committed to reaching net zero by 2050 but argues lawmakers should decide how those goals are met.

"Holcim remains convinced that the courtroom is not the appropriate forum to address the global challenge of climate change," the company said.

Cement production accounts for about 9% of global carbon dioxide (CO2) emissions, according to the Global Cement and Concrete Association.

Curve - Horror Head



Fireworks, blue and green
I can see what they sing
But you are away
You always smile

Boxing ring
The back of mules
You can really see, from the inside
Across the room

There's a horror in my head
When the blanket is gone
From the floor in my castle
Where I see the Sun from

There's a horror in my head
When the blanket is gone
From the floor in my castle
Where I see the Sun from

In the comfort of this room 
The challenge died
Remember you and me
We laughed till we cried

Horror Head, cujo significado não é literal; é mais simbólico e emocional, como é comum na banda. Não fala de “terror” no sentido de monstros ou horror clássico, mas sim de um estado mental sombrio, quase claustrofóbico. A canção é frequentemente interpretada como uma elegia a um amante perdido ou uma exploração de sentimentos de perda profunda e catarse. No clipe oficial da canção Cabeça de Horror utiliza cores vibrantes e cortes rápidos para reforçar essa sensação de desorientação

Floco de neve visto ao microscópio electrónico


O cientista Nathan Myhrvold conseguiu registar as mais belas e detalhadas fotografias de flocos de neve já feitas! Isto graças a um trabalho árduo e a uma tecnologia de ponta, criada especialmente para registar estes pequenos cristais gelados.

A neve é um dos fenómenos meteorológicos mais fascinantes, responsável por criar cenários incríveis e encantadores quando precipita das nuvens e se acumula na superfície. Mas a sua beleza não se limita apenas às paisagens, existe uma beleza que não podemos vislumbrar a olho nu: os flocos de neve!

Nathan Myhrvold, ex CTO da Microsoft, afirma ter captado as imagens de flocos de neve de maior resolução do mundo.

Esta beleza difícil de ser vista foi o que inspirou Nathan Myhrvold a aventurar-se em mais um grande desafio: fotografar flocos de neve em alta resolução! Myhrvold foi diretor de tecnologia na Microsoft por muitos anos, mas deixou o seu cargo em 1999. À procura de novos desafios, passou a dedicar-se às suas paixões: cozinha e fotografia. Inclusive, ele é coautor do livro de receitas Modernist Cuisine, um livro de 5 volumes sobre a arte e a ciência de cozinhar.

Myhrvold disse à Accuweather que o seu desejo de fotografar flocos de neve começou quando decidiu que gostaria de fotografar coisas comuns que as pessoas vivenciam todos os dias. Mas ele queria que os temas das suas fotos fossem objetos que não podem ser vistos a olho nu, colocando-os em foco.

Entretanto, os desafios de fotografar flocos de neve são bem óbvios, sendo extremamente frágeis e minúsculos, medindo apenas alguns milímetros de diâmetro, um floco de neve pode derreter em segundos. Por isso, Myhrvold teve que pensar muito e arquitetar uma configuração tecnológica perfeita para superar todos estes desafios.

A tecnologia e a ciência por detrás das fotografias
Após 18 meses de trabalho duro, Myhrvold projetou e criou uma câmara de alta resolução personalizada combinada com um microscópio que funciona em climas frios. Para tal, ele teve que fazer uma série de adaptações, como, por exemplo, colocar fibra de carbono na moldura do seu microscópio, já que o metal se expande e contrai com a temperatura.

Para certificar-se de que os flocos não derretiam na lâmina do microscópio antes que os pudesse fotografar, Myhrvold decidiu usar safira artificial em vez de vidro, pois o vidro transmite bem o calor. Essa safira artificial era arrefecida para garantir que os flocos de neve ficassem intactos durante o maior tempo possível.

Até mesmo o esquema de iluminação por flash teve que ser adaptado. Myhrvold optou por luzes de LED que piscavam por apenas um milionésimo de segundo, que elimina tanto a transferência de calor quanto as vibrações, que poderiam destruir o espécime ou borrar a fotografia.

Assim que o equipamento estava pronto, havia outro desafio à sua espera: encontrar o local certo e capturar os flocos! Para isso, instalou-se em varandas em Fairbanks, Alasca e Yellowknife, Territórios do Noroeste, Canadá, sob temperaturas de até -20ºC! Com um pedaço de papelão coberto de veludo, Myhrvold capturou milhares de flocos de neve, mas nem todos estavam em perfeitas condições para serem fotografados.

Então, Myhrvold analisava cada floco com uma lupa, selecionava os melhores, capturava-os com um pequeno pincel e colocava-os na sua câmara microscópica, gerando as mais belas imagens de flocos de neve!

Filhoses, rabanadas e sonhos: apenas 10% dos óleos alimentares usados são reciclados



Em Portugal apenas são reciclados 10% dos óleos alimentares usados, com os restantes, que podiam produzir biodiesel, a acabarem a poluir o ambiente, porque um litro de óleo pode contaminar um milhão de litros de água.

O alerta, da empresa de combustíveis PRIO, que se afirma como a maior produtora nacional de biocombustíveis a partir de matérias-primas residuais, surge numa altura (Natal) em que há maior consumo de doçaria e também maior produção de óleos alimentares usados.

A empresa, em comunicado, apela à recolha desses óleos e respetiva reciclagem, e sublinha os impactos da não reciclagem nas infraestruturas de saneamento e no ambiente.

“Um litro de óleo alimentar usado pode contaminar até um milhão de litros de água, o que torna essencial dinamizar a correta recolha e reciclagem dos óleos alimentares usados. Esta prática não só previne a poluição, como permite reaproveitar este recurso”, diz-se no comunicado.

Com 1.000 litros de óleos alimentares usados é possível produzir cerca de 950 litros de biodiesel, “um combustível mais limpo que contribui para uma mobilidade sustentável”, acrescenta.

Citando dados oficiais, a entidade garante que só 10% dos óleos alimentares produzidos em Portugal são corretamente recolhidos e encaminhados, e que a maior lacuna é no setor doméstico, “onde o destino mais comum continua a ser a rede de esgotos, com fortes consequências para o ambiente”.

No comunicado recorda-se que para reciclar óleos alimentares usados deve deixar-se arrefecer o óleo e depois coloca-lo numa garrafa de plástico bem fechada, preferencialmente reutilizada, que deverá depois ser entregue num oleão ou noutro ponto de recolha apropriado.

Referindo que conta com a maior rede nacional de pontos de recolha de óleos alimentares usados, com mais de 1.380 oleões de norte a sul do país, a empresa defende que “é essencial adotar comportamentos responsáveis, como reciclar os óleos alimentares usados” e lembra que “cada gesto contribui para um futuro mais sustentável”.

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Tribunal Constitucional não admite candidaturas de Joana Amaral Dias, José Cardoso e Ricardo Sousa às Presidenciais


O Tribunal Constitucional indicou hoje que não admitiu as candidaturas às eleições presidenciais de Joana Amaral Dias, Ricardo Sousa e José Cardoso, após não terem corrigido no prazo estipulado irregularidades que tinham sido identificadas.

Na sexta-feira passada, o Tribunal Constitucional (TC) indicou num acórdão que tinha admitido 11 candidaturas às eleições presidenciais, enquanto outras três – a de Joana Amaral Dias, Ricardo Sousa e José Cardoso – tinham sido notificadas para corrigirem, no prazo de dois dias, irregularidades que tinham sido identificadas.

Num acórdão hoje divulgado, o TC salienta que, findo esse prazo, nenhuma das três candidaturas supriu as irregularidades em questão.

No caso de Joana Amaral Dias, o TC indica que “não juntou os documentos em falta”, designadamente o certificado de nacionalidade portuguesa originária e o “documento comprovativo de que está no gozo de todos os direitos civis e políticos”, nem “apresentou declarações de propositura e respetivas certidões de eleitor, em termos de perfazer um mínimo legal de 7.500 declarações válidas”.

De acordo com o TC, das 7.500 assinaturas legalmente exigidas para se poder candidatar à Presidência da República, Joana Amaral Dias só apresentou 1.575 válidas.

José Cardoso, ex-membro da IL e fundador do Partido Liberal Social (PLS), também não conseguiu reunir as 7.500 assinaturas necessárias, só tendo entregado 7.265 que respeitavam os critérios legais, ou seja, que estavam “regularmente instruídas, devidamente assinadas e com certidão de inscrição do subscritor no recenseamento eleitoral”.

O mesmo aconteceu com Ricardo Sousa, que só apresentou 3.761 assinaturas válidas.

Há assim 11 candidatos às eleições presidenciais: Gouveia e Melo, Marques Mendes, António Filipe, Catarina Martins, António José Seguro, Humberto Correia, André Pestana, Jorge Pinto, Cotrim Figueiredo, André Ventura e a do pintor e músico Manuel João Vieira.

Estas são assim as eleições presidenciais com mais candidatos na história da democracia portuguesa. Até ao momento, as mais disputadas tinham sido em 2016, com dez candidatos.

A primeira volta das eleições presidenciais realiza-se em 18 de janeiro.

Type O Negative - Last Christmas (Wham! Cover)

Sabe o que está a comer numa lata de atum? Investigadores revelam as espécies mais usadas na indústria de conservas portuguesa



Uma equipa de cientistas dos centros de investigação MARE e CE3C descobriram quais as espécies de atum mais usadas pela indústria das conservas em Portugal. Isso, apesar de Portugal ser um dos maiores consumidores de atum enlatado per capita na Europa.

Num artigo divulgado recentemente na revista ‘Scientific Reports’, a equipa revela que, através de métodos de sequenciação molecular capazes de identificar com precisão as espécies presentes nos produtos enlatados , o atum-bonito (Katsuwonus pelamis) é a espécie predominante em todas as sete marcas portuguesas (não reveladas) e tipos de conservas analisadas.

Além dessa, foram também detetadas outras espécies, como o atum-patudo (Thunnus obesus), o atum-albacora (Thunnus albacares) e espécies do género Auxis que os autores dizem não ser “atum verdadeiro”.

Outro resultado relevante foi a deteção de múltiplas espécies dentro da mesma lata em quatro marcas distintas, uma prática que os investigadores dizem viola a legislação europeia em vigor.

“Este estudo representa o primeiro retrato molecular abrangente da indústria conserveira de atum em Portugal, revelando não apenas quais espécies chegam ao consumidor, mas também os riscos associados a uma rotulagem imprecisa”, detalha, no site do MARE, Ana Rita Vieira, primeira autora do artigo.

A investigadora acrescenta que “ao identificarmos espécies de atum com estatuto de conservação e de espécies que não são verdadeiros atuns, demonstramos a importância de reforçar mecanismos de controlo para uma rotulagem precisa, de forma a garantir que o consumidor sabe exatamente o que está a comprar e a consumir”.

E salienta que o facto de a equipa ter encontrado várias espécies na mesma lata “evidencia incumprimentos face à legislação europeia em vigor e reforça a urgência de mecanismos mais robustos de rastreabilidade”.

Ainda assim, Ana Rita Vieira dizem que o intento deste trabalho não é apontar falhas da indústria conserveira portuguesa, “uma referência histórica e económica”, mas sim fornecer informação científica sólida sobre a composição específica dos produtos disponíveis no mercado nacional, contribuindo para um debate mais informado sobre a utilização de recursos e práticas de rotulagem”.

Mendes em primeiro, Ventura em último. As notas de todos (mesmo todos) os comentadores: quem ganhou e quem perdeu ao fim de 28 debates


Vinte e oito debates depois (que pode rever, um a um, aqui) é quase consensual para os comentadores que os avaliaram que Luis Marques Mendes foi quem teve uma melhor prestação. Em média. É esta a principal conclusão de uma análise feita pela CNN Portugal a todas as notas quantitativas dadas pelos diferentes analistas da CNN Portugal, da SIC Notícias, do Jornal de Notícias, do Observador e do ECO: o antigo líder do PSD conseguiu uma classificação média de 13 valores e foi o primeiro classificado em quatro destes cinco meios de comunicação social - só na CNN Portugal ficou em segundo e por causa do último debate, até ao qual também liderava.

A tabela seguinte sintetiza as médias de todas as avaliações, por meio de comunicação social, bem como a média de todos eles. Nota: Eco e JN só avaliaram os principais debates. Pode "clicar" em cada meio de comunicação para ver os rankings individuais.

A avaliação a Marques Mendes por parte dos comentadores dos cinco órgãos de comunicação social manteve-se sempre acima dos 12 valores. Nos extremos, o Observador deu, em média, ao candidato a melhor nota (13,6 pontos) e o Eco a mais fraca (12,1 pontos).

Na análise feita pelos comentadores, Marques Mendes venceu praticamente todos os debates que fez, sendo que aqueles em que teve melhor avaliação foram contra António Filipe (média de 14,4 pontos) e João Cotrim de Figueiredo (média de 14,3). O candidato do PSD acabou por perder só um debate, o último, frente a Gouveia e Melo em que teve um resultado de 11,9. Por outro lado, foi contra Catarina Martins que Marques Mendes teve a sua vitória menos expressiva (12,7 vs 12,2 valores).

Na avaliação à prestação dos debates, é António José Seguro quem consegue a segunda melhor nota no cômputo geral. Feitas as contas, o candidato apoiado pelo PS termina com uma média geral de 12,3 valores, tendo alcançado em média um valor superior aos 13 pontos em três canais ou jornais: CNN (13,3), Observador (13,1) e SIC Notícias (13,2). Já os piores resultados para Seguro vieram, em média, do JN (12,8) e do Eco, para quem o candidato termina com uma média negativa: 9,4 pontos.

À semelhança de Luís Marques Mendes, António José Seguro apareceu como vitorioso em seis dos debates em que esteve presente, sendo a sua vitória mais expressiva contra Henrique Gouveia e Melo, por 3,8 valores (14,4 vs. 10,6). Por outro lado, foi com Catarina Martins que Seguro obteve a sua vitória mais curta, por 0,3 valores (12,8 vs. 12,5). A única derrota registada ao longo dos debates eleitorais ocorreu frente a Marques Mendes, tendo perdido por 0,6 valores (12,2 vs. 12,8).

No final do pódio está João Cotrim de Figueiredo. O candidato apoiado pela Iniciativa Liberal obteve uma média de 11,4 pontos, tendo recebido melhores notas do Observador (média de 12,6 pontos) e da CNN Portugal (12,2 valores) e piores vindas dos comentadores do JN (10,9 pontos) e da SIC Notícias.

Foi contra Catarina Martins que João Cotrim de Figueiredo teve a sua melhor média de notas, tendo vencido esse debate por 1,1 valores (13,2 vs. 12,1). Foi uma das cinco vitórias que obteve ao fim de sete debates. Em contrassentido, o antigo líder da Iniciativa Liberal perdeu em dois desses confrontos, sendo a sua pior derrota com Luís Marques Mendes, por 3,5 valores (10,8 vs. 14,3).

Já o Almirante Henrique Gouveia e Melo surge em quarto lugar no ranking de melhores notas dadas pelos comentadores dos cinco órgãos de comunicação social. Termina esta temporada pré-eleitoral com uma média de 11,2 pontos - menos 0,2 valores do que Cotrim Figueiredo. Entre os comentadores das cinco casas, foi na CNN Portugal que o antigo líder da task-force de vacinação obteve a melhor média: 12,6. Manteve-se acima dos 11 valores na SIC Notícias (11,9) e no Observador (11,1) e as notas mais fracas vieram de comentadores do ECO (10,7) e do JN (9,6).

A maior vitória que Henrique Gouveia e Melo registou foi contra Jorge Pinto, tendo obtido uma média de 12,9 contra 10,6. Destaque ainda para os bons resultados contra António Filipe, onde conseguiu vencer por 1,9 valores (12,7 vs. 10,8). O Almirante, de resto, perdeu em três confrontos, tendo o pior resultado contra António José Seguro, por 4,6 valores (9,8 vs. 14,4).

A completar o top 5 está Jorge Pinto, o candidato apoiado pelo Livre que ficou a 0,1 pontos da média final de Henrique Gouveia e Melo. O deputado obtém assim um resultado final de 11,1 valores, tendo recebido a melhor pontuação média junto dos comentadores da CNN Portugal (11,8 valores). Já os piores resultados vieram, em média, dos comentadores do Observador que lhe deram uma pontuação final de 10,4 valores.

Jorge Pinto conseguiu três vitórias, a mais expressiva frente a António Filipe, em que, segundo a avaliação dos comentadores, derrotou o candidato do PCP por 0,9 valores. Saiu derrotado, contudo, em quatro confrontos: contra André Ventura (11,1 vs. 12,0), contra António José Seguro (10,2 vs. 11,8), contra João Cotrim de Figueiredo e contra Luís Marques Mendes, num debate que ficou marcado por ser aquele em que teve a melhor avaliação geral de todos (12,7 vs 14,2).

Após o derradeiro debate desta segunda-feira, Catarina Martins e André Ventura compõem penúltimo e último lugar, respetivamente, no que diz respeito às notas dos comentadores. A antiga líder do Bloco de Esquerda termina com uma média de 10,9 valores, tendo perdido em cinco dos sete debates. A derrota mais pesada foi mesmo frente a João Cotrim de Figueiredo, por mais de um valor (12,1 vs. 13,2). Já o melhor debate foi frente a André Ventura, naquele que foi o debate avaliado como o pior de todos (8,8 vs. 8,0).

O líder do Chega é, de resto, o pior classificado feitas as contas aos 28 debates. Para os comentadores analisados, a média de Ventura não vai além dos 10,8 valores, tendo recebido as melhores notas da CNN Portugal (12,6 em média) e as piores do JN (média de 8,6 pontos).

Em seis debates, André Ventura venceu dois dos sete debates em que participou, ambos por margens reduzidas, frente a Jorge Pinto (12,0 vs. 11,1) e a António Filipe (12,0 vs. 10,9). Perdeu cinco confrontos, incluindo uma derrota mínima frente a Henrique Gouveia e Melo (11,3 vs. 11,4,) e a mais expressiva contra António José Seguro (10,6 vs. 12,8).

O melhor e o pior debate
As notas permitem ainda destacar o melhor e o pior debate dos 28, considerando as médias de todos os comentadores.

O melhor debate, no sentido em que recebeu notas médias mais elevadas, realizou-se entre Luís Marques Mendes e Jorge Pinto:

Já o pior debate, seguindo o mesmo critério, realizou-se entre André Ventura e Catarina Martins:

Esta análise contemplou mais de setecentas notas individuais, dadas por mais de cinquenta "avaliadores". Em média, cada debate recebeu cerca de 14 avaliações de comentadores.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Contaminação por raticidas ameaça aves de rapina em Portugal



Mais de 80 por cento das aves de rapina portuguesas podem estar contaminadas por raticidas anticoagulantes, ameaçando a conservação de várias espécies.

Este é um alerta lançado por um grupo de investigadores de Portugal e de Espanha num estudo publicado na revista ‘Science of The Total Environment’.

Coordenado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e pela Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, em colaboração com o centro de investigação CIBIO e o centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (RIAS), o trabalho incidiu sobre 210 aves de 15 espécies, entregues em centros de recuperação no continente e na Madeira. Em comunicado, as instituições chamam a atenção para uma exposição generalizada a compostos usados no controlo de roedores, revelam as instituições em comunicado.

Do total de aves analisadas entre 2017 e 2024, 83% apresenta sinais de pelo menos um raticida anticoagulante no fígado. Em quase 60% dos casos positivos surgiam dois ou mais compostos, aumentando o risco de efeitos cumulativos e potencialmente fatais.

Ana Carromeu-Santos, a ecóloga do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C), da Universidade de Lisboa, que conduziu a investigação, salienta que “os estudos de monitorização de envenenamento secundário por raticidas são recorrentes em vários países europeus, mas este é o primeiro realizado em Portugal”.

Na Madeira, o problema é ainda mais grave, mostra o estudo. Quase 90% das aves apresentam contaminação múltipla, com concentrações médias superiores às registadas no continente, sugerindo um uso mais intensivo de raticidas no controlo de pragas na ilha.

Explica a equipa que os raticidas anticoagulantes são usados para controlar roedores, provocando hemorragias internas fatais ao impedir a coagulação do sangue. Como persistem nos tecidos, acumulam-se em predadores que consomem presas contaminadas, representando um risco para aves de rapina.

Por sua vez, nas aves estes compostos podem provocar hemorragias internas, fraqueza, perda de coordenação e, em casos extremos, a morte. Mesmo em doses não letais, avisam os investigadores, reduzem a capacidade de caça, aumentam o risco de acidentes e comprometem a reprodução.

Entre os compostos detetados destacam-se o Brodifacoum e a Bromadiolona, substâncias altamente persistentes e tóxicas. As aves mais velhas revelam maiores concentrações, evidenciando o efeito de bioacumulação ao longo dos anos.

Espécies comuns como o peneireiro-de-dorso-malhado (Falco tinnunculus) e a coruja-das-torres (Tyto alba) podem servir como “sentinelas”, permitindo acompanhar a evolução da contaminação devido à sua ampla distribuição e dieta baseada em pequenos roedores.

Sofia Gabriel, investigadora do CE3C e principal coautora do artigo, alerta que “estes resultados demonstram que os raticidas utilizados no controlo de pragas de roedores estão a entrar nas cadeias alimentares da fauna selvagem, o que coloca estas espécies em risco e exige medidas de mitigação para reduzir os impactos”.

O estudo confirma que o impacto dos raticidas “já não é pontual”, salientam os cientistas, mas sim “um fenómeno persistente e transversal”, que afeta várias gerações de aves e fragiliza populações já vulneráveis.

As consequências para a biodiversidade são significativas, podendo comprometer o equilíbrio dos ecossistemas se espécies essenciais diminuírem drasticamente ou desaparecerem de determinadas regiões.

Os autores defendem medidas urgentes, incluindo monitorização regular, restrições ao uso indiscriminado de raticidas e promoção de alternativas mais seguras no controlo de roedores, fundamentais para proteger a fauna selvagem.

O Natal que Nos Habita


Bom dia, amigos. Desejo-vos Boas Festas e que o espírito de Natal não é um dia só, mas todos os dias. Pensei muito nisso e fiz um poema e um poster.

O Natal que Nos Habita
Que o Natal não seja vitrina,
nem corrida para comprar mais,
mas alegria que se faz mesa,
calor que nasce do convívio.

Natal é abraço que fica,
é tempo dado sem preço,
é ouvir, perdoar, cuidar,
é partilhar o que vem do coração.

Que nasça, em cada casa,
não o ouro, mas a presença,
não o luxo, mas o encontro,
não a pressa, mas a esperança.

E que o amor — tão antigo e novo —
seja o presente essencial,
fazendo de cada dia
um pouco mais de Natal.

Joao Soares, 22.12.2025

Björk - Moon


A canção “Moon”, da Björk (do álbum Biophilia, 2011), tem um significado poético e cíclico, muito ligado à natureza, ao tempo e à renovação — temas centrais na obra dela.

As the lukewarm hands of the gods
Came down and gently
Picked my adrenalin pearls
They placed them in their mouths
And rinsed all the fear out
Nourished them with their saliva

Rested
Ooh

As if the healthiest pastime
Is being in life-threatening circumstances
And once again be reborn

All birthed and happy

Best way to start-a-new
Is to fail miserably
Fail at loving
And fail at giving
Fail at creating a flow
Then realign the whole
And kick into the starthole

And kick into the starthole

To risk all is the end all and the beginning all

A música “Moon”, de Björk, explora como o fracasso e a vulnerabilidade são partes fundamentais do processo de renovação pessoal, conectando essa ideia ao ciclo lunar. No trecho “Best way to start-a-new / Is to fail miserably / Fail at loving / And fail at giving / Fail at creating a flow / Then realign the whole / And kick into the starthole” (“A melhor forma de recomeçar / É fracassar miseravelmente / Fracassar ao amar / E fracassar ao doar / Fracassar ao criar um fluxo / Então realinhar tudo / E dar o pontapé inicial”), Björk sugere que só é possível recomeçar de verdade ao aceitar os próprios erros e limitações. Essa mensagem se relaciona ao simbolismo da lua, que passa por fases de morte e renascimento, oferecendo sempre uma nova oportunidade de começar de novo.

A artista também utiliza imagens como “adrenalin pearls” (“pérolas de adrenalina”) sendo colocadas “na boca dos deuses”, evocando referências mitológicas e a ideia de que forças superiores participam desse processo de purificação e renovação. Para Björk, a lua representa um espaço de imaginação, melancolia e regeneração, o que se reflete na atmosfera contemplativa da música. A repetição de “All birthed and happy” (“Todos nascidos e felizes”) reforça o sentimento de renascimento após enfrentar o medo e o risco. Já a frase “To risk all is the end all and the beginning all” (“Arriscar tudo é o fim de tudo e o começo de tudo”) resume a mensagem central: arriscar-se é essencial para encerrar um ciclo e iniciar outro, assim como acontece com as fases da lua. A estrutura musical, marcada por sequências de harpas que acompanham as fases lunares, reforça a ideia de transformação constante.

domingo, 21 de dezembro de 2025

Fleet Foxes - White Winter Hymnal


Esta é uma canção evocativa em estilo de harmonia vocal fechada da banda indie-folk americana Fleet Foxes, originária de Seattle, no estado de Washington, EUA. O título é "White Winter Hymnal". A canção não é explicitamente espiritual, mas possui um forte impacto espiritual. A sua letra é propositadamente misteriosa para permitir ao ouvinte criar o seu próprio significado. A música conquistou uma enorme base de fãs nas redes sociais e nos serviços de streaming desde o seu lançamento, há cerca de 15 anos. O videoclipe explora o tema das esperanças (carinhosas) perdidas, mas que continuam a persistir no espírito natalício.

I was following the, I was following the

I was following the pack
All swallowed in their coats
With scarves of red tied 'round their throats
To keep their little heads
From fallin' in the snow
And I turned 'round and there you go
And, Michael, you would fall
And turn the white snow red as strawberries
In the summertime

Em “White Winter Hymnal”, do Fleet Foxes, a repetição do verso “I was following the pack” (“Eu estava seguindo o grupo”) e a imagem dos “scarves of red tied 'round their throats” (“lenços vermelhos amarrados em seus pescoços”) criam um clima de infância protegida, mas também sugerem uma sensação de uniformidade e vulnerabilidade compartilhada. O vocalista Robin Pecknold explicou que a música foi inspirada pela experiência de ver amigos de infância se afastarem e, às vezes, seguirem caminhos autodestrutivos. Isso dá um significado mais profundo ao trecho em que “Michael” cai e mancha a neve branca de vermelho, simbolizando a perda da inocência e o impacto das escolhas difíceis que surgem com o amadurecimento.

Embora Pecknold tenha dito que a letra é “bastante sem sentido” e foi criada como uma introdução ao álbum, a canção desperta sentimentos de nostalgia e melancolia, reforçados pelo arranjo vocal suave e pela repetição das imagens. A neve branca, tradicionalmente ligada à pureza e à infância, sendo manchada de vermelho, pode ser vista como uma metáfora para a transição da inocência para a experiência e para as mudanças e perdas inevitáveis da vida. O fato de “White Winter Hymnal” ter se tornado um hino não oficial das festas de fim de ano, mesmo sem citar o Natal, mostra seu apelo universal à memória, à passagem do tempo e à saudade de tempos mais simples.

A tempestade voltou a agitar o mar de dúvidas em torno dos riscos do uso do glifosato para a saúde humana


1) Uma prestigiada revista científica acaba de retratar uma das publicações que mais influenciaram a avaliação da "segurança" do glifosato porque os autores "se esqueceram de declarar o seu conflito de interesses" — ou seja, quem os financiava. Que conveniente!

2) O Parlamento Europeu deverá decidir nas próximas semanas sobre o "abrandamento" das medidas para o registo e aprovação de pesticidas na Europa. A Comissão Europeia irá submetê-las em breve à discussão, e prevêem, entre outras coisas, a eliminação da obrigação legal de considerar provas científicas independentes ao autorizar ou proibir os pesticidas.

Assim sendo, um novo estudo dos nossos colegas da Universidade de Jaén (Espanha, Europa) sobre a presença de glifosato nos olivais de Portugal, Marrocos, Itália, Grécia e Espanha parece particularmente oportuna.

Passo a explicar: Fernández García e os seus colegas encontraram glifosato e os seus produtos de degradação (AMPA e N-acetil-AMPA) nos solos de olivais de gestão tradicional (MT) e de alta densidade (AD); também, mas em concentrações muito mais baixas e a maiores profundidades no solo, nos olivais orgânicos (ORG).

Portugal apresenta as concentrações médias mais elevadas em olivais de maneio tradicional (MT) e de alta densidade (AD). Em Espanha e Marrocos, os olivais de alta densidade (AD) apresentam as concentrações mais elevadas, enquanto que na Grécia, os olivais de maneio tradicional (MT) eram os mais ricos em glifosato.

Acrescentam que, em Itália, o glifosato não é encontrado em olivais porque o seu uso foi altamente restringido desde 2016.

O quê?! Assim, é possível produzir azeite de qualidade sem utilizar herbicidas tóxicos e alcançar uma posição de liderança internacional em termos de prestígio, imagem e marca? Não sei o que estamos à espera para abandonar este hábito prejudicial de matar ervas daninhas a qualquer custo.

Santuário Cósmico


O santuário cósmico não é um lugar delimitado por paredes ou altares visíveis. Ele existe na totalidade do universo e manifesta-se sempre que o ser humano reconhece a sacralidade da vida. Cada estrela, cada organismo vivo, cada sopro de ar compõe este templo maior, onde tudo está interligado por relações de dependência, equilíbrio e mistério.

A cosmologia científica descreve a evolução do cosmos desde o Big Bang, a formação das galáxias, das estrelas e dos planetas, até ao surgimento da vida. Ao fazê-lo, mostra que somos feitos da mesma matéria primordial que deu origem às estrelas. Esta perceção reforça a ideia do santuário cósmico: não somos visitantes externos, mas expressão consciente de um processo cósmico em contínua transformação. O templo não está fora de nós; ele prolonga-se na nossa própria existência.

A cosmogonia, por sua vez, oferece narrativas simbólicas sobre a origem do mundo. Mitos de criação, tradições religiosas e saberes ancestrais não competem com a ciência, mas respondem a outras perguntas: porquê existimos, qual o nosso lugar, que valores devem orientar a vida. Essas narrativas transformam o cosmos em espaço de significado, onde cada elemento participa de uma história sagrada.

Pensar o cosmos como santuário é admitir que a natureza não é apenas recurso, mas presença. O solo que pisamos, a água que bebemos e a luz que nos aquece participam de uma ordem mais ampla, que nos antecede e nos transcende. Nesse sentido, cuidar da Terra torna-se um gesto espiritual: preservar é reverenciar, destruir é profanar.

O santuário cósmico também convida à humildade. Diante da imensidão do universo, o ser humano percebe a sua pequenez, mas também a sua responsabilidade. Somos parte do todo e, ao mesmo tempo, conscientes dele. Essa consciência transforma-se em ética: uma forma de estar no mundo baseada no respeito, na cooperação e na gratidão.

Por fim, reconhecer o cosmos como santuário é reconciliar ciência e espiritualidade. O conhecimento científico revela as leis e processos que sustentam a vida; a contemplação espiritual atribui sentido e valor a essa revelação. Juntas, elas apontam para uma visão integrada da existência, onde viver é, em si, um acto sagrado.

Zhao Kailin (赵开霖)


Zhao Kailin (pintor Chinês, nascido em1961)

Estilo Artístico
Realismo contemporâneo / figurativo: Zhao Kailin é reconhecido como um dos principais pintores chineses de realismo contemporâneo, com forte ênfase em representações figurativas e retratos. 

Temas: As suas obras frequentemente retratam jovens mulheres introspectivas, muitas vezes vestidas com trajes tradicionais chineses, explorando a transição entre a inocência e a feminilidade adulta, evocando um sentimento de sonho, desejo e introspecção. 

Influências clássicas: Ele incorpora elementos estéticos de Neoclassicismo, com uso dramático da luz e sombra e composições clássicas que lembram mestres como Caravaggio, Rembrandt e John Singer Sargent. 

Técnica
  1. Pintura a óleo e técnicas tradicionais de realismo: Zhao estudou pintura a óleo na Central Academy of Fine Arts em Pequim, treinando em técnicas ocidentais clássicas de pintura realista. 
  2. Uso de materiais: Trabalha com óleos e acrílicos sobre tela ou madeira, com uma técnica refinada que equilibra precisão detalhada e sensibilidade emocional. 
  3. Fusão cultural: A sua arte reflete uma síntese entre técnicas ocidentais clássicas e estética oriental, criando obras que equilibram tradição e modernidade.

sábado, 20 de dezembro de 2025

Death in Rome - Christmas song



Christmas Song

in this darkest hour
a light shining still
in this quiet night
there’s still time to kill

the storm moves on
from darkened skies
but bide your time
soon we will rise

and the angels on the gallery
sing about the king
born behind
a discount store
by broken rubbish bins

oh divine amnesia
oh divine forgiveness
oh divine indifference
let them seize you

when the clouds have lifted
a stream from the past
will soothe your mind
and you’ll find peace at last

surrounded by fools
was no place to be
but now we’ve moved on
to a sublime destiny

we’re fighting demons
a struggle everyday
the poison has a grip
it steals our days away

But Saint Joseph, Saint Robert
Saint Nicolas, Saint Rita
Saint Benoit
Are by our side

and glory
to the highest
in the highest
heights

Even if I don’t feel him

and peace
to all
decent people

and truth
only to those
who deserve it

A “Christmas Song” dos Death in Rome pega numa canção de Natal clássica, associada a conforto, família e calor emocional, e transforma-a através da sua interpretação musical. A letra permanece praticamente intacta, mas o arranjo minimalista, frio e melancólico cria um contraste forte com o imaginário tradicional do Natal. É uma crítica subtil ao Natal comercial e automático Em vez de transmitir aconchego e alegria, a música soa distante e desencantada, fazendo com que aquelas imagens de lareira, crianças e votos de felicidade pareçam memórias gastas ou rituais repetidos sem convicção. O resultado é uma leitura irónica e nostálgica, onde o Natal surge menos como um momento de união genuína e mais como uma tradição automática, envolta em solidão e vazio emocional. Assim, a canção não rejeita o Natal em si, mas expõe a fragilidade do seu simbolismo quando separado da experiência humana real, mostrando como a música pode alterar profundamente o significado de uma letra aparentemente inocente.

Clarice Lispector - Estado de Graça

Santuário Cósmico
"Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à inspiração, que é uma graça especial que tantas vezes acontece aos que lidam com arte. O estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se existe. Nesse estado, além da tranquila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve porque na graça tudo é tão, tão leve. E uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Não perguntem o quê, porque só posso responder do mesmo modo infantil: sem esforço, sabe-se.
E há uma bem-aventurança física que a nada se compara. O corpo se transforma num dom. E se sente que é um dom porque se está experimentando, numa fonte direta, a dádiva indubitável de existir materialmente.
No estado de graça vê-se às vezes a profunda beleza, antes inatingível, de outra pessoa. Tudo, aliás, ganha uma espécie de nimbo que não é imaginário: vem do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das pessoas. Passa-se a sentir que tudo o que existe — pessoa ou coisa — respira e exala uma espécie de finíssimo resplendor de energia. A verdade do mundo é impalpável."

Clarice Lispector, in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1968)'

Sim, André Ventura admitiu que já votou em José Sócrates


Áudio de entrevista para o livro "Dias de Raiva" prova como o líder do Chega afirma ter-se sentido enganado pelo líder socialista enquanto eleitor. "De facto, via-o com firmeza, coragem. Gostava da forma de ele se exprimir e tudo. Enganou-me uma vez, mas não me enganou mais."

Foi um dos momento mais tensos da noite. No fim do debate presidencial entre João Cotrim Figueiredo, candidato presidencial apoiado pela Iniciativa Liberal, e André Ventura, candidato apoiado pelo Chega, ambos trocaram uma série de farpas.

João Cotrim Figueiredo: Fala tanto das elites, mas não fui eu que fui inspetor tributário a dar conselho a milionários de como fugir aos impostos. Isso é que é trabalhar com as elites. Não fui eu que fui chamado, via minha atividade, a testemunhar em tribunal sobre um caso de vistos Gold em tinha dado um parecer positivo à isenção de IVA - e do outro lado estava quem? Lalanda de Castro, grande amigo de José Sócrates. Mas isto não é surpresa: tu já confessaste que votaste no José Sócrates.

André Ventura: Isso é falso. Nunca confessei, isso é falso, é mais notícias falsas que andam a espalhar.

JCF: A sério? Saiu num livro e num jornal.

AV: De livros, a maior parte sobre o Chega são falsos.

O líder do Chega mente. O caso tem origem no livro Dias de Raiva - Os Segredos da Ascensão de André Ventura (2024, Manuscrito). Na página 33, no capítulo dedicado às origens do líder político, o candidato do Chega explica como viu com entusiasmo a maioria absoluta de José Sócrates, um homem que via com "firmeza, coragem", ocasião em que diz ter votado nele.

A primeira vez que Ventura revelou o sentido de voto foi ainda em 2017, enquanto candidato do PSD à Câmara Municipal de Loures. Em conversa com o jornalista da SÁBADO (e autor deste livro), afirmou: "Era jovem e parecia uma voz do povo. Aqui entre nós, fui um dos muitos que votou nele." Volvidos quatro anos, em entrevista dedicado para o livro, o tema surgiu novamente:

Alexandre Malhado: Havia dentro do PS um discurso populista, na medida em que tivemos o líder José Sócrates.
André Ventura: Enganou-me a mim.
AM: Pois, exato. Chegaste a votar e lembro-me de teres dito que te enganou.
AV: Mas enganou mesmo. Foi o único líder socialista que me enganou. Porque na altura, de facto, via-o com firmeza, coragem. Gostava da forma de ele se exprimir e tudo. Mas depois com a questão da licenciatura e do caso Freeport, fiquei com um pé atrás. Enganou-me uma vez, mas não me enganou mais.

Pode ouvir o áudio deste trecho aqui:Reproduzir Vídeo
Entrevista a André Ventura em 2021 para o livro Dias de Raiva.

Em 2015, no seu próprio livro livro Justiça, Corrupção e Jornalismo — Os Desafios do Nosso Tempo, André Ventura classificou Sócrates como um homem "capaz de lutar contra os interesses instalados" e admite que chegou "a ser influenciado por este movimento" do antigo secretário-geral socialista. "José Sócrates foi um político que me convenceu no seu início, não tanto como secretário de Estado do Ambiente, uma vez que não tive tanto contacto com essa realidade, mas como líder do Partido Socialista. Primeiro, contra João Soares e Manuel Alegre e, depois, como candidato a primeiro-ministro nos seus primeiros anos, tendo-me aparecido como um homem íntegro, como um homem firma nalgumas decisões, capaz de lutar contra interesses instalados, mas o que é que se revelou no fim!?" Na mesma página, os elogios continuam: "José Sócrates era mestre nas encenações, todos os grandes congressos do Partido Socialista sobre José Sócrates continham uma ovação quase estalinista, em que estávamos perante grandiosos cenários, o hino nacional. José Sócrates apareceu quase como salvador da pátria." Há dez anos, concluía que "temos de ser mais exigentes com a democracia, mais exigentes com a verdade."

O debate entre o deputado André Ventura, candidato presidencial apoiado pelo Chega, e o eurodeputado João Cotrim Figueiredo, apoiado pela Iniciativa Liberal (IL), foi tenso e pessoal. Ambos eleitos deputados únicos ao mesmo tempo, em 2019, liderando partidos recém-criados a ganhar assento parlamentar, foi uma disputa entre velhos rivais. “Acho que o maior erro da vida do João foi ter deixado a liderança da IL para ir ter uma reforma dourada em Bruxelas", acusou Ventura. “Tenho uma reforma dourada tão boa que decidi candidatar-me a Presidente da República”, respondeu o liberal. Além da Lei da Nacionalidade e Ucrânia — “Não quero mandar para lá tropas como tu”, atirou Ventura —, discutiram com informalidade, num "tu cá, tu lá", a idade de Cotrim Figueiredo, pedofilia no Chega e o passado de André Ventura enquanto inspetor da autoridade tributária.