sexta-feira, 27 de setembro de 2019
Stefano Mancuso - Uma nova visão das plantas
terça-feira, 24 de setembro de 2019
Para entender transumanismo e pós-humanismo
Talvez uma versão contemporânea do mito de Sísifo não seja propriamente a de levar uma imensa rocha esférica montanha a cima, mas sim a de determinar as fronteiras do humano. Tudo isso ganha contornos ainda mais complexos quando se trata de pensar a condição humana em meio ao antropoceno. Este exercício, em tudo difícil, é o que o professor José Manuel de Cózar propõe em sua conferência Transumanismo e pós-humanismo no Antropoceno. Evolução tecnológica e autonomia humana, realizada no IHU no dia 23 de setembro, que agora reproduzimos em formato de entrevista.
“[O transumanismo] É um movimento filosófico, intelectual, cultural, social e, mais recentemente, estão tentando alçá-lo a uma condição política. É o que se busca com a melhora do ser humano como a principal preocupação da humanidade, senão a única, projetando-o numa esfera evolutiva ao ponto de superar as limitações de nossa espécie”, explica Cózar. “Em geral quando falamos do pós-humanismo estamos tratando do pós-humanismo cultural, que é uma visão, uma atitude, sobre o que é ser e como se relacionar com a tecnologia. Isso tem muitas variações, o que torna complicado de dizer o que é o pós-humanismo precisamente”, complementa.
Ao longo da entrevista o pesquisador vai complexificando e abordando de forma aprofundada as definições. “Os pós-humanistas não são deterministas tecnológicos, ao passo que os transumanistas tendem a ser deterministas tecnológicos. Embora valorizem a tecnologia, os pós-humanistas tendem a uma postura mais crítica. Também não são essencialistas, reconhecendo a condição humana como algo mutável, contingente e maleável”, acrescenta.
Um desafio que se descortina no tempo presente sobre as formas como concebemos a noção de humanidade passa por duas dimensões. “O fato é que nós todos precisamos de dados científicos e histórias coerentes para que possamos nos unir contra essa ameaça, que seria todas as coisas que podem ir mal no antropoceno”, pondera.
José Manuel de Cózar é doutor em Filosofia pela Universidade de Valencia e professor de Lógica e Filosofia da Ciência na Universidade de La Laguna. Tem–se centrado no estudo das repercussões econômicas, políticas, éticas, sociais e ambientais das novas tecnologias. Realizou pesquisa em várias universidades estrangeiras, incluindo a New York Polytechnic e a Stanford University. É autor dos livros Tecnologia, Civilizacion Y Barbarie (Editora Antropos, 2003); El Antropoceno: Tecnología, naturaleza y condición humana (Editora Los libros de la catarata, 2019); Hasta que nos extingamos: Una ficción filosófica (Spanish Edition, 2021).
Como podemos começar quando se trata de falar de antropoceno?
Bem, uma maneira de começar é apresentando dois personagens reais, que representam duas posições antagônicas sobre o ser humano e sobre a relação entre os seres humanos, a tecnologia e a natureza. Tratam-se de Zoltan Istvan, estadonunidense de origem húngara, e Patricia MacCormack, australiana e professora de filosofia na Inglaterra. Ambos estudaram filosofia, mas tem abordagens completamente distintas. Para dizer de uma forma radicalmente breve, Zoltan é transumanista e Patricia é pós-humanista. Vou abordar as particularidades de um e de outro no contexto do que chamamos antropoceno.
Zoltan Istvan estudou filosofia e religião, foi um atleta de natação e de polo-aquático, trabalhou como documentarista da National Geographic. Ele afirma ter inventado o “surf de vulcão” (que consiste em deslizar do topo de um vulcão inativo sobre uma prancha) – inclusive houve recentemente uma erupção nas Ilhas Canárias que nos deixa muito preocupados com as vítimas humanas. Além disso ele é empresário, escritor e político. Tentou ingressar nesse campo concorrendo às prévia presidenciais, em 2020, nos Estados Unidos. Em seu programa continha o apoio integral às tecnologias, o que é bem típico dos transumanistas, como fundamental para sobrevivência de nossa espécie e para o futuro da humanidade. Defende ainda a confrontação com a China em que está havendo, cada vez mais, a discussão de um tratado muito polêmico, do ponto de vista da União Europeia, entre EUA, Reino Unido e Austrália para defender os interesses “ocidentais” no [Oceano] Pacífico. Politicamente, é uma figura que chamaríamos de direita não liberal, que soa estranho porque ao mesmo tempo defende uma renda básica universal. Isso porque a indústria automatizada e a inteligência artificial tende a acabar com os trabalhos e tornar os humanos obsoletos, de tal modo que será necessário repartir o dinheiro para que as pessoas possam viver sem trabalhar. Isso tudo está relatado em um livro de ficção intitulado, em espanhol, La apuesta transhumanista (Autopublicação, 2013).
Patricia MacCormack faz uma filosofia que é uma mistura de muitas coisas, dentre elas a Teoria Queer – que se dedica aos debates sobre gênero, identidades e sexualidade humana –, veganismo e existencialismo, o que, também, soa estranho porque, afinal de contas, o que significa existencialismo? Bem o existencialismo que ela trabalha está expresso em obras como The ahuman manifesto (em tradução livre, O manifesto não-humano), no qual o subtítulo é: “ativismo para o fim do antropoceno”. Nós sabemos que o antropoceno ainda não está provado oficialmente e que há autores que estão falando do fim do antropoceno. Tentarei, ao longo de minha conferência, explicar o que significa tudo isso.
Envolvendo o que diz respeito ao “extincionismo”, há questões bastante sensíveis, porque inclui o movimento de extinção humana voluntária, que propõe que os humanos se extingam, não por meio violentos, mas voluntariamente renunciando ter filhos. Isso eliminaria os problemas à nossa espécie, afinal deixaríamos de existir, e, também, para o planeta pois os problemas causados por nós não existiriam e a vida floresceria, os ciclos naturais voltariam a funcionar bem etc. Os seres humanos, usando uma metáfora bem atual, seriam uma “praga”, uma pandemia como esta do coronavírus, algo que precisa ser extinto. Tendo em vista que não se extinguirá o planeta, que nós mesmo tratemos de nos extinguir. Claro que esta é a proposta mais radical que se pode ter, mais radical ainda que o ecologismo radical.
Como o transumanismo se caracteriza?
Isso não é algo simples de se explicar. Ao longo da história, os seres humanos têm tentado melhorar suas condições físicas e mentais de modo que têm empregado técnicas de educação, de treinamentos físico e mental cada vez mais sofisticados, incluindo recursos médicos e todos os demais disponíveis em cada época. Tudo isso para lutar contra a natureza dos seres humanos. Em espanhol chamamos isso de “melhoramento humano”, traduzido do inglês “human enhancement”, tratando de toda a modificação dirigida a melhorar de forma permanente ou temporária o rendimento humano ou que seja submetido a intervenções científicas ou tecnológicas sobre o corpo. Na verdade trata-se de diferentes formas de intervenção, se alguém toma uma capsula ou comprimido, evidentemente, o efeito de melhoramento será temporário, contudo se submete a procedimentos em que são incorporados (aqui é importante considerar o ¬in-corporado) eles tendem a ser permanentes. É uma alteração corporal levada a cabo graças a um tipo de ciência ou tecnologia – ou uma combinação entre ambas –, dentre elas a inteligência artificial, a robótica, a biotecnologia, etc.
Isso se dá de duas formas, seja como melhoramento genético ou como ciborgue, tentando unir partes artificiais com o corpo humano por meio de implantes. Isso já está acontecendo quando se leva em conta que há uma série de pessoas com implantes, mas não é, propriamente, deste tipo que estou me referindo, senão ao melhoramento de mais longo prazo e mais radical.
Qual é, então, o programa transumanista?
É um movimento filosófico, intelectual, cultural, social e, mais recentemente, estão tentando alçá-lo a uma condição política. É o que se busca com a melhora do ser humano como a principal preocupação da humanidade, senão a única, projetando-o numa esfera evolutiva ao ponto de superar as limitações de nossa espécie, mas também controlar e a acelerar as tendências evolutivas. Isso tudo produz uma fase de superação da espécie homo sapiens, tal como a conhecemos, passando a uma figura, um ser, que seria o pós-humano, na qual a fase intermediária seria a dos transumanos. Os transumanos não seriam os pós-humanos, pois seriam uma mescla, haja visto que os pós-humanos dariam um salto evolutivo.
Para isso é necessária muita ciência e muita tecnologia. O que é importante ter em mente, para que não haja confusões, é uma distinção importante: todos os transumanistas defendem o melhoramento humano, mas nem todas as pessoas que defendem o melhoramento humano são, necessariamente, transumanistas. Há pessoas, como no meu caso, que são favoráveis ao melhoramento humano em geral, mas que não se consideram transumanistas, o que implica compromissos outros que ainda não me parecem claros.
Algumas personalidades transumanistas são Max More e Natasha Vita-Morte, David Pearce, Nick Bostrom, Julian Savulescu, Ray Kurweil, mas claro, na internet se pode achar muito mais. A maioria são homens, laicos e ocidentais, dos quais muitos são empresários norte-americanos, do Vale do Silício, mas nem todos são assim. Há biohackers, que tentam um enfoque menos elitista.
Quais são as possíveis melhoras que se enquadram dentro da perspectiva do transumanismo?
Dentre as melhoras cognitivas estaria a inteligência, por exemplo, reforçando a memória. Há um conjunto de melhoramentos que são de coisas que não existem, mas que podem existir em um futuro na medida em que as tecnologias se desenvolvem. Outra possibilidade são melhorias que nos tornem mais atentos, aprimorando nosso discernimento, por meio de “drogas inteligentes”, e concentração, bem como a criatividade e a inventividade. Estas melhorias não são somente cognitivas, mas também afetivas.
Em geral, justifica-se eticamente os melhoramentos para evitar ou diminuir o sofrimento humano. Para isso se poderia usar fármacos de todos os tipos, neuroestimulação, implantes neuronais etc. Além disso, se buscam melhorais morais, como nos casos para frear aquelas condutas que são consideradas imorais ou inapropriadas, mas também para fomentar um tipo de ética – muito problemática – que tenha fins consequencialistas ou utilitaristas ao invés de ontológicas. Melhoras físicas, como o aprimoramento para aumentar a força, a velocidade, mas também o acréscimo de capacidades que não existem no ser humano, como ver no escuro, assim como fazem os gatos. Melhoras estéticas, é claro que isso é uma coisa que muitas pessoas fazem sem ser transumanistas, mas neste caso com modificações diversas no corpo como componentes que podem interatuar por meio de ondas eletromagnéticas, seja para abrir ou fechar portas, por exemplo. A longevidade, evidentemente, é uma das coisas que mais preocupava os transumanistas e aí entram as vacinas que são usadas para prevenir doenças, como, por exemplo, o coronavírus, que também são uma forma de melhorar o corpo humano. Assim como intervenções de todo o tipo para evitar o envelhecimento do corpo e, consequentemente, para que a vida seja muito mais longa. É por isso que muitos transumanistas buscam a imortalidade, que está no fim último do transumanismo. Contudo, enquanto isso não é possível, a proposta é alongar a vida humana o máximo possível.
Quais são os possíveis efeitos negativos das tecnologias de melhoramento humano?
Há questões ligadas à saúde, claro, mas há outras que estão vinculadas ao aumento da desigualdade, com pessoas “melhoradas” e pessoas “não-melhoradas”. Isso provocaria todo o tipo de vícios, implicações econômicas e sociais, com pessoas que não quiseram se submeter aos procedimentos ou não tiveram recursos econômicos. Ao mesmo tempo que se aumenta a expectativa de vida, mais pessoas vão passar a viver no planeta e esta expectativa seguirá aumentando com efeitos na manutenção da estrutura econômica, entre muitas outras coisas, incluindo maus usos militares e terroristas ou até mesmo uma catástrofe que, agora, não somos capazes de prever. Há os riscos da biologia sintética, com o uso de vírus modificados, com nanopartículas, nanobots etc.
Uma distinção importante está entre os transumanistas e os bioconservadores. Transumanistas são radicais e todos aqueles que não estão em sua linha de inflexão, de acordo com seu ideário, são considerados bioconservadores. Aqui é importante considerar que os bioconservadores podem ser de qualquer orientação política. Isto é interessante porque rompe um pouco com os esquemas políticos habituais, o que também ocorre com os transumanistas.
O que tende a motivar os chamados bioconservadores é o receio aos maus efeitos das modificações e, também, a criação de uma espécie de gênero humano que ultrapasse a extensão do ser humano. Há, claro, as pessoas moderadas que são a favor dos melhoramentos mas com limitações, defendendo não uma aprovação irrestrira nem um rechaço completo do programa transumanista. Nesse sentido, a proposta é avaliar caso a caso do ponto de vista técnico, ético e econômico. Neste contexto, melhoramentos menos problemáticos são entendidos como aqueles, por exemplo, como um implante para reparar um osso, o que gera menos controvérsia em relação às modificações na genética humana.
O que caracteriza o pós-humanismo?
Em geral quando falamos do pós-humanismo estamos tratando do pós-humanismo cultural, que é uma visão, uma atitude, sobre o que é ser ser humano e como se relacionar com a tecnologia. Isso tem muitas variações, o que torna complicado de dizer o que é o pós-humanismo precisamente, mas posso, então, dizer o que não é.
Os pós-humanistas não são deterministas tecnológicos, ao passo que os transumanistas tendem a ser deterministas tecnológicos. Embora valorizem a tecnologia, os pós-humanistas tendem a uma postura mais crítica. Também não são essencialistas, reconhecendo a condição humana como algo mutável, contingente e maleável. O pós-humanismo está contrário a todo o tipo de dualismo e oposições, o que é uma característica do humanismo: humano e não humano, sujeito e objeto, natural e artificial, tecnologia e natureza, mente e corpo. O pós-humanismo é um lugar de combinações, de hibridizações, de elementos heterogêneos, alguns humanos e outros tecnológicos que formam redes híbridas. Há alguns nomes importantes que são familiares a muita gente há muito anos como Bruno Latour, Cary Wolfe, Donna Haraway, Rosi Braidotti e Timothy Morton.
Quais são as diferenças fundamentais entre o transumanismo e o pós-humanismo?
Os transumanistas buscam o advento de uma nova espécie de homo sapiens, perfeita ou quase como deuses e pensam que podem alcançar esse objetivo por meio da tecnologia. A ideia é levar a cabo um problema que o humanismo clássico postulou, de dominar e emancipar-se da natureza, de modo que os transumanistas pretendem levar essa ideia à sua culminação, de modo que o ser humano domine por completo a natureza. É um enfoque muito antropocêntrico. Já os pós-humanistas são mais críticos, por diversos motivos, e tampouco são tão confiantes na tecnologia.
A relação com o capitalismo é complexa, pois os transumanistas são, em muitos casos, notórios empresários, com muito dinheiro para investir em seus ideais; ao passo que os pós-humanistas são mais acadêmicos e pensam mais em termos de criatividade. A questão é que ao final estas coisas podem levar a problemas, como a autoexploração ou uma função abusiva da tecnologia, de modo que sem uma avaliação crítica das tecnologias se pode levar à implantação de um capitalismo irresponsável e uma tecnofilia. Alguns pós-humanistas são conscientes disso e tratam de tentar evitá-lo.
O que significa, atualmente, relacionar evolução tecnológica e autonomia humana?
Em primeiro lugar é necessário falar algumas coisas bastante evidentes, mas que convém retomá-las. O primeiro ponto é que as tecnologias tendem a avançar de maneiras insuspeitas e não previstas pelos seres humanos, de modo que nos parece que possui uma lógica própria, independente dos seres humanos. Há muitas figuras que ilustram essa ideia de tecnologia sem controle, como é o caso de Frankstein e muitos outros. Há ainda o problema do determinismo tecnológico que incide sobre a sociedade de maneira que criaria algo fora do controle do ser humano. O que eu digo, no entanto, com muitos outros autores, é que a tecnologia não é autônoma e muito menos determina a sociedade. O que há são combinações entre uns e outros elementos, o que torna difícil falar de forma radicalmente separada sobre tecnologia, ser humano e natureza, mas, sim, a partir de hibridizações e conexões entre diferentes elementos. A autonomia do ser humano é igualmente parcial, limitada, porque nós dependemos da natureza e da tecnologia. A questão passa então por pensar humanos e não humanos que possam colaborar entre si e não que sejam opostos. Esta á uma visão pós-humanista, que tenta frear o determinismo tecnológico.
Se seguimos a forma como as tecnologias foram desenvolvidas e conformadas, vamos perceber que o que parece completamente novo vem de um desenvolvimento anterior, que se utiliza de ferramentas, utensílios, máquinas. Há sucessivos desenvolvimentos tecnológicos, mas também pessoas que tomam decisões sobre como desenvolvê-las e esse desenvolvimento inclui incorporar valores e outorga determinada margem de liberdade. É possível fazer uma tecnologia em que o ser humano não pode fazer nada senão apertar um botão, sem saber o que ocorre dentro, que é a chamada tecnologia da caixa preta; mas há outras tecnologias que nos permitem mais liberdade ou criatividade.
Como o senhor compreende o conceito de Antropoceno?
Essa é uma proposta, que precisa ser plenamente acordada entre os geólogos, de uma nova época geológica. Todo o caso, ainda estamos no holoceno. A tendência é que nos próximos anos possamos confirmar a hipótese científica, pois atualmente a proposta tem muita popularidade e impacto na imprensa, o que faz com que ouçamos cada vez mais esta palavra.
O antropoceno se define como o impacto humano global e irreversível sobre a terra. Nós nos damos conta de que o planeta é bastante grande, mas não suficientemente grande para suportar todos os impactos e as modificações do ser humano ante a tecnologia, a modificação dos terrenos etc.
E quando começou? A primeira opção remete à revolução industrial, no século XIX; a segunda opção retrocede muito mais no tempo, considerando algo como há dez mil anos, no período neolítico; a terceira opção, justamente a que a maioria dos cientistas defendem, entre 1945 e 1950 com as primeiras detonações nucleares – com as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki –, espalhando sedimentos radioativos pela terra. O antropoceno foi proposto pelo o pesquisador do clima Paul Crutzen, Nobel de Química, junto com Eugene Stoermer, que era um ecólogo norte americano, mas, como disse, estamos esperando a definição oficial.
Quais foram os acontecimentos que podem nos ajudar a compreender o antropoceno?
Um dos fenômenos antropocênicos, dos primeiros que se pode dizer, é o intercâmbio colombino, da época em que Colombo chegou a terras americanas e as enfermidades europeias causaram uma enfermidade tremenda, além da deflorestação. Agora se fala na sexta extinção em massa, estimada em 30% dos humanos, 67% dos gados e 3% das espécies selvagens.
Os plásticos e os microplásticos são um enorme problema, de tal modo que há plástico suficiente para envolver todo o planeta. Há ainda as modificações nos terrenos, alteração geomorfológica dos estuários, a construção de cidades e instalações de aeroportos, estradas, tudo isso vai alterando a conformação do planeta. Literalmente, essas construções vão cobrindo a superfície terrestres. As mudanças nos hábitos de vida, como o sedentarismo e enfermidades como o coronavírus, são fenômenos decorrentes do antropoceno.
Quais são os tipos de intepretações mais recorrentes do antropoceno?
Há dois tipos de posturas para pensar o antropoceno: 1) aqueles que advertem que o antropoceno será muito ruim para a humanidade. Estes são chamados, entre outras coisas, de “catastrofistas”; 2) a outra postura, daqueles que podem ser chamados de “antropocenistas”, acredita que haverá um antropoceno bom em que a humanidade poderá controlar por completo a natureza e que viveremos uma época de progresso.
Trata-se de dois pontos de vista radicais que é muito difícil de sustentar, então o desafio é buscar uma posição intermediária. Um exemplo do que dizem os antropocenistas é a possibilidade de “controle” do clima por meio de diversas tecnologias, chamadas de geoengenharia, o que é algo muito controvertido pois não se sabe que efeitos irreversíveis podem ser criados em caso de utilização em larga escala. Uma alternativa que aparece neste contexto é a gestão dos ecossistemas como se eles fossem uma espécie de máquinas para fabricar, entre outras coisas, ar “puro”. Esta é a continuação de uma ideia moderna e humanista do mundo, mas levada ao nível empresarial.
Quais são os dez fatores ou mensagens básicas sobre o antropoceno?
O primeiro deles é o fato que a pegada humana na terra é irreversível, pois mesmo que tomemos muitas medidas de correção há coisas que são irreversíveis e que vão afetar a totalidade do planeta. É evidente que diferentes seres humanos têm diferentes responsabilidades, porque os impactos variam muito, afinal um empresário norte-americano e um agricultor pobre de Bangladesh são exemplos muito perceptíveise e antagônicos do que estou falando.
O segundo ponto é que vivemos uma espécie de paradoxo, à medida que perdemos o controle da natureza nos damos conta que podemos (como espécie) influir no clima, nos ciclos bioquímicos da natureza e nos ecossistemas em grande escala.
O terceiro ponto tem a ver com o que se fala como o fim da natureza, de modo que não há mais no planeta partes intocadas. Isso causa uma interdependência muito complexa entre seres humanos e os entornos singulares, pois isso é sempre melhor não falar em termos universalistas, mas em termos mais concretos.
O quarto ponto tem a ver com algo novo, a geohistória, que é a união da história geológica e da história humana.
Um quinto fator é a necessidade de se conceber o antropoceno como algo temporal. Estamos acostumados com o conceito de globalização que é espacial, mas o antropoceno tem uma dimensão temporal e o que torna ainda mais difícil lidar com ele é que as pessoas, normalmente, não lidam com uma escala de tempo tão grandes.
Em sexto lugar temos que falar de crise ecossocial, ou seja, não somente uma crise somente ecológica ou somente social, mas em grande medida uma mistura de elementos de uma e de outra dimensão. Daí a guerra de dados para saber que coisas estão melhorando e que coisas estão piorando.
Sétimo ponto: os antropocenistas e os catastrofistas, obviamente, emergem dessa disputa e não estão de acordo.
Em oitavo lugar é necessário, porém, sempre buscar uma postura, um caminho, que nos permita construir uma sustentabilidade e uma colaboração duradoura entre os seres humanos e os entornos naturais.
O nono ponto tem a ver com os relatos. Nós precisamos criar narrativas que deem conta da nossa relação com a natureza, sem a qual a confusão é muito elevada.
Por último, o décimo ponto, para compreender o antropoceno entram em conflito as três grandes cosmovisões: humanistas, pós-humanistas e transumanistas. O fato é que cada uma delas tem seus problemas e suas coisas positivas para aportar ao debate.
Como o antropoceno afeta o transumanismo e o pós-humanismo?
Os transumanos sugerem que teríamos que nos adaptar às tecnologias, por exemplo, para suportar o calor, o frio, as contaminações etc. Esse seria o projeto transumanista, de melhora humana ou de controle tecnológico do entorno. Outra alternativa seria emular a terra em outros planetas, isto é, o projeto de terraformação. Uma das questões em torno desta hipótese, considerando que ela seja factível, é: quantas pessoas poderiam escapar para este lugar?
Enquanto isso, cabe aos pós-humanistas, a herança crítica ao antropoceno, o interesse de mostrar que o problema do antropoceno é antes de atitude, que de tecnologia, de modo que as mudanças não decorrerão de mais tecnologia, mas da mudança de nossos hábitos.
Diante deste contexto, o que se pode fazer?
Há uma série de coisas a serem feitas, mas é preciso considerar o paradoxo psicológico instaurado pelo antropoceno. Muitas pessoas, quando os problemas são demasiadamente graves, dentre eles os problemas ambientais, tentam não encará-los e olhar para o lado oposto, negando-os, criando um subterfúgio psicológico. Contudo há algumas coisas que podem ser feitas, não somente em relação aos problemas da mudança climáticas, mas também em relação as questões ambientais.
Há algumas estratégias que podem ser adotadas para que o antropoceno não seja muito ruim. Em primeiro lugar temos que tratar de contar nossas histórias com os seres naturais, distante da posição humanistas clássica, o que é muito difícil. Há muitas histórias deste tipo, especialmente na América Latina, e é preciso encontrá-las novamente.
É preciso também buscar palavras positivas para que possamos colaborar uns com os outros. É necessário retomar as coisas boas e usar elementos gráficos e métricas de coisas que estão indo bem, quando estão bem. Além disso é urgente tentar conscientizar as pessoas a fazerem o que está a seu alcance para melhorar as condições de vida. Isso são coisas simples, como, por exemplo, reciclar.
Um dos problemas cruciais é o político. Os países precisam entrar em um acordo pois se trata de um problema global e houve muitas reuniões para chegar a um acordo, mas quando se chega a um acordo ele não é cumprido. Do ponto de vista da gestão, quando se trata de problemas globais, o melhor seria um governo mundial, que incorporaria o governo de todo o mundo. Claro que há problemas nesta “saída”, pois um governo desses poderia ser imposto à força e poderia resultar em um governo ecofascista, o que poderia ser melhor para o planeta, mas pior para os seres humanos. Nesse sentido, é mais importante se buscar apoio em nível internacional, não global, pois quando há países que não estão de acordo a efetividade das medidas se ressentem muito. Além disso, atuar em muitos níveis é fundamental, de modo que há muitas organizações e iniciativas individuais que são importantes. Há, ainda, posturas mais radicais que seriam as anarcoprimitivistas, de destruir as tecnologias, renunciar ao processo tecnológico e se tornar comunidades muito básicas de coletores. Ademais, o anarcoprimitivismo está no polo oposto ao transumanismo e visa acabar com as tecnologias sem acabar com os seres humanos, voltando a um estilo de vida muito simplificado.
Deseja acrescentar algo?
Os tempos que vivemos são muito difíceis e a palavra antropoceno foi criada para explicar alguns dos problemas que temos. Há conflitos entre anarcoprimitivistas e transumanistas, bioconservadores (que seriam de esquerda) e alguns transumanistas (que seriam de direita), e, por fim, alguns ecologistas que seriam também extincionistas. Bem, cada um deles defende coisas distintas, mas não completamente incompatíveis. O fato é que nós todos precisamos de dados científicos e histórias coerentes para que possamos nos unir contra essa ameaça, que seria todas as coisas que podem ir mal no antropoceno.
Quando nos damos conta que temos uma margem de manobra pessoal, como pessoas, indivíduos, percebemos que temos também como comunidade. No meu caso me coloco numa posição que defende que devemos escolher o melhor do humanismo, do transumanismo e do pós-humanismo. Do humanismo o melhor são valores como a dignidade e a liberdade humana; dos transumanistas algumas melhoras não radicais podem ser pertinentes e oportunas, ao passo que outras podem ser um disparate um pesadelo; em relação ao pós-humanismo é importante considerar a visão que traz e as formas de se relacionar com o mundo, com as demais pessoas, os artefatos a partir de uma visão não antropocêntrica, não dualista.
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domingo, 22 de setembro de 2019
Blavatsky, ONU e Democracia
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Movimentos anti-lítio de Viana também protestaram na baixa de Lisboa
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| Fonte: O Minho, 21 de Setembro |
Cerca de quatro centenas de manifestantes de diferentes movimentos independentes de defesa do ambiente e de proteção do património rural protestaram este sábado em Lisboa, contra a concessão e exploração a céu aberto do lítio em Portugal.
Entre os manifestantes, estavam perto de uma centena de pessoas vindas de vários locais do Minho, como Viana do Castelo, Barcelos, Vizela ou Caminha.
O MINHO falou com Vasco Morais, responsável pelo movimento Amonde – Lítio Não, de Viana do Castelo, que fez um balanço positivo da participação do Minho neste protesto levado a cabo na capital, que contou ainda com o movimento SOS Serra d’Arga (Viana) e SOS Cávado (Braga)
Vasco conta que, só de Viana do Castelo, deslocaram-se a Lisboa cerca de 70 pessoas, tendo sido um autocarro alugado para o efeito. Apontou ainda representantes do concelho de Vizela, Barcelos ou Ponte de Lima. O responsável vinca a importância desta manifestação para que não se faça “tudo pela calada”.
“Gostei de ver tanta gente unida por esta causa, porque é necessário alertar a população para as intenções do Governo, e se as pessoas não fazem nada, o Governo faz o que quer e, pior, fazem tudo pela calada”, salientou.
Vasco Morais explica que na freguesia de Amonde, em Viana do Castelo, já existiu em tempos uma mina de estanho, e que a população local não vê com bons olhos a reabertura de uma mina nas proximidades.
“As pessoas têm assistido a várias palestras e contactos pelas redes sociais e estão a ficar sensibilizadas com o nosso protesto”, alerta.
Mais de 500 pessoas de todo o país em Lisboa
“Levámos esta questão à Assembleia da República pela voz do deputado José Luís Ferreira, para questionar o ministro [do Ambiente], para saber como é que se assina um contrato sem um estudo de impacte ambiental”, disse à agência Lusa Mariana Silva, candidata do partido Os Verdes pelo Círculo de Lisboa às eleições legislativas de 06 de outubro próximo.
E prosseguiu: “O que está em questão é este tipo de exploração mineira, que nós sabemos que vai ter consequências não só para as populações como para os solos, e como é que se assina um contrato antes de se fazer um estudo de impacte ambiental para avaliar se é ou não possível fazer esta exploração e se é ou não válido para aquelas populações em termos ambientais a exploração em Morgade [concelho de Montalegre]”.
Os manifestantes, que se juntaram hoje à tarde na Praça do Rossio, na baixa de Lisboa, subiram o Chiado até ao Largo Camões, onde se concentraram numa ação de protesto gritavam “Não à Mina, Sim à Vida!” e “Governo escuta: Sim à água, não ao lítio!”, e empunhavam cartazes em que se lia “Travar o ataque contra a biodiversidade!, “Não à desertificação!”, “ Não ao lítio!”, “Cancro!”.
O rufar de tambores e os gritos ecoaram entre o olhar dos turistas que iam passando pelos manifestantes.
Mariana Silva disse ainda à Lusa que se tratam de “terrenos classificados”, lembrando que, por isso, “há outros projetos e investimentos que podem ser feitos naquela zona”.
Além disso, alertou que a exploração do lítio “irá trazer graves problemas para os solos, para os lençóis de águas e até para as populações que podem desaparecer com a exploração deste minério”.
Foto: Vasco Morais
“’Os Verdes’ não são totalmente contra a exploração de minério. Temos que ver caso a caso. Até porque se nós temos recursos no nosso país eles devem ser explorados com peso e medida e não em nome do lucro de alguns”, sublinhou, adiantando que “se estes terrenos são públicos não podem ser explorados por privados”.
Para Mariana Silva, os recursos naturais “são de todos” e, no caso de Morgade, devido a um processo que “não foi bem esclarecido”, daí “prestar toda solidariedade” às populações e a trabalhar no parlamento para que o Governo “não continue” a fazer este tipo de contratos de exploração.
Já Maria do Carmo Mendes, representante da aldeia de Bargo, na Serra da Argemela, e uma das organizadoras do protesto, disse aos jornalistas que quer que o Governo “os oiça” e olhe para eles.
Foto: Vasco Morais
E avançou: “Até hoje estamos à espera de resposta [por parte do Governo]”.
Depois de ter sido aprovada uma recomendação em plenário da Assembleia da República a pedir ao Governo que “não concedesse a exploração na Serra da Argemela”, alertou a ativista, continuam sem resposta.
Disse também que, consoante a resposta do Governo, vão voltar à rua depois das eleições e “fazer o que for preciso”~, e alertou para “uma certa permeabilidade entre o sistema político e o mundo empresarial” no caso do lítio.
A ativista referiu ainda que vai ser criada uma plataforma conjunta entre todos os movimentos independentes por esta causa depois das eleições legislativas de 06 de outubro.
sábado, 21 de setembro de 2019
Vaclav Smil: ‘Growth must end. Our economist friends don’t seem to realise that’
Vaclav Smil is a distinguished professor emeritus in the faculty of environment at the University of Manitoba in Winnipeg, Canada. Over more than 40 years, his books on the environment, population, food and energy have steadily grown in influence. He is now seen as one of the world’s foremost thinkers on development history and a master of statistical analysis. Bill Gates says he waits for new Smil books the way some people wait for the next Star Wars movie. The latest is Growth: From Microorganisms to Megacities.
You are the nerd’s nerd. There is perhaps no other academic who paints pictures with numbers like you. You dug up the astonishing statistic that China has poured more cement every three years since 2003 than the US managed in the entire 20th century. You calculated that in 2000, the dry mass of all the humans in the world was 125m metric tonnes compared with just 10m tonnes for all wild vertebrates. And now you explore patterns of growth, from the healthy development of forests and brains to the unhealthy increase in obesity and carbon dioxide in the atmosphere. Before we get into those deeper issues, can I ask if you see yourself as a nerd?
Not at all. I’m just an old-fashioned scientist describing the world and the lay of the land as it is. That’s all there is to it. It’s not good enough just to say life is better or the trains are faster. You have to bring in the numbers. This book is an exercise in buttressing what I have to say with numbers so people see these are the facts and they are difficult to dispute.
Growth is a huge book – almost 200,000 words that synthesise many of your other studies, ranging across the world and exploring far into the past and future. Do you see this as your magnum opus?
I have deliberately set out to write the megabook on growth. In a way, it’s unwieldy and unreasonable. People can take any number of books out of it – economists can read about the growth of GDP and population; biologists can read about the growth of organisms and human bodies. But I wanted to put it all together under one roof so people could see how these things are inevitably connected and how it all shares one crystal clarity: that growth must come to an end. Our economist friends don’t seem to realise that.
I first came across your work while I was writing a book about the Chinese environment. Time and again, you had the data that I was looking for – and it often revealed how dubious many of the official statistics were. You have been described as a “slayer of bullshit”. Is that your goal?
I was brought up in Czechoslovakia during the era of the Soviet bloc. Having spent 26 years of my life in the evil empire, I do not tolerate nonsense. I grew up surrounded by commie propaganda – the bright tomorrow, the great future of mankind – so I’m as critical as they come. It’s not my opinion. These are the facts. I don’t write opinion pieces. I write things that are totally underlined by facts.
You debunk overly rosy projections by techno-optimists, who say we can solve all our problems with smarter computers, and economists, who promise endless capitalist growth. In many countries, the downside of material growth now seems greater than the upside, which leads to what you call “anthropogenic insults to ecosystems”. Is that a fair summary?
Yes, I think so. Without a biosphere in a good shape, there is no life on the planet. It’s very simple. That’s all you need to know. The economists will tell you we can decouple growth from material consumption, but that is total nonsense. The options are quite clear from the historical evidence. If you don’t manage decline, then you succumb to it and you are gone. The best hope is that you find some way to manage it. We are in a better position to do that now than we were 50 or 100 years ago, because our knowledge is much vaster. If we sit down, we can come up with something. It won’t be painless, but we can come up with ways to minimise that pain.
So we need to change our expectations of GDP growth?
Yes, the simple fact is that however you define happiness, we know – and we have known this for ages – that the amount of GDP is not going to improve your satisfaction with life, equanimity and sense of wellbeing. Look at Japan. They are pretty rich but they are among the unhappiest people on the planet. Then who is always in the top 10 of the happiest people? It is the Philippines, which is much poorer and smitten by typhoons, yet many times more happy than their neighbours in Japan. Once you reach a certain point, the benefits of GDP growth start to level off in terms of mortality, nutrition and education.
Is that point the golden mean? Is that what we should be aiming for rather than pushing until growth becomes malign, cancerous, obese and environmentally destructive?
Exactly. That would be nice. We could halve our energy and material consumption and this would put us back around the level of the 1960s. We could cut down without losing anything important. Life wasn’t horrible in 1960s or 70s Europe. People from Copenhagen would no longer be able to fly to Singapore for a three-day visit, but so what? Not much is going to happen to their lives. People don’t realise how much slack in the system we have.
You cite Kenneth Boulding’s distinction between the “cowboy economy” and the “spaceman economy”. The former is wide-open spaces and seemingly endless opportunities for resource consumption. The latter is a recognition that planet Earth is more like a closed spaceship on which we need to carefully manage our resources. The challenge is to shift from one way of thinking to another. But human history is thousands of years of cowboys and only a few decades of spacemen. Aren’t we hardwired?
There is a deep tradition both in the eastern and western traditions of frugality, living within your means and a contemplative life. It has always been like this. Now there is this louder voice calling for more consumption and a bigger bathroom and an SUV, but it’s increasingly apparent that cannot go on. It will be something like smoking, which was everywhere 50 years ago. But now that people realise the clear link to lung cancer, this is restricted. The same will happen when people realise where material growth is taking us. It is a matter of time I think.
How do we move in that direction before the risks become unmanageable?
To answer this, it’s important not to talk in global terms. There will be many approaches which have to be tailored and targeted to each different audience. There is this pernicious idea by this [Thomas] Friedman guy that the world is flat and everything is now the same, so what works in one place can work for everyone. But that’s totally wrong. For example, Denmark has nothing in common with Nigeria. What you do in each place will be different. What we need in Nigeria is more food, more growth. In Philippines we need a little more of it. And in Canada and Sweden, we need less of it. We have to look at it from different points of view. In some places we have to foster what economists call de-growth. In other places, we have to foster growth.
Your one-man statistical analysis is like the entire output of the World Bank. Did this research make you feel we are closer to the end of growth than you previously realised?
People ask me if I am an optimist or a pessimist and I say neither. I am not trying to be deliberately agnostic: this is the best conclusion I can come up with. In China, I told people how bad the environment was and the picture totally shocked people. They said: “When will it collapse?” And I’d answer: “It’s collapsing every day, but it’s also being fixed every day.” They used more coal and got more air pollution, but they also took billions from the World Bank and finally have modern water treatment in big cities. Now they are using modern farming, so they use less water for irrigation. This is how it is. This is what kind of species we are: we are stupid, we are negligent, we are tardy. But on the other hand, we are adaptable, we are smart and even as things are falling apart, we are trying to stitch them together. But the most difficult thing is to calculate the net effect. Are we up or down? For all the analysis, we don’t know this.
Your book notes that the entire library of Rome, 2,000 years ago, contained about 3 gigabytes of information, but now the global internet has more than a trillion times more. You are clearly sceptical this has been a net positive or that it has improved our ability to deal with our problems.
The growth of information is not just a flood or an explosion. Those adjectives are inadequate. We are buried under information. It’s not doing anyone any good. There are satellites above us producing huge amounts of information, but there are not enough people to analyse it. Yes, computers can help and shrink the amount, but someone still has to make decisions. There is too much to grasp.
Did you experience any statgasms (statistical orgasms) is the course of the research?
I am a biologist by training, so I was delighted to read new studies about the world’s biggest trees – the redwoods and eucalyptus. They never stop growing. And for elephants, they have indeterminate patterns of growth and never really stop until they die. We humans stop when we are 18 or 19. But the biggest species on the planet keep on growing until they die.
And on human population?
What is most remarkable is how rapid the decline has been. For more than a 100 years, the growth rate accelerated. The 1930s faster than the 20s, the 40s faster than the 30s and so on. By the 1960s, the world population was growing so fast that a famous paper in Science said that by 2024, it would be growing at an infinite rate – like a population singularity moment, which is, of course, absurd. Since then, the rate has declined every year. Population continues to grow in absolute terms, but in percentage terms it has been declining since the mid-60s.
Overall, I would say the tone of the book is pessimistic, but you also mention the possibility of a more optimistic scenario in which the global population does not expand beyond 9 billion – as is currently predicted – and in which the energy transition is faster than expected. Even if material demands peak before 2050, that still leaves us several decades of rising pressure. Given the already apparent strains on the climate, the soil, biodiversity and social stability, how do we get over this dangerous bulge?
That is the difficult part. In the western world and Japan, we are almost there. China still has a way to go because it is at the level of Spain in the 1960s in terms of energy. The real bulge is coming in Africa, where 1 billion more people will be born. Just to bring the current African population to a decent level of living, like Vietnam and Thailand, is tough. To do that with an extra billion will be extraordinarily hard. You can bring it all down to one figure – it is gigajoules of consumption of energy per person per year, but the unit is not important. Just consider the comparison. The US is about 300. Japan is about 170. The EU is about 150. China is now close to 100. India is 20. Nigeria is 5. Ethiopia is 2. To grow from Nigeria to China is a 20-fold increase just on per capita terms. Such is the scale of the bulge. So you can cut consumption in Copenhagen or Sussex, but not in Nigeria.
Is ageing Japan a model? It strikes me as incredible that the country has been able to weather a long decline of property prices, stock market values, population vitality and influence without sliding into chaos. Are there lessons there for others who face involuntary retreat?
Japan can only be a partial model, because until recently it was such a frugal and disciplined society that people there can tolerate what others would not accept. But we have slack. We are so fat in terms of material consumption. There is room to cut back. But there is no easy answer. If there were, we would have already done it.
Can businessmen accept an end to growth? Have you mentioned this to Bill Gates?
I don’t need to tell him. He knows a lot about the environment. Put aside the billions of dollars and he is just a guy who likes to understand the world. He reads dozens of books every year. Like me.
Growth: From Microorganisms to Megacities by Vaclav Smil is published by MIT Press (£30). To order a copy go to guardianbookshop.com. Free UK p&p on all online orders over £15
A History (MIT Press, 2017)
“Smil is one of my favourite authors and this is his masterpiece. He lays out how our need for energy has shaped human history – from the era of donkey-powered mills to today’s quest for renewable energy.”
Making the Modern World: Materials & Dematerialization(Wiley, 2013)
“If anyone tries to tell you we’re using fewer materials, send him this book. With his usual scepticism and his love of data, Smil shows how our ability to make things with less material – say, soda cans that need less aluminium – makes them cheaper, which actually encourages more production. We’re using more stuff than ever.”
Harvesting the Biosphere(MIT Press, 2013)
“Here [Smil] gives as clear and as numeric a picture as is possible of how humans have altered the biosphere… it tells a critical story if you care about the impact we’re having on the planet.”
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Algas - Grandes condicionadoras do solo
Às algas atribui-se o princípio de toda vida em “terra firme”, por serem micro plantas clorofiladas capazes de captar tanto seu carbono como seu azoto do ar. Nos solos tropicais e subtropicais, constituem o grupo de microrganismos de maior expressão.
As algas que despertam o interesse maior na agricultura são as algas Cyanophyceae ou verde-azuladas que vivem na superfície do solo, quando este tiver umidade adequada. Necessitam da incidência direta da luz para sua vida, que, graças à clorofila formada, é completamente autótrofa. Captam o CO2 do ar, que fotossintetizam como as plantas superiores, formando carboidratos. Fixam azoto para a formação de suas proteínas e retiram somente minerais do solo.
Elas cobrem suas paredes celulares com uma massa mucilaginosa para protegê-las contra um ressecamento rápido e podem formar colônias gelatinosas, como, por exemplo, a alga Nostoc. Possuem um poder muito grande de embebimento com água, podendo absorver até 12 vezes o seu volume, perdendo a água somente muito lentamente.
Penetram no solo e cobrem-no com uma camada mucilaginosa que confere um aspecto esponjoso à superfície, aumentando seu poder de infiltração e de retenção de água útil. São verdadeiras condicionadoras de solo. Enriquecem-no com matéria orgânica e azoto, aumentando sua porosidade, com resistência ao ressecamento e à erosão.
Podem ser encontradas em grande quantidade dentro do solo, porém, seu número elevado não indica atividade. No escuro estão em estado de sobrevivência, praticamente inativas, tendo vida heterótrofa, isto é, sua vida depende da presença de matéria orgânica, uma vez que não conseguem formar clorofila. De modo que em solos secos, sem matéria orgânica, a sua sobrevivência é ameaçada.
Sua vida ativa depende, como de qualquer microrganismo, das condições do meio ambiente, que deve possibilitar a velocidade máxima das reações de suas enzimas e a produção de enzimas depende da idade do organismo.
Como a atividade enzimática é restrita a determinada faixa de pH, este é de suma importância para as algas. Muitas preferem um pH neutro a alcalino, porém, existem centenas de cepas adaptadas à vida em solos ácidos com pH entre 5,3 e 5,6. A temperatura tem pouca importância para a vida ativa das algas, podendo elas crescer de 40ºC a 600ºC e ocorrem tanto em lagos como em solos desérticos, onde formam crostas superficiais, possibilitando o verdejar explosivos dos desertos após uma chuva. As condições básicas para sua vida são humidade e luz. Daí sua importância grande para as zonas tropicais com estação seca e estação de águas. No início das águas, o solo está descoberto, exposto à luz solar e à água das primeiras chuvas. É a época em que as algas se multiplicam explosivamente, condicionando o solo para a vegetação seguinte e fixando azoto.
Essa multiplicação não ocorre após a queimada do campo, nem após uma adubação pesada com sulfato de amônio ou após a adição de sulfato de cobre, que se junta à água de irrigação do arroz.
É sabido que se pode evitar a proliferação de algas na água de irrigação adicionando-se 2,5 kg/ha de sulfato de cobre. A queimada de pastos tropicais faz as algas desaparecerem e os mosquitos de solo apareceram, já que antes eram controlados pelas algas, especialmente em lugares bastante úmidos.
Provavelmente toda fixação de N2 por solos úmidos em presença de luz, reportada por muitos autores, se deva às algas verde-azuladas.
As fixadoras mais poderosas entre as algas são Aulosira fertilíssima, Tolypothrix temuis, Nostoc spp, Cylindrospermos musicola, Anabaena spp e A. Unispora, A. Cylindrica e outros.
A fixação de azoto varia conforme o ambiente, a eficiência das algas e os microrganismos acompanhantes, podendo alcançar até 90kg/ha, o que equivale a 450 kg/ha de sulfato de amônio.
A fixação eficaz depende, porém, não somente da nutrição de alga mas também de outros microrganismos com quem vivem associadas ou até em simbiose. Tanto as células vivas como os heterocistos podem fixar azoto. Para que possam fixar azoto, necessitam igualmente de um certo nível de cálcio, fósforo e molibdénio no solo.
Mas, não fixam somente azoto como mobilizam igualmente fósforo no solo. A fixação de N2 na sombra, por exemplo, em solos pastoris, depende da intensidade da luz no período precedente, da concentração de CO2 e da quantidade de glicose formada. A glicose aumenta a fixação na luz e a prolonga no escuro.
Todas as algas verde-azuladas crescem melhor em solos afrouxados por cultivação do que em terra nativa, fixando em solos arejados até 10 vezes mais N2.
Na natureza, as algas nunca aparecem isoladamente mas sempre em associações ou até simbiose com raízes, fungos, protozoários ou bactérias. Os líquens são um exemplo bem conhecido.
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terça-feira, 17 de setembro de 2019
Esta é uma emergência climática
Já está entre nós. Não estamos falando do último anúncio de um filme de terror. Estamos a falar de uma realidade científica com graves consequências no nosso quotidiano. Falamos sobre mudanças climáticas. Dessas tempestades e incêndios extremos que assolam nossos territórios, dessas ondas de calor e poluição que matam, de nossos agricultores arruinados e de todas as perdas econômicas e de empregos devido aos desastres climáticos.
Sim, estamos vivendo uma emergência climática. Ou seja, uma situação perigosa que requer ação imediata. Não apenas para proteger nossos filhos e filhas amanhã, ou as pessoas que sofrem com isso e que migram pelo mundo, mas também hoje para nos protegermos.
Para isso, o mais urgente é que se forme um governo que tenha como projeto de país e de forma transversal a luta a favor do clima. E se a irresponsabilidade política vencer e voltarmos às eleições, pelo menos a ação climática é finalmente uma prioridade eleitoral dos partidos (e da media) antes de 10 de novembro, o que não foi o caso nas últimas eleições de abril.
Entretanto, que seja cooperativa, coligação ou contorcionismo; um “governo de emergência climática” já aprovaria uma Lei de Mudanças Climáticas que estabelece uma redução de pelo menos 55% de nossas emissões de CO2 antes de 2030. Eu apostaria em uma transição energética rápida e poderosa com redução substancial da procura de energia, o fecho de refinarias a carvão até 2025 e um sistema de eletricidade 100% renovável até 2030. Produziria uma revolução de mobilidade em favor da saúde e do clima, reduzindo drasticamente o número de carros de combustão individual, mas aumentando significativamente o transporte público proporcional, a partilha de carros elétricos e bicicletas, nas cidades em escala humana. E por fim, lutaria por outro modelo agrícola e alimentar,
Mas obviamente o clima é importante demais para ser deixado apenas nas mãos dos políticos. Também está nas mãos dos cidadãos agir no dia-a-dia. Embora haja uma maior responsabilidade sobre os ombros de quem mais polui e tem mais capacidade de decisão, os cidadãos podem e devem apontar de forma coerente o caminho para uma sociedade mais sustentável e justa.
Existem milhares de maneiras úteis e acessíveis de proteger o clima e, ao mesmo tempo, aumentar nossa qualidade de vida: comprar produtos locais, sazonais e orgânicos, comer menos carne e mais proteína vegetal, andar de bicicleta ou transporte partilhado, contratar e investir em energia limpa, usar menos aviões e mais comboios, reutilizando e reciclando em vez de usar e deitar fora, ou preferindo produtos duráveis e éticos à indústria de baixo custo da obsolescência programada. E quando você coloca essa mudança transformadora em prática coletivamente – seja com os seus vizinhos, numa empresa ou num movimento social – o efeito multiplicador é avassalador e imparável.
Finalmente, também está em nossas mãos exigir que a Espanha declare uma emergência climática e aja agora. Por isso, "em defesa do presente e do futuro, de um planeta vivo e de um mundo justo", mais de 300 organizações convocaram a mobilização no dia 27 de setembro. Para este dia da "greve mundial pelo clima", somos encorajados -e eu me uno!- a apoiar a greve estudantil, a greve dos consumidores, as paralisações ou as concentrações simbólicas de 4 minutos e 15 segundos, entre 11 e 12 horas da manhã daquele mesmo dia. Vamos lá e convidamos nossos amigos, familiares e colegas para fazerem também!
Sim, as mudanças climáticas estão entre nós. Mas cabe a nós transformar essa ameaça numa oportunidade histórica. Vamos evitar o pior mudando a sociedade para melhor.
Blogue
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
Projeto Bioscan quer Implementar Sistema de “Códigos De Barras” de DNA para a Identificação de Espécies
Este projeto à escala mundial tem como objetivo implementar um sistema universal de identificação de espécies baseado em códigos de barras de DNA.
Filipe Costa, investigador no Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e professor na Escola de Ciências da Universidade do Minho (UM), participa no consórcio BIOSCAN, um projeto à escala mundial que conta para já com mais de mil investigadores de 31 países.
O primeiro grande objetivo do BIOSCAN é criar uma biblioteca digital de sequências de códigos de barras de DNA que permita servir de referência para a identificação de espécies.
A ideia é que ao recolher a sequência de DNA de um espécime não conhecido seja possível usar essa base de dados para o identificar.
Este projeto pretende também analisar a comunidade de organismos e de microrganismos que coabita com cada espécie. Esta comunidade é conhecida por simbioma.
“Isso é muito importante porque nos vai permitir perceber as interações entre espécies que até agora não seriam fáceis de identificar sem recurso a esta tecnologia”, reforça.
O BIOSCAN vai ainda fazer a monitorização de comunidades biológicas à escala global na tentativa de iniciar a implementação de um sistema global de biomonitorização.
Este sistema vai funcionar de forma semelhante a uma estação meteorológica, fornecendo informação muito detalhada e em múltiplos pontos do globo sobre as comunidades biológicas com o objetivo de as monitorizar.
Saiba mais sobre o investigador em: Researchgate | CBMA
terça-feira, 3 de setembro de 2019
Os militares dos EUA são mais poluidores do que cerca de 140 países
"Em 2017, os militares dos EUA compraram cerca de 269.230 barris de petróleo por dia e emitiram mais de 25.000 quilotoneladas de dióxido de carbono, queimando esses combustíveis. A Força Aérea dos EUA comprou US $ 4,9 bilhões em combustível e a Marinha US $ 2,8 bilhões, seguida pelo exército por US $ 947 milhões e os fuzileiros navais por US $ 36 milhões."
Com as eleições presidenciais para 2020, os democratas tem em sua pauta grandes iniciativas climáticas, cabe saber se a redução das emissões de carbono pelos militares americanos será tratada na política interna e nos tratados climáticos internacionais.
segunda-feira, 2 de setembro de 2019
Rebelião pelo Clima
No âmbito da primeira onda de mobilizações da plataforma ibérica 2020 Rebelión por el Clima, alinhada na plataforma europeia By 2020 We Rise Up, temos um plano de acção para este outono.
20 a 27 de Setembro: Semana pelo Futuro
No âmbito das mobilizações pela greve climática global, vamos organizar uma semana cheia de acções.
Podem ver as acções planeadas e podem publicar as vossas acções aqui: https://actionnetwork.org/event_campaigns/greve-climatica-portugal

27 de Setembro: Greve Climática Global
Respondemos ao apelo internacional para a realização de uma Greve Climática Global. Em Portugal, queremos que este protesto seja abrangente sem deixar de ser contundente. As experiências passadas, quer nas greves climáticas estudantis de 15 de Março e 24 de Maio, quer nas marchas mundiais do clima e nos protestos contra a exploração de petróleo e gás dos últimos anos, demonstram que tal é possível. Queremos construir este processo com diferentes sectores da sociedade civil, uns mais próximos destas lutas, outros em aproximação.
Manifesto inteiro e a lista das organizações que convocam a greve: www.salvaroclima.pt

A partir do dia 27 de Setembro: Semana de Rebelião
No dia 27 de Setembro, logo à seguir à Greve Climática Global, lançaremos uma acção de desobediência civil em massa. Com acções disruptivas, vamos pôr a crise climática na agenda pública e política.
Mais informações: rebeldespelavida.climaximo.pt

7 de Outubro: Rebeldes sem Fronteiras
No dia 7 de Outubro, vamos juntar-nos aos rebeldes em Madrid numa acção massiva ibérica, no âmbito da semana internacional de rebelião.
Mais informações: https://2020rebelionporelclima.net ; https://rebellion.earth
domingo, 1 de setembro de 2019
Curta-Metragem: "Inteligência Arbórea"
Provas e testemunhos científicos que confirmam o que muitos já sabiam: As árvores são inteligentes, podem sentir, fazem amigos e cuidam umas das outras.
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